Cinzas e Vácuo escrita por Yaka de Phi


Capítulo 2
Felicidade


Notas iniciais do capítulo

Essa é provavelmente a coisa mais louca que já escrevi. Mas convenhamos, é o que praticamente todo mundo acreditava né? (eu espero)



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Eu entrei. Eu... consegui. Deveria estar orgulhosa disso? Bom, não posso falar que não estou. "Zero Corpse", era o que aparecia na minha tela. Foi duro chegar até aqui... abandonar o meu reino nos céus e minha mãe, a rainha rosa. Você já deve me conhecer, não é? Sou Charlotte, uma princesa. Uma princesa de um reino muito importante dos céus, o Reino Rosa. É claro, eu também vestia a cor. Como um ser que veio da "luz", um anjo, sabia que não seria aceita. Por isso, criei uma identidade para mim mesma. "Allen", seria meu nome.

Era amiga de um membro do "blog", Neil. Assistíamos juntas uma série animada japonesa chamada "Hetalia". Ao saber que ela fazia parte da Zero Corpse, eu sabia que não podia confiar nela... aquele blog, dizem que foi criado pelo "Desconhecido". Eu, como mensageira do rosa, me voluntariei a investigar.

—Hey Allen!! -pelo computador, Neil conversava.

—Neil!!!!! É TÃO bom te rever!!!!!! -embora estivesse com suspeitas, precisava permanecer calma e amigável.

—O seu nick é Yuuichi, né? Vai traduzir Mad Father quandooo?

—Ain, não sei! Melhor agora já?

—Quanto antes melhor!

Era bom eu manter minha postura e parecer dedicada ao blog. Por isso, segui as recomendações dos participantes. Mei era supostamente a dona. Eu não sabia onde ela morava exatamente, mas uma de minhas missões principais era ver como ela era. Relatos dizem que ao olhar no seu rosto, se sente uma dor insuportável, que só consegue ser aguentada por demônios. O que estaria no rosto dela afinal? Provavelmente, apenas cinzas e vácuo. Encontrá-la seria praticamente um suicídio, mas acredito que sou capaz. Eu tenho que acreditar.

O tempo passou... construí relações não somente com os ADMs, mas também com os tão gentis leitores. Eram diferentes do que eu pensava. Sabia que as pessoas que veem o blog seriam normais, mas as pessoas que o controlavam também não tinham nada de especiais... exceto Mei. Ela sim, parecia estranha. Não parecia ter expressão em nada que falava. Embora estranhamente, no começo do blog, ela usava bastante "carinhas". Seria para atrair as pessoas antes do blog ficar famoso...? Eu não acho provável, pois acredito que o objetivo dela não seja a simples "fama". Minha única opção é investigar.

Mas eu simplesmente não consigo...

De alguma forma, me apeguei a todos esses seres presentes no blog. Estava até mesmo namorando Idate. Iria até mesmo fazer um encontro com eles em breve. Seria porque sou um anjo? Uma princesa? Eu sei que não posso gostar deles, mas mesmo assim...

Eu queria melhorar de todas as formas possíveis. Seria o meu nome?... Talvez estivesse infeliz com "Yuuichi"... eu me cansei dele. Decidi que meu novo nome seria simplesmente Allen. Este sim, era um nome que eu admirava...

Mas mesmo assim, de nada adiantou...

Vieram pessoas que pensavam que eu era o... Allen. É minha culpa é claro, por isso tive que entrar no personagem. Mas isso também, saiu do controle. "Allen" parou de ser um nickname para me proteger. "Allen" passou a ser uma segunda pessoa.

E eu o amo.

Eu amo ele mais do que todas aquelas pessoas. Eu sei que ele não está feliz com isso. Com esses abusos. Eu quero que parem.

Mas por mais que ele falasse, de nada adiantava. As pessoas continuavam e continuavam... "Shipps" eram seus nomes. Por que eles existiam? Por que existem coisas tão estúpidas como essa? Allen não estava feliz. Allen queria que isso acabasse. Mas Allen... Allen também fez amigos. Allen conheceu Neil, Kanako, Denius, Hana, Idate, até mesmo Mei. Aquela garota que não passava de vazio se revelou como uma ótima amiga. Allen não queria abandoná-los. Mesmo assim, eu sei o que é melhor para ele. Eu sei o que ele realmente quer. E eu realizarei seus desejos. Eu o farei desaparecer.

O dia chegou. O dia em que finalmente encontraria Mei. Quatorze de dezembro, não foi? Nosso ponto de encontro seria em um bosque bem longe da minha cidade. 

Eu cheguei.

Duas pessoas. Duas garotas. Uma estava de costas, e a outra estava chorando. Esta disse em meio às lágrimas:

—...Me... desculpe...

A garota que estava de costas se virou. Seu rosto... não existia. Era apenas um vácuo profundo, cheio de escuridão. Ao olhar aquilo, minha alma foi consumida aos poucos. E eu, mais do que já estava, fui escurecendo. 

.   .   .   E   s   c   u   r   e   c   e   n   d   o   .   .   .

Escuro... frio...

São os únicos adjetivos que posso pensar do lugar em que estava. Existia apenas um barulho: de uma brisa. Não conseguia ver meu próprio corpo. Não posso me mexer completamente. A clássica descrição do inferno... Esse lugar era completamente compatível comigo, na verdade. Um ser escuro, que depois de tudo, já não tinha mais sentimentos. Por isso, eu aceitei. Seria melhor eu simplesmente morrer aqui  do que desonrar meu título como uma princesa? Isso já nem importava mais. Eu apenas desisti. 

Mas de repente...

—...Lotte...

Eu ouvi alguém me chamar. Apenas ignorei. Estou finalmente louca, afinal.

—Lotte!

—...

—Lotte!!!!

—...

—LOTTE!!!

—...

—L-O-T-T-E!!!

—Argh! Só cale a boca! Eu... eu sei que você não é real!

—Hehehe... por que acha isso?

—Porque isso é simplesmente impossível... esse é o inferno, ninguém estaria aqui comigo...

—Bem, usualmente, isso é verdade. Mas com certeza, você não é uma pessoa usual, concorda?

—...?

—Assim como você, sua alma é forte Lotte. Mesmo no inferno, você está conseguindo falar! Eu NUNCA vi isso antes!

—I-Isso!

—Falará comigo?

—...

—L-O-T-T-E!!!

—S-Sim! Falarei com você!

—Ufa... isso é um alívio!

—Q-Quem é você afinal? Por que está aqui? Como sabe meu nome?!

—Ora Lotte, não sabe quem eu sou? Você é a pessoa que mais me conhece no mundo!!

—O-O quê?!

—Eu sou o Allen, é claro!!

—A-Allen?!

—Sim, Allen! Seu melhor amigo!!!

—I-Isso é impossível... eu e-estou realmente louca...

—P-Por quê?

—Porque você não existe, é claro!

—O quê?! Mas você mesma disse que eu existia! Que eu era uma segunda pessoa!

—E-Eu disse...!

—Sua alma é tão forte que conseguiu materializar um ser vivo puramente do seu poder! E justo agora, quando você mais precisa!

—Eu preciso...?

—Sim, você precisa...

—...

—...

—...

—Lotte, sabe que está sofrendo a toa, não é?

—A-A toa?!

—Sim Lotte. Eu... eu conheci todas essas pessoas maravilhosas! Kanako, Neil, Denius, Hana, Mei... 

—...V-Você gostou?

—Sim Lotte, eu fui a pessoa mais feliz do mundo.

—Eu fico feliz com isso...

—Mas você... você não foi comigo!

—?!

—Você também conheceu todas as pessoas maravilhosas! Mas mesmo assim, se deixou levar por uma mera "tristeza" que simplesmente não existe! 

—O-O quê?!

—Por que está sofrendo tanto? Por que não se divertiu junto comigo? Você até chegou a namorar alguém... Por que não aproveitou?

—Porque isso é simplesmente... inaceitável. Eu, uma princesa, não posso me "enturmar" com esses seres demoníacos!

—Ser uma princesa é um problema?

—Sim, claro que é!

—Então por que você não para de ser uma princesa?

—O QUÊ?!

—Por que você não abandona tudo e fica com nossos novos amigos?

—E-Eu... isso é...

—Eu, mais do que todas as pessoas, sei o que você realmente quer Lotte. E eu posso te assegurar que isso te tornaria feliz.

—Feliz...

Nós, anjos, sempre procuramos a "felicidade". Para muitos, isso não tem nenhuma relevância. Isso porque não sabem o significado de "felicidade". Mas eu também, havia esquecido o que era. E isso sim, era uma vergonha para mim.

—Você me ouvirá? -ele perguntou, tristemente...

—Sim... é claro que eu te ouvirei...

—É um alívio...

—M-Mas... e você?

—Eu...?

—Eu estou te usando para ficar com eles. Certamente, não pode ficar assim!

—...

—E aqueles abusos... o que faremos sobre eles?

—Lotte...

—Allen... eu...

—Você mesma disse, não é? Você é a pessoa que mais sabe o que eu quero. E como sempre, você acertou em cheio.

—A-Allen!

Neste instante, eu senti meu corpo voltar até mim. Continuava no breu, mas conseguia ver meu corpo e controlá-lo. Mas havia mais uma coisa entre meus punhos: 

Um revólver...

E a minha frente, Allen apareceu. Exatamente como eu imaginava. Loiro, pequeno... Ao ver somente suas características e imaginar o meu objetivo, eu comecei a chorar.

—Allen... eu não...

—Por favor Lotte... Isso também será melhor para você.

—Eu não... consigo...

—É claro que consegue. Já conseguiu tantas coisas!

—Mas isso... isso é completamente diferente!

—Lotte...

—Eu não quero que desapareça! Eu... eu te amo muito para isso!!

—Eu também te amo Lotte. Mas tudo que começa, chega a um fim, não é mesmo? Esse... esse é o fim que eu quero ter.

—Não! Eu sei o que é melhor para você! 

—L-Lotte!!

Eu sei que você quer ficar vivo tanto quanto eu quero! 

—...

Eu sei como você valoriza a vida tanto quanto eu valorizo!

—...

Eu sei que você gosta da sua vida tanto quanto eu gosto!!

—Lotte por favor, já chega...

—NÃO!!

—Lotte... eu... eu quero...

—...

E ao meio de lágrimas, ele se aproximou de mim.

—E-Eu quero f-ficar vivo!!!! -ele desabou, chorando igual a um bebê.

Abracei-o.

—Allen...

—E-Eu n-não que-quero desaparecer Lotte! Não quero!! Eu... eu tenho m-medo da m-morte!!

—Então por quê...?

—O-O fato é... é q-que eu vou d-desaparecer quando v-você ficar sã...

—Sã...?

—E-Eu sou apenas u-uma pessoa fabricada... Sua alma não vai a-aguentar me s-sustentar por muito t-tempo... Por isso... Por isso eu q-quis que você, L-Lotte, a-acabasse c-comigo...

—...Me desculpe Allen, mas eu não vou conseguir...

—E-Eu entendo... M-Me d-desculpe!!

—Não há motivo para se desculpar. Fazemos coisas erradas com pessoas que amamos, certo? Não há nada de errado com isso!

—...

—...Allen...?

—...O-Obrigado... Obrigado por tudo!!

E lentamente, eu me senti desaparecer. Junto com Allen, que repentinamente, começou a sorrir. Um sorriso tão puro... Não me senti triste com sua "morte", eu me senti... alegre? Eu acho que é um sentimento impossível de se expressar... talvez essa seja finalmente a verdadeira "felicidade". Nos meus últimos momentos no inferno, eu apenas escuto:

—   O   b   r   i   g   a   d    o   ,    L   o   t   t   e   .   .   .

Eu acordei. No mesmo bosque, com as mesmas pessoas. Com o ser feito de cinzas e de vácuo na minha frente. Mas que mesmo assim, eu amava com todas as partes do meu coração.

—Mei...

—Allen? -ela disse.

—Eu não... eu não sou nenhum humano. Muito menos um demônio. Eu sou não só um anjo, mas também uma princesa.

E para ela, eu mostrei as minha asas.

—Mas mesmo assim... eu quero participar da Zero Corpse. Eu não ligo se para isso, eu tenha que cortar minha próprias asas. Eu só quero ficar com vocês, para todo o sempre...

—Qual é o seu nome?

—Meu nome é Lotte, Charlotte.

—Charlotte, você tem certeza disso?

—Toda certeza do mundo, Mei!

Diziam para mim que a dor de ter suas asas cortadas era insuportável. Mas ao fazer isso, eu só me senti melhor. Pois sabia que, desse jeito, eu seria um ser mais feliz. Depois daquele dia, eu não fui anjo nem humana, mas sim, um demônio. Ajudante de um demônio. Ajudante de Neil, o Demônio da Preguiça. Eu não sei se tudo aquilo que vi no inferno era real, ou se era apenas uma ilusão. Mas isso não importa, realmente. O que importa é que agora posso ser quem eu realmente sou ao redor de meus amigos: Charlotte. Que não é um ser demoníaco e maldoso, e sim, um dos seres mais felizes da Terra, do Inferno, e dos Céus.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Deixem suas reviews e tudo mais.
Idate quase nem apareceu aqui... sorry. Ele aparece no próximo capítulo.
Obrigado.



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