Após a luz ter voltado, todos se assustaram com a imagem de Chiara desmaiada no chão. L correu pulou da cadeira onde estava e foi na direção da ruiva.

Já Light, aguardava ansiosamente o momento de L.

“Agora é a sua vez, Ryuzaki”

Foram os instantes mais longos da vida de Light. O adolescente aguardava ansiosamente o momento em que o seu arqui-inimigo, aquele com quem tinha travado uma intensa batalha intelectual, sucumbisse bem ali, caindo em seus pés. Muito trabalho havia sido feito até ali. Pro bem e pro mal, L havia sido um bom oponente, que instigou Light a bolar os mais engenhosos planos. Entretanto, o jovem jamais havia sentido uma sensação melhor do que a que sentia agora. A única coisa pela qual lamentava era que não poderia esfregar na cara de L a sua vitória.

Pensando em tudo isso, Light tardou um pouco a perceber a demora da morte de L.

“Ele já devia estar morto! O que Rem está esperando?!”, pensou o adolescente já começando a se preocupar.

O detetive, que havia passado alguns segundos examinando Chiara, falou com um evidente nervosismo, pouco comum à sua personalidade.

— Chiara ainda está viva!

Apesar de ter um autocontrole invejável, muitas vezes confundido com frieza, e de conseguir pouco deixar transparecer as suas emoções, o detetive sentia um embrulho no estômago e seus braços tremerem discretamente. Na verdade ele nunca havia sido exposto a um estresse tão grande quanto naquele momento.

“Como assim ela está viva?!” Light não acreditava no que estava ouvindo. Não era possível que seu plano tivesse falhado. O combinado com Rem foi de ela matar Chiara e L, e porque os dois ainda estavam vivos?

— Pessoal, atenção! Estamos todos em perigo. Temos que encontrar aquele Shinigami! – gritou o adolescente, tentando manter a calma e entender a situação.

— Sr. Mogi, por favor, chame uma ambulância e acompanhe Chiara. Cuide para que ela seja atendida o mais rapidamente possível! – ordenou L, ainda abaixado ao lado de Chiara, certificando-se de que ela permaneceria viva. Foi doloroso para ele ter que se separar dela em um momento como esse, mas havia outra pessoa que ele amava e que sabia que não estaria bem. – Eu vou verificar como Watari está.

— Vou com você, Ryuzaki – disse Light, que iria junto do detetive em busca de respostas.

Enquanto os outros policiais foram procurar Rem pelo prédio, Mogi ligou para a emergência e L e Light se dirigiram à sala de Watari. O velho costumava ficar em uma sala de monitoramento, providenciando tudo o que L necessitasse.

O caminho até a sala de Watari foi tortuoso para L. O detetive sabia o que iria encontrar, o que não reduziria o impacto da dor quando ele se deparasse com o que aconteceu. L sabia que o sinal de alerta e a mensagem de erro nos monitores significavam que Watari estava em perigo, pois esse era um sinal que já havia sido combinado entre os dois. Ele só não entendia porque ainda estava vivo. Se alguém fez mal a Watari, faria sentido que fizesse a ele também, afinal, ele era o alvo que importava. E adicionado a tudo isso, havia o misterioso acidente de Chiara. O que poderia ter acontecido? Será que alguém tentou matá-la empurrando-a na escada ou foi apenas um acidente?

Antes de poder pensar mais sobre essas perguntas, L e Light, que o acompanhava em silêncio, chegaram na porta da sala de Watari. Não foi preciso entrar para ver a imagem em que L evitava pensar: o velho estava caído no sofá, quase sentado e com os olhos abertos. Por alguns milésimos de segundo, L pensou que ele estivesse vivo. Mas ao perceber o senhor imóvel e pálido à sua frente, o fio de esperança de que estivesse enganado se esvaiu completamente.

— Light, por favor, eu gostaria de ficar sozinho por alguns minutos – disse, com uma calma que lhe custava um esforço absurdo.

— Tudo bem, Ryuzaki. Vou ajudar a procurar o Shinigami. – Light virou as costas e saiu, contrariado.

L aproximou-se do corpo de Watari, sentando-se próximo a ele. Sentia uma tristeza profunda, que não podia nomear. Aquele homem, que o acolheu desde pequeno, foi a sua companhia durante toda a sua vida. Watari era o mais próximo que ele tivera de uma família. Ao arriscar sua vida na investigação contra o Kira, L sabia que poderia morrer, mas não imaginava que Watari fosse se tornar uma vítima. Não era sua intenção que o seu mentor, um homem tão admirável, fosse vítima de Kira. Além disso, não fazia sentido, depois de tudo o que aconteceu, que Watari estivesse morto e ele ainda estivesse vivo.

O detetive se levantou do sofá e, com um deslizar de sua mão, fechou os olhos daquele que fora sua única família no mundo. De repente, L reparou em um detalhe. Na mão direita de Watari, amassados pela força que o velho deve ter feito enquanto sofria o ataque cardíaco, havia dois envelopes. O detetive utilizou um pouco de força para abrir a mão do velho e pegar os envelopes, que pelo volume, tinham algo em seu conteúdo. Na frente de cada um deles, estava escrito o destinatário da mensagem:

Para Ryuzaki

Para Chiara

L ficou chocado com essa descoberta. Como Watari poderia ter tido tempo de escrever algo antes de morrer?

Foi quando o detetive teve um susto maior ainda. Na mão esquerda de Watari, também amassado, havia um pedaço de papel. Após um pequeno esforço para tirá-lo da mão fechada do velho, L leu seu conteúdo. Atônito, o detetive compreendeu.

No pequeno pedaço de papel havia escrito apenas:

L Lauliet

L Lowliet        

L Laliet

L Lawlet