Sky full of Stars escrita por AnaTheresaC
Capitulo 3
—E depois? O que aconteceu?
—Bem, depois… depois foi tudo uma sequência de vários fatores que fizeram com que nós começássemos a trocar mensagens.
—Sim, aquele momento na tua vida em que o teu telemóvel não parava de tocar e eu estava seriamente a ficar irritada.
Ri.
—Esse mesmo. E eu lamento muito, sabes disso…
—Não lamentas nada – negou ela, colocando o prato vazio na mesa e pegando na sua caneca com chá.
—Só um bocadinho, por consideração a ti – disse.
***
Saí da sala, cansada e exausta. Os saldos de meia estação estavam a chegar e eu mal tinha tempo para respirar. Agora ia fazer um turno de quatro horas, com apenas uma hora para chegar ao trabalho e comer algo pelo caminho.
—Oi.
Dei um salto e olhei para trás.
Lá estava ele, com aquele sorriso, agora mais moderado, talvez pelo facto de agora me conhecer melhor.
—Oi – disse, mas continuei a andar. – Desculpa, mas não tenho tempo. Tenho que ir trabalhar. Turno extra. Mais dinheiro.
—Eu acompanho-te.
Incrível como ele não desistia. Mas, por outro lado, a sua companhia agradava-me. Há muito tempo que não o via, talvez duas semanas, e vê-lo era como respirar ar puro. A sua companhia trouxe-me a energia que eu já não tinha ao final de um dia de trabalho.
—Então, onde é que vamos? – indagou ele enquanto entrávamos no metro.
—Vamos ao Colombo.
—Oh, boa ideia. Não trabalhas muito longe, então.
—Bem, trabalho precisamente onde preciso de trabalhar – fui rude com ele. De novo. Porquê que isto continuava a acontecer-me? – Desculpa. Saiu mal. O que eu queria dizer é que gosto do que faço, onde o faço.
—Não faz mal – disse ele, e percebi que ele estava a tentar colocar as coisas para trás, mas tinha erguido as suas barreiras de novo. Os seus olhos já não brilhavam.
—Não – afirmei e toquei-lhe no braço. – Faz mal, sim. Eu não posso ser sempre assim contigo.
—Não és sempre assim.
—É diferente – argumentei. – Parece que conheces sempre os momentos em que estou mal, e o que eu faço é arranjar uma forma de descarregar tudo em cima de ti. Isso, e o meu cérebro também arranja sempre umas formas nada honradas de dizer as coisas e acabo por magoar as pessoas. Sei disso e não sou indiferente.
Ele sorriu, e olhou para o horário do metro. Faltavam dois minutos para o metro chegar.
—Estás a fazer a mesma coisa de novo: o monólogo.
—Oh – tirei a minha mão do seu braço. – Desculpa. É... complicado. Quando falamos por mensagem, tudo bem, sem problema. Quando te vejo, a minha voz arranja logo forma de se desprender de mim, ganha vida própria e fala por si mesma.
—Está tudo bem. Eu gosto de monólogos shakespearianos.
—Pois. Se fosses a minha irmã, irias fartar-me tanto de mim que me quererias fora de casa.
Enrugou a testa.
—O que se passa?
***
—Oh, foi nessa altura.
—Sim, foi nessa altura que o Gabriel começou a passar mais tempo cá do que lá e tu já não me suportavas ver porque não podias ficar sozinha com ele.
—Desculpa.
—Bem, ao menos agora está tudo bem.
***
—Lamento muito.
—Não lamentes. Tenho vinte anos, acho que tanto eu como ela estamos fartas de viver uma com a outra.
—Mas tu falaste-me dela. Parece ser boa pessoa.
—Oh, ela é. Só que, simplesmente, ela agora tem namorado, e eu não tenho e ela quer ficar sozinha com ele, mas aquela também é a minha casa. Eu, pelo menos, ainda pago metade da renda.
—É por isso que estás a fazer turnos extra? Para a deixar sozinha?
Não respondi de imediato, porque o golpe que me tinha dado tinha sido duro, mas verdadeiro. Abriu-me os olhos, coisa que não queria fazer. Mas era verdade: os turnos extras, as longas horas na biblioteca, os passeios intermináveis; tudo tinha sido para ela poder ficar sozinha com ele e evitar mais discussões. E também para ela não me expulsar de casa, porque eu não queria dividir a casa com mais ninguém a não ser com a minha irmã.
Olhei para ele. Tinha sido tão verdade que lágrimas me vieram aos olhos. Como é que era possível alguém compreender-me tão bem, que adivinhava as minhas intenções por detrás das minhas ações?
—Não é preciso responderes – pegou na minha mão. – O metro está a chegar.
O vento da velocidade abanou o meu cabelo e, por uns simples segundos, deixei-o tapar a minha cara, porque não queria que ele visse que por vezes, eu não tinha mesmo que responder.
©AnaTheresaC
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