Os Três escrita por Felipe Perdigão


Capítulo 1
I — Inescrutável.


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores!
Só passando pra dizer que espero muito que vocês gostem dessa reformulação que Os 3 sofreu. Também quero pedir que deixem comentários me contando o que acham que deve ser melhorado. Todo tipo de crítica são bem vindas!
Ah, mais uma coisa: novos capítulos sairão de acordo com o desempenho que a história receber. Já estou me dedicando a outra Original e só levarei essa a frente se vocês realmente estiverem afim de ler mais sobre esses três inescrutáveis.
Bem, por hora é isso.



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O L I V E R

Estou me sentindo transbordado. Se ainda existe algum sentimento em meu peito além de egoísmo, com toda certeza do mundo, esse sentimento é o arrependimento de não ter feito cortes mais fundos quando tentei me matar há anos atrás.

Sim! Nem para me matar eu sirvo.

O dia mal começou e, bem, preferia ficar na cama até o próximo. Quem sabe até a próxima vida.

Levantei-me escorregando pela cama, caminhei até o banheiro - sem me preocupar com fechar a porta - jogando a cueca samba canção em direção ao cesto de roupa suja. Caiu sobre o vaso, que para minha sorte estava com a tampa abaixada. Ao sentir a água quente cair sobre a minha pele finalmente despertei.

“A gente fica mordido, não fica?
Dente, lábio, teu jeito de olhar,
Me lembro do beijo em teu pescoço,
Do meu toque grosso, com medo de te transpassar.”

Cantei em sussurro enquanto encarava os azulejos azuis do banheiro. Quando estava prestes a começar o próximo verso fui surpreendido por um toque na cintura. Virei-me imediatamente.  

— Oliver seu cretino — disse a menina de lábios rosas e desidratados pelo frio. — Hoje era o meu dia de tomar banho primeiro.

— Você não havia acordado ainda — disse ajudando-a à tirar a única peça que ela estava usando, uma camisa cinza. — E eu já estou de saída — puxando-a para perto de mim aproximei nossos lábios e automaticamente minha língua abriu sua boca.

— Bom dia príncipe. — Ela sorriu enquanto tirava uma mexa de cabelo molhado cor de cobre do rosto.

Respondi com um sorriso amarelo puxando a toalha branca. Afastei-me da água deixando que minha namorada se banhar em paz. Enrolei-me na toalha e caminhei para o quarto bagunçando os cachos com a mão.

Ao aproximar da cama, joguei a toalha sobre o tapete felpudo e, sorrateiramente, fui me inclinando sobre o Julian que ainda dormia. Apoiando meus cotovelos sobre o colchão, senti meu tronco encostar contra seu corpo branco e peludo. Encostei os lábios em seu pescoço sutilmente e subi com um leve toque da língua até sua orelha e o mordi. Passando os braços pela minha cintura e apalpando-me as nádegas, ele me envolveu com as pernas.

— Não acredito que me acordou, maldito — ele sussurrou no meu ouvindo encostando a barba em meu pescoço fazendo-me arrepiar.

— Vai se atrasar — aproximei nossos lábios e logo me joguei para o lado.  — Não se esqueça que hoje tem teste de elenco do seu novo longa metragem.

— Parece mais animado a que eu — meu namorado resmungou.

— Você que sempre está desanimado para tudo — nossa namorada, enrolada em uma toalha, se escorou no arco da porta penteando os longos cabelos cobreados.

— Vocês começaram cedo hoje. — Julian rebateu a resposta conferindo as horas no rádio relógio no criado mudo.

Enfiando-me dentro de uma camiseta de algodão preta e uma calça justa do mesmo tom, fui para cozinha preparar o combustível que une nós três: café. E é esse também o aroma que nosso lar tem. Café, vela de baunilha e um pouco, talvez, de whisky. Esse é o nosso cheiro, é nesses aromas que pensamos quando tentamos trazer à mente a imagem do outro.

Nosso apartamento não é o dos maiores e nele, tudo é dividido. Tudo. Desde a mesma cama à ao mesmo amor. O quarto, pintado de cinza chumbo era o maior cômodo. Um guarda roupa branco embutido preenchia toda parede, deixando espaço somente para a porta que levava ao banheiro. A enorme cama king — que Julian comprou com seu acerto quando foi demitido da agência de publicidade — veio de São Paulo, já que não encontramos uma cama do mesmo tamanho na cidade onde moramos, tivemos que encomendar uma, ela fica encostada na parede logo abaixo da janela que dava vista para a Serra do Curral no horizonte. O cômodo onde passo a maior parte do tempo é o escritório. Para ser sincero, é um cômodo onde há estantes cobrindo todas as paredes, com uma escrivaninha sem lado, podendo assim, ser utilizada por duas pessoas ao mesmo tempo, e um enorme pufe jogado para dar conforto na hora da leitura. Meu namorado usa o cômodo para escrever seus roteiros enquanto Jane e eu somos obrigados a usar para terminar os trabalhos da faculdade.

A nossa sala não é um lugar espaçoso, mas comporta um sofá de canto. O lugar preferido de Jane.  Sempre estava ali com uma xícara de café no colo, um livro nas mãos na companhia de Júpiter, seu gato persa branco.

A cozinha, onde me encontro no momento é um ambiente claro, iluminado pela luz do sol durante todo dia fazendo com que os azulejos fiquem na maior parte do tempo amarela. Uma mesa com três cadeiras fica encostada em um dos cantinhos.

Com medo de me atrasar para a primeira aula, preparei o café e enchi meu copo térmico, enfiei dois sanduiches vegetarianos na mochila e voltei para o quarto para acabar de me arrumar. Em frente do espelho, eu não conseguia me sentir um leonino. Quase me arrependia de ter tatuado o símbolo de leão na gengiva sobre o canino esquerdo. Minha autoestima é tão baixa que às vezes me encarar no espelho é uma das coisas mais perturbadoras que eu possa enfrentar. Espirrei meu perfume enquanto conferia se meus dentes implacavelmente aliados estavam limpos e beijei Jane que digitava algo inquieta no celular e dei um toque no ombro de Julian que amarrava o cadarço do tênis.

Dirigindo-me para o ponto de ônibus, eu coloquei meus óculos de sol para esconder as olheiras e a expressão de quem não dormia bem há semanas. Ajustei os fones de ouvido e dei play no celular. Para minha sorte o shuffle acertara em cheio. The Smiths - Heaven Knows I'm Miserable Now.

Bela forma de começar o dia. Pensei.

[...]

Cheguei à faculdade e fui direto para a sala onde ficaria durante três horas seguidas encarando a maravilhosa aula de “Estabilidade dos Taludes”.  Onde eu estava com a cabeça quando decidi cursar Engenharia de Minas?

Se eu me arrependo da minha decisão? É melhor você tirar suas próprias conclusões.

Escorado na parede e com os olhos fechados, fui surpreendido com Alexandra jogando sua bolsa em cima da minha mesa.

— Oliver, seu bom humor é surpreendentemente. — Levantei o rosto quando percebi que ela havia sentado na minha frente.

— Eu sei que você me ama. — Esbocei um sorriso sem mexer mais nenhuma parte do rosto além dos lábios.

— Anda bebendo? — Ela franziu o cenho. — Já tem dois em casa, eu estou é correndo fora de você.

— Não sei porque do espanto.

— Agora você falou a palavra certa. Espanto. Até eu — ela riu. — Até eu que não tenho lá o dos melhores passados fico espantada quando lembro do relacionamento que você nutre.

— Ainda bem que quem está nele sou eu, não é mesmo senhorita intromissão?

— Que bicho te mordeu hoje?

— Não da pra ser feliz sabendo que passarei o dia inteiro enfurnado nessa faculdade escutando esses professores que tem um complexo de superioridade.

— Estou no mesmo barco e não é por isso que estou... Com essa cara de quem quer se matar.

— Ou matar os outros. — Completei.

Antes que minha amiga pudesse responder, fomos amaldiçoados com a presença da professora que antes do bom dia já ordenou que abríssemos o capítulo XXIV da apostila.

Merda.

[...]

No caminho de volta para casa, com a mente cheia, decidi voltar a pé na tentativa de esfriar a mente. O ar estava seco, como o de costume em Belo Horizonte. Isso fazia com que minha sinusite causasse-me terríveis dores de cabeças. Com os fundos dos olhos já incômodos, parei em um boteco – um dos milhares espalhados pelas ruas da capital mineira – e comprei um cigarro de palha. O tragava abstraído, com o pensamento longe e um desejo indescritível de chegar em casa.

Subi as escadas lentamente, apesar da pressa para chegar ao banheiro e tomar um banho gelado.

Como havia voltado para casa andando, me atrasei alguns – vários – minutos e, para o meu azar, Jane tinha chegado da faculdade antes de mim.

Torcendo para não ser puxado para um abraço, dei boa noite com um sorriso curto no rosto, joguei minha mochila no chão da sala e corri para o banheiro. Tranquei-me ali, retirei as vestes suadas e joguei no cesto de roupa suja.  Lavei o cabelo duas vezes e depois de seco, passei o desodorante pressionando contra todo o corpo por vários segundos. E ah, ainda fiz questão de passar hidratante corporal. O mais perfumado que achei no armário.

Sem preocupar-me com o que vesti, me joguei na cama encharcando o travesseiro com o cabelo molhado. Encarei o teto em um momento de introspecção que não demorou muito. Julian adentrou o quarto despindo-se e juntando a mim na cama. Depois de me atualizar sobre seu dia, Jane passou por nós afirmando que não faria o jantar pelo cansaço e que depois do banho iria direto pra cama.

— Quer comer algo? — Perguntei a meu namorado.

Ele me respondeu erguendo as sobrancelhas e mordendo os lábios. Estendi o dedo médio em sua direção e com um pulo, levantei-me e fui para a cozinha preparar algo para forrar o estômago.

A casa estava em silêncio. O único som presente vinha da televisão de um programa sobre travestis que não precisaram se prostituir para viver. Já estava quase cochilando quando Jane apareceu em minha frente com um pano preto na mão.

— Que merda é essa? — Ela disse séria, mesmo sem levantar a voz.


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Notas finais do capítulo

Me contem o que vocês estão achando sobre a história, me deem dicas, sugestões e falem sobre o que não tão gostando de ver.
Beijinhos e até o próximo capítulo!

Comentar em uma fic é mostrar para o autor o quanto
você respeita e gosta da historia. Não custa nada e não
demora dois minutos, então por que não comentar?

Com certeza todos que leêm essa nota já escreveram algo
e viram como é ruim escrever para as paredes. Muitos desistem,
outros desanimam.

Então faça uma forcinha, nem que seja para dizer que amou
ou odiou. Com toda certeza o autor se sentira melhor.



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