O ambiente estava quieto. As árvores e a grama com seu cheiro característico passavam uma sensação agradável. Algumas flores já se encontravam desabrochadas enquanto outras mais novas ainda mantinham-se fechadas. O ser encapuzado se encontrava entre as árvores se apoiando com uma mão em uma delas. Com a outra mão, o mesmo segurava fortemente um ferimento manchando o capuz amarronzado com seu sangue.

— Droga, aquelas demônios me fizeram um bom estrago... – Murmurou consigo mesmo.

Não podia manter-se parado, já haviam descoberto sua presença. Precisava mover-se rapidamente para qualquer outro lugar que fosse. Continuou caminhando apoiando-se em algumas árvores do caminho, não demorou a que uma dor aguda viesse de seu ferimento fazendo o mesmo cair. Apoiou suas costas em uma das árvores olhando para seu ferimento, se continuasse sangrando daquela forma com certeza teria ainda mais problemas.

— Não da pra estancar isso rápido... – voltou a falar com nervosismo. Olhou para a pequena fresta que as árvores que o permitia ver o céu. – Por favor, não demore...

***

— Yosafire! Yosafire, onde você está?! – Gritava Froze em uma tentativa de que sua amiga a pudesse ouvir. – Onde você se meteu?

Não diminui o passo em nenhum momento. Continuava correndo tentando encontrar Yosafire, porém não tinha sequer um único sinal dela. Já percebendo que continuar correndo sem rumo não lhe ajudaria em nada parou e começou a recuperar o folego, precisava de um plano.

Talvez pudesse voar, sua visibilidade ficaria melhor e tinha uma boa chance de avistar a demônio se a mesma ainda estive por perto. Não, muito arriscado. Se ela pudesse ver tudo que estivessem em volta, com certeza ela ficaria bem visível também. Não queria ser vista pelo inimigo seja lá quem fosse.

Apesar de ter perdido seu medo, Yosafire ainda evitava voar muitas vezes. A partir disso, muito provavelmente está teria seguido caminho a pé. Precisa achar pistas que denunciassem o lugar para onde a mesma estava indo. Começou a analisar o chão minunciosamente procurando qualquer resquício de marcas de botas no chão.

Provavelmente demoraria muito até que achasse alguma coisa do tipo, o vento que passava também não ajudaria nem um pouco. Não demorou muito para que uma ideia lhe passasse pela cabeça. Os traços da magia de fogo de Yosafire não poderiam ser muito difíceis de identificar por Froze, talvez ela pudesse achar um pequeno resquício de sua essência impregnada no chão, nas árvores ou até no ar. A sensibilidade de sua magia fria poderia acha-la.

Não queria usar isso por conta de quem estivesse por perto poderia sentir seu frio e persegui-la. Quer saber? Isso não importava mais, sua amiga era prioridade agora. Entraria em qualquer combate por ela e tinha certeza que a mesma faria o mesmo por si. Já decidida, guiou sua magia para suas mãos sentindo a sensação fria e característica nas mesmas. Abaixou-se as deixando tocarem no solo concentrando-se o quanto podia.

 A terra ficou meio esbranquiçada em reação a magia de Froze, a mesma podia sentir cada mínimo detalhe da terra e qualquer alteração que esta poderia ter. Concentrou-se em expandir-se para até onde poderia alcançar. Continuou expandindo-se até sentir algo de diferente na área, em um canto isolado levando a um lugar onde não tinha muita certeza de ser. O solo parecia relativamente mais quente. Era a chama dela.

Mesmo que fraco, poderia ter quase cem por cento de certeza que era a magia de fogo de Yosafire. Não hesitou nenhum segundo em levantar-se e correr em direção a que sua pista mandava. Sua determinação não a deixava desistir, com certeza acharia a demônio. Ela podia sentir que estava indo para a direção certa.

Só não esperava que não fosse a única que podia sentir.

***

Greif mantinha-se dentro da escola juntamente com alguns professores, todos observando qualquer movimento suspeito que poderia ocorrer. Apesar da expressão séria que sempre tinha em sua face, não conseguiu não se sentir inquieta por sua aluna que ainda não havia voltado. Depositou suas esperanças na anjo, mas havia esquecido que está ainda era nova e inexperiente.

 Exaltou-se quando sentiu uma mão pousar gentilmente em seu ombro. Suavizou a tensão em seus ombros quando avistou o rosto conhecido sendo o de Lowrie. Desviou o olhar voltando a observar as coisas lá fora e se pronunciou:

— O que quer Lowrie? – Curta e grossa, como costumava ser.

— Heh, eu sei que está nervosa. As coisas vão ficar bem, acredite. – Lowrie disse com um sorriso simpático no rosto. – Froze é uma aluna exemplar, e forte também. Lembra sobre aquele Diabo? As meninas até que fizeram um trabalho excelente, não? Não deveríamos duvidar delas.

Greif manteve-se pensante por um momento. Certamente não queria duvidar nem um pouco delas, muito menos de Froze. Contudo a preocupação em seu peito teimava em não desaparecer. Suspirou com tal pensamento. Lowrie que ainda se mantinha atento as expressões da colega de trabalho tirou a mão de seu ombro e se pronunciou:

— Sabe, depois disso, quem sabe podemos tomar um café? Se quiser um brioche, eu lhe pago. – Piscou para a professora, mesmo com tom brincalhão Greif soube que a proposta era verdadeira.

—... Aceito. – Disse por fim, quase deixando um sorriso escapar. Lowrie sorriu para ela, feliz pela confirmação. “Obrigada.” Deixou o agradecimento apenas em seus pensamentos.

— Estou vendo algo! – Exclamou uma professora demônio. Alguns professores ficaram tensos, outros continuaram em suas posições. Greif caminhou institivamente em direção a demônio mantendo-se focada na missão de proteger o prédio e seus alunos.

— Onde? – Perguntou séria. A professora demônio apontou para a mesma direção que sua aluna havia ido a algumas horas atrás.

Ao realmente perceber a movimentação entre as árvores, saiu do prédio com a intenção de providenciar a defesa caso fosse um inimigo. Apesar disso ainda tinha uma leve esperança que Froze e Yosafire haviam retornado.

Outra pontada de esperança atingiu seu peito ao ver duas silhuetas caminhando em sua direção. Tudo se desmanchou quando pode sentir que não eram suas essências e sim as essências pertencentes a outras duas demônios. Ficou um tanto assustada quando viu o estado das duas gatas demônios sendo que Arbus parecia visivelmente mais machucada.

— Conseguimos chegar. – Disse Ater.

— Chegamos... Em fim. – Acompanhou Arbus mesmo com um tom de voz mais arrastado.

— O que raios aconteceu com vocês? – Perguntou Greif enquanto ajudava as gatas demônio a entrar na área da escola.

— O inimigo não era tão fraco assim... – Sussurrou Arbus.

— Tão fraco não era o inimigo assim. – Seguiu Ater que parecia preocupada com a companheira. – Arbus conseguiu atingi-la muito bem, mas acabou levando a maior parte do dano.

— Entendo. – Falou Greif. A lembrar-se de suas alunas, voltou a falar: - Vocês por acaso acabaram vendo Froze ou Yosafire?  A anjo e a demônio?

— Não vimos. – Responderam em uníssono. – Elas se perderam?

— Não sei dizer ao certo o que aconteceu... Yosafire fugiu e permiti que Froze fosse atrás dela. Porém ainda não retornaram. – Respondeu Greif.

As duas gatas demônio se entreolharam com certa duvida no olhar misturado com um certo nervosismo. A professora, ao perceber isso, voltou a perguntar:

— O que houve?

— Não acho que foi uma boa ideia. – Ater se pronunciou.

— Não foi uma ideia boa certamente. – Completou Arbus. – Se aquele inimigo achar uma dessas duas...

Greif engoliu seco quando ouviu a última sentença das duas.

— Pode acabar mal.