Meu Nada, Seu Todo escrita por Hiranyakashipu
Notas iniciais do capítulo
Tortura psicológica explícita, disponha.
Odeio. Odeio lugares cheios. Talvez seja porquê minha casa sempre foi assim, lotada. Não de pessoas, entenda, mas de cobranças, ideais e desconfianças. Não se podia viver – num quarto, numa sala, no terraço ou banheiro – morri.
Morrendo descobri. Descobri o que me faltava. Ou o que tinha demais. Descobri-lo foi um ato odiosamente doloroso, ou teria sido, se eu soubesse senti-lo – não senti.
Não sei o que é ter uma coisa e poder chamá-la de minha, não sei o que é família. Não sei saber – nem ter! – nada.
Na verdade sei. Sei de ao menos uma coisa. Mas tenho dúvida. É uma certeza tão cega e absoluta que chego a duvidar – temer! – sua veracidade. Mas sei que é verdade pois é cega. Mas não lhe creio pois não vê.
Não sei. Mas sei. Sei muito bem o que é não saber nada; e sei, que não sabendo, posso explicar o não saber a quem sabe tudo, pois embora saiba tudo, nada sabe sobre o não saber – nunca o soube!
Não sei e tenho certeza. E quem tudo sabe tem incerteza. Ou não. Tem certeza. Certeza de sua incerteza de não saber o que não sabe, não saber nada. Mas disso eu sei.
Sabendo disso tudo – ou nada – posso provar o que sou. Sou aquele que vem, sou aquele que vai. Sou quem fica quando o último se vai – querido inconveniente, um chato divertido, amador sonhador, confuso eterno apaixonado – sou o que sou! – mas disso não quero saber.
Cansei de me provar. Cansei de me olhar. Cansei de morrer – e passar – por ruas sem fim, finitas agonias por infindáveis caminhos, tertúlias sem razão, amor sem emoção. – Tchau!
Sei.
Não.
Sei! – que para quem nada tem, tudo é. Assim como quem tudo tem, na falta de ter o nada, diz que nada tem e inveja quem nada tem e tudo não, porque chama seu nada de tudo, uma vez que é só o que tem.
Nunca tive tempo para mim. Tive uma vida. Mas fiz da minha vida o meu tempo e perdi-a. Perdendo-a fiquei no nada, e o nada, na falta da vida, passou a sê-la. Porém, não tendo no que se basear, ficou amorfa. E ficando assim, amorfa, tornou-se inútil. Tornou-se a vida de outrem. Meu nada, seu todo.
E já que não é mais minha, e veio do meu tudo – o nada – não deixo, não largo, não muda. Chamo de minha e não te dou. Amorfa. Não tem forma nem nada, nem tudo. Nada sabe e nada é. Não sendo nada e não contendo nada, prova que é inútil continuar com ela. Mas é minha, quero e vou chamar de minha. Amorfa. Quer? Venha pegar, comi.
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-QQQ
Grato por platinumblonde ter betado a fic =D!