You can have my Heart escrita por Mrs Chappy, Diwa


Capítulo 2
...the Heart


Notas iniciais do capítulo

ⓒⓗⓐⓟⓟⓨ :
Olá pessoas lindas e maravilhosas!
Devem ter caído da cadeira com esta actualização, certo? Sei que houve muitos leitores que manifestaram seu desagrado com a demora em postar este capítulo. Estava tudo planeado, e como eu e a Tia-san comentamos nas notas do outro capítulo, era para ser rápido! Estava tudo organizado. O problema é que a vida está cheia de imprevistos. Eu entrei na faculdade e não estava a gostar tanto do curso como devia e mudei, e a Tia-san teve uma quebra de inspiração com tudo o que é Bleach. Este final desanima-nos certo? A mim não teve esse impacto porque eu sou sobretudo UlquiHime e HitsuKarin. Shipps previsíveis que não chegariam ao cannon. Óbvio que estou frustrada e triste, mas não fiquei parada. Mas quem tinha IR como OTP é muito mau. Eu tenho tentado apoiar a Tia-san a escrever este capítulo, e ela conseguiu um pouco. Eu escrevi a minha parte e o que faltava da dela… Sei que podia ter feito isso antes, mas poxa esta fic era nossa e tentei até às últimas puxar minha amiga para ela escrever de novo. Consegui arrancar um pouco pelo menos *rsrsrs* Pode parecer nada mas me guiou o resto do capítulo e tentei imitar sua escrita até o final. Portanto peço desculpa se o capítulo não for do vosso agrado. E nos perdoem por esta demora.



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— Kurosaki, você não compreende. Só eu posso derrotar Yhwach-sama.

A ardilosa verdade era revelada com espinhos bicudos. Apesar do alívio da falsa traição de Ishida para com seus companheiros, o receio pairava sobre o grupo.

—  Ishida, seu maldito! Nós somos seus amigos, devia ter contado com a nossa ajuda! Somos uma equipa! E se esses caras percebem que estava traindo-os o tempo todo!? Que só esperava uma oportunidade para os matar!?

— Um sacrifício que justificava o risco, eu sabia que não iria conseguir compreender Kurosaki.

—  O que quer dizer com isso, Ishida!? Eu não sou um idiota!

O substituto de shinigami encarou o restante dos companheiros, como se algum deles se manifestasse a seu favor. Porém, ninguém interferiu. Uma veia saltava na testa do ruivo ao compreender o que todos queriam afirmar com o seu silêncio. Ishida suspirou, com um sorriso discreto de canto… tinha que confessar que lutar ao lado de seus nakadamas era mais divertido, mesmo que fosse um combate que poderia implicar sua morte. E sucessivamente provocando que o caos fosse semeado pelas terras dos três mundos. A paz deixaria de existir, o desespero converter-se-ia numa eterna folia.

Um peso saiu sobre as costas do quincy, que inconscientemente suspirou de alívio, movendo os ombros como se os sacudisse. Mesmo ele não apelando à compreensão de nenhum dos presentes, interiormente, desejava isso. Temia encontrar olhares acusatórios. Uryu percebeu que era uma estupidez duvidar da amizade deles, de alguma forma, eles nunca iriam acreditar na sua encenação.

Sorriu, porém, sem esconder a felicidade desta vez.

— Pode sempre contar connosco, Ishida.

— Kurosaki pare de se armar em herói. —  O tom sarcástico do quincy, irritara o ruivo que tentava ser amistoso. Sua altivez e arrogância eram uma doença para a pouca paciência de Ichigo.

— Seu…!

—  Ichigo! Seu idiota, esqueceu o mais importante!? Estamos em guerra! — Ainda não compreendia como uma mulher de tão baixa estatura lhe dava os socos mais potentes. Como ela conseguia alcançar sua cabeça em segundos, estando muito abaixo de seu ombro? Será que ela tomava impulso e saltava…? Só esperava que ela nunca conseguisse ler seus pensamentos…

—  Rukia…

Seus olhares se encontraram pela primeira vez naquele campo de batalha sangrento. Isso amenizou a raiva superficial do humano. Até aquele instante não cogitara que a podia perder. Não tinha focado sequer sua atenção nela, só pensava em vencer. Estava a fazer o mesmo que Ishida… O mesmo que fizera ao partir para Hueco Mundo… Ele estava a lutar sozinho e a esquecer seus amigos… Aquela que lhe deu poderes, duas vezes. Ichigo sorriu, ele sempre esquecia que a Kuchiki não precisava de ser salva. Ela é que o salvara inúmeras vezes.

—  “Rukia…”

—  Ichigo? Sente-se bem? —  Ele pareceu acordar de seu mundo suspendido em memórias, e acenou positivamente, alegre. Um sorriso que constrangera a tenente. Por alguns segundos, ambos se esqueceram que não estavam sozinhos.

—  Vamos, Rukia! Iremos acabar com eles!

“Aquele que mudou a rigidez que perdurou mais de mil anos na Soul Society… O herói da Soul Society… Sim, esse era o Ichigo que eu conhecera… E me apaixonara...”

— Sim!

Sem esperarem pelos restantes membros, foram correndo em direção à reiatsu do grande adversário por enfrentar. Esperança palpitava nos olhares alegres, a única arma que poderia vencer Yhwach, aquele que podia ver o futuro. Numa fração de segundos, impulsionados pelo animo do casal, os restantes membros os seguiram. Ishida fora o único que recuara um passo, ao pressentir o poder espiritual de dois quincys conhecidos próximos deles.

—  Ishida-kun…

Talvez não tivesse sido o único. Orihime detetando o gesto suspeito do amigo, em estado alerta, pressentiu a ameaça voando até eles, disposta a eliminá-los. Percebendo a clara desvantagem de Ishida face aos adversários, decidiu instintivamente separar-se com quem viera, para o ajudar.

—  Saten Kesshun!

— Inoue-san?

Ela não respondeu. Limitou-se a afastar um dos inimigos do combate de Uryu, que rapidamente focara sua atenção na intrusa de cabelo exótico. No entanto, outro par de olhos, enxergara o perigo que os dois humanos enfrentavam. Ulquiorra.

Na verdade, ele ignorara o perigo iminente do quincy. Porém, ao perceber que Inoue iniciou outra luta, sozinha… sua imparcialidade foi ameaçada. Algo remoeu seu peito, o fazendo duvidar do trajecto que deveria seguir.

O arrancar conhecia e reconhecia as habilidades misteriosas de Orihime Inoue. Tinha conhecimento, inclusive experimentara-o, constatando que ela evoluíra. Mas seria suficiente? Shinigamis de nível de capitão uniam-se contra um só adversário, poderia ela sobreviver numa luta a solo? E mesmo que fosse um não a resposta, por que ele se importava? Do que ele… tinha medo? “Medo”? Até que ponto deixara-se ser influenciado por emoções humanas?

Mas… isso quer dizer que ele podia sentir? Ainda poderia estar uma parte de si viva?

Sua audição aguda detectou um grito abafado da ruiva peculiar, que gemia de dores pelo ferimento da batalha anterior ter infectado. O inimigo não permitia que ela se curasse e o quincy não conseguia resgatá-la.

Contudo ele não tinha motivos para a ir salvar… ele já não recebia ordens de Aizen. Por que voltaria por ela?

—  Ulqui…kun…

Por que razão ela o chamava? Ela sabia que ele a estava escutando? Não, nem sequer percebera que ele ficara mais afastado do grupo. Com o segundo grito, Ulquiorra desistiu de buscar uma justificação para a ajudar, ignorando todas as consequências, modificou o destino que seguia, em seu auxílio.

Manuseando o sonido, conseguiu surpreender o inimigo com um golpe na cabeça o afastando totalmente de Orihime.

—  Ulquiorra-kun… Você veio…

—  Mulher, não se esforce. Cure seu ferimento e lute. Não foi para isso que treinou? —  Orihime via Ulquiorra pelo reflexo alaranjado de seu escudo, que recompunha o passado. Sorriu, ligeiramente emocionada. Ele sempre reconhecera o seu valor num campo de batalha.

—  Obrigada.

O agradecimento não teve resposta, não que ela esperasse por alguma.

Adiante no grupo, ninguém percebeu a mudança drástica do trajecto do arrancar. Na verdade, houve a alguém que esse detalhe não passou totalmente despercebido, a um felino de olhos azulados. Em poucos minutos, a ex espada também compreendeu a sua ausência.

—  Ulquiorra-kun? Onde ele…?

— Não se preocupe, ele está bem. Nós devemos seguir nosso caminho. —  O tom de Grimmjow acalmou a esverdeada, que limitou-se a sorrir, reunindo algumas suspeitas do paradeiro de Ulquiorra.

O fumo cegara a visão que permitia assistir o combate entre os quincys. Por conta disso, em determinados instantes os escudos de Orihime tremiam, rachando e quebrando perante o ataque do inimigo. Os momentos de distração deviam-se a uma preocupação natural pelo companheiro.

Ulquiorra sempre repelia ou desviava o ataque que fosse em sua direção. Ele não a recriminara por ela tentar acompanhar visualmente a luta próxima deles. Apesar disso, seu contributo era inegável. Ele não a estava a proteger… era estranho até para si, mas estavam trabalhando em equipa. Nunca cogitou que lutaria lado a lado com a mulher.

Inoue não era fraca.

Estava criando escudos para proteger ambos, usava Tsubaki em raras ocasiões porém sempre eficazes. Não se conseguia enxergar os movimentos rápidos e acertivos da pequena fada. Os ferimentos que provocava não eram mortais mas o suficiente para ele criar aberturas para conseguir usar sua zanpakutou.

O quincy de cabelos vermelhos pelo ombro, mordia o lábio superior agarrado ao ombro esquerdo. Seu braço tinha sido cortado pela Murcielago por um breve instante de distração com um pequeno ser luminoso que cortara seu rosto, quase o cegando. Ofegava com o sangue manchando suas vestes.

— Pensando em fugir, lixo? — O quincy encarou fulminante Ulquiorra. Estava, de facto, a cogitar essa hipótese. Mas ele devia manter sua lealdade e dignidade até ao fim.

“— O que importa a honra se estiver morto? Me recuso apodrecer neste sítio.”

Sem uma única declaração, retirou um recipiente com o símbolo dos quincys, pela manga do braço direito e assim que a abriu, desapareceu.

— Matte!

— Mulher, não está pensando em seguir o inimigo para curá-lo?

— Sim, mas… Ele não vai mais lutar, por isso pensei que pudéssemos…

— Idiota. Ele escapou por estar ferido, se o curar ele aproveitará a chance para a matar. Não confie tanto na gratidão de um desconhecido.

Uma parte da feição juvenil murcha em desânimo. As pérolas cinzentas rebuscam o quarto espada, enquanto Inoue pensava em palavras de agradecimento por ele ter vindo em seu auxílio. Contudo, fica petrificada quando detetou um rasto de sangue de seu ombro, percorrendo toda a extensão do braço até à palma da mão.

— Está machucado, Ulquiorra-kun! — Os passos foram rápidos, estendendo as mãos para cobrir o ferimento com seu poder, no entanto, ele agarra sua mão a impedindo.

— Não preciso disso, mulher.

— Soten Kesshun. — Ignorando por completo as advertências do arrancar, ela curou seu braço por completo.

Assim que o escudo de brilho alaranjado some, com as fadas repondo seu lugar na presilha de flor, Orihime desaba nos braços de Ulquiorra, por falta de poder espiritual. Ele não deixou transparecer sua preocupação, sabia que ela estava fraca mas não ao ponto de perder a força de manter seu corpo equilibrado.

Com um cuidado que desconhecia possuir, ajeitou-se no piso a depositando sobre seu colo. Inclinou a cabeça, colando os lábios em suas presilhas, passando sua reiatsu para a humana.

—  Mulher, você é forte. —  Sem rodeios, sem pensar muito, ele simplesmente a elogiou.

Ruborizou emocionada, instintivamente, do mesmo jeito que recebera o elogio, o abraçou e beijou seus lábios. As imagens de o espada converter-se em pó, as noites mal dormidas, rezando à lua pelo seu retorno… Toda a saudade e medo de o perder noutra guerra a instigara a mover-se segundo seus desejos ocultos. Não reflectiu segundas hipóteses bobas como Orihime Inoue fazia, foi apenas uma jovem apaixonada com medo.

Ulquiorra correspondeu ao beijo, não entendendo ao certo como um simples toque de lábios alterava seu corpo. A pele de mármore ficou arrepiada, possivelmente, pela primeira vez. O corpo quente roçando no seu, implorando por um movimento seguinte, conduziu automaticamente suas mãos à cintura dela, a rodopiando.

Nem todos os ferimentos foram cicatrizados, mas naquele instante o cérebro esquecera de lhes enviar a informação que ainda estavam machucados. Não conseguiam sentir dor nem desconforto.

Apesar do braço pressionado em sua cintura fortemente, do extremo cuidado em não exercer força a mais e quebrar seus ossos, da pressão fortíssima da sua boca contra a dela, buscando mais por aquelas sensações… o beijo foi gentil.

Redobrando parcialmente o controlo da mente, entendeu que era melhor afastar-se da humana. Ainda não entendia o que era aquilo. Como um arrancar poderia ser seduzido por uma mortal, por tão pouco? Ela era lixo.

Orihime mantinha a cabeça baixa, encarando seu corpo praticamente colado ao hollow. Envergonhada? Sim. Mas não arrependida. Seu sorriso discreto comprovava que não voltaria ao passado para alterar alguma ação sua. Mesmo que naquele momento não tivesse coragem de encarar o arrancar directamente.

Com o indicador, Ulquiorra ergueu o queixo desta, intimidando-a com o olhar esmeralda sério.

—  Por que me olha desse jeito? Quais as suas intenções comigo, mulher?

Nada escapava aos olhos do quarto espada. Era óbvio que ele notaria seu olhar diferente por ele… Que seus sentimentos não eram mais os mesmos.

O rubor dançou por sua face rechonchuda, era impossível ignorar um sentido malicioso naquela pergunta tão direta, mesmo sabendo que não era essa a intenção do arrancar. Sorriu envergonhada, pela inocência dele e consequentemente pela sua.

—  Tenho medo.

O gesto seguinte foi imediato. Arregalando os olhos, afastou-se bruscamente da mulher, acreditando que por fim ela o temia. Era o que ele sempre previa, essa era a resposta que ele buscava.

Porém, não ficou satisfeito ou indiferente como esperava que sucedesse. Ardia. Seu peito estava em chamas, os seus olhos picavam com uma ardência estranha. O que eram aqueles sintomas?

Seus pensamentos foram bruscamente interrompidos quando as mãos quentes rodearam as suas, apertando-as. Notou Orihime observá-lo com uma dor característica, familiarizado com ela desde os primórdios de Hueco Mundo.

—  Não, você entendeu errado. Eu não tenho medo de você. Eu…

O tom avermelhado em seu rosto crescia enquanto remexia os dedos na calça branca.

—  …tenho medo de vê-lo desaparecer de novo.

Agachou a cabeça, pousando-a sobre seu peito, mais propriamente no local onde o número da posição do espada repousava. As lágrimas desciam, molhando suas bochechas. Ulquiorra não sabia com exatidão os motivos que a faziam chorar… Tristeza? Ela estava sentindo dor? Ou estava feliz e aliviada?

Os humanos e suas emoções eram tão complicados. Como compreender alguém que era uma montanha russa sentimental? Como ela se apoiava em alguém que a sequestrou? Por que ela estava feliz em vê-lo… por que ainda se mantinha ao seu lado…?

… Por que não tinha medo dele?

A confusão daquelas emoções novas perturbaram suas reações imediatas. Demorou uns segundos para compreender que ela o abraçara. Não entendia a necessidade daquele gesto, nem o motivo pela qual o retribuiu. Só sabia que era algo bom, que aquecia seu oco no peito.

Subitamente, gritos de euforia rompem pelos ventos. A emoção expressa ao rubro pelos poucos que ainda se mantinham erguidos pelos combates exaustivos. A guerra tinha finalmente acabado. Ichigo Kurosaki, o substituto de shinigami e herói da Sociedade das Almas, salvara-os de novo, se reerguendo com a ajuda dos seus antigos inimigos.

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Com um típico sorriso amável moldando seus lábios rosados, a ruiva cantarolava distraída enquanto seguia o caminho que levava em direção a sua casa. Apertando junto ao peito o pacote marrom, que continha as coisas que comprara numa pequena cafetaria, seus pensamentos focados unicamente em seus planos, de tal forma que não prestava real atenção em seu trajecto e ao ambiente ao redor. Ela sequer percebera que estava sorrindo ao imaginar a reação de seu amado, Ulquiorra, ao receber seu presente.

Por consequência, não reparou quando outra pessoa cruzou seu caminho, acabando por esbarrar nela e cair no chão pela força do impacto, levando o pacote consigo e fazendo com que as compras fossem espalhadas pela calçada.

— Aah! — gemeu, fazendo um bico fofo devido ao rápido lampejo de dor por ter caído sentada.

— Inoue!? — Uma voz surpresa arquejou, fazendo-a erguer a cabeça para fitar o rapaz de cabelos ruivos que agora estendia-lhe a mão. — Me desculpe, eu não te vi no caminho.

— Está tudo bem, Kurosaki-kun! — Respondeu, doce, aceitando a ajuda para se levantar. — Eu também deveria começar a prestar atenção no caminho. — Riu sem graça, fitando as coisas espalhadas pelo chão.

— Idiota! — A garota baixinha de cabelos negros rosnou logo atrás de Ichigo. — Ajude-a a pegar suas coisas!

— Por que ao invés de ficar me xingando você não ajuda também, Rukia!? — O rapaz franziu o cenho, virando-se para encará-la com uma veia pulsando em sua testa devido à irritação.

— Porque foi você o animal que derrubou tudo!!

A ruiva soltou uma pequena risada nasal enquanto observava a discussão do casal se prolongar com mais xingamentos e rebatidas sem sentido, ao menos para ela.

Observava o desenrolar da discussão do casal com um pequeno sorriso desenhado nos lábios, abrindo-os em seguida num “O” ao ter uma de suas ideias brilhantes.

— Kurosaki-kun, Kuchiki-san! — Os dois pararam de gritar, encarando a amida ruiva estranhamente alegre— Preciso que me levem até Hueco Mundo! — Ichigo agiu como se tivesse sido empurrado pelo susto, enquanto Rukia continua a observá-la sem acreditar, Inoue começou a rir nervosamente pelas suas expressões assustadas— Sabem… é que eu… quero agradecer ao Ulquiorra-kun por me ter ajudado, e ao Ishida-kun, contra os dois quincys. Sem ele… Não seriamos capazes de vencer.

Um tom encarnado gritava no canto das bochechas da colegial, que encarava os pés, remexendo os dedos no papel que embrulhava seu presente. A Kuchiki encarou atentamente sua amiga apertando o embrulho contra os fardos seios. Numa rápida transformação, os olhos sérios arregalaram-se em êxtase, brilhando, com a hipótese remota de uma Orihime apaixonada, sobretudo por um arrancar. É como aquelas lindas histórias de amor proibido nos livros que Yuzu lhe emprestava quando dormia em casa dos Kurosaki!

No entando, Ichigo -como de costume- não raciocinou tão longe como sua morena baixinha.

— Inoue não se preocupe com isso. Ulquiorra só fez o que devia fazer. Aquele cara agiu por obrigação, se a Soul Society perdesse, os espadas seriam os próximos a ser derrotados. Apenas aliaram-se a nós para derrotar-mos um inimigo em comum. — Ao compreender e comprovar a lógica do substituto de shinigami, os ombros de Orihime esmoreceram, e seu rubor foi tomado pela palidez, colocando rápido um sorriso nervoso no rosto tentando disfarçar sua tristeza.

— Deixe de dizer essas coisas animal! — A shinigami num movimento veloz soca a cabeça de Ichigo, irritando também o Kurosaki por não haver razão de ela lhe bater de novo.

— Mas o que eu fiz agora sua naníaca!?

Ignorando por completo seu companheiro ruivo, Rukia o encara fulminante numa ordem silenciosa, para ele não abrir mais a boca. Virando-se para Orihime, ela sorri, depositando as mãos nos ombros da ruiva, a abanando, tentando transmitir-lhe força e confiança.

— Inoue não se preocupe. Com certeza, Ulquiorra-san estava preocupado contigo! Iremos ajudá-la sim! — Sorrindo, Rukia piscou-lhe o olho esquerdo em cumplicidade.

Orihime, surpresa, fica um tanto encabulada ao entender que seus sentimentos estavam tão expostos ao exterior. Mesmo que Kurosaki-kun não tivesse compreendido, afinal isso era de esperar-se, a situação em si não deixava de ser vergonhosa para si. Porém, não deixou de sentir-se agradecida com o apoio que a Kuchiki sempre lhe oferecia. Ela era uma boa amiga!

— Obrigada, Kuchiki-san.

— Mas…! — Ichigo ia protestar, contudo perante as furiosas íris violáceas mudou rapidamente de ideias, acenando em concordância.

Caminharam até à Urahara’s Shop, mesmo estando encerrada, empurraram a porta, adentrando no estabelecimento e dirigindo-se ao piso subterrâneo onde encontrava-se o equipamento necessário para abrir um portal para onde os arrancares habitavam.

Após um extenso corredor surgir entre as duas colunas de pedra, Orihime acenou em despedida para os dois amigos, e agradecendo, partiu sem olhar para trás.

Ichigo bocejava ainda sem entender nada do que acontecia, enquanto Rukia encara os longos cabelos ruivos balançarem pelas costas da amiga.

“— Coragem Inoue.“— Pensou a Kuchiki, antes de ver o corpo curvilíneo desaparecer.

Uma garganta rasga o céu noturno, atirando o corpo da ruiva contra os grãos de areia do deserto infinito. Procurou alguma placa que lhe pudesse lhe conduzir até Las Noches, mas depois entendeu que era óbvio que após uma guerra, era impossível restaurar-se Hueco Mundo tão rápido com coisas assim.

Vagueando, sem um rumo definido, não enxergava os altos pilares do palácio de Las Noches. Portanto, mentalmente, Inoue foi considerando como deveria iniciar seu diálogo com aquele que era o motivo de sua visita àquele mundo. Sem aperceber-se começou a expor suas palavras baixinho, treinando para quando estivesse com ele…

— Mulher. — A voz monótona a fez pular de susto, levando uma mão até seu coração que batia descontrolado. Ela o encarou, reconhecendo a situação familiar dos dias que habitava no palácio de Las Noches. Ele sempre aparecia, quando ela menos esperava.

— Ulquiorra-kun…— O pronunciamento saiu cortado, ainda se recompondo do breve susto. Mas, claramente, alegre.

— Não me trate como um humano. O que faz aqui? Por acaso é idiota? Vindo aqui sozinha é um alvo fácil para os hollows. — Orihime sorriu, ignorando as palavras duras, de evental descrença de suas habilidades, contradizendo-se na batalha contra os quincys.

— Por acaso… está preocupado comigo, Ulquiorra-kun? — O quarto espada arregalou os olhos, abismado.

— Não diga disparates, mulher. O que lhe possa acontecer não me interessa.

Ulquiorra retomou seu caminho para o palácio, direção contrária àquela que a mulher antes seguia. Orihime bateu levemente na testa pelo seu péssimo sentido de orientação. Deu um olhar rápido à lua, sorrindo, como em agradecimento por ter tido a sorte de encontrar o arrancar.

— Espere por mim, Ulquiorra-kun!

Inoue um tanto desajeitada pela saia longa, apressou seus passos, com o intuito de alcançar o moreno, que limitava-se a encará-la sobre o ombro, abrandando seu ritmo.

— Até quando pretende ignorar minhas ordens? Não sou um de seus amigos. — Orihime enrugou a testa, torcendo o nariz, respondeu num tom seco, demonstrando estar um tanto ofendida com seu comentário.

— E eu não sou mais sua prisioneira, para receber ordens todo o momento. Ulquiorra-sama. — Ulquiorra desviou o olhar novamente para a ruiva, notando o enfase exagerado no sufixo final.

Deparou-se com um olhar de cor nublada, porém firme e com uma serenidade incomum. No entanto, imprevisivelmente, a humana desmanchou seu teatro e começou a rir. Por um instante, ela quase… quase… o fez sentir culpado.

Mantendo sua compostura indiferente, prosseguiu a caminhada em seu ritmo normal, contudo Inoue colocou-se na sua frente, o obrigando mesmo a parar. Estendeu os finos braços até ele, mantendo-os na altura de seu peito, enquanto Ulquiorra limitava-se a observar esse gesto sem agir. Sua expressão não transparecia nada do que poderia estar eventualmente pensando… Logo, ela não sabia se ele não compreendeu sua atitude ou se essa seria a sua forma de rejeição.

— Pegue. —O olhar esmeralda analisou-a uma vez mais antes de acatar o pedido, agarrando no embrulho, o encarando intrigado.

— O que pretende com isto?

— É um presente! Por me ter ajudado, e ao Ishida-kun… — Após a explicação, ele fechou os olhos, calmo. Estendendo de novo o embrulho para a ruiva.

— Isso é desnecessário mulher, só…

— Por favor, não recuse.

A súplica em sua voz, e a tristeza marcante em seu olhar, fez com que o espada suspirasse, voltando sua atenção para o embrulho. Observando-a, Inoue desvia o olhar, com um sorriso resignado.

— Entendo se não gostar… não fui eu que fiz, Tatsuki-chan sempre faz cara estranha quando cozinho algo… só Rangiku-san gosta de minha comida. Por isso pensei que fosse melhor comprar algo na cafetaria para você. A senhora disse que chocolate era o doce preferido dos clientes, por isso escolhi esse para você, eu não sei o que iria gostar, portanto…

O quarto espada apenas a observava com a costumeira intensidade esmeralda. Esticou seu braço com o presente na sua direção, originando algumas lágrimas no canto dos olhos cinza, concluindo que ele rejeitou o bolo de chocolate que comprara.

— Gosta de chocolate, mulher? — Inoue ergue uma sobrancelha, confusa. — Eu não tenho memórias da minha vida passada… qual é o sabor desse chocolate que fala?

— Pois… bem… é doce.

As lágrimas que antes ameaçaram fluir por seu rosto, tinham secado com o breve diálogo. Orihime encarou as mãos do espada, e percebeu que entendeu errado. Ele não rejeitou, ele estava… convidando-a para comerem juntos? Só a ideia fez com que o tom rosado tingisse sua face, considerando uma cena romântica de um piquenique no deserto sem mais ninguém.

Imaginou-se dando o bolo até aos lábios do arrancar, que sorria lhe agradecendo. Gritou de euforia ainda vivendo suas fantasias, que não discernindo a realidade do sonho, abraçou o braço de Ulquiorra com um enorme sorriso no rosto.

Ulquiorra a encarava cético, cogitando que a mulher por falta de sol endoideceu. Ficou mais tranquilo quando ela se afastou e retirou seu longo casaco, o estendendo na areia, sentando-se sobre a veste. Sorriu e bateu com a mão ao lado, indicando-lhe para juntar-se a ela.

Apesar de aquilo ser totalmente anti arrancar, ele queria compreender mais aquela mulher e todas as emoções que ela resplandecia em torno de si, acatando o desafio de comer com ela. O aspecto não atraiu Ulquiorra, que limitou-se a levar a fatia cortada à boca, mastigando lentamente.

— É bom. —Comentou sem emoção, arrancado uma risada muda da ruiva que prosseguiu comendo sua parte. — Devia ter mais confiança em você. — Inoue o observou confusa, porém Ulquiorra manteve-se normal. — Sua comida é boa.

— Não… Não tem como você saber isso! — Gaguejou, envergonhada pelo elogio inesperado.

— Eu sei tudo sobre você, Inoue Orihime.

O tom avermelhado intensificou-se com aquelas palavras com duplo significado, contudo, o espada perspicaz parece ignorar esse aspecto ao permanecer estranhamente normal e sem pudor. O que Inoue não conhecia é que ele referia-se aos estudos anteriores que fizera nela antes de a sequestrar por ordens de Aizen. Tudo o que era a respeito da mulher peculiar, Ulquiorra testara, inclusive, seus dotes na culinária.

Orihime focou o olhar na manga de seu casaco, remexendo nele distraída, com uma leve curvatura rasgando a face.

— Sabe mesmo tudo, Ulquiorra-kun? —Os olhos que tudo viam prenderam-se na face rosada, tão comum vê-la daquela forma, que não encontrou nenhuma diferença significativa, para além de seu tom e olhar sugestivo, contudo, ele não entendeu o que ela poderia querer insinuar.

Ousada, e um tanto inocente, Orihime aproximou-se do hollow, ficando com um palmo de distância entre eles, sussurrando, com medo que mais alguém a escutasse.

— Então, deve saber também que me apaixonei por você Ulquiorra-kun. — Ele arregala o olhar, mal se recompondo da declaração, sente os lábios quentes pressionados contra os seus. Um gesto terno, com os dedos em sua face.

Não discerniu o que aconteceu com sua alma naquele instante. Seus instintos sempre apurados nunca captaram emoções semelhantes. Pela segunda vez, sentiu seu oco aquecer. Uma comichão percorria toda a extensão de seu corpo, querendo retribuir e aprofundar aquele beijo puro. Pela primeira vez, sentiu, sentiu desejo. Possuir. E compreendeu, não queria partilhar aquela emoção com mais ninguém, não permitiria que ela desse aquela emoção a outro. Sentiu-se cego e perdido, ao cerrar as pálpebras por instinto quando a língua atrapalhada molhava seu lábio superior. Suspirou fundo contra a boca da mulher, sentindo o corpo dela tremer quando segurou seu pescoço, adentrando com a língua numa abertura pelos lábios finos. Ele estava sentindo coisas novas.

Num breve instante, assimilando o que sentiam e arrumando seus pensamentos, afastaram-se poucos milímetros. Os olhos levemente abertos, observavam fixamente os lábios mutuamente, explicitando o seu desejo. Em ânsia, voltam a beijar-se. Porém, não com a ternura anterior, a paixão sobrelevou-se. Orihime colocou as pernas junto da cintura de Ulquiorra, ficando em seu colo, segurando firme os cabelos negros entre seus dedos, os puxando.

As mãos de Ulquiorra pressionavam com força as costas da mulher, mesmo sobre as vestes, ela sentia as unhas curtas arranhando sua pele, arrancando gemidos baixos seus.

O beijo, antes calmo, convertera-se numa troca de saliva. Numa procura desesperada de prazer, com mordidas e encontro de línguas, escorria uma quantidade ínfima de saliva pelos cantos dos lábios, provocando sons aprazíveis no encontro das bocas.

Necessitando de ar em seus pulmões, os lábios separaram-se. Ulquiorra, em plena inocência, constatava a boca inchada da ruiva.

— É bom…

O calor subiu pelo seu pescoço, fazendo com que ela cobrisse o rosto com suas mãos, tendo noção do que fizera. O que ele pensaria dela agora? Que era uma aproveitadora? Uma pervertida!? Mesmo escondendo-se, o rubor ainda era visível na brecha entre os dedos, arrancando um sorriso quase invisível de Ulquiorra, no entanto, apesar de a ruiva peculiar não o ter enxergado, não significou que deixasse de ser visto pelo casal que os espiava, camuflado pela areia fria.

— São tão fofos, Grimmjow! — Nelliel exclamava baixinho para o casal não a escutar, e estragar o clima deles, porventura, apesar do tom baixo estava muito animada. Contudo, Grimmjow encontrava-se extremamente pálido, com os olhos arregalados numa expressão horrorizada.

— Eu não acredito… aquele cara… ele consegue…!? Ulquiorra sorriu!

Nelliel o olhou de canto, revirando os olhos pelo comentário idiota e desnecessário, para além de sua atitude exagerada. De novo, ela encarava Ulquiorra e Orihime, notando esta última ainda vermelha depositando o topo da cabeça no ombro do quarto espada, oficializando uma das historias de amor mais lindas que Hueco Mundo já conhecera. A ex espada com sua sabedoria, sorriu terna, complementando o comentário anterior do azulado.

— E vai sorrir muitas mais vezes.

Nunca a Lua tinha brilhando tão intensamente no deserto sem cores, como naquele momento.

O espada sem emoções, finalmente, alcançara o coração.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por quem não desistiu de acompanhar esta fic. Amo todos vocês!



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