Caio no sono rapidamente, a noite passa e o alarme toca novamente. Eu estava mais animada que de costume nesse dia, levantei feliz e fui logo me trocar para tomar o café da manhã. Mesmo sendo inverno e o clima da Coréia ser realmente frio, o dia estava agradável. “Preciso tentar fazer amigos logo, antes que seja meio tarde para se enturmar...” Pensei enquanto saboreava minha omelete “Certo, vou tentar conversar com alguém hoje.”. Levantei-me determinada e fiz meu caminho até a sala de aula, enquanto andava tentei repetir mentalmente algumas palavras que considerava importantes para tentar puxar assunto.

Ao chegar na sala de aula, não pude deixar de notar que era cedo demais. Essa seria minha chance. Poucas pessoas na sala, nenhum grupinho fechado. Hora perfeita para chegar em alguém e tentar fazer amizade. Eu devia escolher entre o menino que sentava do meu lado e a garota que sentava duas cadeiras á minha frente. Como na Coréia existe toda essa questão de hierarquia, decidi não arriscar e fui falar com a menina.

—Olá! –Notei que minhas mãos estavam soadas pelo nervosismo... Por que tem que ser tão difícil fazer novos amigos?! –Posso me sentar aqui? –Apontei para a cadeira vazia ao lado dela.

—Oh, oi... –Ela abaixa o livro que estava lendo e me olha um tanto confusa “Respire fundo, Serena.” Me esforcei para parecer o mais amigável possível. –Claro. Serena, não é? –Ela teve uma certa dificuldade em pronunciar meu nome, mas até que não foi tão mal. –Me chamo Kim Yang Mi. Prazer em conhecê-la. –Ela se curvou rapidamente com um sorriso no rosto.

—O-o prazer é meu! –Sorri de volta. “Ufa... ela é amigável...” –Então... Acho que dá pra ver que sou nova aqui, queria fazer algumas amizades. –“Que tipo de papo é esse, Serena? Ninguém chega falando ‘Oh, seja minha amiga!’ vou parecer uma esquisita.”

—Te entendo, sou “nova” nessa escola também, desde o ano passado não consegui fazer nenhuma amizade. Eu era de Seoul, vim pra Busan por causa dos meus pais. Mas então, de onde você é mesmo? –Sua expressão era gentil, parecíamos ter muito em comum.

—Sou brasileira, vim para a Coréia por uma bolsa. Desculpe se meu coreano for difícil de entender... –Ela riu.

—Seu coreano é ótimo, não se preocupe.

Nossa conversa fluiu bem, Yang Mi era muito gentil e não aparentava ter algum tipo de preconceito com estrangeiros. Continuamos a conversar até que os outros alunos chegaram na sala, eu estava de costas para a porta então não podia ver todos que chegavam, mas aos poucos as carteiras eram preenchidas e logo a aula iria começar.

—Jungkook oppa! –Uma garota que estava em um grupinho próximo a janela grita e se levanta sorrindo enquanto olha para a porta. Não pude deixar de estranhar “Oppa? Como assim?”. Me virei bruscamente em direção ao garoto que entrava, ele olhou diretamente para a garota e parecia constrangido. Logo depois desviou o olhar e fez seu caminho até a carteira nos fundos da sala, tentando ignorar o que foi dito. Me viro para Yang Mi novamente.

—O que foi isso? –Questionei para ela, falando baixo.

—Apenas Oh Ha Ni, ela tem a mania de dar em cima de todos os garotos. Mas Jungkook é extremamente tímido e  não dá a mínima bola pra ela, então ela fica o provocando constantemente. Não sei o que há com essa garota, francamente. –Ela suspira e revira os olhos em desaprovação. Desvio meu olhar para Jungkook no fundo da sala novamente, ele estava quieto e na dele, mexendo em seu material. Em um movimento rápido ele tira os olhos da mochila e vem de encontro aos meus diretamente. Pude sentir meu coração sair boca á fora, me virei de volta para Yang Mi, que notou meu comportamento estranho e ficou me encarando por alguns segundos.

—Aconteceu alguma coisa? –Ela fitava meus olhos procurando por uma resposta que talvez estivesse escrita em minha testa.

—A-a-ah? Nada! –Fingi estar completamente normal, mesmo sentindo meu coração palpitar tão forte que conseguia se ouvir os batimentos claramente. –E-ele parece ser legal, esse Jungkook...

—Jungkook? Oh, sim. Ele é um bom garoto, mas não é muito de conversar. Embora faça muito sucesso entre as garotas, ele costuma normalmente esquivar-se e evitar qualquer tipo de conversa com o sexo oposto. –Naquele momento eu me senti desafiada. “Preciso arrumar um jeito para que ele converse comigo...”.

O professor entra na sala e todos voltam aos seus lugares.