—Annyeong, eomma? -Atendi ainda rindo. Ri mais ainda ao notar que estava falando em coreano com minha própria mãe.

—Que isso menina? -Ela ri -Fala direito comigo!

—Desculpa, é o costume. -Me sentei na cama.

Fazia um bom tempo desde que falei com minha mãe, estava com saudades dela. Contei sobre minhas notas exemplares e ela disse "Não fez mais que sua obrigação". Rindo e imitando a voz de meu pai, que sempre repetia essa frase quando o ano letivo acabava. Fiquei feliz quando ela contou que viria até aqui para ver minha formatura. O diretor, como "prêmio" das minhas boas notas (já que isso dava valor a escola) pagou a viagem de meus pais. Comemorei pulando, ela pediu para que eu me acalmasse dizendo que era pra ser surpresa. O problema é que eu e minha mãe temos um pacto de "sem segredos" então sempre contávamos as coisas uma à outra, desde festas surpresa até brigas insignificantes. Me senti mal por não ter contado a ela sobre Jungkook, mas não queria preocupa-la... Resolvi quebrar minha promessa e manter aquilo em segredo, ela vai enlouquecer se souber que não contei pra ela logo no início.

(...)

Yang Mi e eu combinamos de ir até o aeroporto buscar meus pais. E lá estávamos nós, dois dias antes da formatura. Aguardávamos na área de desembarque, enquanto a amiga me contava sobre como as provas de recuperação eram fáceis demais.

Sombras começaram a se formar na saída, o sorriso se formou em meus lábios. Estava realmente feliz em rever meus pais, mesmo sabendo que a vinda deles representava minha volta para o Brasil. Naquele momento não importava muito, só queria matar as saudades. Corri para abraça-los, minha mãe largou as malas no chão e abriu os braços gritando de felicidade. Meu pai abraçou nós duas ao mesmo tempo, senti falta daquele aconchego da família.

Andamos juntos até Yang Mi.

—Mãe, pai essa é Yang Mi, minha amiga. -Sorri, apresentando. Mi apenas sorriu e acenou em silêncio. Meus pais não falavam inglês nem coreano, ela teve medo de se pronunciar.

—Meu deus que menina mais linda! Prazer em conhece-la -Minha mãe a abraçou, sorrindo. Pude ver o constrangimento estampado na face da amiga, que não era acostumada com a "cultura de abraços" brasileira.

—M-mãe, não é muito comum abraçar as pessoas aqui. -Tentei ajuda-la, rindo. -Principalmente alguém que acaba de conhecer.

—O-oh! -A soltou imediatamente. -Me desculpe! -Ela colocou as mãos na frente da boca. Yang Mi riu, mas não disse nada.

—Bom, estou morrendo de fome. -Reclamou meu pai. Resmungão como sempre, a mãe deu um tapa em seu ombro.

—Deixe de reclamar, Rogério. -Ela olhou para mim. -Você sabe onde tem um restaurante bom aqui para jantarmos, Serena? -Suspirou -Onde não tenha comida muito apimentada, sabe? -Ela tapou a boca de lado com a mão, falando baixo pra mim. -Seu pai teve sérios problemas com a comida do avião. Tenho dó de quem limpar aquele banheiro. -Todos riram, menos Yang Mi que não entendia nada e apenas nos encarava com um semblante confuso.

Levei meus pais para o restaurante de noodles. Yang Mi voltou para sua casa, alegando que seus pais estariam a esperando. Nos despedimos e sentamos na mesa, o atendente chegou e ao ver nossas faces ocidentais, começou a falar em inglês. Desistiu ao ver a face engraçada de meus pais o encarando.

—Querida, faz o pedido que eu não estou entendendo nada. -Disse meu pai.

—E você acha que eu estou? Serena, por favor, explique para esse rapaz que não somos daqui... -Ela sorriu forçado para o garoto

—Eu tenho certeza que ele sabe disso, mãe. -Ri, fazendo o pedido em coreano em seguida. O atendente riu e elogiou minha pronuncia, indo até a cozinha.

Assim que a refeição chegou, tive de aguentar meia hora de discurso da minha mãe sobre "Você come miojo todo dia? Isso faz mal pra saúde!" e afins. Terminamos após muito papo e risadas. Meu pai chamou um táxi pelo aplicativo novo que baixou no celular e pediu para que eu fosse junto, por causa da língua.
Entramos no automóvel, fomos até o hotel onde eles ficariam e os ajudei com o check-in. Minha mãe me deu dinheiro para voltar ao dormitório de táxi e disse que nos veríamos na formatura. Assenti com a cabeça, me despedindo. A viagem de volta foi tranquila, cheguei até meu dormitório cansada. Já era tarde de certa forma, eu estava com sono. Andei me arrastando pelo corredor até meu quarto, quando reparo em um indivíduo sentado no chão, com as costas apoiadas em minha porta.

—Jungkook? -Falo confusa, sorrindo ao ve-lo. Corro até ele, que me olha sorridente com uma expressão cansada.

—Finalmente... esperei aqui a noite toda. -Ele ri, se levantando para me cumprimentar. -Posso entrar? -Ele aponta para a porta.