Capítulo 1:

Quando o Corvo dá o sinal

A nossa vida mudou muito desde que nos unimos. Os aspectos bons foi a fama que ganhamos. O conto do Clã Proibido se espalhava pela floresta. Todos nos conheciam e conheciam nossos feitos.

O aspecto ruim foi descobrir que aquela guerra não estava nem perto de terminar. A revolta de Chrysalis, vinda do Clã do Canário, foi apenas uma leve demonstração do que muitos clãs desejam: o poder total. Por muitos anos o Clã do Urso impunha medo perante a força que representava. Entretanto, depois do Clã do Canário tomar atitude, a movimentação dos acampamentos de muitos grupos aumentou, como uma organização pré-guerra.

Eu me sentia assustada, com tanta coisa acontecendo. Caminhando perto de onde eu e meus amigos havíamos acampado, sentindo a brisa gelada da manhã.

— Algum problema Ana?- Manuela sentou-se ao meu lado. Apesar de ser muito desastrada ás vezes, Manu era uma ótima ouvinte, e eu lhe contava tudo. Meus sonhos, meus medos. Éramos confidentes uma da outra.

— Estou com medo. Claro que acabamos com a Primeira Assassina, mas foi sorte. Soubemos tudo no momento e a matamos por defesa e não ataque.

— Entendo. Está preocupada com toda essa movimentação.- Manu falou calma. Em seus olhos, eu via que compartilhavámos esse medo.

Mais tarde, arrumamos as coisas. Andavámos rumo ao Clã da Águia, um dos dispostos à aniquilar o Clã do Urso. Nossa maior tarefa agora era convencer esse grupo a trocar de lado.

— Não acho que vão querer mudar de ideia.

— Pessimista como sempre, não é Analice?- João replicou comigo. Acho que no fundo eu e ele ainda tinhamos uma richa. As indiretas eram frequentes e percebidas apenas por eu e ele. Mas ao fim, éramos amigos.

— Não é pessimismo, é realismo.- Respondi calma.

Aos poucos cada membro do grupo ganhou um nome popular. Cada um tinha suas habilidades, e unindo elas, nos tornavámos invenciveis. Manuela sempre nos salvando nas noites frias, com a incrivel habilidade de criar as melhores armadilhas, fora o dom manual de tecelã nata.

Livia, nossa sabedoria e juízo. Vinda do Clã da Coruja, possuidora natural da sabedoria da floresta. A única que realmente me ouve nesse grupo, e parece conhecer a Floresta de Sitka como conhecia a si mesma. Ela vivia nos dizendo que a floresta é um único ser, como o corpo e nós éramos seus componentes. Assim, se fizessemos mal ao Grande Corpo, ele mesmo nos puniria.

Thais pacífica por natureza, muito diferente de sua prima, Chrysalis, da qual derrotamos já faz 2 luas cheias. Ela contou que a prima não aparentava ser tudo o que mostrou na fatídica noite, o que causou a surpresa em todos. Não dava pra saber há quanto tempo Chrysalis vinha alimentando o desejo de poder.

Bia, do Clã do Coelho, era outra entendedora de engenhocas malucas. Como os Coelhos repudiavam a guerra, eles tiveram que criar vários meios pra se defender de outro modo. Realmente, ela construia coisas estranhas, mas úteis!

Nicole, vegetariana, do Clã da Zebra, era observadora. Prestava atenção em tudo e quase sempre descobria o que não vimos. Medrosa e chata, mas minha amiga afinal. Conheci ela antes de todos, e realmente éramos bem próximas.

E tinha João. Bruto, chato, irritante e a melhor pessoa que conheci. Ele tem raciocínio rápido, e normalmente mais age do que pensa. Mas suas ações sempre dão certo. Rápido e letal com facas de sílex, ele com certeza absoluta é o mais forte de nós.

— Me diz algo, vocês ja estiveram no Clã da Águia?

— Não, dizem que é o maior clã da floresta.

Escutei um som familiar. Olhei pra cima e vi algo muito preocupante. Corvos. Rodeavam o acampamento, o que não podia ser um bom sinal. Encarei Nicole, que também olhava pra cima preocupada.

Logo, o som desses pássaros era insuportável, pois haviam muitos num único lugar. Milhares pousados nas árvores que rodeavam o acampamento da Águia. O cheiro de carne podre me atingiu como uma martelada.

— Santo Deus, o que houve aqui?- Bia reclamava escondendo o nariz.

Após passarmos pelos densos arbustos, vimos uma cena horrenda. Corpos estendidos ao chão, com as entranhas expostas e meio devoradas pelo corvos que vimos antes. Tendas queimadas, o que apenas piorava o cheiro, além dos corvos que nos vigiavam como se estivessemos fazendo algo de grave.

— Isso foi um ataque com incêndios. Só tem um clã que domina o fogo tão bem pra usa-lo em armas assim.

O que João falou era verdade, o Clã do Corvo era o que possuía os piores ataques, apesar de ser muito pequeno. Conhecido por chamar as aves depois de massacrar outros clãs para elas devorarem o que restasse.

Ao meu lado, o corvo produziu um som alto, nos fazendo olhar pra ele.

Ali estava. A espiral marcada com sangue. A guerra começou. O corvo nos deu o sinal.