Critérios Estranhos escrita por Luh Castellan


Capítulo 1
Confuso


Notas iniciais do capítulo

Esta é minha primeira fic yaoi. Foi feita para um amigo meu.
Espero que gostem ♥



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Victor estava esparramado na sua cama quando entrei no quarto. Roncava preguiçosamente, deitado de bruços, sem nem ter se dado ao trabalho de cobrir-se com o cobertor. O garoto estava usando somente uma cueca box preta, que ressaltava o tamanho de suas nádegas. Ele é seu irmão, porra. Minha consciência me repreendeu. Tudo bem, irmão adotivo, mas ainda assim era meu irmão. Balancei a cabeça para afugentar meus pensamentos maliciosos.

Meu irmão era homossexual e não escondia isso de ninguém, mas eu não era assim. Bom, talvez eu fosse bissexual, porém ninguém precisava saber disso. Meus pais já tinham desgosto suficiente por não ter um dos filhos nos moldes religiosos que eles criaram, imagina só os dois.

Joguei a mochila num canto do quarto e olhei novamente para o ser adormecido. Não me aguentei e puxei o lençol para cobrir-lhe a metade inferior do seu corpo. O garoto se remexeu, mas não acordou. Um sorriso esboçou-se no meu rosto ao observar sua expressão serena. Seus cabelos loiros despenteados caindo sobre o rosto, a fina barba contornando o maxilar, o nariz meio achatado e os lábios semiabertos eram traços bem conhecidos por mim. Victor era apenas dois anos mais velho que eu, com dezoito anos. Mas, de longe, eu era o mais responsável naquela casa.

Sentei-me na minha cama, usando uma pilha de travesseiros como apoio e puxei meu notebook para o colo, enquanto livrava-me dos tênis. Uma partida de League of Legends ajudaria a me distrair e parar de pensar no meu irmão. Esses pensamentos estavam bastante frequentes, ultimamente. Frequentes demais.

Minha internet estava uma droga, o que não era novidade. Acabei me estressando e fechando com força o computador. Seria melhor tomar uma ducha para acalmar os nervos.

Deixei a água escorrer pelo meu corpo, grudando meus cabelos negros à testa e carregando temporariamente as minhas preocupações para o ralo. O acontecimento desta manhã, meus pensamentos confusos em relação ao meu irmão, somados com a sobrecarga de provas e trabalhos da escola eram suficientes para me deixar na bad’ mais profunda.

Passei a mão pelos cabelos lisos e molhados, espirrando água no espelho. Minha mãe sempre reclamava disso. Ela reclamava praticamente de tudo. Com o passar do tempo, aprendi a colocar os fones no ouvido e aumentar o volume ao invés de me importar com seus gritos e sermões.

Amarrei a toalha branca ao redor da minha cintura. Era quase tão velha quanto eu, bordada com “Gabriel” em azul pela minha avó quando eu era bem pequeno. Eu me apegava bastante a objetos. E a pessoas. Por isso me fodia e fazia papel de trouxa.

Por falar em papel de trouxa, a cena da minha mais recente tormenta voltou à minha mente.

***

Eu estava na escola, sentado na minha carteira de sempre, torcendo e estalando os dedos para conter o nervosismo. Ela estava sentada na fileira ao lado, com toda a atenção focada em seu IPhone cor de rosa. Tinha um corpo pequeno e delicado, cabelos escuros que caíam-lhe perfeitamente lisos pelas costas, rosto angelical e lábios de boneca. Olhos frios escondiam-se por trás das lentes dos seus óculos.

Quem via a garotinha de moletom rosa nem imaginava as trevas de seu coração. O que encantava-me nela era sua total indiferença a tudo que acontecia a sua volta. Enquanto a turma ria de alguma piada idiota que o professor falava, ela apenas exibia um olhar de puro tédio, um “foda-se” para o mundo.

Meu coração possuía critérios estranhos para gostar de alguém, critérios que nem eu mesmo conhecia. E foram esses critérios que me levaram a gostar de Laura. Esses critérios idiotas que me fizeram ir até a carteira dela naquele dia, quando o sinal tocou e todos saíram para o intervalo. Todos, menos ela.

— Laura... Posso falar com você?

Ela ergueu os olhos do celular para me encarar. Um arrepio percorreu minha espinha. Eu já estava arrependido. Mas eu havia demorado séculos para juntar coragem para dizer aquilo e não poderia amarelar agora.

— Já está falando, né? — respondeu secamente. — Desembucha.

Mais seca ainda estava minha garganta quando me forcei a engolir.

— Eu... Acho que estou gostando de você — disse tudo de uma vez, para não ter como voltar atrás.

Ela soltou uma risada fraca, que seria fofa se não fosse o tom carregado de deboche.

— Tá, isso é problema seu.

E então voltou a digitar no celular, como se nada tivesse acontecido. Ela arrancou meu coração do peito e o pisou com seu All Star de forma totalmente casual, como se todo dia aparecesse um trouxa para ela dar um fora. Era simples assim.

***

Ficar remoendo a cena só abriria cada vez mais o buraco no meu peito. Saí do meu esconderijo no banheiro para o corredor da casa. Um cheiro bom vinha da cozinha. Segui o aroma e me deparei com uma cena inusitada: Victor cozinhando. Victor nunca cozinhava. Ele queimava até a água, se é que isso era possível.

Eu estava surpreso demais para falar algo, então ele só notou minha presença quando se virou para pegar algo na geladeira.

— Ah, você está aí — dirigiu-se à figura boquiaberta só de toalha, parada no meio do corredor.

— Você está cozinhando? Que bicho te mordeu? — indaguei, incrédulo.

— A mãe foi comprar alguma coisa e levou a peste do Lucas com ela — ele afirmou, enquanto ajeitava o cabelo com a mão esquerda e fechava a geladeira com a direita. Lucas era nosso irmão mais novo. — E como eu não queria morrer de fome, resolvi experimentar uma receita que uma amiga me mostrou.

Ele parou de mexer a panela para me encarar. Seu olhar percorreu meu rosto, desceu pelo meu peito e parou no abdômen. A academia que eu frequentava estava finalmente mostrando seus resultados. Era impressão minha ou Victor estava olhando fixamente para a minha toalha? Ou, mais precisamente, para o que ela escondia. Tive um vislumbre dele mordendo o lábio inferior antes de desviar novamente a atenção para a comida.

Não trocávamos de roupa na frente um do outro desde a puberdade.

— Tá forte, hein?

Seu comentário foi a confirmação que eu precisava. Sim, ele estava me observando. E eu não sabia o porquê de eu estar sorrindo por isso.

Quando eu estava devidamente vestido e penteado, voltei para a cozinha. Comemos em silêncio, trocando olhares ocasionais.

— Tá com essa cara de bad’ por quê? — Quebrou o silêncio. — Espera, deixa eu adivinhar... Levou um fora de novo?

— Tá tão óbvio assim? — Suspirei, encarando o frango no meu prato.

Ele apertou os olhos por trás das lentes do óculos e ergueu o canto direito da boca quando riu. Seus óculos de armação azul eram somente para leitura, como receitou o médico, mas Victor utilizava-os quase o tempo inteiro.

— Desculpa, maninho, mas o desastre que se encontra a sua vida amorosa não é segredo para ninguém.

Encolhi os ombros na cadeira.

— Então... Me ajude — pedi, meio tímido. — Me dê umas dicas, sei lá. Você é bem melhor com essas coisas.

Victor ponderou um instante.

— Tudo bem. Me faça uma cantada.

Parei o garfo no caminho para a boca. Fiquei observando-o com ar de interrogação. Eu tinha ouvido certo?

— Anda logo!

— Hã... — Tentei pensar em algo inteligente, mas a minha mente deu um branco completo. Então falei a primeira coisa que veio na cabeça. — Você vem sempre aqui?

Meu irmão largou os talheres dentro do prato e enterrou o rosto nas mãos.

— Isso explica o porquê de sua vida amorosa ser um desastre.

— Ei! — protestei, jogando uma ervilha nele.

Ele riu enquanto se levantava da mesa.

— A abordagem inicial é superimportante — explicou, enquanto recolhia os pratos. — É ela que vai ditar se a pessoa vai te rejeitar direto ou te dar uma oportunidade. Por exemplo...

O rapaz depositou os pratos na pia e voltou para a mesa, com um sorriso no rosto.

— Olá! Estava te observando e te achei bem bonito. E tem bom gosto também. Adorei a sua camisa!

Surpreendi-me com o ato repentino, então fiquei imóvel, com cara de retardado.

— Claro que isso é uma situação hipotética — ele acrescentou, desmanchando a pose. — Essa sua camisa está horrível, e não combina nada com a bermuda.

— Mas eu gosto dela... — Tentei argumentar, mas Victor me cortou com um gesto da mão.

— O segundo passo é o visual. Aparência conta muito.

Franzi os lábios, ainda indignado com a questão da camiseta. Aquilo tudo era ainda mais difícil do que eu imaginava.

— Pegue as chaves da moto. Nós vamos às compras!

— O que?! — indaguei, incrédulo.

— Anda logo, sua lesma! — reclamou, já fechando as janelas da casa.

Aí estava o Victor que eu conhecia. Respirei fundo e me arrastei para fazer o que ele pediu. Aquela tarde seria looonga.

Depois de entrar em centenas de lojas, fazer as pobres vendedoras espalharem milhares de roupas sobre os balcões e me obrigar a provar todas elas, Victor enfim ficou satisfeito com meu visual. Não faço ideia de onde ele conseguiu tanto dinheiro, mas no fim do dia estávamos abarrotados de sacolas cheias de roupas e sapatos novos. Quando perguntei o motivo de tudo aquilo, ele falou que também aproveitaria aquelas roupas e que estávamos mesmo precisando renovar o guarda-roupa.

Seguiram-se vários dias de lições, repreensões, brincadeiras e risos. Aquilo tudo acabou me aproximando ainda mais de Victor. Chegaram as festas do padroeiro da nossa cidade, bastante aguardadas por todos. Era nessa época do ano que os jovens saíam da reclusão de suas “tocas” e apareciam pessoas de outras cidades da região.

Eu estava terminando de me arrumar, penteando os cabelos de frente ao espelho. Eu vestia uma camisa branca de mangas longas e gola V. Um jeans escuro destacava as curvas certas nas minhas pernas e um tênis azul marinho completava o visual.

— Vejo que tá colocando em prática as lições que te ensinei. — Victor estava parado na porta do quarto, com um meio sorriso estampado no rosto.

Eu sorri também quando ele se aproximou e endireitou a gola da minha camisa. Seus dedos roçaram contra a pele do meu pescoço, provocando arrepios naquela região. O que estava acontecendo comigo? O toque de Victor nunca havia provocado isso em mim. Eu não tinha vergonha dele, e agora ficava todo tímido quando ele se aproximava. Seus olhos e sorriso teimavam em não sair da minha mente e, nos últimos dias, passei a ter sonhos... Hum... Quentes envolvendo meu irmão.

Eu me repreendia a todo momento e me lembrava de que aquilo era errado, doentio. Eu não podia estar apaixonado pelo meu irmão. Mas eu estava. Puta merda, como eu estava.

— Ainda não coloquei todas em prática — afirmei, de repente.

Ele franziu o cenho, confuso com minha resposta.

— Ainda falta um lição — Aproximei-me ainda mais, até deixar nossos rostos a centímetros de distância. Eu podia sentir a sua respiração acelerada. Então juntei coragem sabe-se lá de onde para completar. — A do beijo.

Minha mão ocupou o espaço atrás do seu pescoço e rompeu a curta distância existente entre nós. Os lábios de Victor foram de encontro aos meus e eu me surpreendi ainda mais quando ele correspondeu. Entrelaçou os dedos nos meus cabelos e me empurrou contra a parede. Minha língua explorava o espaço desconhecido de sua boca enquanto ele deslizava as mãos pelas minhas costas com vontade, amarrotando o tecido da camisa. Foda-se a camisa. Nossos corpos estavam colados, seus cabelos recém lavados ainda molhados sob o toque dos meus dedos. Ainda não parecia perto o suficiente.

Não estávamos nem aí para a possibilidade de Lucas ou minha mãe entrar no quarto e se deparar com aquela cena. Não estávamos nem aí para o fato de sermos irmãos e aquele ato ser duplamente horrível perante a igreja. Não estávamos nem aí. A única coisa que importava era o movimento de seus lábios contra os meus e as sensações que isso provocava.

Meu coração possuía critérios estranhos. E esses critérios me fizeram ficar completamente apaixonado pelo meu irmão.


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Notas finais do capítulo

Obrigada a todos que leram até aqui!

Aqui vão algumas questões para ajudá-lo, se tem vergonha ou não faz ideia do que comentar.
O que achou da fic? Gostou?
Encontrou algum erro? Se sim, por favor, indique o trecho para que eu possa corrigi-lo.
E sobre os personagens, o que achou deles?
O que poderia ser melhorado? Tem sugestões?

Pronto! Ou pode fazer do seu jeito também, tenho certeza de que ficará ótimo.

Beijos ♥



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