Sexta-feira, 18 de dezembro, 12h00min. 

Assim que cheguei ao meu quarto temporário, joguei minha mochila no chão ao lado da porta e deitei - Ou melhor, me joguei - sobre a cama, fechando os olhos. Nem reparei na estrutura do quarto em que estava, pois meu corpo se encontrava cansado demais da viagem de quatro horas para se preocupar com tal coisa. E como se esse longo e demorado trajeto não bastasse, tive que suportar meus pais discutindo durante todo o caminho sobre o quão empolgado estavam esse ano com nossa viagem em família, enquanto eu brigava com minha irmã no banco detrás do carro, mandando-a calar a boca e não cantar mais nenhuma música do Justin Bieber. Não me leve a mal, nada contra ele, mas ouvir quatro horas de todas as faixas existentes do Bieber na inexistente habilidade vocal da minha irmã não é nada bom, no entanto. Por isso, o que eu mais queria no momento, após essa tortura, era esticar as pernas, dormir eternamente e não ouvir a voz de ninguém.

Infelizmente, a vida parece não gostar de mim.

— Ah, nada disso Catherine! – A voz fina e irritante da minha irmã mais velha irrompe dentro do quarto e eu interiormente gemo. Cassie tem o dom para acabar com minha felicidade. – Eu disse que ficaria com a maior cama. Saia!

— Agora eu já deitei e daqui ninguém me tira. – Murmurei com o rosto contra a cama e ainda de olhos fechados. Cassie resmungou algo inteligível e logo em seguida escutei o barulho de suas duas malas rasparem no chão de assoalho.

— Eu mandei sair. – Ela disse e antes que eu pudesse reagir, meu corpo estava sendo empurrado bruscamente da cama e caindo no chão duro com um baque surdo. 

— Vagabunda! Isso é golpe baixo. Eu não estava preparada. – Eu reclamei enquanto levantava lentamente do chão e usava a mão para esfregar as partes doloridas do meu corpo devido a queda. Lancei um olhar sujo a Cassie assim que me encontrei de pé e o sorriso desdenhoso que avistei em seus lábios só fez aumentar o meu desejo de bater no rosto bonito dela. – Vai ter volta. – Ameacei antes de me virar e me lançar sobre a cama ao lado que era nitidamente menor e menos confortável.

Cassie deu de ombros, mas sabe por si mesma que não faço ameaças vazias a menos que não possa cumpri-las. Observo-a tranquilamente retirar suas malas do chão e colocá-las em cima da cama que por alguns minutos fora minha. Em seguida, ela passa retirar todas as suas mine roupas e organizá-las no imenso guarda-roupa.

— Mamãe e Papai planejaram todo o nosso fim de semana. Várias dessas coisas em família. - Ela comenta e caminha pelo quarto guardando mais uma de suas calcinhas fio dental na gaveta.

— Maravilha. – Eu bufo - Esse será um longo fim de semana.

— Nem me fale.

Todos os anos nossa família resolve passar o fim de semana na praia, o que não deveria ser ruim, afinal, a praia é um dos lugares mais relaxantes que existem. No entanto, esse ritual anual passou a ser extremamente entediante quando passamos a frequentar a mesma praia durante seis anos seguidos. Provavelmente devo conhecer todos os vizinhos e cachorros desse lugar e nada é tão extraordinariamente divertido para mim quanto eram aos meus 11 anos.

— Será realmente deprimente. Como vou poder sair com eles na minha cola?

— Isso nunca te impediu nenhuma vez de escapar de casa. Aqui não seria muito diferente. 

Cassie inclina a cabeça, avaliando. 

— Bom ponto.

Cassie é mais velha que do que por apenas dois anos, ou seja, eu tenho 17 e ela 19 e mesmo com a pouca diferença de idade não poderíamos ser mais diferentes. Ela sempre foi o tipo de pessoa incrivelmente sociável - Algo que sempre invejei. Basta dar um sorriso que todos se encantam com seu jeito espontâneo e simpático.

Eu sou o oposto.

Minha personalidade tímida e reservada, muitas vezes, impedi qualquer tentativa de me entrosar com as pessoas ao meu redor. Simplesmente não consigo puxar conversa ou passo vergonha por falar ou fazer algo errado, por isso já nem me esforço em tentar. 

 Não me admira ter apenas uma amiga e essa ser, ainda por cima, minha prima.

— Ainda bem que aqui tem uma varanda. É mais fácil sair por ela do que pela janela lá de casa. - Cassie diz e eu rio. Minha irmã com certeza não é um exemplo de responsabilidade e maturidade - O que você pretende fazer de empolgante esse ano além de ler livros na praia e dormir?

— Ler livros na praia e dormir. E talvez, talvez eu possa até dar mais do que um mergulho.

— Bem, pelo menos você entrará mais vezes na água. Pra você, isso com certeza é uma grande coisa.

— É claro que é. – Estendo o braço sobre a cama e pego um dos pequenos travesseiros bordados, jogando-o no rosto de Cassie. Ela faz uma careta antes de depositá-lo na sua própria cama - Não vê o quanto eu estou empolgada com isso.

Não estou nem um pouco empolgada com isso e não procuro esconder a falta dela. Nunca levei uma vida de pular janelas durante a noite para ir a festas, como minha irmã faz praticamente todo o fim de semana. Sempre preferi passar a noite lendo até o sono me abater ou assistindo séries na Netflix. E neste fim de semana, essa minha rotina excitante não mudará muita coisa e estou satisfeita com isso. Comprei novos livros para ler durante o meu tempo aqui.

Estou feliz com meus planos. Isso se não forem atrapalhados pelos planos em família organizados por meus pais.

Escuto passos pesados se aproximarem do quarto em que estamos e meu pai aparece na porta. A visão de suas roupas habituais de praia quase me faz rir. Usando um calção com uma estampa de flores grandes e coloridas, uma camiseta verde folgada e um colar de flores, similar àquele que vemos as pessoas usarem quando visitam o Havaí, meu pai sorri contentemente para nós.

— Meninas, quando terminarem de arrumar suas coisas se apressem a descer. – Ele diz e adentra alguns passos no quarto – Nós vamos almoçar e ir à praia.

— Eu já vou descer. Vou só trocar de roupa antes. - Cassie diz e meu pai balança a cabeça antes de voltar sua atenção para mim.

— E você Kit Caty?

— Falta arrumar minhas coisas e trocar de roupa.

— Tudo bem. – Ele diz - Só não demore muito. – Papai gira em seus calcanhares e se retira do quarto.

Observo Cassie guardar o restante de suas roupas no guarda roupa e depositar suas malas vazias no canto do quarto. Ela pega seus acessórios de praia e troca sua legging preta e blusa de ombros a mostra por um minúsculo biquíni vermelho, onde seus pequenos seios são bem valorizados. Ela coloca um short jeans para cobrir, por enquanto, sua bunda arredondada e logo depois um óculos escuro no estilo aviador.

Eu permaneço deitada na cama, sem mexer um músculo sequer e observo-a transitar não tão silenciosamente pelo quarto. Assim que, finalmente, pronta, Cassie se dirige até a porta do quarto e se vira para mim antes de sair.

— Não esqueça de se arrumar, Kit Caty. – Ela diz - Eles estão nos esperando lá embaixo. A menos que você queira enfrentar logo cedo o Furacão mamãe. Por mais que eu já esteja acostumada eu não recomendaria.

Continuo deitada na mesma posição em que estava há três minutos e Cassie bufa. Ela se abaixa e retira do chão a mochila que depositei ao lado da porta assim que cheguei e a joga em cima da minha barriga, fazendo-me praguejar de dor.

Por um breve momento esqueci o quanto minha irmã é cruel.

Ela ri diabolicamente e irritação toma conta das minhas veias. Empurro a mochila de cima do meu corpo e rapidamente pego um dos meus chinelos no chão, lançando-o em sua direção. Contudo, o objeto que antes deveria acertar o rostinho bonito de Cassie, acaba por bater em uma porta fechada. Escuto ela vangloriar-se no corredor e eu fecho os olhos, amaldiçoando e lamentando ter uma péssima mira.   

Esse será um longo fim de semana.