Memórias de uma bailarina escrita por Lady Rosinha


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal!
Bom, essa one é uma homenagem à todas as bailarinas, com ou sem sapatilhas.
No entanto, gostaria de dedicar esse pequeno conto à minha eterna mestra e professora; a Primeira Bailarina Absoluta do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Bertha Rosanova.
Espero que gostem.



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Eu ainda me lembro. Sim! Eu ainda me lembro do piso de tábua corrida que estalava quando saltávamos sobre ele e do nosso objetivo quase inalcansável de aterrisar sem que emitisse um único ruído.

Ainda me lembro do cheiro do breu que quebráva-mos para passar nas sapatilhas; ainda me lembro da textura do piso negro da secretaria e de como observava maravilhada os retratos em preto e branco do *Pas-de-Deux  de "O Lago dos Cisnes"; me lembro de como eu sonhava em me tornar aquela princesa nem que fosse por uma só noite.

Me lembro do dia em que descobrimos onde guardavam os cenários de "O Quebra Nozes" e de como sempre voltávamos para aquele pequeno cômodo mágico, que abrigava aquela terra de sonhos para vivermos incríveis aventuras bem na pontinha dos pés.

Ainda me lembro de imitar as alunas veteranas e de tentar captar um pouco de sua graça e leveza enquanto se preparavam para mais uma aula; me lembro da felicidade de calçar pela primeira vez uma sapatilha de ponta e me lembro do medo de desabar no chão, arriscando um ou dois passos incertos em direção à professora orgulhosa.

Me lembro de como ela sorriu nos acalmando, nos apoiando enquanto fazíamos o **Petit Pas-de-Bourrée. Ainda me lembro de quando lhe perguntei segurando com força sua mão "E se eu cair?" e de como ela sorriu e disse "Querida, anjos nunca tocam o chão." Sim, ela tinha razão; éramos anjos, fadas, princesas, cisnes e fantasmas, que flutuavam em um universo paralelo de magia e luz. Engraçado, daquele dia em diante, eu nunca mais toquei o chão...

Me lembro de assitir maravilhada à morte do cisne, e de como queria ser eu o cisne a morrer naquela noite. Me lembro da dança triste das Willies, com seus véus etéreos de tule e suas roupas de gaze branca e de como Giselle dançou até o amanhecer, para desafiar a rainha Myrtha, salvando o príncipe Albrecht de sua fúria.

Me lembro de um certo pássaro de fogo a voar por entre as flores do jardim do estúdio e particularmente, ainda sonho em brincar com os frutos de ouro da árvore mágica que ficava bem lá no fundo do pátio, para depois adormecer ao som da flauta mágica.

Sim! Eu me lembro! E continuo lembrando de minha grande mestra, que mesmo muito idosa ainda descia as escadas para nos ensinar, me lembro de seu sorriso fraterno e cúmplice, de sua elegância, de sua realeza, sua presença magistral de Primeira Bailarina Absoluta! E me lembro da expressão esperançosa de minha avó quando entregou-me nas mãos daquela minha eterna professora. 

Contudo, o tempo foi passando e hoje, já não anseio mais dançar o *Pas-de-Deux do Cisne Negro, e já quase não viajo para a pequena vila encravada na montanha, em cuja praça principal a jovem Swanilda ainda dança rodeada por suas amigas. 

Ah! Mas tenho certeza de que se me concentrar bastante, ainda consigo sentir o perfume das flores entranhadas no cabelo daquelas meninas. E sei que se virar minha cabeça um pouco mais para o lado, ainda posso ver o curioso Dr. Coppelius a ajeitar com devoção o vestido da jovem misteriosa e bela, sentada à janela com um livro em suas mãos.

Eu sei que o tempo passou, que eu cresci (ou que pelo menos deveria tê-lo feito) entretanto, ainda posso, mesmo que raramente,  voltar a dançar com as fadas, duendes, cisnes, princesas e camponesas; basta fechar meus olhos, respirar fundo e deixar que a música preencha minha alma. 

Sabe por quê?  Porque quem tem coração de bailarina, jamais toca o chão. Nós nunca abandonamos plenamente nosso mundo paralelo e luminoso, mesmo que o tempo passe, mesmo que as antigas sapatilhas sejam penduradas, estará sempre em nosso coração a chave para a terra de nossa imaginação.


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Notas finais do capítulo

* Pas-de-Deux: "Passo de Dois", em francês, um tipo de dança do balé clássico em que dois bailarinos dançam juntos no palco. alguns dos mais famosos são os de: Espartacus, Quebra Nozes, Lago dos Cisnes e Bela Adormecida...
** Petit Pas-de-Bourrée: Tipo de passo de balé clássico.

OBS.: Também postada no Social Spirit...

Bem, é isso, espero que tenham gostado! Por favor, não esqueçam de comentar, favoritar e compartilhar!
Bjks



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