Choque de Tempo escrita por Miss Krux


Capítulo 4
Capitulo 4 - A verdade para William




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No platô, um William pasmo e muito confuso tentava entender tudo o que tinha ocorrido, enquanto Challenger andava de um lado para o outro na caverna, revirando e estudando seus aparatos na tentativa de descobrir para qual data haviam retornado.

C - Eureka! Meu jovem, voltamos ao platô e melhor: no tempo certo.

Logo William sai de seus próprios pensamentos e ainda sem assimilar o que foi tudo aquilo.

W – Desculpe-me, Senhor, mas voltamos para onde? E que tempo é este ao qual se refere? O que foi tudo aquilo que aconteceu, toda aquela luz? E agora que me dei conta de que não fomos nem apresentados. Queira por favor, se explicar.

C – Perdoe-me, William, por tal indelicadeza. Ora, onde estão meus modos? Meu nome é George Ed...

Antes que Challenger pudesse terminar a resposta, William o interrompe.

W – Espera só um instante, como sabe meu nome? Eu não lhe falei. O senhor me deve explicações, senhor George, acho que mais do que eu pensava.

C – De fato, eu devo. Bem, vamos para a casa da árvore e eu lhe explico tudo no caminho. Logo vai escurecer e não é seguro ficarmos a noite andando por aí. Não estamos mais em um safári e, só para adiantar, este local é um platô perdido na América do Sul, cercado por tribos desconhecidas, civilizações antigas, aparições místicas e criaturas pré-históricas. Por favor, confie em mim William, acha que se quisesse lhe fazer algum mal o teria salvado?

William analisou o homem mais velho na sua frente, a sua última frase lhe parecia muito coerente. Pela fresta da caverna notou que o sol estava mesmo se pondo e, de fato, logo não haveria mais claridade do dia. Era necessário arrumar um abrigo mais seguro do que aquela caverna, mas quanto ao platô, às criaturas e quem quer que fosse a tal pessoa que precisava tanto conversar com ele, isso parecia tudo muito fantasioso.

W – Está bem. Digamos que eu acredite parcialmente no Senhor, que algumas de suas colocações façam sentido. Eu ainda gostaria de saber com quem estou lidando, principalmente porque estamos juntos, seja onde for este local ao qual se refere como um “platô perdido”.

Challenger levanta uma de suas sobrancelhas ruivas e analisa o jovem a sua frente: ele era bem diferente de John, não só fisicamente, onde suas diferenças eram mais nítidas, mas também nos seus modos de falar – o de William chegava a ser semelhante ao de Marguerite, porém sem o sarcasmo que esta sempre costumava expor em suas frases, e, além disso, de uma cordialidade notável. Logo Challenger decide que pelo menos agora, sem provas, William não iria acreditar nas suas palavras.

C – William, talvez no caminho para casa onde vivo você tenha suas provas quanto às minhas referências a este local. E quanto às apresentações, meu nome é George Edward Challenger, sou um cientista, membro da Sociedade Zoológica Britânica. Contudo, estou perdido neste local há pelo menos 4 anos, se meu raciocínio estiver correto, e seu irmão, John, é um grande amigo meu, íntimo por assim dizer.

William olhou incrédulo para Challenger. Semanas antes de sair de Londres para este safári forçado por seu pai e irmão, assistia uma apresentação de Challenger, na Universidade de Oxford, sobre o transporte de partículas sólidas através do tempo e espaço - esta seria uma nova matéria que o Professor iria ministrar - e agora o próprio estava ali diante dele; mais velho, mas os traços físicos eram inquestionáveis.

W – Ora, é o Senhor mesmo? Mas está velho! Ah mil perdões, onde foi parar minha educação? Se minha mãe estivesse aqui estaria puxando minhas orelhas. Desculpe, Professor, pela insolência. Quando me refiro a velho, bem, quero dizer, na semana passada estava assistindo sua palestra sobre a nova disciplina que irá ministrar em Oxford e o senhor aparentava mais novo. Mas agora estamos aqui... o senhor, eu... Bem, é mesmo o senhor, claro; seus traços não mudaram em nada. Mas agora compreendo menos ainda.

Challenger não agüentou ver o rapaz todo encabulado por tê-lo chamado de velho e acabou dando uma gargalhada, que logo contagiou William.  Este viu logo que poderia confiar no Professor e ambos seguiram para a casa da árvore.

Durante o caminho, devido ao ferimento do cientista ter voltado a sangrar, eles decidem parar próximo a um pequeno rio para fazerem a limpeza do ferimento. William logo tira um lenço de seu casaco e trata de fazer a limpeza, também pedindo para que Challenger, que já começava a sentir dores na cabeça, lhe permitisse levar sua mochila e rifle para aliviar o peso que ele carregava.

Challenger sabia que não ia ser fácil contar o motivo pelo qual havia tirado William de seu tempo e trazido para o presente, mas tinha que ser feito. “Coragem, vamos, você começou isso e agora não se pode mais voltar atrás. William é um cavalheiro da alta sociedade muito bem educado pela Lady Roxton, ele vai entender”.

C – William, eu sei que ainda está confuso e, entenda, essa pergunta que irei fazer é necessária, mas de modo algum quero me intrometer em sua vida ou na de seu irmão; preciso saber como é o convívio entre vocês dois?

Claro que William não entendeu a pergunta do professor, mas tinha visto ele falar de sua amizade com John, embora não se recordasse dessa amizade entre os dois - principalmente porque John em momento algum de sua vida demonstrou interesse por palestras ou mesmo leituras, mas sim pelas aventuras, pelos bailes e suas noitadas em Londres. “Ora, o que será que meu querido irmão está tramando agora? Por que esse interesse súbito do Professor?”.

W – Ora, Professor, acredito que o senhor como um membro da Sociedade Zoológica de Londres, deve ter ouvido no mínimo boatos que nosso convívio não é dos melhores; sempre estamos disputando, brigando, chutando e agora que eu herdei o titulo de Lord, que eu irei cuidar dos negócios da família, meu querido irmão ainda não se conforma. Na verdade, ele nunca sequer me perguntou o que eu queria.

C – Era o que suspeitava. Não por meio de boatos da sociedade londrina como se referiu, mas pelo próprio John. Meu rapaz, me diga, se seu irmão estivesse mudado, por conta de um ocorrido, se ele quisesse se redimir por tudo que lhe fez de errado, uma conversa de irmão para irmão como nunca tiveram, um acerto de contas; lhe daria tal chance?

William, com ar de desacreditado, não no professor, mas que John buscasse uma redenção, responde:

W – Professor, não me entenda mal, mas não acredito que o meu irmão estivesse disposto a isso... Esta seria uma chance, uma oportunidade que sempre almejei, mas qual fato ocorrido seria este capaz de mudar tanto o Johnnyzinho?

Challenger respira fundo e sabia que agora era o momento, mas que teria que usar as palavras certas, pois o convívio entre os dois era pior do que ele imaginava.

C – William, o seu irmão cometeu um erro; foi uma fatalidade, não foi culpa dele, embora carregue este fardo. Há 14 anos, o gorila que estava prestes a matá-lo hoje teria conseguido se não fosse um tiro certeiro de seu irmão, porém... Como vou explicar isso para você... Bem, a bala atravessou o gorila e atingiu o seu peito, quase que o matando instantaneamente. Exatamente daqui a dois dias você completaria 14 anos de morte. Aquela máquina que viu é um teletransportador, me permite viajar no tempo e no espaço. Foi por causa do sofrimento de John que eu te trouxesse aqui, para este presente. Seu irmão está mudado, hoje é um homem maduro, com princípios diferentes da época que você se lembra e que sofre muito pela sua perda. E reforço mais uma vez que foi uma fatalidade. Será que entende o que estou lhe dizendo?

William estava branco como um fantasma, foi obrigado a sentar-se em uma pedra próxima para que não caísse, embora tivesse pensado que o que aquele homem havia dito até o momento fosse fantasioso, agora tudo fazia sentido, as peças do quebra-cabeça estavam se juntando. Ele estava lá, viu como tudo aconteceu: a viagem de tempo e o lugar, o próprio professor anos mais velho, o próprio lugar onde estavam, realmente aquilo era possível. Mas a palavra “assassinou” lhe atingiu a mente como um raio. ”Meu irmão me matou? Meu próprio irmão! Como pôde? Sempre disputamos, quase que para tudo, mas isso? Claro; uma vez que eu esteja morto o título logo ficaria para John, assim como toda a herança seria somente dele e os negócios da família, tudo... Ah, meu querido irmão, meu querido John... Ou será que agora devo chamá-lo de Lord John Richard Roxton? Você terá sua chance, terá sua oportunidade de acertarmos as contas e será inesquecível”.

Challenger então quebra todo o gelo, toda a linha de pensamento de William, afinal o homem estava banco e parecia perdido.

C – William, você compreendeu o que eu disse? Está se sentindo bem, meu caro? Está branco como um fantasma, passe um pouco de água no rosto.

William estava admirado com o cientista, aquele homem havia quebrado as barreiras de tempo e espaço, isso era admirável. E ele como um bom estudioso iria obviamente querer aprender mais. Porém, no momento restringiu-se em falar sobre John, sobre o que acabara de ouvir e pensar:

W – Claro. Claro, Professor, estou perfeitamente bem. Apenas um pouco extasiado ainda com todas essas informações, mas acredito que nada como uma noite de sono para colocar os pensamentos em ordem. Agradeço sua preocupação, mas é o senhor a prioridade aqui; está ferido, não se esqueça. Acho bom irmos mais rápido, o senhor guia o caminho, estarei ao seu lado.

C – Perfeitamente, meu caro, mas e quanto a John? Quanto ao seu irmão? Desculpe, mas tenho que perguntar, estamos indo ao encontro dele.

William, colocando seu melhor sorriso no rosto, e não transparecendo todo o seu ódio, todo o enojamento por seu irmão, responde em um tom quase que suave:

W – Ele terá a sua oportunidade de acertarmos as contas, Professor, e será um encontro inesquecível.


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