Choque de Tempo escrita por Miss Krux


Capítulo 19
Capítulo 19 - Cada ação sua conseqüência.




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Marguerite vai até a aliança largada no chão, se lembrando de como estava feliz há poucos dias e agora... nunca havia sentido tamanha a dor, seu coração parecia estar em mil pedaços, estilhaçado. Como doía... talvez fosse por isso que havia decidido não amar, não sentir, porque as conseqüências eram essas: dor, desconfiança, ciúme e destruição. A herdeira não falou uma palavra, apenas apanhou a aliança e rumou para o seu quarto. Malone quase a chamou, mas foi detido por Challenger, que colocou uma mão em seu braço como sinal de que a deixasse com seus próprios pensamentos.
W - Acho que isso foi minha culpa. Deveria ter me calado, mas quanto a ouvi cantar...
Verônica estava com pena do homem; na verdade, não foi culpa dele, muito menos de Marguerite; John foi quem agiu por impulso. Ela já havia o visto agir por impulso, mas assim não, ele não havia atingindo só o irmão, como também havia atingido a herdeira.
V – William, não foi sua culpa. John que não deveria estar hoje nos seus melhores dias.
A garota da selva dava um sorriso simpático para o rapaz, para tentar alegra-lo ou ao menos dar um apoio. Challenger e Malone agora o ajudavam ficar em pé e já o guiavam para o quarto, o antigo quarto de Summerlee.
Estavam todos tão desolados que não sabiam muito o que falar ou fazer. Challenger, ainda com os olhos baixos, não sabendo muito bem o que dizer, por consolo e até mesmo para si, arriscou:
C – Sabe, acho que nada como um dia após o outro. Tenho certeza que toda essa situação logo será resolvida.
Para surpresa de todos, fazendo todos saltarem de susto, ouve- se um grito, um grito de Marguerite vindo de seu quarto seguido de um estrondo como se algo tivesse sido quebrado.
N - Marguerite? Temos que ir ver o que aconteceu.
Verônica não discordava de Malone, que deveriam mesmo ir vê-la, mas apenas ela e não os homens. Era provável que Marguerite houvesse perdido todo o seu autocontrole mantido por anos e estivesse muito ferida. John havia feito isso, havia aberto como uma ferida em Marguerite e agora ela estava extravasando a dor que sentia. Definitivamente não era um assunto que os rapazes deveriam presenciar, a herdeira não permitiria.
V - Eu irei vê-la, Ned, ajude Challenger com o William.
N – Não, Verônica, eu vou junto com você.
Claro que Ned não tinha tal “malícia”, não havia pensado como Verônica pensou; na verdade, ele estava preocupado também com a herdeira, assim como todos.
O cientista, já mais experiente, ainda mais em se tratando de Marguerite, tinha certa noção do que se passava.
C – Não, Malone. Deixe Verônica ir sozinha, vai ser melhor. Minha cara, se precisar...
V – Obrigada, Challenger.
A garota da selva descia passo por passo, não queria que a herdeira sentisse sua presença, mas quando ela viu aquela cena teve que parar durante um tempo na porta do quarto para respirar e até mesmo assimilar o que via.
Marguerite estava sentada no chão, chorando tanto como Verônica nunca tinha visto, chegava a soluçar. Diversas folhas dos diários estavam espalhadas pelo chão, um pequeno vaso em estilhaços; mas não era só o vaso, o espelho que ficava próximo também estava quebrado e, para o desespero da garota da selva, quando aproximou-se viu sangue. Marguerite estava sangrando.
A loira correu em direção a herdeira, abraçando-a desesperadamente e procurando pelos ferimentos.
V – Ah, Marguerite... o que você fez? Está ferida. Me deixe ver, cadê?
A morena apenas mostrou os braços e Verônica sentiu-se gelar, arrepiar, vários sentimentos que não sabia nem sequer descrevê-los. O braço direito da herdeira estava com vários cortes superficiais, mas ainda assim eram vários; e na mão esquerda de Marguerite, quando ela abriu, havia a aliança e um pedaço de espelho, a mão pingava, escorria o sangue. A herdeira havia jogado o vaso, acertando-o no espelho, fazendo os dois em cacos espalhados, pegou um pedaço não muito grande, mas suficientemente cortante, do espelho e havia se cortado, se machucado no braço. E agora, sentada e chorando, devia ter segurado o caco de vidro e a aliança com tanta força que cortou a mão de maneira um tanto profunda. O que preocupava Verônica mais ainda é que a herdeira de língua afiada estava muda, não falava uma palavra, nem sequer afastava-se do abraço e dos cuidados que ela lhe dava.
A garota da selva abraçou Marguerite ternamente, um abraço de irmã e de amiga, acolhendo-a, e viu que lágrimas escorriam por seus olhos. Ela sentia por Marguerite, como lhe doía ver aquela cena... Depois de um breve tempo assim, a herdeira conseguiu se pronunciar em um tom que era como se a própria tristeza falasse, ainda entre lágrimas.
M – Verônica, me tire daqui. Por favor. Não quero ficar aqui. Tudo me lembra o John.
A garota da selva não sabia bem o que fazer, para onde levar Marguerite. Pensou um pouco... Se fosse com ela o único lugar em que gostaria de ficar em um momento assim era o seu quarto, era o seu canto privado; desta vez ela não se importaria em dividir algumas coisas a mais com Marguerite.
V - Eu vou te tirar daqui sim. Essa noite pode passar no meu quarto. Quem sabe não se sinta melhor.
A herdeira, mais uma vez, nada disse; apenas levantou-se, sua roupa estava toda suja de sangue, deixou cair o caco do espelho e a aliança e, sem olhar para nada, senão para o chão, permitiu que a garota da selva a guiasse, pois nem isso estava em condições de fazer.
Já no quarto de Verônica, a morena senta-se na cama em tal estado que quem olhasse sentiria no mínimo pena. O caçador havia ido longe demais, não deveria feito o que fez, ele a feriu mais do que poderia e, na verdade, não deveria nem que sequer feri-la.
V – Marguerite, vou lhe dar uma antiga camisola que pertenceu a minha mãe. Enquanto se troca, vou ferver uma água; precisa se acalmar, lhe farei um chá. E também já volto para limparmos e fazermos alguns curativos nesses cortes.
Mais uma vez, o que Verônica ouviu foi o silêncio e uma Marguerite a se levantar, preparando-se para trocar de roupa. A garota lhe deu uma camisola e saiu indo em direção à cozinha.
Challenger e Ned estavam limpando a bagunça, resultado da briga entre os dois irmãos. Os homens viram os olhos vermelhos de Verônica, ela sentou-se em uma cadeira próxima. Ned deixou de lado a vassoura que estava usando para limpar o chão, ajoelhou-se próximo a garota e pegou umas das mãos dela, fazendo carinho.
N – Verônica, o que aconteceu? Como Marguerite está?
Verônica abraçou o jornalista e chorando mais ainda, eram as lágrimas que lhe faltavam escapar.
V – Ah, Ned... É pior do que pensa. Marguerite... eu… eu nunca a vi assim.
Challenger se aproximou dos dois jovens, olhou para Malone que estava com ar de preocupado. Mas ele mesmo também estava, queria saber como a herdeira estava e o porquê de Verônica estar chorando como estava.
C - Minha cara, por favor, se acalme, precisamos manter a calma pelos três. Verônica soltou-se dos braços de Malone, olhou na direção do cientista, enxugando as lágrimas; ele estava certo, eles tinham que manter a calma.
V - Está certo, Challenger. Preciso que me ajudem.
Ned, ainda ao seu lado, olhava para a garota ternamente, com tanto carinho e preocupação, não só com ela, mas por Marguerite também.
N - Verônica, pode contar conosco. Estamos aqui.
C – Sim, minha cara, do que precisa?
Verônica respirou fundo e fez uma pausa, lembrando-se de tudo que havia visto. Teve que se segurar para não começar a chorar de novo. A cena, tudo o que tinha acontecido para a amiga, era triste demais. Embora a herdeira nunca fosse de demonstrar afeto, sempre arisca e recuando quanto a questões do coração, desta vez ela estava com todos os sentidos aflorados; e era de uma tristeza tão profunda que começava a afetar até mesmo os homens que não faziam idéia do que Verônica tinha presenciado.
V – Challenger, preciso que faça um dos chás para dormir da minha mãe. Ou mesmo você, Malone, pode fazer isso. Preciso também do kit médico; Marguerite teve um acidente com o espelho de seu quarto e se feriu, nada grave, fiquem tranqüilos. Vou limpar tais ferimentos e depois cuidar do quarto dela também. Se importam de cuidar do William sem minha ajuda?
Sim, a garota da selva havia optado por omitir sobre o real motivo dos ferimentos de Marguerite; não que não confiasse nos dois homens, pelo contrário, mas por saber do orgulho da herdeira. Quando estivesse recuperada, certamente ela não iria gostar de saber que Verônica havia contado que ela própria se feriu e, pior, acharia que todos a olhariam com pena, e a herdeira odiava que tivessem pena dela.
C - Não há problema algum. Vá e cuide de Marguerite, nós damos conta de tudo por aqui.
N - Isso mesmo, Verônica, não há com o que se preocupar.
V - Obrigada aos dois. Assim que o chá estiver pronto, por favor, me chamem. Eu virei buscar.
Verônica pegou o kit médico que Challenger havia deixado próximo e desceu. Em seu quarto, Marguerite já estava com a camisola emprestada e, para sua surpresa, adormecida. Ela estava pálida, o semblante pesado, triste... não havia como não notar. As roupas no pé da cama, não muito arrumadas como era de costume, mas vendo a condição que a herdeira se encontrava, isso era algo de se esperar.
A garota começou a limpar os ferimentos do braço da herdeira. Graças a Deus eram só superficiais, nem um corte mais profundo. Como ela usava somente camisas de manga comprida, logo estaria tudo cicatrizado e até sumiria. Em compensação, o corte de sua mão era profundo; provavelmente a herdeira havia apertado demais aquele pedaço de espelho e Verônica imaginava o tamanho da dor que a morena teria passado para fazer tal coisa. Por incrível que pareça ela nem sequer acordou, nem sequer fez um movimento enquanto dormia, nem mesmo com Verônica cuidando dela; talvez o cansaço e o tanto que havia chorado estivessem fazendo com que Marguerite ficasse assim. O corte da mão Verônica foi obrigada a enfaixar; na verdade, eram necessários pontos, mas agora, com a herdeira adormecida e pelo intervalo de tempo, não havia mais como fazer. Ao terminar, Verônica pegou a roupa da amiga e rumou para o quarto dela para limpar a bagunça.
No quarto da herdeira, Verônica teve que manter o controle para não desabar em lágrimas novamente. Ela tratou de colocar as roupas na cama, antes de tudo pegou as folhas que estavam no chão, mas não quis ler, não era certo, se a herdeira quisesse depois ela a ajudaria a organizar tudo novamente, juntou-as e as guardou no baú que ficava no pé da cama. Trouxe a vassoura para retirar todos os estilhaços espalhados, deixando o quarto todo limpo. Verônica não aguentou quando apanhou a aliança do chão, suas lágrimas caíam involuntariamente; fora uma aliança tão bem feita, tão delicada, a mão de Marguerite era delicada, apesar de estarem no meio da selva ela sempre se preocupou em se cuidar, manter sua pele muito bem cuidada e o principal: a aliança era uma prova de amor, era o amor de John por Marguerite que agora estava tão destruído como o espelho que acabara de recolher.
Por último, ela foi dobrar as roupas que Marguerite usava. Quando chacoalhou a saia cáqui, voaram folhas de um dos seus diários.
V - Que estranho. Por que Marguerite guardaria folhas em seus bolsos? Talvez esteja aqui escrito o porquê ela fez isso.
Não era costume de Verônica ler ou mexer no que não lhe pertencia, mas talvez aquilo fosse necessário.
“Na noite de ontem me senti viva novamente, como se meu coração voltasse a bater. Não foi como planejei, ainda tenho minhas inseguranças e meus medos, mas prometi a mim mesma que iria me permitir amar novamente, me deixar aquecer e viver por esse sentimento que tenho por John.
Poder compartilhar essa felicidade com todos, poder vê-los felizes por mim, compartilhar da mesma felicidade, da mesma alegria, nem sequer me recordo mais quando pude ter uma experiência assim ou mesmo se tive isso antes em minha vida.
Ao ver William e reconhecê-lo, não irei mentir, pois seria mentir pra mim mesma, senti como se meu coração acelerasse, fiquei até mesmo sem reações quanto às suas investidas. Ele foi a primeira paixão da minha vida, ainda quando cantava nas noites de Paris, sua imagem me fitando da platéia esteve comigo durante meses, mas nada que o tempo não apagasse, ele estava muito distante de mim, em todos os sentidos - locais, status social, tudo. Mas ao assumir tudo com John, o pedido que me fez, e poder ouvir as palavras "minha esposa" vindas dele, foi algo que passei a desejar em segredo quase nos últimos dois anos.
‘Lady Marguerite Roxton’. Ainda me lembro o quanto me senti envergonhada por John ter encontrado aquele maldito papel guardado em minhas jóias e usar isso contra mim, mas desde aquela época não nego ser algo que desejei. E tê-lo ouvido falar que eu sou a nova integrante da Família Roxton, isso me fez encher de orgulho, principalmente pelo amor que John demonstrou ao dizer.
Acho que não há mais dúvida nenhuma ou segredos, estou disposta a contar-lhe tudo, até mesmo sobre William, assim que tudo estiver certo.
Nunca achei que pudesse amar alguém como amo John”.
Verônica lia aos prantos sentada na cama de Marguerite, pensando em tudo que o ciúme de John havia feito, e ela mesma tinha sérias dúvidas se Marguerite iria perdoá-lo, ela também estava decepcionada com o amigo e até com uma ponta de raiva, principalmente por Marguerite, sua amiga não merecia isso e John tinha sido injusto.
A garota queria que quando o caçador voltasse para casa visse aquilo, ele tinha que sentir o que tinha feito, ter consciência da consequência de tirar conclusões precipitadas. Ela simplesmente deixou a aliança em cima das folhas na cama e logo foi para o andar de cima.
Malone preparava o jantar e havia terminado o chá há pouco. Challenger provavelmente estava cuidando de William, pois não o viu por perto.
Sem uma palavra, ela apenas pegou o copo de chá e levou para Marguerite. A herdeira continuava adormecida, Verônica não queria acordá-la, mas era necessário; assim que tomasse o chá ela iria voltar a dormir, mas a noite toda, esperava, e iria ajudá-la a relaxar um pouco.
V - Marguerite, acorde. Vamos, é por pouco tempo.
A herdeira resmungou algo incompreensível, sentou-se na cama e em um gole, sem nenhum protesto, tomou o chá - o que de fato era estranho, pois a herdeira sempre reclamava dos chás, nunca gostou de tomar remédios, isso quando não fingia que tomava. Logo ela deitou-se novamente, virando de costas para a garota da selva, o que lhe dizia que queria ficar sozinha.
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Já passava das 20 horas, os dois exploradores, Malone e Challenger, e a garota da selva estavam sentados jantando, os três calados, todos sabiam que eles nada tinham a ver, mas o que tinham visto, a atitude de John, a briga entre os irmãos, a herdeira que nem sequer havia aparecido e nem iria aparecer tão cedo... tudo isso os tinha afetado; eram como uma família e, claro, um sentia pelo outro e cuidava do outro.
Porém, já era noite e o caçador ainda não tinha voltado; pelo estado em que saiu, estava com tanto ódio, cego, sabe-se lá para onde tinha ido. A preocupação também já começava a perturba-los.
N - Nós deveríamos ir atrás dele.
De fato, deveriam, mas naquele momento seria impossível. Verônica ficaria cuidando de Marguerite, Challenger de William, seria loucura mais um deles sair esse horário, ainda mais sabendo dos riscos que corriam. Malone seria o único que iria, mas também não era seguro nem adequado, e se Challenger e Verônica precisassem não teria ninguém para ajudá-los.
C - Deveríamos, Malone, mas acredito que as circunstâncias não nos permitem fazer isso. Bom, vou para o meu laboratório, passarei a noite por lá e me dividindo em cuidar do William. Com licença.
O homem mais velho retirou-se da mesa, com um semblante sério, a julgar por sua voz parecia decepcionado, entristecido.
Ned e Verônica, ainda na mesa, de cabeça baixa, continuaram terminando a janta.
N - Verônica, o Challenger está estranho. Me explica o que eu perdi, porque não entendi.
V - Simples, Ned: Challenger tomou as dores de Marguerite, além de estar se culpando por ter trazido William e ainda não ter conseguido resolver nada.
N - Claro, eu deveria ter imaginado. Mas nem por isso John deixou de ser da família, não é? Afinal, todos erramos.
Verônica levantou-se, recolheu os pratos, respirou fundo... ela tinha que admitir, tinha sérias dúvidas quanto ao que iria acontecer.
V - Eu não sei, Ned. Acho que está muito cedo para sabermos. Aliás, me ajude a tirar a cama de John no quarto da Marguerite, é melhor já anteciparmos isso.


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