Choque de Tempo escrita por Miss Krux


Capítulo 1
Uma alma que precisa ser lavada.


Notas iniciais do capítulo

Não irei expor uma linha de tempo exata por não sabermos exatamente a data de morte de William Roxton. Irei evitar citar datas exatas, apenas citando as passagens de tempo. Esta fic também se passa na quarta temporada, onde John e Marguerite já estão mais próximos, mas ainda não assumiram seu relacionamento.



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Era de madrugada – estava na temporada de chuvas no platô – quando Roxton acorda sobressaltado da cama, ofegante, suando frio com o barulho de um trovão. Ele se senta na cama, passa a mão entre os cabelos e fala para si mesmo:

— Só foi um pesadelo. Só isso, meu velho. Isso foi há anos. 

Ainda que tenha sido apenas um pesadelo, a imagem dos olhos parados e cheios de terror de William em seus braços não lhe saía da mente. Era o terceiro pesadelo em dez dias e Roxton sabia o motivo desses pesadelos: naquela mesma semana William completaria anos de morte e o sentimento de culpa, a saudade, estava cravado em seu peito como uma faca.

Roxton voltou a se deitar, mas não dormiu mais. Foi o primeiro a levantar; logo já estava arrumando a mesa para o café da manhã para que sua amada não passasse o dia de mau humor, para agradá-la, além de para tentar esquecer suas recordações.

Challenger havia recuperado o teletransportador depois da grande tempestade e estava se empenhando em fazer novos testes no intuito de desta vez conseguir levá-los para casa, por isso era quase sempre o primeiro a acordar e logo sair. Porém, ele mesmo já havia percebido que seu amigo, na ultima semana, andava disperso e calado, até mesmo seus jogos com Marguerite pareciam ter diminuído.

Aproveitando o momento que as mulheres ainda dormiam e a paz reinava na casa da árvore, Challenger decide tentar obter alguma informação de Roxton.

C - Ah Roxton, bom dia. Acordou mais cedo que o normal hoje; está tudo bem?

Roxton, por sua vez, estava tão disperso que nem viu ou ouviu o amigo chegar.

C - Roxton, está me ouvindo? Por Deus, meu bom homem, onde está com a cabeça?

R - Ah Challenger, já está de pé. Não o notei chegando. Bom dia.

C – Roxton, está tudo bem com você? Está assim há dias. Está doente, talvez? Se for, vamos direto para o laboratório, preciso examiná-lo.

R – Não, não, Challenger. Estou bem, não tem necessidade de exames, mas talvez dividir isso com alguém vá mesmo me fazer bem.

C – Então fale, homem, já estou preocupado.

Ambos seguiram para o laboratório; seria melhor, um lugar mais privado para conversarem, já que a conversa não seria nada fácil para Roxton, assim como longa.

Verônica, ao entrar na cozinha, percebeu que tudo estava arrumado, mas não viu ninguém. Logo olhou por cima do parapeito da varanda e viu os dois homens conversando, ambos com semblantes sérios, então preferiu não perturbar. Marguerite acabara de acordar e estranhou o silêncio, mas queria pensar que todos já tivessem saído e a deixado sozinha, assim poderia ter a casa da árvore somente para si e estudar suas novas pedras sem ouvir as reclamações de que ela não havia cumprido com suas tarefas.

Já no andar de cima.

V – Ah bom dia, Marguerite, vejo que decidiu sair da cama.

Marguerite, desapontada por perceber que seus planos tinham ido por água abaixo e com seu mau humor matinal, não dá atenção para a garota da selva, apenas enche sua xícara de café e sai em direção a varanda respondendo-a com um simples “hum”, que soa mais como um rosnado.

Verônica, percebendo que com esse mau humor era melhor não arriscar, prefere apenas responder:

V – Só para que saiba, estou indo até a aldeia Zanga. Não devo demorar mais que quatro dias. Não sei qual o motivo, mas o xamã mandou me chamar com urgência, então vou aproveitar que a chuva cessou agora na parte da manhã. Os rapazes estão no laboratório já há um tempo conversando, aconselho que não os incomode.

A morena apenas fez um gesto positivo com a cabeça, não mais do que isso, já se preparando psicologicamente para mais umas das excursões do Challenger em busca das suas malditas ervas – pelo menos era o que tinha pensado ao ouvir o comentário de Verônica.

No laboratório, Challenger estava atento a cada palavra de seu amigo. Não fazia muitas perguntas por receio de falar o que não se deve, mesmo porque era a primeira vez que John confiava em se abrir sobre seu irmão com alguém que não fosse Marguerite.

R – É isso George. Sinto como se minha alma precisasse ser lavada. Faltam dois dias para completar 14 anos que ele se foi e parece que foi ontem; as imagens de William em meus braços, de sua vida indo embora e eu não podendo fazer nada, ou melhor, o pior eu já havia feito: matado meu irmão.

Challenger, com o passar dos anos, olhava John com grande admiração, já havia perdido as contas de quantas vezes o homem diante de seus olhos lhe tinha salvado a vida e agora o vendo assim tão abalado, tinha que fazer algo. Pensava consigo mesmo: “Vamos George, pense... Pense... Tem que haver algo que possa fazer... Pense”. Quando, por um minuto, lhe ocorreu: “O teletransportador”.

C – Diga, meu velho, e se pudesse encontrar seu irmão novamente? O que faria?

Roxton olhou para Challenger como se quisesse descobrir o que passava em sua mente, encarando-o seriamente e não compreendendo muito bem o porquê daquela pergunta.

R – Ora George, que pergunta é essa?! Até parece... Como se isso fosse possível.

C – Vamos, Roxton, como se não soubesse que nesse platô pode-se esperar de tudo. Vamos, apenas me responda.

Roxton refletiu um pouco, pensou em tudo que faria pelo seu irmão, tudo que não fez por ele por causa de orgulho, das suas disputas. Depois de um breve momento, respondeu:

R – Acertaria as contas com ele George, faria tudo o que um irmão deve fazer pelo outro e que por tolices próprias não fiz.

Challenger, mais que depressa, se levanta, pega sua mochila e rifle e sai em direção ao elevador.

C – Esplendido, John. Era o que precisava saber. Não me esperem para o almoço. Aliás, devo chegar apenas pouco antes do escurecer.

 

 

 

 

 

 

 


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