A palavra simples poderia ser uma boa definição, se pensasse com calma. Resumia, basicamente, o que sentia por ele. Não era mais competição, como tudo começou. Não era mais paixão, como no início foi. Não era ódio, mas poderia ser considerado tão profundo quanto. 

Era uma palavra que poderia significar tudo e nada. A mesma que as garotas antigamente denominavam o que sentiam por si. Uma grande mentira, a realidade. O que elas sentiam não era nada além de paixonites bobas. Na verdade, isso podia ser um enigma até para as pessoas mais sábias.

Muitos queriam sentir o que chamavam de amor, enquanto ele queria apenas empurrar aquela palavra para longe de si. Fez isso tantas vezes ao longo de sua vida, apesar de não ajudar em grande coisa.

Porque sim, você pode até afastar pensamentos inoportunos, esquecer palavras, mas não os sentimentos que elas lhe causam. Mas existia um bom combatente; ódio. E é, havia tido o grande prazer de desfrutar dele também.

Se lhe perguntassem, diria que foi difícil, dolorido, feroz e profundo. Não era fácil conciliar. Ou é um ou é outro. Escolheu o pior, mas por motivos maiores. Poderiam julgá-lo, afinal, havia errado. Mas muitos seguiriam o mesmo caminho que si, ou pior.

Hoje em dia não lhe restava ódio, ou desejo de vingança; além disso, a vida nos dá uns tapas na cara que chegam a marcar. Não se arrependia de nada, nem mesmo de ver Naruto casado com Hinata, formando uma família com dois filhos saudáveis. Ele merecia tudo, e o título de Hokage era só mais uma das provas disso.

O Uzumaki não era só herói de Konoha, ou da quarta guerra ninja; era também o cara mais importante da sua vida.

Ele se sacrificou tanto, por tantas coisas, e ele estava incluído, pois o homem estava sempre tentando alcançá-lo e trazê-lo de volta. Era um grande dobe, usuratonkachi, mas não poderia ser diferente, em sua concepção. Naruto cometia narutismos, simples assim.

E agora, tantos anos depois, divagava sobre isso.

— Oe, Sasuke, por que está com essa cara no rosto?

Não evitou o sorriso. Era discreto, por mais que fizesse as rugas revelarem-se ao redor dos olhos.

— Nada, Naruto. Apenas devaneando sobre o quanto você é um usuratonkachi — alargou os lábios, agora debochado.

— Ora, como ousa, teme! — levantava bruscamente do assento do escritório, o rosto revertido em uma falsa fúria.

Sentiu este avançar sobre si com rapidez, porém desviou com facilidade, rolando os olhos. Deixou o pergaminho da última missão em cima da mesa, antes de partir pela janela sem se despedir.

Naruto suspirou audivelmente, o coração batendo feliz por ver o velho amigo retornar mais uma vez à Konoha.

E era simples, se também fosse parar para pensar.