O Homem da Neve escrita por Debluv


Capítulo 1
O Caminho




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Tinha um rangido da janela, tinha uma casa, um lugar, uma garota deitada solitária em sua cama grande demais para ela, mas que mesmo assim ainda não cabia todas as suas lembranças. Coisas, tinha um monte de coisas comuns.

                Mesmo a garota sabendo de sua pluralidade, naquele momento ela se sentia tão singular em seu quarto escuro e estranhamente frio. Eu apenas continuava a observar pela janela, enquanto a garota que agora tremia levemente observava a porta oposta a janela.

                ‘’Quem é? O que faz? Por que está assim? ‘’Ainda não sabia, me aproximei e toquei em seu ombro, ela não se assustou, não demonstrou reconhecer o toque.

                - O que quer?- Sua voz saia entediada com uma sombra de tristeza.

                - Quero saber quem é você? Por que está assim? – Disse olhando para seus cabelos ondulados.

                - Hum, quem é você?

                - Eu não sei.

                Ela se mexeu lentamente, se sentando em sua cama. Ela olhava em meus olhos, seu rosto não era inexpressivo como eu esperava. Ela me olhava impetuosamente, penetrante com um leve, porém existente reconhecimento. Eu quebrei o silêncio.

                - Que marcas são essas? – Disse apontando para o braço.

                - Lembranças, tenho muitas.

                - Deve doer.

                - Algumas, mas outras me fizeram o que eu sou. Essa por exemplo. – Disse apontando para uma lembrança ainda vermelha e aberta que ficava um pouco abaixo do pulso. – Ela ainda doe, mas apenas porque a abro sempre que não posso falar.

                - Deve ser triste.

                - É, mas o que você faz?

                - Isso. – Disse achando idiota a pergunta.

                - Invade quartos?

                - Escuto as pessoas.

                Ela sorriu, se tornava outra pessoa ao sorrir, ficava bonita, leve. Mas esse efeito de beleza era ilusório.

                - É bem legal de sua parte. Ah, respondendo sua segunda pergunta, eu estou assim porque tudo me colocou aqui.

                - Você é uma pessoa incomum.

                - Na verdade, eu sou bem comum.

                Notei que com essa frase nossa conversa tinha acabado ela voltou para sua posição inicial observando diretamente para a porta. Talvez esperando uma velha amiga minha, não sei, ou apenas esperando o tempo passar.

                Quando estava novamente andando numa rua comum e fria fiquei com a primeira opção. ‘’Minha velha amiga a beijará’’. Abaixei a cabeça e continuei a andar.

                Não demorou muito para alguma outra coisa chamar minha atenção. No frio eu fico tão reflexivo. Desta vez era um garoto que chorava, rangendo os dentes numa mistura de raiva, ódio e algo mais que eu não identificava. Ele jogava roupas, livros e outros objetos pela janela. Ele não me notou, pois não hesitou em nenhum momento.

                Aproximei-me, olhando sem piscar para a janela de seu apartamento. Ele parou na janela segurando um colar. Olhou-o com carinho, tentou jogá-lo, mas por fim o pôs no bolso, nessa hora ele me viu.

— Ei, o que você está fazendo ai parado?

— Nada- respondi, sem saber o que ele quis dizer.

— Vai embora, não está vendo que não faz sentido ficar parado na neve vendo alguém se matar?

Eu não compreendi, mas mesmo assim permaneci no mesmo lugar.

— Se matar? Mas por quê?- Ele parou, seu corpo ficou tenso, mas logo ele voltou a si.

— Não vale a pena, quando seus sonhos morrem você vai junto.

— Por que não procura outros sonhos?

— E há? É muito egoísmo querer tudo, não é?

— Sim- Ele não estava falando comigo, mas mesmo assim respondi, ele saiu da janela, deixando-me sem poder vê-lo.

Ele apareceu no portão da frente.

— Desistiu?

— Por que o faria?

— Conte-me sua história...

— Por que você me ouviria?

— Eu estou aqui para isso, não é?

— Não sei se consigo.

Eu esperei enquanto ele olhava para seus tênis sujos. Ele tinha essa aparência comum, olhos inexpressivos, corpo curvado, magro.

— Quantos anos você tem?

— 18 anos... - ele não me olhava diretamente- Você vai me ouvir?

— Sim.

—Minha namorada... - ele colocou a mão no rosto como se quisesse se esconder- Morreu.

— Continue.

— É somente isso. – Eu coloquei as mãos no bolso virei.

— Ninguém morre por uma dor, desculpe, mas não posso lhe ajudar.

 - Me diga quem você é. – O garoto pôs a mão em meu ombro.

— Desculpa, mas eu não sei.

Eu voltei a andar na neve- ‘’Talvez um dia eu saiba’’.


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Notas finais do capítulo

Obrigado a você que chegou até aqui, espero que tenha gostado.
Se você tem alguma critica a fazer, por favor comente, assim eu posso melhora na próxima vez.
Até uma próxima, beijos.



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