A mesa de centro da sala estava tomada por fotos, uma caixa velha estava ao lado do sofá com várias fotos guardadas em ziplocs, no canto uma etiqueta indicando data e ano.

Ravi apareceu na escada e seguiu até onde Taekwoon estava sentado parecendo concentrado em selecionar algumas fotos, que provavelmente eram as que ocupavam o tampo da pequena mesa.

Deu uma olhada rápida por cima do ombro do moreno e parou ao lado da caixa onde mexeu nos plásticos que estavam abertos, curiosamente reparou em algumas fotos com um rapaz familiar.

“Você não vai jogar fora?”. Perguntou segurando uma foto em especial em que aparecia Taekwoon e Hongbin abraçados, provavelmente numa festa, Taekwoon tinha os cabelos compridos, era um pouco estranho.

“Não, são lembranças”. Pegou a foto da mão de Ravi e sorriu olhando para eles, tão novos e apaixonados, quando as coisas ainda estavam dando certo. “Além disso, nós terminamos em bons termos”.

“Bons termos? ” Repetiu surpreso. “Você chorou por horas”.

Taekwoon apenas riu e guardou a foto. “Chorei tudo que tinha pra chorar, está tudo bem agora. São boas lembranças de qualquer forma”. Voltou a atenção para a pequena seleção e não prestou atenção na expressão do rosto de Ravi.

“... No final todas elas desaparecem, boas e ruins... e ninguém mais se importa”.

“Ravi”.

Mas ele desapareceu, como sempre fazia quando estava magoado.

“Meow”. O pequeno gato pulou no sofá e foi andando preguiçosamente até se acomodar no colo de Taekwoon.

“Você precisa de um nome”. Ficou fazendo carinho na cabeça do gato. “Ou vai me abandonar também?”.

O gato obviamente não respondeu, mas sinceramente, Taekwoon não estranharia se o gato falasse.

Até o final da manhã, organizou um grupo de fotos e colocou na parede, havia um papel de parede velho que ele não estava preocupado em substituir, apenas prendeu as fotos sobre as manchas amareladas. Não eram fotos pessoais, eram fotos de paisagens, do céu, do pôr do sol e do mar.

Essas fotos eram reais e elas não iriam desaparecer, mas elas mudavam todos os dias.

Taekwoon subia a escada, a mão deslizando pelo corrimão, quando sentiu algo. Era a primeira vez que apoiava a mão ali, tinha algo de diferente na madeira, como se alguém tivesse escrito algo bem fundo.

Mas a última coisa que precisava era perder tempo com as velharias da casa e seguiu diretamente para o quarto.

—/-

O notebook já estava esquentando, já fazia mais de três horas que Taekwoon editava pencas de fotos do último trabalho, seus olhos estavam cansados e ele estava deixando pequenas coisas passarem.

Quando tirou os olhos do programa reparou em Ravi encostado na porta, ele não costumava entrar sem permissão.

“O que você tem? É por causa de ontem?”.

Ravi suspirou e o abraçou.

“Eu não quero falar a respeito”.

Taekwoon o reconfortou como pôde, seus dedos acariciaram os cabelos de Ravi. O fato de poder tocá-lo tornava tudo ainda mais surreal.

“Tudo bem, eu entendo...”

Mas ele não entendia. Não exatamente, mas não havia uma forma de perguntar sem ofender o outro. “Do que você lembra?” “Quem te deixou?” “Quantas pessoas você conheceu?”.

[...]

Ravi estava sentado na beirada da cama enquanto examinava outras fotos, essas não eram pessoais, eram referências de trabalho. Festas de casamento, de buquês, mesa, convidados, ambientes.

Ele parecia distraído, mas ele olhava tudo com uma expressão neutra. Taekwoon percebeu estava há mais ou enos cinco minutos sem mexer no computador, esticou a mão e pegou a câmera.

Ravi se virou e um flash o cegou. Ele piscou algumas vezes até se acostumar com o ambiente. Taekwoon selecionou a galeria da câmera, mas logo sua testa se franziu ao encarar a foto.

Era apenas o ambiente, sem Ravi.

“Viu? ”. Ele sabia.

Ele já sabia que não era possível sair numa foto.

Taekwoon era teimoso e não iria aceitar aquela expressão triste, não dele. Não enquanto ele estivesse por perto.

Ele soltou um longo suspiro.

“Fique parado numa posição confortável”. Não era um pedido e não soou como.

“O que? ”. Repetiu cansado demais até mesmo para se importar.

“Vou te desenhar”. E tirou um bloco de papel e uma caneta de sabe-se lá onde.

Ravi finalmente se deu por vencido e se ajeitou melhor numa posição, a expressão séria, ele não sorriu uma única vez e Taekwoon também não o pediu que o fizesse. Eles ficaram trabalhando em silêncio, o único barulho era o do lápis contra o papel.

“Sabe, é meio injusto”. Disse num tempo depois deixando o lápis de lado e finalizando alguns detalhes com a ponta dos dedos, acertando as sombras.

“O que? ”

“Eu tenho algo pra me lembrar de você, mas... Você vai apenas se esquecer de mim”.

Aquilo pesou muito em Ravi, sim, ele iria se esquecer eventualmente, se as coisas continuassem como estavam.

“Acho que eu não conseguiria me esquecer de você”. Mentiu, mas naquele momento ele realmente acreditava naquilo.

Eles ficaram em silêncio, mas era um silêncio confortável. Taekwoon fazia várias caretas enquanto desenhava, estreitava os olhos, mordia o lábio, suspirava. Ravi teria sorrido, mas não queria frustrá-lo ainda mais, certametne não era fácil fazer um desenho realista.

Não que Ravi entendesse disso, ele não sabia desenhar.

“Terminei”.

“Como ficou? ”

“Veja você mesmo”.

Ravi se levantou e escorregou para o lado de Taekwoon. Era ridículo, ele era estupidamente habilidoso. Teria chorado se pudesse.

“Você é um mentiroso”. Disse desviando os olhos do desenho. Taekwoon apenas sorriu em resposta. “Eu não estava sorrindo”.

“Fica melhor assim”.

“Idiota”.

Taekwoon colocou o desenho junto das fotos, na parede da sala.