Saudade

Das folhas secas que caem sempre na vinda do inverno...

Das labaredas que deixam de arder com o tempo que passa...

Das cinzas que o vento leva de cada escarpa...

Como a dor de perder uma parte de si,

A saudade é igual a uma ferida que não sara.

Que mesmo com o tempo o sentimento não cala,

Que mesmo na certeza se mostra falha,

Ela vem como em um dia frio e comum...

Como as aves que migram pro Sul,

Quando a tempestade do nada aparece.

E hoje a tempestade chegou a mim...

Tão tempestuosa quanto a queda daquela folha de cor cáqui,

Que caiu da estranha árvore que crescera próxima ao meu jardim.

Fora ela quem indicara ali,

A saudade que batera naquele dia frio.

E foi quando eu pensei no tempo,

Que trazia a imagem dela sobre um barco em movimento,

Em um lago de profundo verde sereno.

Eu nunca pensei que sentiria saudade daquilo tão cedo...

Dos abraços dela, dos beijos dela, do medo...

Dos dias que passei admirando as mechas azuis em seu cabelo.

E foi então que pensei no ardor,

Algo tão intenso na juventude.

De ‘não erros’ numa vida em inquietude...

Onde uma chama queimava baixa,

Embaixo do peito, onde ficava meu coração...

E o fogo ali tinha uma cor que mesmo baixa chamava atenção,

Pois era do mesmo azul daqueles cabelos serenos.

Ora, estou velho então...

Mesmo antes dos vinte eu me sinto como um ancião.

Porque quando escrevo cada linha de minha sórdida poesia,

Eu lembro que vivi pouco perto das coisas que presenciei.

E, eu juro a cada um de vocês que eu tentei...

Mas a saudade dessa vez eu não neguei.

~Gabriel.