The Feeler escrita por Gabrielus
A menina da Janela
No dia em que pisei naquela cidade pela primeira vez,
O véu que minha esposa carregava no rosto se desfez.
Enquanto eu subia as íngremes escadas do apartamento,
Eu vi a menina que me olhava da janela;
Tímida, quase escondida, com risadinhas abafadas e discretas.
Repousando sua adorável beleza no apartamento defronte o meu...
Com a tardinha, um súbito espanto bateu,
Quando os olhos dela encontraram os meus.
E daquele dia então algo estranho nasceu...
E só lembro que cresceu...
Ó, como cresceu!
Um sentimento estranho de procura,
E do suor molhado que brotava em minha nuca,
Cada vez que eu olhava aquela janela.
Ah sim, é ela...
Um sonho emoldurado em um quadro de um quarto,
De um velho apartamento de frente ao meu.
Onde a luz que o sol lançava era nada comparado àqueles olhos.
Enquanto os dias passam eu lembro,
O sabor que da janela dela trazia o vento,
Tão mais gostoso quanto fora o de meu casamento.
E só lembro-me de esquecer...
Da mulher que um dia fora minha amada,
Ou dos dias que passei fazendo nada.
Eu me debruçava em minha janela só para vê-la...
Enquanto ela começava a me ver mais também.
Em algum momento o nosso amor começou,
Abençoado pelo barulho da rua que nos separava.
Enquanto os lábios dela que agora falavam,
Numa estranha língua proibida que minha boca queria aprender,
Vi nascer o íntimo de dois enamorados...
Ainda não oficializados,
E com o pesar da realidade que ambos eram casados.
Com um amor que não era o amor...
Com um alguém que não era o alguém.
E então a separação veio...
Não sei exatamente o que aconteceu depois.
Só lembrava-me da janela de frente ao meu apartamento,
E do extasiante cheiro doce que dali vinha.
Nós não éramos mais presos a nenhum contrato,
Nossa liberdade agora era em consenso.
Mas ainda assim passamos mais meses nos espreitando e admirando,
Das janelas de dois apartamentos frente a frente.
E foi aí então que algo mudou de repente...
A janela sempre aberta estava fechada.
A menina sempre linda jazia deslanchada.
A menina sempre meiga saía casada,
Com outro.
E o sonho de amor parecia ser apenas nada.
Porque naquele dia, a janela estava fechada...
Fechada como todas elas sempre estiveram para mim,
Ora, por que a vida é assim?
Injusta para comigo no amor,
E justa no sentimento da dor,
Sem deixar sequer uma esperança no que restou...
E depois, só me recordo de estar sozinho,
Olhando a moldura de um quadro sobre uma janela de vidro fino.
~Gabriel.
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