Acordei com o som irritante do despertador tocando ao meu lado. Sem abrir os olhos, tateei o criado-mudo de madeira, que ficava ao lado da cama, e procurei o objeto.  Tentei abrir os olhos para procurar melhor, mas os raios de sol que atravessavam a cortina não deixaram. Praguejei baixo e encontrei o bendito botão. Puxei o cobertor e escondi meu rosto na intenção de dormir mais um pouco. O que não foi possível, pois no instante seguinte meu celular começou a tocar. Procurei-o por entre os travesseiros e quando o achei, desliguei o alarme. Derrotada, levantei e fui em direção ao banheiro. Me despi enquanto a pequena banheira enchia e logo entrei na água quente.

Prazer, meu nome é Lucy Heartfilia, tenho 16 anos e hoje começo um novo capítulo da minha vida. Minha melhor amiga, Juvia, e eu vamos começar a estudar no colégio Fairy Tail hoje. Esse sempre foi o nosso sonho, desde que ouvimos nossos pais conversando sobre o assunto. Na verdade, ouvimos sua mãe conversando com ele.

Saí do banho e enrolei meu cabelo numa toalha rosa felpuda antes de vestir meu novo uniforme, uma camisa branca de botões sem mangas com o símbolo da escola estampado no lado direito do peito, uma mini-saia azul escura e meias 7/8 pretas, um All Star branco e um casaquinho de lã qualquer que estava dentro do armário. Fui até a cozinha e tomei uma xícara de café e comi alguns biscoitos que estavam dentro do armário. Escovei os dentes e penteei o cabelo, deixando-o totalmente solto. Peguei meu celular para ver as horas e senti-o vibrar.

—Loira, você tem noção de que horas são?! Onde você está? -Juvia parecia apressada enquanto procurava algo, pois tapou o microfone do aparelho para xingar a irmã.

—Saindo de casa. -peguei minha mochila azul e a joguei por cima do ombro esquerdo, saí e tranquei a porta do pequeno apartamento.

—Ótimo. Vou sair em cinco minutos… -fez uma pausa e pude ouvi-la gritar “Wendy, você tem dois segundos para achar a minha blusa!” -Ou talvez um pouco mais, depende dessa peste.

—Coitada da Wendy… dê um desconto para ela, deve ser difícil ter que te aturar todos os dias…

—Cala a boca Heartfilia, você vai ter que passar pelo mesmo.

—Coitada de mim… -ri imaginando sua expressão.

—Estou saindo, te encontro em frente a Catedral?

—Pode ser. -desliguei e saí do prédio.

Andei por cerca de cinco minutos e Juvia já estava lá. Como sempre fora mais estilosa, estava usando uma jeans preta rasgada, uma camisa xadrez por cima da blusa do uniforme, um coturno marrom e uma gargantilha com pingente em forma de gota. Acenei de longe e ela vaio correndo me abraçar. Admito que nunca fui muito fã de abraços, mas ela diz que é por falta de costume.

—Nervosa? -perguntei sorrindo.

—Você não tem ideia! Sonhamos com isso desde… sei lá, desde sempre!

Ri um pouco e começamos nosso caminho até a escola.

—Ei, você disse que tinha um amigo que estuda lá, né? -perguntei enquanto atravessávamos a rua em um cruzamento.

—Sim. Nossas mães eram bem amigas, só que a última vez que nos vimos foi no enterro do papai… dona Grandine disse que ele se tornou uma má influência, por isso não queria que eu me aproximasse. -suspirou e então parou bruscamente. Só fui entender o porque depois de parar de a encarar e olhar para a frente.

O grande prédio de dois andares erguido na nossa frente tinha um grande portão de ferro na frente e um letreiro em cima. Fairy Tail. A grande torre com sino tinha o brasão estampado em uma bandeira que balançava conforme a brisa suave. Contemplei a cena com um sorriso bobo no rosto, devia estar parecendo uma criança, enquanto Juvia olhava com o olhar triunfante, como se quisesse jogar na cara da sociedade que estava ali.

Eu teria continuado assim, se não tivesse sentido um forte tranco, fazendo com que eu tombasse para o lado e me apoiasse em uma árvore para não cair.

—Ei, olha por onde anda! -tentei identificar seja lá quem tivesse trombado comigo, mas o sol resolveu sair de trás de uma nuvem e não me deixou ver muito além da cor do cabelo. Rosa.

—Se não quiser que esbarrem em você, não fique parada no meio do caminho, princesa. -ele sequer parou para olhar para trás, apenas continuou seu caminho.

—Você viu como ele me tratou, Juvia?!- exclamei indignada.

—Vi, e não tem como ele saber. Lucy, você não queria ser considerada uma pessoa normal? Bem vinda ao mundo real.

A azulada saiu andando e quase me deixou para trás. Andamos até a recepção para pegarmos nossos horários, número dos armários e salas. Por sorte, ficamos juntas no 2ºA. Caminhamos pelos longos corredores até acharmos a bendita sala, e quando achamos, um grupo de estudantes se virou para nós. Alguns garotos continuaram conversando e nem notaram que tinha alguém ali e uma garota de cabelos vermelhos virou o rosto de um garoto azulado para ele voltar a olhar para ela.

Dois acentos estavam disponíveis no meio da sala, um ao lado do outro. Andamos até lá e coloquei minha mochila em cima da mesa do lugar à esquerda, que ficava atrás de uma garota de curtos cabelos brancos e Juvia ficou atrás de um lugar vazio, provavelmente seu dono ou dona estava em pé por aí. Antes de sentarmos, um dos garotos do grupo ao fundo -que mais parecia um armário- se virou para nós, “cheirou” o ar e arregalou os olhos ao avistar a azulada.

—Juvia? -ele perguntou em alto e bom som, fazendo a garota olhar para atrás erguendo uma sobrancelha. Outra garota de cabelos azuis, só que estes mais claros, abaixou o livro que lia e franziu o cenho.

—Gajeel? Gajeel! -ela me puxou pelo pulso por algum motivo e contornou a fileira que nos separava dos garotos. Assim que nos aproximamos, ela não se segurou, soltou meu pulso e pulou no garoto, abraçando-o. A outra garota fechou o livro e o colocou sobre a mesa, ajeitou os óculos e encarou melhor a cena.

—Você cresceu, nanica! Porque não me avisou que vinha para cá?! Você mudou tanto! -perguntou enquanto a colocava no chão.

—E eu lá ia saber se você ainda se lembrava de mim?! E você também mudou, parece que não corta esse cabelo desde a última vez que nos vimos!

—Não corto mesmo. Sabe, me sinto mais livre e ainda economizo uma grana.

—Ah sim, Gaj, essa é a Lucy. Lu, esse é o Gajeel. -apontou para mim e depois para ele.

—Muito prazer, Gajeel. -estendi minha mão, mas recebi um olhar estranho em troca, por isso a recolhi no mesmo instante. -Quer dizer... oi?

—Ela é meio estranha, né? -ele me ignorou completamente e se voltou para a amiga enquanto apontava para mim com o polegar.

—Calma, só não está muito acostumada com pessoas, principalmente as assustadoras como você. Olhe para si mesmo, Gajeel! Olha esses músculos e esses piercings! Já pensou em quantas criancinhas você traumatizou?

—Não tenho ideia. -ambo soltaram uma risada alta, e me permiti apenas dar um sorriso. -Venham, vou mostrar o pessoal.

Demos alguns passos até chegarmos à rodinha de garotos. Eu realmente cheguei a pensar que a garota que encarava a cena iria fuzilar Juvia a qualquer momento.

—Bom, vamos começar por essa baixinha. -a garota de óculos se levantou e tive certeza de que o moletom preto quatro tamanhos maior que usava não lhe pertencia. -Essa é a Shortie, quer dizer, a Levy, minha namorada. Cuidado para não pisarem nela.

A garota revirou os olhos e deu uma leve cotovelada no moreno.

—Prazer, Levy McGarden. -ela estendeu a mão para mim e sorriu docemente.

—O prazer é todo meu Levy, eu sou a Lucy, Lucy Lobster. -apertei sua mão e retribui o sorriso.

—Ótimo, uma estranha para fazer companhia para a outra. -o moreno revirou os olhos e tomou outra cotovelada. -Ei, eu estava feliz por você, Shortie! Enfim, essa é a Juvia.

Levy estendeu sua mão novamente, mas Juvia ficou um pouco acanhada de início, porém logo retribuiu.

—Continuando, o gay de cabelo rosa é o Natsu. -reconheci o garoto, fora o mesmo que trombara comigo na entrada. Ele mostrou o dedo para o moreno e me olhou estranho. -O babaca sem camisa é o Gray, não estranhem, isso é apenas um costume muito estranho dele. -o outro moreno sequer levantou os olhos para nós, apenas continuou de braços cruzados. -Ele não é de falar muito. Aquela de cabelos vermelhos é a Erza -nosso olhar foi direcionado até a garota que sentava na mesa de um garoto e usava uma camisa branca de mangas longas e calça jeans-, vai ser difícil ver ela por aqui. E aquele lá é o Jellal, ele não fala muito conosco, só com a Erza mesmo. Seus putos, essa são a Juvia e a amiga estranha dela.

—Ei, eu tenho um nome! -pigarreei.

—Sabemos, princesa, ouvimos que seu nome é Luce. -Natsu me encarou e senti que poderia ser devorada por aquele olhar a qualquer segundo.

—É Lucy!

—Tanto faz. -seu tom saiu indiferente e deu de ombros, o que me incomodou muito.

Desviei o olhar e comecei a conversar com Levy, que prometeu nos mostrar a escola no intervalo.

—Ei, Lu-chan, eu acho que te conheço de algum lugar…

Revistas, programas de televisão, jornais, telejornais… pode escolher.

—Sério? Tenho a impressão de que nunca nos vimos antes. -respondi o mais naturalmente possível.

—Tem razão, eu devo estar me confundindo!

Suspirei aliviada quando vi a porta sendo aberta e o professor entrou seguido por uma morena de longos cabelos morenos levemente ondulados, que se sentou na frente de Juvia. Levy me disse que aquele era o senhor Clive, ou apenas Gildarts, e aquela era Cana Alberona, a maior bêbada da escola. Nos sentamos e juro que vi um mangá hentai escondido em seu casaco.

—Então seus merdinhas, quem sentiu falta desse velho aqui?! -começou o ruivo enquanto batia uma das mãos na mesa.