Iridescente escrita por Marina G, Thamiris Malfoy


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Deu trabalho sim. Mas eu não abandonaria essa história e não abandonaria vocês. Espero que gostem amores :)

Abraços e Beijinhos :*



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Bowaruchel, 12 de Abril de 1456 

 

“Tudo era Luz, tanta e tamanha que poderia cegar qualquer mero mortal. Ou até mesmo eu e você”. As palavras chegaram até a mente de Esther como se sua própria mãe as tivesse dito. Como ela sempre fazia muito tempo atrás. Mas as contrações doloridas do parto logo dissipou aquela lembrança. Luz. Não, a realidade era exatamente o oposto. Esther sabia o que haveria se a criança que ainda estava em seu ventre sobrevivesse. 

Escuridão e Caos. E quais outras palavras seriam mais propicias a causar um desequilíbrio para todos os povos? Muitas de fato, mas isso não tornava àquelas menos nocivas. 

O pior de tudo era dar à luz aquilo que matou sua mãe, sua bisavó e milhares de outras Waedenfyd antes delas. Porém, suas irmãs deixaram bem claro que era indiscutível retirar a vida daquele ser que a habitava, antes ou depois de seu nascimento. 

 

— Pare de pensar nisso Esther. - disse Nealie, a mais velha em seu habitual tom austero - Você sabe que o equilíbrio não pode ser rompido, já tentaram isso antes. Se o fizermos estaremos condenando tudo às sombras. 

 

Sombras. Ela se deu conta de como tudo havia escurecido. Mesmo ali em Bowaruchel, as nuvens carregadas de chuva e trovões eram tão intensas que qualquer um poderia dizer o que fosse sobre aquele céu, menos que ainda era dia. 

Alanna. A mais nova, embalava a criança que nasceu primeiro. Sua doce voz cantarolava baixinho algo tão familiar para Esther quanto às palavras de sua mãe. Proteger, guiar e iluminar. Iridescente o mundo inteiro há de curar”.  

A criança que estava por vir não era uma Iridescente. O que sua irmã cantaria para aquele monstro? Qual a importância da escuridão naquele mundo? Era seu dever como Iridescente protegê-lo e não semear ainda mais mal nele. 

 

— Vamos irmã, deixe-a sair - Nealie disse novamente. 

— Não posso. - arquejou Esther entre soluços - Não a quero, não esse monstro. Você sabe o que ela fará. 

— Podemos fazer com que seja diferente - disparou Alanna enquanto repousava a criança adormecida em uma cama - Ou ao menos tentar. Somos Iridescentes Esther, é nosso dever... 

— É nosso dever afastar o mal desse mundo. É o que estou tentando fazer. 

— Ouça Esther - esbravejou Nealie, encarando-a com aqueles imensos e gélidos olhos azuis - Não estou mais satisfeita com isso que você. Quem estaria? É uma maldição e vamos quebrá-la, nem que eu tenha de arrancar a menina de seu ventre com minhas próprias mãos. 

 

O que Nealie não tinha de altura, compensava com uma personalidade pouco afável. Até mesmo com as irmãs quando acreditava estar fazendo o melhor. Seus cabelos negros estavam trançados e a feição era rígida e preocupada, porém seus olhos eram insistentes. 

 

Contra toda vontade e luta de Esther, a criança nasceu viva. E finalmente a chuva desabou do céu, trovões rimbombavam por todos os cantos. A menina que acabara de vir ao mundo, no entanto, parecia tão tranquila que talvez nem se incomodasse se as estrelas também resolvessem despencar do céu para se juntar à terra. 

Alanna já a embalava nos braços, os cabelos ruivos, iguais aos de seu pai cobriam parcialmente o rosto da jovem, mas Esther sabia que havia um meio sorriso escondido ali e também que seus olhos azuis como o céu primaveril deveriam estar brilhando. 

Esther era a única das irmãs que parecia com a mãe. Com seus cabelos loiros e sedosos e olhos extremamente verdes. 

Lembrar-se da mãe a fez estremecer novamente. Como sua irmã poderia agir daquela forma com a criança? Como se aquele ser desprezível merecesse amor. Esther não conseguia sentir isso. Conseguia sentir medo, pelas irmãs, por seu marido Phillip, por Owen, seu primogênito e por todos os outros. Sentia culpa, raiva pela responsabilidade, por ser uma Iridescente e pior, por ser amaldiçoada. Mas não conseguia sentir amor. 

— Que nome dará a elas? - perguntou Alanna. 

— Caitlyn. 

— É um lindo nome, e a outra? 

— Não há nenhuma outra - Esther disse friamente - Não me importa o que farão com o pequeno monstro. Desde que não envolva a mim e a minha família. 

— Pensei que nós fossemos sua família - rebateu Nealie. 

— Você não entende que já estou cansada de tudo isso? Cansada de ter medo de ter filhos e de que minha filha tenha o mesmo fim que nossa mãe teve? O mundo não está mais em equilíbrio e eu não quero outra batalha contra a escuridão. Nunca antes tinha desejado tanto ter nascido com outro sangue, com outro nome, com outra alma. 

— Você não sabe o que diz. - rebateu Nealie enojada, mas no fundo de todo aquele mar gelado que seus olhos eram Esther pode ver uma pontada de mágoa. 

Não era sua intenção magoar nenhuma de suas irmãs, ela as amava. Mas nunca havia se sentido tão condenada antes, por ser quem era. 

— Não deviam se compadecer dela... Também temo por vocês. 

— Pois não deveria. Já que conhece tanto de nós e do que somos para ter tanta repulsa sabe que não deveria temer por nós - o olhar de Nealie deixava bem claro que Esther havia escolhido um caminho sem volta - Pode voltar para Blederw quando quiser. Alanna traga a menina. 

 

E sem mais uma palavra, ou ao menos um olhar, mesmo que fosse gelado como o inverno Nealie saiu do quarto com Alanna em seu encalço. 

Sem despedidas, sem explicações. Pensou Esther. Foi o que ela havia escolhido. 

 

Nealie também não queria outra batalha contra a escuridão, ninguém queria. Ela se lembrava do quanto todos sofreram, de quantos morreram e do sacrifício que sua mãe havia feito. A vida não fora fácil depois da morte de Brianna para nenhuma das três, principalmente para Nealie, que havia assumido os deveres da mãe para com Bowaruchel e os outros iridescentes, como grã-sacerdotisa e protetora do leste. Porém Esther era quem mais sentia a perda da mãe. Ainda assim, Nealie não acreditava que a irmã fosse capaz de chegar a tanto. 

Esther fez suas escolhas, ela tentou se conformar e repelir a dor, porém não era tão fácil como escondê-la. 

— Ela não falou serio. Você sabe o quanto ela ainda sofre. Depois de nós três e de Owen até eu cheguei a crer que não havia mais maldição. 

 

Durante alguns segundos só se pôde ouvir os passos de ambas ecoando pelos corredores ladeados de enormes paredes amarelas e a chuva no lado de fora. Até que Nealie resolveu responder. 

 

— Um terrível erro Alanna. O carrasco nunca esquece os condenados. Gostaria de pensar o mesmo que você em relação à Esther. No entanto, temos mais com o que nos preocupar agora. 

 

E como tinham, desde quando Alanna teve a visão da gravidez de Esther ela e Nealie haviam estudado minuciosamente cada possibilidade de contornar aquela situação indesejável. Mas ali estava ela, esperando para cumprir seu destino. 

 

— Ainda acho que leva-la para longe é a melhor chance que temos - disse Alana. 

— Isso não vai quebrar o feitiço, você sabe. 

— Não, mas se o mal não se manifestar o mundo ainda estará em equilíbrio. E isso também nos dará tempo. 

— Não. E quem irá levá-la? Você? O que fará quando as sombras começarem a florescer? Ela mal tem uma hora de vida e eu já sinto o frio da morte nos ossos e o cheiro de carnificina. 

— E que outra opção sugere? As Íris não vão tratá-la tão bem quanto a própria mãe. O luto ainda pesa mais nelas que a sanidade. 

— Talvez nós que estejamos ficando insanas - resmungou Nealie - Ou ao menos eu por concordar com isso. 

 

Já não era sem tempo, pensou Alanna aninhando melhor a menina em seus braços. 

 

— Vou protegê-la, não se preocupe. 

— Estou mais preocupada com a sua proteção do que com a da criança, minha irmã. 

 

Nealie tinha os olhos sérios ao abrir a porta dos fundos do enorme casarão amarelo, que fora o lar das Waedenfyd desde quando Sêr deu vida aos primeiros Iridescentes. 

Foi quando Alanna viu quem estava esperando sob a chuva do lado de fora que sentiu o peso das palavras da irmã. 

Kevin Westlock tinha os cabelos loiros tão encharcados quanto suas vestes escuras. Ele adentrou à casa imponente assim que Nealie se afastou da porta. Suas feições estavam rígidas, os lábios, logo acima de seu queixo quadrado estavam apertados em uma linha fina, seus olhos escuros estavam sérios e os ombros largos estavam tensos. 

 

— Não me olhe assim. - Nealie repreendeu Alanna - Você acha mesmo que eu deixaria uma criança de dezessete anos partir para o desconhecido com um bebê amaldiçoado?! 

— Você chamou um guardião?! Não confia em mim irmã! 

— Eu chamei um amigo. Isso quer dizer que eu a preso, querida irmã. 

— Não encontre mais dificuldades que as que já nos pertencem senhorita Waedenfyd. Nem se sinta ofendida, sabe que essa maldição é tão minha quanto sua. 

— Para onde iremos? - perguntou Alanna ainda inconformada. 

— Para o mais distante que eu puder mandar vocês. – disse Nealie. 

 

Então tudo escureceu, simples assim. Sem despedidas ou ao menos um: “Boa sorte”, ou “Sentirei sua falta”.


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