Hallelujah escrita por Deadly Nightshade


Capítulo 2
02. II – You like to rage


Notas iniciais do capítulo

Enjoy it. xoxo



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3 anos antes.

O único momento em que a cabeça de Peeta ficava completamente vazia, era quando estava embaixo d'água. Seus pulmões não pareciam normais devido a velocidade em que completava o circuito. Devido a tal habilidade, havia ganhado algumas dezenas de títulos nas competições - nacionais, continentais e mundiais.

Os braços quentes batiam com força nas águas geladas da piscina do hotel Chateau Marmont. O corpo impulsionado para lá e para cá em velocidade incomparável. O barulho de vida abafado sob a água. Mesmo com os pulmões queimando, ele não desistia.

Esse era um dos maiores problemas que Peeta tinha com seus treinadores: a porra da teimosia. Não importava o que o treinador dizia, Peeta sempre ficava o máximo de tempo sem respirar e continuava. Durante seus 12 anos de carreira, foram cinco treinadores - todos sonhavam em trabalhar com Peeta Mellark, o menino prodígio das águas, mas no fim a parceria acabava se tornando um pesadelo terrível. O menino prodígio era um inferno. Arrogante, mimado, vivia pelas câmeras - era modelo, por um tempo fora até mesmo oferecido papéis para atuar. Mas parecia que, à medida que Peeta se revoltava, mais a mídia focava nele absurdamente.

Peeta era problemático e não negava: adorava um palco. Adorava os tablóides, adorava as luzes. (Uma vez estava tão, mas tão chapado que achou que tinha visto Deus nas luzes bulbosas das câmeras bonitas.¹). E era, também, inegável que o mundo amava tragédias e Peeta era uma fábrica delas. Um catálogo ambulante de tragédias.

Após mais alguns mergulhos, Peeta apoiou-se na borda da piscina. Era contornada por um bonito piso antiderrapante, ao redor havia algumas árvores tropicais. Cadeiras de sol bege, guarda-sois e o quarto particular que Peeta alugara.

Tirou os óculos e a touca, mergulhando logo em seguida para jogar o cabelo para trás. Apoiou-se na borda, impulsionando-se e se sentando ali logo em seguida. Puxou a toalha branca sobre os ombros, secou as mãos e pegou o celular.

Pensou sobre o assunto?

Que tal um martíni hoje à noite para discutirmos?

— G.

G de Gale Hawthorne. O assunto era uma vaga para professor de tênis no Chateau Marmont. Não que Peeta precisasse de emprego ou dinheiro, mas cabeça vazia é oficina do Diabo.

Mellark não respondeu. Saiu da piscina e foi para o quarto, tomar um banho. Depois, vestiu-se, serviu um pouco de vinho e pegou o celular novamente.

Aceito a vaga. E aceito o martíni. Até.

— P

Suspirou, virando a taça de vinho num gole só. Descansou a base da taça sobre o joelho, olhando aquela minúscula gota de vinho que tornava o cristal suavemente rosado e ponderando se realmente deveria ter aceitado a vaga. Deveria era gastar sua fortuna viajando, apostando, bebendo e transando. Mas talvez estivesse envelhecendo e quisesse se aquietar. Só talvez, se Deus quisesse.

Quando eram 20hrs, Peeta bateu a porta do seu quarto e rumou para o bar. Não fizera nada além de nadar e dormir por todo o final de semana em que ali estava hospedado. Andava de cabeça baixa quando não queria ser importunado e assim seguiu até o enorme saguão aconchegante e escurecido que era o bar.

— Mellark! — cumprimentou Gale, do bar, acenando para Mellark. Ele vestia um terno, provavelmente recém saíra da empresa do pai. — Quanto tempo! — comentou em tom amistoso, apertando a mão de Peeta.

Uma coisa que todos precisam entender sobre Gale Hawthorne, era que ele era uma pessoa boa. Sabe aquelas pessoas boas que não descem de tão doces? Quase repugnantes? Então. Ele era uma dessas pessoas: verdadeiramente boa, daquelas que fazem caridades e bailes beneficentes e toda aquela baboseira de filantropia - coisa que Peeta nunca ligou. Na visão de Peeta, era mais uma jogada de marketing e, possivelmente, uma jogada política no futuro. Mas Peeta poupou a si mesmo e Gale Hawthorne de comentários ácidos e apenas apertou breve e firmemente a mão dele.

— Quanto tempo, Hawthorne. — disse Mellark, indo para o bar.

— Eu reservei uma mesa para nós...

Peeta olhou confuso para Gale.

— Nós?

— Ah. — Gale disse, rindo. — Não nós, você e eu. Minha namorada veio junto. — ele comentou, cutucando levemente com dois dedos o ombro da mulher que até então estava de costas.

Baixinha, olhos na cor cinza, boca vermelha e cabelos loiros e curtos à altura do queixo. Usava um tomara que caia preto, assim como seus sapatos com salto fino.

— Olá. — cumprimentou, dando um sorriso que Peeta não soube identificar o que era: escárnio, desprezo ou paranóia de sua cabeça. — Katniss Everdeen. — estendeu a mão esquerda, enquanto segurava um cigarro numa piteira com um cigarro na ponta.

— Peeta Mellark.

— Eu sei. — respondeu, seca. Mas, por incrível que parecesse, não parecia ter sido grosseira propositalmente - ou a grosseria estava tão incrustada na voz que parecia ser natural.

— Ok, acho que chega de olhar para minha namorada, Mellark.

— O quê? Não, eu-

— Relaxa. — comentou Katniss, rindo. Seus dentes eram levemente tortos e Peeta parecia seriamente hipnotizado.

— Por aqui. — indicou Gale, sem se abalar.

Foram para um canto mais reservado. Katniss sentou-se primeiro, no canto, encostada na parede. Gale ao seu lado e Peeta desconfortavelmente na frente dos dois.

— Dois martínis, por favor. — pediu Gale ao garçom e virou-se para Katniss — E um...?

— Uma tequila com gelo, por favor.

Ela parecia desinteressada, como uma criança forçada a estar numa reunião chata dos pais.

— Então. — Peeta pigarreou — Como se conheceram?

Gale e Katniss trocaram olhares cúmplices, daqueles típicos casais de 15 anos, antes de Katniss contar.

— Nós nos encontramos em museu de arte. Ele estava olhando um quadro de Van Gogh, criticando tudo que ele fez na tela.

— Van Gogh não é um bom pintor, aceite.

— Ah, pelo amor de Deus. — ela respondeu, meio rindo e meio frustrada.

— Não concorda, Peeta? — perguntou Gale.

— Van Gogh é terrível. — Peeta disse, muito mais para ver a reação de Everdeen do que por ser sua opinião.

Katniss parecia ultrajada por um momento. Depois, sacudiu os ombros, olhando para os dois.

— Não podia esperar qualquer senso de arte em um atleta e um economista, não? É demais pra vocês terem senso crítico.

— E é demais pedir para uma atriz ter os pés no chão. — Gale rebateu.

— Atriz? — Peeta disse, genuinamente surpreso.

— Sim. Não muito reconhecida ainda, mas... — Katniss diz, com uma expressão de "fazer o quê?".

— Tem que ter muita coragem para ser atriz. Quero dizer, é difícil o show business. E é muito mais sobre contatos do que sobre talento, acredite.

— É, talvez. — ela disse, parecendo sincera, olhando nos olhos verdes de Peeta pela primeira vez. Peeta se perguntou se algum dia Gale realmente ligou para o que ela dizia.

E Katniss acabara de ganhar alguns pontos com Peeta pelo simples fato de não fazer piadas como "já que é famoso, por que não me apresenta alguém?". Não, ela não parecia ser desse tipo.

— Senhores. — o garçom disse, entregando duas taças compridas de martíni e um copo cilíndrico de tequila sobre os porta copos. — Algo mais? — o garçom perguntou, e Katniss continuava com os olhos fixos em Peeta, como quem tenta decifrar uma imagem.

Gale fez um gesto com a mão, negando. O garçom se retirou.

— Um brinde ao meu amigo. — propôs Gale. — Que, se Deus quiser, vai voltar à vida normal!

— Impossível. — respondeu Peeta, sentindo-se um pouco tenso e, ao mesmo tempo, confiante de um modo que há tempos não se sentia. Bateram os copos, fazendo um tilintar ecoar.

— E vocês? — questionou Katniss, depois de tomar um gole de tequila. — De onde se conhecem?

— Gale e eu fomos amigos por muito tempo. Desde a faculdade, acredito. — respondeu Peeta.

— Até ele roubar minha namorada. — Gale disse em tom triste.

— Até eu roubar a namorada dele. — Peeta repetiu, rindo de leve. Um dos cantos da boca de Katniss subiu leve e rapidamente.

— Até hoje sinto falta daqueles peitos. — Gale comentou, meio sonhador. Katniss esperou que Katniss desse um tapa nele, ou falasse um "hey", ou ficasse brava, mas apenas rolou os olhos e sacudiu a cabeça. — Mas enfim. Depois da faculdade, seguimos nossos caminhos. Até pouco tempo atrás, quando nos encontramos num jogo. — Gale continuou.

— E Gale disse que precisavam de um instrutor de tênis aqui, e pensei: por quê não? E cá estou eu. — Peeta completou, acabando com o martíni, deixando apenas a cereja.

— Droga. — murmurou Gale, procurando no paletó o celular que vibrava. — Desculpa, eu realmente tenho que atender essa ligação. — disse para os dois e saiu logo em seguida.

— Mas por que, sei lá, não vai viajar pelo mundo? É clichê demais terminar em Los Angeles.

— Terminar? — Peeta se inclinou um pouco mais para frente.

— É. Terminar. — Katniss respondeu, imitando-o. Peeta desviou o olhar rapidamente para seus seios, e ela não pareceu se importar. Esticou a mão e pegou a cereja do seu martíni, colocando a fruta na boca e puxando pela haste. Peeta sentiu-se desconfortável com o jeito que ela o olhava.

— Quem sabe aqui não é só o começo?

— Quem sabe.


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Notas finais do capítulo

1. Without you, da Lana Del Rey.
Até.



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