Segredo Virtual escrita por Alehandro Duarte


Capítulo 33
2º T: Capítulo 8 Entre seus Braços que Sangraram


Notas iniciais do capítulo

O primeiro capítulo do ano é recheado de pistas. Aproveitem a calmaria enquanto ainda podem.



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Deprimida. Cansada. Molenga. Morta por dentro. Cada uma dessas palavras e a frase, eram um pedaço do que a pobre louca assassina sentia em seu corpo fraco. Seus olhos avermelhados estavam doendo. Sua visão para a janela de frente para a escrivania demostrava o quão abalada tinha ficado com aquela história de ontem à noite. Um transe se desencadeara naquela perturba mente. Queria esquecer de tudo, precisava esquecer de tudo, mas...Não dava. Não importa o quanto tentasse fingir que nada aconteceu, sempre se lembrava mais e mais dos detalhes. Sua consciência tinha perdido a habilidade de apagar as coisas e esconder o remorso o mais fundo possível na sua mente. A morte da empregada, o trauma do motorista, a traição, o roubo, e a segunda morte, tudo caiu de uma vez sobre ela. Seus braços repousavam sobre a mesa do quarto de hóspedes, que estava uma bagunça repleta de papéis, quais por acaso eram páginas do seu livro, originalmente uma cópia. A luz que vinha pelo vidro da janela a deixava um pouco menos triste, devido ao dia nublado que com certeza viria a ganhar mais destaque. Helena começou a chamá-la pela casa, porém Bi não respondeu. Apenas um minuto depois conseguiu achá-la, dando um pequeno sorriso ao vê-la de costas observando o exterior:

 

— Por que não me respondeu?- Se moveu até a amada, dando um beijo em seus lábios quietos, mas a noiva continuou parada sem dizer absolutamente nada.- Eu vim mais cedo pra passar mais tempo com você.- Tempo. Tempo agora nunca foi tão importante nos pensamentos de Bianca. Há quanto tempo tinha começado a apagar memórias? E o tempo que demorou para perceber todo o caos que tinha criado em seu cérebro?- Tá tudo bem com você? Bianca?- Helena ajeitou seu cabelo para trás da orelha, se esgueirando para ver o olhar sereno e depressivo no rosto da mulher desolada.- Meu amor, o que houve?- Ela coloca sua mão sobre a de Bi, que de repente acordou com um flash, de suas lembranças.

 

— Eu tô bem.- Disse desafinando. Seu sorriso forçado era fraco demais para ser um sorriso. Bi passou a mão sobre seus cabelos longos, tentando mais uma vez raciocinar.

 

— Não parece. O que aconteceu enquanto eu estive fora pra você ficar desse jeito?- Será que ela pensava em contar que matou o homem que acusou falsamente de cópia, e que também tinha o beijado durante o seu namoro com a futura esposa? Sem contar o outro homicídio que foi cúmplice, meio que a própria assassina. Precisava mencionar que o Cold Blood tinha lhe ajudado a limpar todo o sangue que havia feito há poucos horas atrás?- Somos uma dupla, não somos?- Aquilo tava lhe dando nojo. Era pegajoso demais, muito amorzinho, meloso e...Por quê isso tinha começado a brilhar em sua mente? É apenas carinho, amor...Mas sentia raiva, ódio de toda aquela ternura. Nunca rejeitava a afeição de alguém, porém não sentia mais segurança nos braços da amada.- Bianca?!- Seu rosto se direcionou à face de Helena. Lembranças...Um flash começou a intervir no que via, confundindo sonho com realidade. A cara de Diogo morto no chão de sua casa veio atona, trocando para o que realmente estava vendo na vida real. A luz do flash voltou, agora mais intensa e rápida, como se estivesse piscando entre as duas " dimensões ". Freneticamente os rostos começaram a mudar diante dela. Helena com cara de besta, logo em seguida sendo trocada pelo rosto do cadáver deitado no piso de madeira. Helena. Cadáver. Helena. Cadáver. Helena. Cadáver. Cadáver. Cadáver. Cadáver. Um grito foi inevitável para acordar na verdadeira realidade. A noiva se afastou. Aquele som que Bianca fazia com a garganta era mais do que apenas um grito de pavor prolongado de quando tomamos sustos ao assistirmos filmes de terror. Era um pedido de ajuda. Aquela morte era a bola de ferro algemada em seu pé, que precisaria carregar até se libertar de todos os seus problemas psicológicos.- Bian...

 

— Preciso ficar sozinha. Agora!- Sua interrupção foi direta e clara. Helena nunca a tinha visto daquela maneira. A doce escritora gentil estaria revelando a sua grosseria interna? Quem dera fosse apenas um momento de raiva por causa do estresse de ser adulta. Estava sendo o estrasse de ser uma assassina.

 

— Eu não vou sair daqui. O que houve com você?- As mãos quentes foram colocadas sobre o ombro frio e branquelo, de quem tentava afastar quem amava para não machucá-la. Sua grosseria ao se virar para o outro lado fez com que enfim a pessoa no quarto percebesse que o que precisava fazer era dar a ela um momento com ela e apenas ela. Sozinha.

 

— Por favor.- Os olhos encharcados de lamentações atravessaram os sentimentos de Helena, que se dispôs a dar meia volta. Iria dizer mais uma vez que a apoiava em qualquer circunstância e estaria ali se precisasse desabafar em algum momento. Mas não se atreveu a falar nada. Talvez fosse melhor assim, sair em silêncio. Finalmente o cômodo habitava apenas um alguém. Um alguém que precisava muita de um abraço...Mas um braço que viesse do seu interior. Aquela seria uma batalha dela e dela mesma. Bem, talvez não quisesse ficar tão sozinha assim...Como saber o que quer? Não conseguia decidir absolutamente nada. Estava confusa, confusa, confusa e cada vez mais confusa! Tão confusa que nem se importou com uma parte da parede se abrindo no lado direito, como se fosse uma porta secreta. De lá saiu nada mais nada menos que seu segundo irmão mais velho usando um broche de coruja no ombro. Nas delicadas e bem cuidadas mãos, ele carregava uma caneca com vapor quente à sair. Bianca arfou, abaixando a cabeça, e a escondendo entre os braços cruzados na escrivaninha. Dylan depositou o chocolate-quente em cima da mesa, para conseguir acariciar os fios negros do cabelo da irmã caçula.

 

— Vai ficar tudo bem. Eu prometo.- Doía em seu coração vê-la sofrer sem ser através de suas próprias mãos. Então a consolou, mas com os dedos cruzados atrás das costas.

 

 

 

 

 

— Como vocês puderam fazer isso comigo? Com vocês mesmo?!- Não era exagero. Era medo medo de perder seus filhos. Pela insistência do pai, as crianças conseguiram passar a noite no acampamento, mas é lógico que com a companhia da mãe nervosa. Rose sentia vergonha de ter que ir em uma excursão escolar acompanhada da mamãe. Ela e seu irmão realmente estavam dispostos a aceitar levar um bala na cabeça, em vez de dormir ao lado de quem os ama e se preocupa tanto.- Eu não conseguiria viver se perdesse vocês...

 

— Se fosse pra alguma coisa ruim acontecer com a gente, já teria acontecido. Talvez o cara já até tenha se cansado disso tudo...- Sugestionava Miguel. Grande ideia, pena estar completamente errado. As crianças de hoje inventam cada coisa, não?

 

— Estamos lidando com um psicopata, se não percebeu ainda.- Rose jogou as palavras friamente, como se o irmão fosse burro demais para entender a situação.

 

— Mas se é um jogo, há regras.- Era algo lógico...Pelo menos se fosse um joguinho de tabuleiro.

 

— A única regra é não ter regras.- Lídia se impressionava com a sabedoria que Rose tinha. Mas todo aquele saber era fruto de muito tempo conversando com quem conseguia manipular tudo o que quisesse. Até a própria filha que se achava esperta o suficiente para conseguir derrotá-lo.- Dylan é como se fosse um Deus. Até quando não está aqui, ele está aqui.- O pequeno queria perguntar o porquê de nunca recorrerem a polícia, mas aquilo já foi explicado tantas vezes, que talvez fosse melhor engolir a informação. Há alguns dias atrás, Miguel telefonou para a polícia. Contou tudo sobre seu amigo virtual, as mortes, atentados...Mas no final da ligação, antes da telefonista o orientar, um rock começou a tocar, atrapalhando a ligação. Só que o garoto não tinha percebido as risadas no fundo daquele solo de guitarra ensurdecedor. Até os tiras estavam na mão do grande vilão. Rose se lembrou do que o pai disse ontem, sobre Bianca e uma aventura...Notícia ruim corre rápido, talvez ela também tenha grandes segredos.

 

— Eu acho ele muito superestimado.- O menino parecia dizer como se estivesse falando de um personagem muito forte e amado em um jogo de vídeo-game.- " Ain, Dylan sabe de tudo, é fodão, faz o que quiser ". Nunca é assim.

 

— Diga isso quando ele estiver enfiando uma lâmina em você.- Queria proteger sua família, Rose? Não conseguia proteger nem a si mesma, quanto mais dois adultos e um pivete. Dizer essas coisas provocativas apenas alimentava mais a vontade que Miguel tinha de cravar essa luta. Seria hilário senão desse raiva. Dylan tinha sim o poder de destruir aquela família, mas é realmente uma pena que estejam a destruindo sozinhos.

 

— Você realmente acha que ele se está se importando com a gente? Depois esse cara deve trocar as vítimas quando se cansar da gente. Ele não vai fazer nada. É apenas um mimadinho de merda querendo atenção...- A mão da mãe acertou em cheio a sua bochecha fofa. Seu rosto se avermelhou de raiva, que logo foi embora ao ver o rosto da mulher que o criou a vida inteira chorando. Ela tinha chorado quase a semana toda, mas dessa vez, eram lágrimas de proteção, dor por ter que bater nele para conseguir calá-lo.

 

— Vocês são apenas crianças, porra!- Palavrões não eram aceitos naquela casa, mas precisava se expressar, liberar. E junto de suas lágrimas, as memórias começaram a surgir em seu profundo olhar cansado - Acham que sabem de tudo, que sabem no que estão se metendo e que é tudo uma simples brincadeira de alguém com falta do que fazer. Dói contar isso pra vocês, mas não é assim! Não é assim...As pessoas são cruéis, perversas, podres por dentro! Não quero, realmente não quero que vocês passem por tudo o que um dia eu passei por causa da merda de seres humanos que se entretém com gente morta e agonizando no chão!...Eu amo vocês, são as coisas mais preciosas que eu tenho no mundo.- Colocou a mão no peito, bem em cima da cicatriz da bala que um dia a perfurou.- E sabendo que posso perder vocês a qualquer momento, isso me desespera. O meu pai morreu não faz nem duas semanas, e esses pensamentos traumáticos ficam indo e vindo na minha cabeça. A única coisa que me impede de me matar agora mesmo são vocês, vocês que ficam pensando que isso é apenas uma " frescura ", que tenho que me reerguer, continuar firme...Mas um dia eu vou morrer, e vão saber o quão dolorido é essa ferida que abre no seu coração, que dói dez vezes mais que um tiro. Então vão pensar por quê não passaram mais tempo com quem os ama e se preocupa de verdade!- Ela se jogou para cima do marido, escondendo seu rosto chorão no peitoral dele, que após alguns segundos a abraçou de volta, enquanto recebia os olhares envergonhados das crianças.

 

— Vão para os seus quartos...- Miguel abriu a boca, mas Rose o olhou pedindo para parar. Os dois saíram da sala, deixando ali apenas o casal. Daniel acariciava os cabelos da amada, sentindo sua camisa sendo encharcada de lágrimas. Queria dizer que tudo ia ficar bem, porém nada ia ficar bem.

 

 

 

 

 

Flashback on:

 

 

 

 

 

Os sons de tiros assustaram os pássaros que saíram de cima de suas árvores, para abrirem suas belas asas e voarem para longe dali. Os estilhaços de garrafa caíram com o som abafado pelo gramado verde da montanha. Jason sorriu, enfim tinha acertado seu primeiro tiro depois de treinar horas com seu pai. Seu primeiro instinto ao dar um tiro certeiro, foi abrir um longo sorriso em seu rostinho pálido e corado. Depois os seus braços se abriram e tentaram fechar-se em volta de seu treinador pessoal, mas a falha acabou lhe dando caminho para ser pego no colo e balançado de um lado para o outro. Alguns segundos depois, foi deslizando para o chão, indo correndo em direção a mãe para compartilhar seu feito histórico:

 

— Mãe! Mãe! Você viu?- Sofia se posicionava sentada em um tronco de madeira escura com musgo verde nas laterais. Dylan estava junto da mãe, e brincando com Bianca de atropelar as bonecas dela com sua limousine de brinquedo.- Eu dei meu primeiro tiro!

 

— É, eu vi.- O marido acenava contente para a família, menos para Sérgio que estava dentro da cabana onde morava há alguns anos. Escolheu ficar na natureza por vontade própria. O ar é mais puro, tudo em volta é bonito demais, a vista de alguns pontos dão para ver a cidade inteira de um jeito que ela parece bem mais bonita do que realmente é,...Tinha seu lado ruim como um monte de insetos pra lá e pra cá, a escuridão da noite, mas são coisas acostumáveis quando você é um adulto que viveu em uma época tão rude. Sofia ficou com uma expressão séria durante todo percurso que o filho mais velho cruzou para ir a seu encontro.- Não se ensina uma criança a atirar.

 

— Ah, Sofia, deixe o menino se divertir. É lógico que eu não vou colocar uma arma na mão dele sem eu estar por perto.- Disse alto da onde estava, tirando os cacos que sobraram no toco de madeira e colocando uma nova garrafa em cima dele. Jason correu de volta para o pai, pronto para puxar o gatilho mais uma vez.

 

— Vou dar uma volta, querem vir comigo?- O favorito da mamãe concordou, dando a mão para que caminhassem lado a lado até o destino.- Acho que ainda tem aquelas flechas e aquele alvo de madeira lá aonde fomos acampar semana passada...- Era hipocrisia daquela mãe ensinar arco e flecha para uma criança, mas repugnar que a deixassem ensinar a atirar com uma arma? A pequenina de cinco anos continuou à brincar com o ursinho de pelúcia, Kerofuji, ao som das instruções que seu pai repetia para seu irmão. Bi começou a se cansar de ficar ali sozinha, talvez seja Dylan, que agora havia sumido entre as árvores, quem trazia a verdadeira graça aos brinquedos. Esticou suas pernas e correu para dentro da cabana. Podia tentar achar algo divertido para fazer com o tio ou começar a explorar melhor a casa dele. Sempre que iam na montanha acampar, aproveitavam para visitá-lo. Era divertido todo aquele momento em família, que infelizmente tinha ficado menos frequente nos últimos meses. Sérgio estava em seu quarto, trocando de roupa após ter molhado a sua enquanto lavava a louça com a ajuda das crianças barulhentas. A menina entrou no quarto, vendo o irmão de sua mãe apenas com uma bermuda marrom e velha, deixando amostra sua barriga um pouco acima do peso. Ele parecia pensativo olhando diretamente para o rostinho de sua sobrinha.

 

— Onde está todo mundo?- Perguntou o tio. Ela o respondeu com a sua voz fina e meiga. Sérgio abriu um sorriso no rosto, indo até a janela olhar o cunhado através do vidro. Suas mãos encostaram na bermuda, com o olhar ainda vidrado no lado de fora.- Tire seu vestidinho. Vamos fazer algo divertido.- Então ele desceu a sua roupa de baixo, admirando a ingênua menina á tirar a roupa.- Mas isso fica somente entre a gente, tá legal?- Bi concordou, esperando que essa brincadeira fosse algo legal e marcante...Talvez tenha sido marcante aquele estupro...Tão marcante que a fez apagar de todas as suas lembranças da infância. Aquela foi a sua primeira memória que se forçou a esquecer.

 

 

 

 

 

Flashback off:

 

 

 

 

 

O cheiro de café tinha passado. Naquela hora do dia as pessoas saiam de seus trabalhos para almoçar, outras não tinham feito comida e preferiam ir atrás de algo já pronto para comer. Às vezes apareciam garotas forasteiras, que faziam todas as refeições fora de casa, talvez por terem apenas se alojado em um hotel ali perto. Daniel as chamava de Saras, internamente. Elas tinham personalidades fortes, apareciam uma por mês na região, era até estranho a quantidade de meninas irracionais que vinham atrás de alguém ou algo do tipo. Talvez o tema do mês a fariam abrir um sorriso. As paredes e o piso tinham sido decoradas por adesivos de patinhas de gatos. Um poster de um felino usando óculos escuro em cima de uma moto fazia as crianças pararem para admirar aquela obra de arte. Um cupcake do gato risonho pairava na vitrine, aquilo daria medo senão fosse tão fofo. Bem, não é como se Miguel fosse se assustar com aquela criatura em cima do mini-bolo e derramar um pote de açúcar, como fez quando era criança. Daniel se divertia muito com as crianças, não só com asque ficavam no estabelecimento, mas também com as que encontrava todo dia em sua casa. Eram realmente seus filhos, dava para senti o ar de família quando todos estavam juntos. Talvez seu apego seja maior por ser estéril, e não poder dar um filho de seu sangue à Lídia, mesmo que isso nunca a tenha incomodado. Ele realmente a amava, e ela amava ele. Sempre foram um casal destinado a ficarem juntos. Mas o jogo parecia ter outros planos para cada um deles. Luke depositou uma bandeja com torta de maçã na mesa de uma senhora loira com algumas folhas ao lado:

 

— Obrigada.- Agradeceu, lhe dando um sorriso breve, que logo voltou a se fechar para olhar a papelada. As outras pessoas ao redor também comiam alguma torta ou bolo. Apenas algumas com o horário meio invertido gostavam de beber café em vez de tomar uma refeição completa a essa hora do dia.

 

— Você deveria ter me avisado que o tema do mês seria eu.- Sorriu galanteador para o patrão. Luke esperava uma risadinha da parte dele, mas só recebeu uma expressão de raiva misturada com decepção. Lídia, que agora tinha uma franja cobrindo quase toda a sua testa, passou pelo funcionário dando alguns tapinhas no cabelo encaracolado do adolescente bobão.

 

— Lídia!- Chamou a senhora loira, enquanto colocava de volta a tampa em sua caneta preta. A mencionada se virou sorrindo, segurando a bandeja vazia para baixo, apoiada em sua barriga, de um jeito que tampava todo o logotipo que ficava centralizada no avental. Estava sendo uma " funcionária " vibrante, nenhum errinho. Até que viu aquela figura que já pensava estar há sete palmos dentro do solo. A bandeja deslizou de seus mãos soadas, indo diretamente para o chão, onde fez um barulho bastante irritante. Felizmente, parece que ninguém ligou muito para aquele gafe, não tinha nada dentro mesmo. Luke se abaixou, pegando o objeto e o devolvendo à patroa. Sofia estava se divertindo pelo jeito, seu sorriso era tão animador, com o queixo apoiado em seu punho fechado. Ao despertar do trauma, Lídia pareceu um pouco atordoada, mas se recompôs após alguns segundos apoiada no balcão. Sem saber muito bem o que estava fazendo, seus pés a tinham começado a levá-la para perto da mesa onde a sua tia se encontrava. " O que dizer para um cadáver? " pensou. Pelo jeito algo bem óbvio começou a sair de sua boca.

 

— Pensei você já tinha morrido.- Aquilo foi dito de um jeito tão seco, mas era apenas um susto do momento.

 

— Também penso isso às vezes.- Seu tom de voz tinha ficado mais fino. Aquela mudança era estranha, mas talvez não fosse uma sósia da organização como a sobrinha suspeitara 24 horas por dia das pessoas que convivia. Gravou até o pé que continha a cicatriz em baixo do dedão do marido. Lídia se sentou de frente para a tia, admirando seu rosto já manchado por marcas da velhice, mas mesmo assim, continuava bela. A velhice lhe caia bem.

 

— O que você quer aqui, Sofia? Está ajudando Dylan?

 

— Pelo contrário.- A dona do estabelecimento jogou o cabelo para trás, abrindo um rosto sério para entender que peça a irmã de seu falecido pai estaria sendo no jogo.- O quê de eu estar aqui é porquê quero tirar esse inferno de você. De todo mundo.- A mão enrugada empurrou uma folha-de-papel em direção da mulher do outro lado da mesa. Lídia olhou para baixo. Seus braços estavam cruzados sobre a mesa, queria demonstrar que não estava para brincadeiras. Quase desfez a postura quando leu a frase que lhe foi passada: " Aqui as paredes tem ouvidos , finja estar desconfiada. Tenho um plano ". Seu olhar um pouco assustada se direcionou para a antiga familiar, que continuava com a mesma postura, esperando que a sobrinha não desse com a língua nos dentes.

 

— Como sei que posso confiar em você?- Era uma pergunta que ia fazer de qualquer jeito. Não dava para saber se tinha entrado naquele truque de tentar burlar os gravadores de som de Dylan ou se continuava desconfiando das atitudes de Sofia.- Ficou sumida todos esses anos, e volta agora junto com os jogos. Já tenho bastante aliados para suspeitar.

 

— Precisam aceitar que precisam de mim. Dylan estava em paris comigo.- Realmente, ela conhecia bastante sobre ele, ainda mais por ter ficado todos esses anos ao seu lado novamente, mas e se fosse uma emboscada?.- Eu faria qualquer coisa pra tirar o meu filho de todos esses problemas.

 

— Até matar quem está do seu lado.- Era verdade, seria capaz disso. Mas cá entre nós, se fosse para estarem mortos, já estariam.

 

— A única pessoa que eu teria o prazer de matar seria Sara. Não entendo fascínio de proteger aquela bostinha. Ela é apenas um estorvo.- Aquilo com certeza não fazia parte da encenação. A sinceridade fez a confiança baixar, mas foi recuperada com o próximo papel enviado. Aquele era um momento decisivo, tudo poderia dar certo ou errado. Bem, parece que já começou errado. Se achavam espertas demais para ver uma câmera quase imperceptível no teto em cima da mesa, gravando tudo o que estavam fazendo. O erro de todos foi sempre subestimarem Dylan, e agora, ele subestimava eles. As duas passaram alguns minutos fingindo uma conversa, até que a mulher de sangue( Como as pessoas a tinham apelidado após a confusão do Cold Blood ) entrou no estabelecimento justamente na hora em que a discussão entre tia e sobrinha acabara.

 

— Preciso falar com você.- Marina colocou sua mão no ombro de Lídia. Ela se virou imediatamente, talvez por reflexo, e então se levantou, a acompanhando até um sofá que ficava de costas para o lugar onde Sofia repousava. O rosto da enfermeira demonstrava tristeza, dor...Algo muito normal ultimamente.

 

— O que foi, Marina? Aconteceu algo com você?- Uma mecha de cabelo caia sobre o rosto deprimido da mulher de sangue. Lídia bem incomodada com aquilo, resolveu ajeitá-la.- Houve algo com a Carla ou o seu irmão?- Após ouvir a última pessoa sugerida, um nó começou a intervir na sua garganta, e as lágrimas falaram por si só. Hoje estava sendo um dia doloroso para todos. Menos para Dylan, para ele um dia doloroso é um dia onde todos estão em paz, reunidos com a família, e esquecendo todos os problemas que no dia seguinte viriam atona.

 

— Ele sumiu. E se o Dylan tiver pego ele? E se estiver morto?- A amiga envolveu a pobre irmã do falecido, com seus braços molengas e até um pouco robustos para uma pessoa magra.- Eu não aguento mais. Aquele monstro tá destruindo tudo!- Ela recitava frases como: " Tudo vai ficar bem ", " Talvez seja um mal entendido ", " Tenho certeza que o Diogo vai voltar logo ", Mentiras. Nada ia ficar bem, em parte é um mal entendido, mas ele nunca ia voltar. Em troca de todo aquele conforto, Marina sussurrou no ouvido de quem a ouvia, tentando ser discreta, ao ver as pessoas em volta a encarando. Foi realmente uma pena apenas Sofia ter visto o noticiário passando na televisão durante aquele momento. Todo mundo iria ficar surpreso pelo anuncio da morte da escritora favorita de Bianca, Mara S.B. A vida não queria colaborar para o lado da outra escritora - Não sei por quanto tempo eu vou conseguir suportar. Naquele mesmo momento, mais uma coisa inesperada aconteceu. Bianca abriu a porta da cafeteria. Parecia meio zonza, carregando seu celular, sem a mínima expressão no rosto, como se agora tivesse decidido ser uma pessoa neutra. Sua mente começou a parar de funcionar mais uma vez. E o seu corpo como resposta, decidiu parar também.

 

— Bianca!- Gritou Lídia ao ver o corpo da prima caído no chão. Todos em volta se reuniram para ver quem era a louca que tinha desmaiado no meio da cafeteria. Daniel se abaixou para ver se ela tinha algum machucado, mas ele não podia ver que existia uma cicatriz lá na alma. Um homem no telefone de Bianca continuava a falar, não tinha percebido que a agora ex-namorada da falecida havia derrubado o parelho junto com sigo: " Ela foi levado ao hospital, mas...Não resistiu ". As coisas só pioravam. O que ninguém sabia, era que nessa mesma semana, as coisas iriam para o grau máximo da destruição.

 

 

 

 

 

Os televisores em um painel de controle, passavam cenas das câmeras de segurança espalhadas por vários regiões e casas de Sanru. Aquela sala estava repleta de tudo o que o mestre dos jogos precisava para ser considerado um Deus. Podia ver tudo, saber os passos de todo mundo, e decidir o mais importante; As suas vidas. Mais para o meio do cômodo ficava o mural com uma parede inteira para si., quase o dobro da antiga. Dylan posicionava uma linha vermelha amarrada em um alfinete que fora pregada em uma fotografia de Sofia, passando por Marina, Lídia e por fim, Daniel. Tudo era quase a mesma coisa daquele seu quarto em paris. Só que agora não era mais um planejamento. No final do lado direito, fotos dos desventuradas ex-jogadores que morreram enfeitavam a borda, com a frase " Descasem em paz ", no topo. Mary era a primeira, estava em cima de todos, e ainda tinha uma corôa desenhada em sua cabeça. Ela deixou saudades em Dylan, mas a vida dela sempre foi dela. Para o outro lado do quarto, o genocida caminhara para onde tinha uma mesa cheia de papéis e pasta. Também tinham bonecos em cima da mesa. Menores e bem mais descritivos do que os que a Senhorita Mary fazia das pessoas da cidade. A única representação estranha era a de Dylan. Todos tinham seus nomes escritos na base, e usavam roupas cotidianas, mas ele vestia um terno...O pequeno Augustos não usava roupas formais com frequência, talvez quase nunca. Era uma pista interna, quem sabe alguém descobrisse seu esconderijo, visse os bonecos e suspeitaria daquelas vestes. Bem, teria que ser bem louco, para prestar atenção em uma roupa formal, quando se tem a cidade inteira em miniatura ao lado das papeladas, feita sobre uma mesa com bastante profundidade. Daria para fazer um filme em stop-motion ali. Ao se sentar de frente para os seus brinquedinhos, decidiu que seria melhor deixá-los longe da plataforma de Sanru. A tinta estava um pouco seca, antes não tinha terminado cem por cento do que queria. E além disso, tinha companhia. Não queria que ela estranhasse que ainda brinca com bonequinhos.

 

Sara puxou uma cadeira ao lado de seu tutor, jogando para trás seus cabelos que tinham o mesmo tamanho de quando ainda era uma inocente garota atrás de seu amigo virtual. Sua pele continuava pálida, menos pelo rocha na região dobrável do braço, como se tivesse tomada soro durante muito tempo. A blusa cinza que usava era muito simples, o que combinava com a sua calça preta. Pôs-se sua mão esquerda sobre uma pasta na qual estava escrita " Prisão de Segurança Máxima ", enquanto sua outra mão com as unhas pintadas de preto assim como a esquerda, era esticada para pegar a sua mini-você:

 

— Estão planejando contra você?- A resposta para sua pergunta era aguardada, com os dedos ansiosos rodando a bonequinha para analisar suas costas. Na verdade, todas as peças de roupa que envolviam ela, eram idênticos ao que estava vestindo agora. O sociopata não respondia a pergunta por estar entretido demais com o vídeo que fez Sara gravar para mandar à Lídia, repetindo incontáveis e incontáveis vezes no seu celular. " Ele vai matar todo mundo! ". Pause. Um sorriso se formou em seu rosto.

 

— Estão.- Iniciou novamente o vídeo, mas seus lábios não deixaram de ser esticados.- Estão planejando para mim.

 

 

 

Continua...


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