The Beast escrita por Miss Daydream


Capítulo 2
Vilarejo


Notas iniciais do capítulo

Olá! Espero que tenham gostado do prólogo! Aí vai o primeiro capítulo de verdade!
Dedico esse capítulo a Dreaming Girl, Pale Moon, Analu e Luna Cullen! Vocês são minhas primeiras leitoras, agradeço demais pelo feedback! Isso me incentivou a continuar a história ♥
Nos vemos lá embaixo!



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Nathaniel espiou janela a fora, enquanto apertava contra o peito seu livro de capa azul.  

Teria mesmo sido necessário? Largar a vida que tinham e recomeçar numa cidade pequenina como aquela? Com pessoas tão grosseiras e antiquadas... Nathaniel não entendia o que tinha dado na cabeça do pai, e o porquê de ele querer com tanto afinco, reconstruir sua vida ali.  

Claro que nem ele ou sua mãe contestaram. Ambre revoltou-se, mas quando teve a informação que a cidade era um ponto turístico incrível e que uma das melhores estilistas de toda a França lá morava, fechou o bico e veio saltitando para o local.  

Compraram a única casa que ainda estava inabitada, a casa isolada em cima de um pequeno morro. Nathaniel ainda não tinha tido tempo de vasculhar o local, mas achava ao menos uma coisa boa naquilo tudo: a vista era ótima.  

Suspirou resignado pela décima quinta vez e decidiu se mexer. Já fazia uma semana que lá moravam, e só tinha tido tempo para ir e voltar à cidade, mudando coisas de lugar e posicionando-as.  

A mãe fora sua única companheira a viagem inteira, sempre bondosa e atenciosa tanto com ele quanto com Ambre. Nathaniel acreditava que sua mãe era uma daquelas princesas perdidas dos contos que ele tanto lia.  

Ambre já tinha se acomodado à cidade, e conhecera muitas pessoas, que se encantaram por sua beleza. As amigas dela já tinham vindo atormentar Nathaniel, mas ele as via todas do mesmo jeito: sem sal e sem cérebro. Porque era tão difícil encontrar alguém que o compreendesse? Ele nem era tão complicado assim...  

— Nathaniel! – ouviu a voz grossa de seu pai gritar do andar de baixo – Acorde menino preguiçoso! Vai me ajudar com a venda da caça hoje!  

Ele revirou os olhos. Porque estava tão preso naquilo tudo? Nem tivera tempo para passear de cavalo pelos campos imensos que se estendiam pelo local, quem dirá explorar aquela magnífica floresta... Não tinha tempo nem para ler!  

— Estou descendo – respondeu, tentando demonstrar prontidão no tom de voz, pois seu pai não gostava de preguiça, nem mesmo de manhã  

Desceu as escadas, enfiando o livro na bolsa de couro que carregava. Deu de cara com Ambre, que havia acabado de acordar.  

— Vão caçar? – perguntou com a voz embargada de sono  

— Estamos indo para a cidade – respondeu ajeitando os cabelos loiros  

Ambre arregalou os olhos, parecendo de repente muito acordada.  

— Me esperem, vou com vocês! – exclamou e foi correndo em disparada para seu quarto  

Nathaniel revirou os olhos. Porque toda aquela animação para ir à cidade? Não tinha nada demais lá, além daquelas pessoas desinteressantes.  

Todas as vezes que foram ao local, Nathaniel recebera feias olhadelas aqui e lá. Sempre que se sentava na beira da fonte com o livro no colo, as pessoas o encaravam como se fosse um criminoso. Não que em sua antiga cidade ele não fosse julgado por querer adquirir um pouco de conhecimento, mas ali era bem pior.  

Desceu as escadas suspirando, sentou-se à mesa e mordeu um pedaço de pão. Não havia sem sinal da mãe, e ele tinha certeza de que a mulher já estava em sua pequena e improvisada oficina, ao lado da casa.  

— Bom dia. – disse ao pai assim que este entrou na cozinha. Foi ignorado completamente – Pai?   

— Que é garoto? Não vê que estou ocupado? – o homem respondeu, deixando escapar migalhas de sua boca cheia  

Nathaniel nada respondeu a princípio, mas logo decidiu falar.  

— Acha que pode me deixar na cidade hoje? – ele perguntou, enfim – Gostaria de conhecer o local...  

— Já fomos e voltamos de lá várias vezes.  

— Não consegui conversar com ninguém, e nem consegui encontrar uma livraria... – explicou com um sorriso amarelo  

— Quem precisa de livrarias? – o velho debochou – E não conheceu ninguém porque não quis, pois Ambre, por exemplo, já fez vários amigos...  

— Não sou como a Ambre – ele rebateu um pouco chateado  

— Pois devia. – ouviu a voz fina da irmã e afundou-se na cadeira de madeira com raiva – Papai, eu gostaria muito de poder ir com vocês...  

— Você poderá Ambre. – o pai respondeu com um sorrisinho – Se apresse Nathaniel, já carreguei o meu cavalo.  

Cavalo! Nathaniel podia muito bem ir e voltar com seu próprio cavalo, independentemente da vontade do pai. E poderia finalmente conhecer e cavalgar por aquelas florestas e vales desconhecidos.  

Montou em Blanche, sua égua branca como a neve, e saiu correndo em disparada na frente da carroça do pai e de Ambre. Como amava aquilo! A delícia da aventura e a sensação inexplicável do vento em seu rosto. Aquilo sim tinha gosto de liberdade!   

Imaginou-se cavalgando pelo mundo inteiro, conhecendo e aprendendo. Falando com pessoas como ele. Conhecendo e aprendendo sobre alguém como ele. Alguém curioso e...  

— Esquisito! – ouviu alguém gritar e puxou as rédeas do cavalo, fazendo-o parar abruptamente  

— O que...? – começou a perguntar, assim que viu algumas das amigas de Ambre perto da entrada da cidade, enquanto tentava acalmar a égua enfurecida  

— É o irmão esquisito da Ambre!  

— Vive com aquele livro na mão, de lá pra cá!  

— O que tem de esquisito tem de bonito! – percebeu uma das garotas sorrir presunçosa em sua direção, ajeitando a sombrinha luxuosa sobre seus ombros  

A menina tinha cabelos castanhos muito longos, e trajava um vestido azul celeste que fazia doer os olhos. O decote não era nada modesto, e seus olhos azuis piscavam provocadores para o menino no cavalo.  

— Qual o seu nome? – ela perguntou com a voz dengosa. Todas as suas amigas a olharam com inveja.  

— Nathaniel. – ele respondeu sem muito entusiasmo, e sequer devolveu a pergunta, porque não queria mesmo saber   

— Sou Debrah – ela abriu um sorriso do tamanho do mundo – E é um prazer conhecê-lo.  

Nathaniel ponderou suas atitudes e percebeu que estava sendo equivocado. A garota parecia simpática aos seus olhos, apesar de ele não gostar de sua voz enjoada, ela parecia ser uma boa pessoa.  

— Prazer. – ele sorriu de leve e desviou o olhar  

Ainda sentia o olhar de Debrah sobre si quando Ambre e o pai apareceram.  

— Garoto, onde pensa que vai correndo desse jeito?! – o pai gritou com ele, mas Nathaniel não se importou. Pelo menos não agora, pois ele jamais faria algo na vista das pessoas  

— Desculpe. – disse apenas  

— Garotas! – Ambre cantarolou sorrindo, mas Nathaniel a conhecia bem e percebeu que na verdade estava muito contrariada – O que fazem na entrada da cidade?  

— Estamos esperando Boris e os outros voltarem da floresta... – uma das garotas, que também trajava um vestido azul como o de Debrah, só que um pouco mais claro, disse enquanto encarava Nathaniel com tanto fervor que ele sentiu as bochechas esquentarem  

— Fico por aqui, então. – Ambre disse enquanto descia do cavalo do pai, que a olhou contrariado, mas nada disse – Melody, diga-me onde vocês compraram estas sombrinhas maravilhosas?!  

Ah, então o nome da menina era Melody... Nathaniel não achou que combinava muito com ela.  

— Que está esperando garoto?! – o pai disse com dureza, enquanto as garotas conversavam animadas, lançando olhadelas nada discretas para o loiro – Vamos andando, vamos!  

Debrah o encarava com o sorriso mais largo que ele já vira em toda a sua vida.  

Mademoiselles... – Nathaniel as cumprimentou com um sorriso amarelo enquanto saia do local  

— Até mais, monsieur. – apenas ela respondeu, parecendo intimidar todas as outras e fazer Ambre bufar em desagrado – Espero vê-lo mais pela cidade.  

Nathaniel sentiu o rosto queimar e a garota ousada riu, virando-se na direção contrária.  

Porém, quando Nathaniel passou trotando com Blanche, conseguia sentir o olhar dela queimando em sua nuca.  

Isso não o agradou. 

 

***

 

Já fazia mais de duas semanas que eles estavam de fato morando na pequena cidadezinha, e Nathaniel já havia arranjado mais problemas do que conseguia contar.  

Não eram problemas terríveis, como ficar devendo uma boa quantia de dinheiro para algum chefe da máfia. Era só que as pessoas pareciam não gostar muito dele.  

Os únicos amigos que tinha na cidade inteira eram sua mãe (patético, no mínimo), o senhor dono da livraria e o filho dele.  

Depois de ajudar seu pai com as vendas e compras, ele sempre ia diretamente para a livraria de Leigh e do pai dele. Geralmente Leigh era muito quieto e fechado, mas era muito amigável e compreensivo também, o que fez Nathaniel gostar dele instantaneamente.  

O velhinho dono da livraria se chamava George, e Nathaniel o achava extremamente interessante. Apesar do pouco tempo juntos, o loiro já o admirava muito, acreditava que o Sr. George era o homem mais inteligente do mundo! Só não diria “ser humano mais inteligente do mundo” porque este posto já era ocupado por sua mãe.  

— Bom dia! – disse assim que entrou na lojinha, fazendo o pequeno sino na parte superior da porta tocar e atraindo a atenção de George para si  

— Olá Nathaniel! Como vai? – o idoso lhe deu um sorriso, mostrando-lhe todos os dentes (ao menos os que ele ainda tinha)  

— Muito bem, e o senhor? – pendurou a capa azul escura que estava usando e foi até o balcão  

— Esperando Leigh voltar da loja de carpintaria. – o senhor disse apontando para a escada de madeira que ele vivia subindo para alcançar os livros das prateleiras mais altas – Nossa escada está com uns rangidos, seria terrível se alguém caísse!  

— Não seria uma notícia tão ruim se fosse Boris que acabasse caindo – Nathaniel disse sorrindo, e o homem ao seu lado deu uma risada gostosa  

— Não seja tão mal, menino!  

— Não estou sendo. – respondeu retirando alguns livros da bolsa que carregava – Vim devolvê-los.  

— Mas já acabou de ler? – o senhor perguntou surpreso, segurando os livros recém-devolvidos – Pegou no início da semana!  

— Não pude tirar os olhos deles! – Nathaniel dizia animado enquanto procurava por novos títulos de seu gênero favorito: aventura – Diga-me, tem algum novo?  

— Nenhum chegou nesta semana – George balançou a cabeça – Não estava lá essas coisas para negociar...  

— O senhor está bem? – o loiro tirou os olhos dourados das prateleiras e perguntou preocupado para seu amigo – Aconteceu alguma coisa?  

— É que amanhã fará seis anos que meu filho mais novo desapareceu – o idoso respondeu muito tristemente – Leigh está uma pilha de nervos por causa disso. Eles eram muito próximos.  

— Oh, sinto muito – Nathaniel tentou consolá-lo – Quantos anos ele tinha?  

— Hoje estaria com a sua idade, acho que ele era dois anos mais velho que você. – o velhinho ponderou – Quantos anos você disse que tinha mesmo?  

— Vinte.  

— Estou certo então, Lysandre estaria com vinte e dois... – a expressão de George ficou ainda mais tristonha e Nathaniel se sentiu péssimo.  

— Lysandre? – tentou consolá-lo – O que significa?  

— Liberdade, ou aquele que liberta. – Nathaniel surpreendeu-se com a resposta – Bonito não é? Minha esposa escolheu.  

— Muito bonito, é verdade. – o loiro sorriu cordialmente, desejando saber o significado de seu nome  

Ficaram em silêncio por um tempo, e Nathaniel imaginou como Lysandre seria. Será que era calado e tímido como o irmão? Ou sábio e afetuoso como o pai? Nathaniel apostava que os dois seriam bons amigos, e desejou tristemente que pudesse tê-lo conhecido.  

— Bem, Sr. George eu acho que já vou indo. – Nathaniel acenou enquanto recolocava a capa – Passo aqui mais tarde para distrair o senhor e Leigh?  

— Acho que meu filho quer ficar sozinho hoje, se você não se importa – George sorriu triste e Nathaniel concordou com a cabeça  

— Boa tarde!  

— Para você também.  

Saiu da loja, um pouco chateado por causa de um garoto que sequer havia conhecido. Sr. George parecia tão abalado ao falar do filho desaparecido... Aquilo era novo para Nathaniel. Ele apostava que, se por algum acaso algum dia desaparecesse, seu pai só perceberia quando precisasse de sua ajuda.  

Logo que virou a esquina distraidamente deu de cara com Debrah.  

A garota estava lhe enchendo a paciência fazia um bom tempo. Apesar de ter posto em mente que não ia julgá-la só por causa de um pensamento pessimista, e que ela era muito educada e gentil, Debrah tinha se tornado um de seus inúmeros problemas. O jeito que ela se insinuava chegava a ser quase insuportável. E dizia as coisas como se fosse a única que pudesse estar certa em uma discussão, sempre sorrindo e desconversando quando Nathaniel tentava questioná-la.  

Ela sempre dizia a mesma frase irritante:  

— Você fica tão mais bonito quando está calado, Nathaniel.  

Isso o tirava do sério! Quem era aquela pessoa para dizer uma coisa como essa?! Se tinha uma coisa que Nathaniel adorava fazer era conversar sobre qualquer assunto que envolvesse conhecimento e debates.   

O pai dizia que ele se empolgava demais, mas a mãe sempre o incentivava a ir mais a fundo. Ele sonhava em criar e descobrir coisas, assim como ela.  

Mas agora estava parado em frente a uma das pessoas que ele menos gostava no mundo.  

— Bom dia! – ela estendeu a mão enluvada e Nathaniel ignorou-a, fingindo prestar atenção nas ofertas da padaria – Como vai?  

— Bem. – o loiro virou o rosto e enfiou a cara no livro, coisa que adorava fazer quando passeava pela cidade, assim não precisava encarar nenhuma daquelas pessoas de mente tão pequena  

— Oh, fico muito feliz – os olhos da moça brilharam, e ela pareceu ignorar o fato de que Nathaniel pouco se importava se ela estava ali ou não – Passarei hoje em sua casa, mais tarde. Preciso conversar algo sério com você.  

— Sobre o que? – agora ele perguntou olhando para ela  

— Descobrirá no tempo certo, bobinho. – ela sorriu um sorriso estranho – Por enquanto lhe deixo com sua curiosidade.  

Aquilo o irritou mais do que deveria.  

— Meus pais não estão em casa hoje. – disse, tentando se livrar de Debrah  

— Melhor ainda. – os olhos dela brilharam – O que quero lhe falar é particular.


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Notas finais do capítulo

E então? O que acharam? Me digam nos comentários!
Também me avisem se tiverem achado algum erro, revisei o capítulo inúmeras vezes, mas sempre deixo algum errinho bobo escapar.
Esse cap foi mais pra apresentar o Nathaniel, o que acharam dele? Gostaram da personalidade, de como ele está agindo até agora?
Surpreendi vocês com o nosso "Gaston" do universo alternativo? Shaushauhs recebi apostas de que seria a Melody, mas eu acho ela meio sem carisma pra fazer esse vilão, e disso a Debrah tem de sobra né? (A gente querendo ou não...)
Me contem tudo nos comentários!
E aí? Continuo?
Beijos!



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