Escolhi o azul dentre todas as cores. escrita por Guilherminaa


Capítulo 1
Gosto do céu quando é dia.


Notas iniciais do capítulo

Depois de concluir o jogo, tento me conformar escrevendo essa one-shot, espero que a Chloe e a Max sejam tão importantes para vocês como foram para mim. Se gostarem, por favor, comentem, não me deixem só :c



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              Maxine Caulfield abaixou a cabeça encostando a testa nos joelhos. Seu cabelo curto e castanho escorreu para frente e suas pálpebras estavam espremidas sobre os olhos. Era difícil controlar toda a tremedeira que dominava seu corpo. Assim como o sol se erguia toda manhã pelas montanhas, era involuntário seu organismo reagir em culpa.
Ela havia matado. Matado toda aquela gente. Estava ciente do seu egoísmo quando os gritos de desespero inundavam sua mente, aquelas pessoas pagaram com suas vidas por um erro que jamais cometeram.

   O vento gélido de um lugar qualquer na América tentava infiltrar os poros da sua pele, mas Max nada fazia. Deixava o corpo pender para frente, o suor frio escorrer pela testa e sua mente maltratá-la diversas vezes. Nunca mais veria aqueles corpos mortos com vida. Eles sofreram por uma escolha imutável e completamente individual.

   – Ei, Max. – E então, ela levantou o rosto e viu os cabelos azuis bagunçados, a pele pálida em contraste com a noite. – Está lembrando de novo?

   E Max sorriu, bem de leve, porque ao ver Chloe na sua frente, sentia o gosto amargado de arrependimento ficar doce.

   – É inevitável – Max confessou e Chloe sentou-se ao lado dela, apoiando as costas em sua picape velha. Seu casaco preto não era suficiente para aquela noite exacerbadamente fria.

   – Eu sei que é difícil, Mad Max.

   Maxine olhou para o lado, levou a mão até uma mecha azul e a prendeu entre o indicador e o polegar, sorriu:

   – Na verdade, tudo fica mais fácil depois que te vejo.

   – Devo considerar como um flerte? – Chloe sorriu de lado e ergueu as sobrancelhas.

   Max revirou os olhos:

   – Hum... se as consequências forem boas, sim.

   – Qualquer coisa você volta no tempo... Assume logo, Max. A garotona aí me ama.

   Max riu, esquecendo finalmente o quanto estava aflita minutos antes, levou sua mão até a da garota de cabelos azuis e a segurou:

   – Você sabe que eu te amo pra porra.

   – E como eu sei disso... quantas vezes salvou a minha vida? – O tom de Chloe era divertido, elas se encaravam. Apesar da linda paisagem meio desértica e das estrelas espalhadas por todo o céu, se Max tivesse que fotografar alguma coisa, seria Chloe.

   – Sei lá, umas sete? – Max deu de ombros.

   – Você sabe que era para eu morrer.

   – Eu sei.

   – Agora vai ter que me aturar para sempre.

   – Eu vou queimar no inferno por todas aquelas almas. Mas Chloe, o que você acabou de me falar agora me deixa cegamente feliz. Não consigo enxergar a minha vida sem você.

   Chloe zombou:

   – Com certeza, algo menos caótico e problemático.

   – E completamente sem cor.

   – Ah, não exagere, sou quase monocromática.

   – Eu viveria muito bem só com azul.

   Chloe sorriu, levou a mão de Max até a boca e encostou-a em seus lábios secos e rosados.

   – Vamos armar nossas barracas? Amanhã temos o resto do sul para dominar!

   Max assentiu e ambas se levantaram, começaram a armar as barracas e riram todas as vezes que os elásticos voavam pelas areias infinitas.

   – Por ser um deserto, deveria fazer muito calor sempre. Não aguento mais esse frio do caralho – Chloe resmungou.

   – Warren explicaria muito bem sobre calor específico e essas coisas...

   – Se ele estivesse vivo.

   Maxine piscou com força sentindo a dor do comentário. Chloe não fazia por mal, era o jeito dela. Aquela cara emburrada enquanto armava as barracas servia de conforto para qualquer lembrança.

   Chloe deitou no colchão improvisado e chamou Max com os dedos. A fotógrafa mordeu as bochechas; a imagem dos cabelos azuis sob a touca de lã, o rosto sério e os lábios tensionados – quase como um biquinho –, dentro de uma barraca no meio do nada, era incrível para ser fotografada. Max, então, pegou a câmera do bolso e tirou uma foto rápida do tecido resistente em contrate com o céu estrelado.

   Chloe ergueu o dedo do meio para ela:

   – Obrigada por me avisar.

   A garota revirou os olhos e foi até a barraca, sentia tanto frio que nem tirou o All Star. As duas se encaravam, o rosto de uma era suave e o da outra era meio enigmático, fechado e tenso.

   Antes de dormir, elas sempre se olhavam, agradecendo secretamente por terem uma à outra. Mas, inevitavelmente, elas acabam por pedir. Pediam por um ato de loucura em sigilo, quase como se fosse pecado.

   Graças aos Céus que Chloe era punk. Estava pouco se fodendo para o que era permitido ou não. Ergueu o peso do corpo com o cotovelo e caiu em cima de Max propositalmente.
   – O que você está fazendo?

   – Estava me desafiando a ficar em cima de você – Chloe brincou. A touca escorregou pelo seu cabelo, consequência do impulso da garota. Dessa maneira, as cores púrpura e loira foram reveladas na raiz, mas no momento, Max estava muito ocupada tentando não ficar nervosa com o peso da punk sobre seu corpo.

   – Já falei para você que adoro desafios? – a fotógrafa flertou.

   – Sim, falou inclusive que prefere quando é desafiada.

   – E você adora desafiar as coisas que gostaria que eu fizesse, mas não tem coragem de falar.

   Chloe fez uma careta:

   – Acha mesmo que sou tão vulnerável assim?

   Max levou suas mãos para as costas da garota e arrastou por toda a extensão. Certamente, as batidas loucas do seu coração eram audíveis. O corpo de ambas vibrava levemente pelos impulsos involuntários de seus músculos.

   – Esqueceu? Eu tive que salvar a donzela mais de meia dúzia de vezes.

   – Está me chamando de frágil, Mad Max?

   – Não exatamente, só estou dizendo que eu sou a garota do cavalo branco da relação.

   Ao brincar com isso, Max sentiu as bochechas corarem, de certa forma aquilo foi uma declaração. A garota de cabelo azul sorriu e aquele sorriso era mais um motivo para Max se sentir egoisticamente feliz.

   – Quero descobrir se a garota do cavalo branco sabe cavalgar – Chloe brincou e Max nem teve tempo de interpretar o comentário sugestivo. O rosto pálido da garota abaixou, seu nariz arrastou pela bochecha de Max e quando chegou próximo aos lábios dela, Chloe deu um beijo molhado no canto, no começo da linha da boca.

   O coração de Max estava disparado, suas mãos sentiam o tecido quente das roupas da punk com força. Os dedos pressionavam toda a extensão da coluna dela, porque depois de ver a amiga morrer tantas vezes, senti-la era uma dádiva. Sentir seu corpo emanando calor, apesar de todo o frio do outro lado da barraca, parecia um milagre.

   O corpo de ambas pedia para algo a mais. Max abriu a boca levemente, quase como um pedido. Ela precisava com todas as suas forças sentir Chloe cada vez mais.

   – Não volte ao tempo para roubar o meu contentamento de ser uma suposta donzela e ainda assim estar por cima, Caulfield.

  E então, a boca rachada de Chloe fechou na de Max e ela a beijou com tanta intensidade, com tanto fervor e paixão, que a fotógrafa esqueceu o significado de arrependimento.

   Naquele momento, Maxine sentia a satisfação por ter feito as escolhas certas.


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