Shieldmaiden escrita por Bugaboo


Capítulo 4
O Começo


Notas iniciais do capítulo

Até eu estou surpresa com a rapidez. Mentira, eu já tenho muita coisa, mas preciso revisar milhares de vezes para apresentar do melhor jeito possível a vocês. Esse capítulo serve de conclusão ao anterior, é claro que deixa pontas, mas são pontas que constituem os pilares do enredo como um todo. Eu me diverti bastante escrevendo este capítulo, e espero que sintam o mesmo enquanto estiverem lendo! ♥



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Era uma melodia cálida, acariciava os ouvidos, como se pudesse ser abraçada e sentida.

Avanna abriu os olhos e se viu na enfermaria. A luz ofuscante queimou seus olhos e levou um tempo até que ela se lembrasse dos recentes acontecimentos. Pensou em se levantar, mas desistiu ao ouvir pessoas conversando há centímetros do seu leito. Pessoas que, por um acaso, se chamavam Ezarel e Eweleïn. Oh dia de sorte, pensou. Ela achou melhor fingir que ainda estava dormindo, e “escapar” quando se encontrasse sozinha.

— ...e também há essa marca nas suas costas, eu nunca vi nada parecido, se puder analisá-la, eu ficaria feliz em ouvir sua opinião. Já separei alguns livros sobre simbologia e sinais, eu não acho que essas marcas signifiquem nada, pelo contrário, são intrigantes – a voz era baixa, e Avanna teve que se concentrar bastante para ouvir, mas ela pôde perceber que se tratava de Ezarel.

— Eu vi, mas não tive tempo de analisar, precisava cuidar dos ferimentos primeiro. Você parece bem preocupado – Eweleïn mantinha o mesmo tom impassivo de sempre – não faça essa cara, sei que se importa com ela. Eu só não sei como vou convencê-la a cooperar, ela anda me evitando.

— Basta sedá-la – Avanna notou o habitual tom de voz que ele fazia quando se tratava das suas piadículas— e, Eweleïn... – o resto da frase ficou uma incógnita, os elfos estavam longe demais para serem ouvidos, provavelmente saindo da enfermaria.

Avanna estava prestes a se levantar quando notou que a elfa voltava.

— Consegui encontrar tudo que pediu! – era Elisiya, a pequena e franzina dríade.

— Ótimo! Muito obrigada, Elisiya, foi de grande ajuda. – Avanna se segurou para não sorrir, conseguia imaginar perfeitamente a expressão de satisfação que Elisiya fazia ao ajudar as pessoas – Vou levá-los para a sala de alquimia para preparar a poção. Posso te pedir só mais um favor?

— Claro! – ela respondeu com prontidão.

— Fique de olho na Avanna, e se ela acordar, não a deixe sair. Obrigada, eu volto logo – sua voz se distanciava, sem ceder tempo para Elisiya analisar a gravidade da situação.

— Mas, como...? – perguntou baixinho, e suspirou conformada.

— ELIS! – Avanna se levantou com um pulo e Elisiya guinchou de pavor – shh! – ela tapou a boca da amiga, que, claramente assustada, permaneceu com os olhos arregalados – desculpa, não deveria ter gritado.

— Você... você não pode sair! – Elisiya entrou em pânico ao ver que Avanna se preparava para deixar a enfermaria.

— Elis, eu sinto muito – lamentou Avanna enquanto calçava as suas botas.

— Você não pode sair! – insistiu. – Eu... eu não vou deixar! – a pequenina tentou manter um tom de autoridade.

— Ah – Avanna já não mais continha seu sorriso – eu sinto muito, mas, me sinto ser ameaçada por um dos Ursinhos Carinhosos.

— Você ainda não se recuperou! – exclamou Elisiya, sua voz estava se tornando cada vez mais aguda.

— Eu to ótima, olha só – ela exibiu seus músculos e correu para a saída. Ainda sentia dores, mas ela poderia viver com isso.

— Eweleïn vai se decepcionar comigo! – seu tom de voz transparecia um desespero de dar pena.

— Eu já disse que sinto muito! – gritou Avanna, já fora da enfermaria.

Elisiya pensou em segui-la, mas era a Avanna, ela não conseguiria fazê-la voltar nem com todos os biscoitos amanteigados do mundo.

 

 

Ficar deitada em um leito de enfermaria estava fora de questão, Avanna precisava saber o que significava tudo aquilo que tinha acontecido na noite anterior. O Mensageiro, o corvo, a carta, quem são esses asgardianos, e o que querem. O nome não lhe era estranho, lembrou-se de ter ouvido sobre eles em alguma mitologia que lhe escapava da mente no momento. Ao se aproximar da sala do cristal, notou que Miiko conversava com os líderes de guarda... e Leiftan, Avanna revirou os olhos. Ela sabia que deveria estar na enfermaria até ser liberada por Eweleïn, e, se aparecesse ali, seria mandada de volta, então dar uma de Karenn pareceu a melhor opção. Ela se agachou nas escadas e ouviu com atenção sobre o que eles conversavam.

— Eu não sei, Valkyon, você os conhece, um simples “oi” dito de forma incorreta pode ser interpretado como um ato de guerra – Miiko suspirou – e ninguém em sã consciência  desejaria iniciar uma guerra contra eles, precisamos ter cuidado.

— O Corvo escolheu Avanna como receptor – era Ezarel – talvez ela...

— Você estava errada, Vanninha – uma voz conhecida atrás de si a fez perder todo o ar em seus pulmões. – Nem todas as estrelas se tornam uma supernova. Li que algumas...

— Soraiya! O-O que faz aqui?! – Avanna não gritou, mas sussurrava tão alto quanto podia – Você é impossível! Saia daq... – foi quando se deu conta do que ela disse – hey, como assim? Você estava me espionando ontem?

— Eu só estava observando vocês – respondeu Soraiya, com sua clássica falta de tato firmemente presente.

— O quê? Sora, você não pode fazer isso! – aquilo entraria em um ouvido e sairia pelo outro, Avanna sabia, mas estava constrangida demais, precisava se aborrecer para esse sentimento passar.

— Oh não, pelo contrário, eu posso sim. Como vigilante noturna da guarda, tenho total liberdade de observar e reportar tudo que vejo acontecer no refúgio durante a noite. E além do mais, vocês são um excelente objeto de estudo sobre relações interpessoais. Eu até mesmo tomei algumas notas, você quer ver? – ela sorriu e começou a procurar suas anotações.

— Não! Se livre disso! – Avanna estava estupefata com as ações de sua amiga. – Se estava lá o tempo todo, por que não nos ajudou com aquela coisa?

— Eu não o vi – Soraiya mantinha uma postura tranquila e indiferente, nada do que ela dizia parecia errado aos olhos dela, e ela interpretou a reação da Avanna como um seus clássicos distúrbios de temperamento – Parei meus estudos quando vocês iniciaram o ritual de acasalamento, já tenho notas sobre isso.

Avanna encheu seus pulmões de ar, mas não teve tempo de reagir, um grito a fez sobressaltar.

— O que vocês estão fazendo aqui?! – Miiko estava parada em frente à escadaria e aguardava explicações.

Avanna ainda se recuperava dos dizeres de Soraiya, não conseguia raciocinar. Evitou a todo custo olhar para Ezarel, então buscou ajuda com o olhar para seu grande amigo Valkyon. Sem sucesso, ele permanecia sério. Nevra parecia curioso, com uma leve ameaça de sorriso em seu rosto. Ela não se deu ao trabalho de olhar a reação de Leiftan.

— Conversando sobre os rituais de acasalamento de Avanna e Ezarel – respondeu, por fim, Soraiya.

Avanna deu um forte tapa em sua própria testa. Simplesmente não podia acreditar que aquilo estava acontecendo. Ela continuou a evitar olhá-lo. Soraiya continuava a pensar que o que dizia não era nada de mais, e esboçava o seu sorriso automático. Nevra não se conteve, e explodiu na gargalhada.

— Não dê ouvidos a ela – Avanna achou que já estava na hora de dizer alguma coisa. – Estou aqui porque quero saber o que rolou ontem à noite. Eu derrotei aquela coisa, eu tenho no mínimo o direito de saber.

Todos os cinco se entreolharam.

— O que faz fora da enfermaria? – questionou Valkyon. – Deveria estar de repouso, acredito que Eweleïn ainda não a liberou, já que não fui informado.

— Eu estou bem, preciso saber o que...

— Valkyon está certo, volte para a enfermaria e só volte aqui quando estiver totalmente recuperada. E aí falaremos sobre o assunto – Miiko terminou a frase com um pesado ponto final. Ela não falaria mais sobre o assunto. Voltando para o centro da sala, ela se virou e acenou para Soraiya se aproximar.

— Vamos. Eu te acompanho – Valkyon se dirigiu ao corredor e esperou por sua pupila.

Avanna não conseguiria mais do que isso. E apesar de teimosa e imprudente, ela sabia como reconhecer uma derrota. Mas não foi por isso que ela tomou a decisão de retornar para a enfermaria, ela respeitava Valkyon mais do que qualquer outra pessoa, e isso pesou sua decisão.

— Uh, ta bom— abaixando os ombros, ela acompanhou seu chefe de guarda até à enfermaria. Valkyon não dizia uma palavra durante todo o percurso, e Avanna achou isso uma oportunidade perfeita para fazer algumas perguntas. Ela pigarreou, mas ele foi mais rápido.

— Soube que lutou bem – eles pararam na escadaria do hall de entrada. – Estou orgulhoso por ter você em minha guarda, e mais ainda, por ver que nossos esforços tiveram um resultado tão satisfatório.

Valkyon esboçou um leve sorriso e Avanna sentiu o peito explodir de felicidade. Sua alegria por ouvir algo tão inspirador e importante para ela varrera todas as perguntas que ela planejara fazer. Seu sorriso era estonteante, e ela não tinha palavras para expressar sua gratidão.

— Oh, aí está você! – exclamou Eweleïn. Quebrando o momento, desceu correndo pelas escadas com uma pequena e apavorada dríade de cabelos esverdeados.

 

 

Avanna estava contrariada. Não se sentia confortável perto de Eweleïn, e acreditava que seria assim para todo o sempre. Não deixe as coisas estranhas, ela pensava, seja natural.

— Há quanto tempo sente essas dores? – perguntou Eweleïn, examinando meticulosamente as marcas nas costas de Avanna.

— Eu não sei, passei um bom tempo achando que qualquer dor que eu sentia era culpa do meu treinamento, hey! – Avanna se virou e notou algo que a deixou furiosa – você está desenhando?

— Sim, eu estou – afirmou Eweleïn – e espero que você coopere. – A elfa terminou o desenho e mostrou para Avanna.

— Wow! – Avanna exclamou sorridente. – Eu tenho isso nas minhas costas? Legal, nem precisei pagar um tatuador – brincou.

— Avanna, isso é sério – Eweleïn não tinha tempo para rodeios. – Reconhece isso de algum lugar? Tem certeza que não tinha isso antes de vir para cá? Por favor, é importante.

Ela queria responder com um sim ou não. Mas sentia que não tinha certeza de mais nada do que acontecera na sua vida anterior. A cada dia que se passava, a cada minuto que permanecia ali, em Eldarya, cercada por magia e misticismo, mais ela sentia que aquilo era a realidade, e tudo que vivera antes não passara de um sonho. Ela se lembrava dos céus nublados de Londres, e como aquilo a irritava por não poder realizar seu simples desejo de observar as estrelas. Ela se lembrava das manhãs frias, do forte vermelho das cabines telefônicas se destacando ao cinza dominante. Ela se lembrava de como era solitário. Ela não se lembrava de pessoas, pessoas são difíceis de memorizar, elas então sempre vindo e indo, nunca ficam. Pessoas não são feitas para se apegar.

Eweleïn a olhava com compaixão. Imaginou que seria difícil para ela falar sobre um assunto tão delicado.

— Eu não sei – respondeu quase que melancolicamente. – Acho que não. Mas eu não sei dizer se reconheço ou não. Ando tendo déjà-vu, muitos, é bizarro. Não sei mais dizer quando estou reconhecendo algo, ou estou pirando geral mesmo.

Eweleïn sorriu, Avanna falava como uma típica humana. Concluiu que Avanna sabia tão pouco quanto Ezarel e ela mesma a respeito das misteriosas marcas em suas costas, então resolveu contribuir com o que podia para a investigação de Ezarel. Não gostava da ideia de esconder isso da garota, considerando o histórico, mas achou que seria necessário por enquanto.

— Ótimo – concluiu. – Obrigada por cooperar, eu nem precisei usar meu sedativo – ela sorria como uma genuína elfa. – Você pode dormir em seu próprio quarto esta noite, mas apareça amanhã para um último exame.

— Hm, claro – mentiu. – E... Hm, Eweleïn, não fique brava com a Elis, ela tentou.

— Eu sabia que Elisiya não seria capaz de te segurar, o meu erro foi não esperar que você acordasse tão cedo.

As duas se olharam com companheirismo, e Avanna seguiu rumo a seu quarto. Talvez para todo o sempre fosse tempo demais.


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Notas finais do capítulo

Foi um capítulo leve e episódico, sim, mas espero que tenham gostado. Apesar de ser um capítulo que conclui outro, o título implica o início de algo, o que não é mentira.
O próximo vai sair logo, já está pronto para a revisão!
Um beijo a todos, fico feliz que tenham chegado até aqui, e obrigada pelo feedback!



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