O Expurgatório escrita por feidge


Capítulo 1
3 Intrygi i rozpaczy – Intrigas e Desespero




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— Não me importa se nós teremos de desenterrar aquele cadáver, ou montar acampamento na merda da cena do crime. Temos que achar o maldito que matou Cindy, e sei lá quantas outras por que isso é trabalho de serial Killer, Keith.

Lark quase espumava de ódio gritando com seu superior. Sentia-se um idiota? Completamente. Queria socar-se até perder os sentidos? É claro que sim.

Por sua culpa eles poderiam ter perdido a maior chance do maior caso que ele teria naquela cidade interiorana de merda. Poderia ter mostrado que é, sim, um ótimo profissional. Mas como sempre, ele cagou e andou na única coisa que poderia ter incriminado o filho da puta que matara aquela coitada mulher.

— Cale a boca, Robert. Podemos ser amigos há muito tempo, mas quem manda nessa porra ainda sou eu, lembra? — Keith Cardiaens esbravejou enquanto batia o punho fechado sobre a mesa, fazendo vários objetos se remexerem até caírem.

Lark e Cardiaens eram amigos desde o ensino fundamental, a amizade fortaleceu-se quando descobrirem almejarem a mesma coisa: Se tornar um grande detetive policial. Infelizmente, para Lark as coisas desandaram um pouco ao que um desentendimento com o primogênito dos Finnigan fez sua carreira decair, e a de Keith alavancar dando lugar ao diretor de homicídios de Houma, Louisiana.

Lark suspirou bagunçando os cabelos e andou de um lado a outro no pequeno cômodo do escritório.

— Senta nessa merda de cadeira, Robert. Vai acabar abrindo um buraco no meu chão se continuar com isso. — O diretor reclamou recostado na cadeira de couro e bebericando seu café fulminante.

— Temos que recomeçar com essa investigação, Keith. Eu não vou me perdoar se eu perder esse cara por causa de uma idiotice que eu cometi. — O detetive apoiara os braços na ponta da mesa e juntou as mãos como se rezasse. Pedia clemencia do amigo.

— Infelizmente não há mais nada a ser feito. Todas as provas já devem ter sumido daquela espelunca, fora que o corpo já fora lavado e enterrado. — Suspirou e bebeu mais da caneca, levantando a mão pedindo que o outro se mantivesse em silencio, ao que vira que ele abria a boca para dizer algo. — Não temos como pedir um mandato para exumar o corpo de Cindy Muller, o marido dela é super-religioso, ele acredita que se desenterrarmos o defunto, ela não estará mais em paz.

— Mas... Merda, Keith! O que eu faço agora? Eu tenho que achar esse sujeito logo! Minha sanidade depende disso!

— Sinto muito, Robbie, mas vamos ter que esperar até que ele aja novamente.

— Eu não posso esperar, Keith! Eu não consigo! Não vou conseguir viver bem comigo mesmo até ter pelo menos uma mísera dica de quem ele é! — Lark voltara com a caminhada em círculos no escritório do amigo, os cabelos sendo puxados com mais força por entre os dedos.

Cardiaens sentia pena do outro, queria ajuda-lo, claro que queria, mas não havia nada que pudessem fazer.

— Sinto muito, Robbie... Vá investigando outros casos. Quando houver qualquer pista ou indicio que possa apontar para o caso de Cindy Muller e seu assassino, você será o primeiro a se avisado.

Robert grunhiu e saiu da saleta. Seus neurônios explodiam.
Tinha de caçar esse assassino de merda, nem que o fizesse por conta própria.

Cody, sentado numa cadeira qualquer da delegacia brincava com um cubo mágico que achara ali por cima. Quando o detetive Lark passou a sua frente parecendo um daqueles desenhos animados onde fumaças saiam das orelhas dos personagens, o garoto observou com cautela seu caminho.

Não sabia o que acontecia, mas esperava que fosse algo relacionado ao assassino. Sua vida estava completamente diferente do que era antes de tudo isso acontecer. Ele só conseguia pensar em descobrir quem era o maldito que acabara com aquilo que ele conhecia como rotina, vivência, normalidade.

Ele duvidava que alguém quisesse saber mais que ele quem era o filho da mãe que de repente tivera a mirabolante ideia de fuder com a vida alheia, de não só uma pessoa, nem duas, mas pelo menos de uma meia dúzia de cidadãos inocentes.

Esse cara só podia ter algum problema mental, não era possível. Quem de um dia pro outro decide matar uma mulher num motel de merda e destruir com futuros inteiros? Com certeza apenas um retardado, e ele não podia esperar para descobrir quem era o demente para poder ele mesmo desgraçar com o destino dele.

Ele não desistiria, nem que tivesse que se juntar com Lark para que isso desse certo.

— Hey, garoto? — A voz de um dos policiais que estavam ali sem fazer nada – em outras palavras coçando seus umbigos - tirou Finnigan de seus devaneios. — Você sabe montar essa joça?

O cara apontava para o cubo mágico perfeitamente montado que Cody mexia minutos antes. O menino observou o cubo mágico por uns estantes e depois olhou para o mais velho que o encarava com um olhar duvidoso e malicioso.

— Ahn, sei. — A resposta soara mais como uma pergunta.

— Eu duvido. Nem o Harp conseguiu. E ele é o nosso CDF de plantão, o maior nerd. — O detetive ria enquanto apoiava as mãos atrás da nuca. — Se conseguir montar novamente esse joguinho, eu te dou cinquenta pratas.

Finnigan sentira o tom do desafio, odiava quando o desafiavam. Merda, ele é Cody Finnigan, não conseguia evitar entrar na ladainha de um desafio, apesar de ser um medroso irreversível, odiava que duvidassem de si.

— Eu consigo montar novamente. — O garoto se levantou levando o cubo mágico até o mais velho. — Embaralhe do jeito que quiser que eu resolvo isso.

Elenão sabia se conseguiria, de fato, montar aquela coisa, mas já que começou com o papo, por que não terminar? Desafiando a si mesmo, vai ver ele veria que conseguiria passar sobre todo o ocorrido. Venceria o merda que quis jogar sua vida para o buraco e montaria aquele cubo inútil.

O detetive riu e com uma das mãos pegou o objeto colorido, virando-se de costas e embaralhando tudo novamente.

XxX

Oton respirava profundamente, tentando normalizar a respiração seca e pesada após o sexo.

Ao seu lado, Lorene já acendia seu terceiro cigarro da noite, cobria o busto com o lençol vermelho de seda, as cinzas sendo despejadas sobre um pequeno recipiente quadrado com uma marca de gravata no fundo.

Podleski virou-se para a amante e sorriu, ou ao menos tentou. Os pulmões ainda guinchavam pela falta de ar, com certeza um fator provocado pelo costume do fumo de charutos.

— Querida, eu tenho muita sorte de tê-la ao meu lado. — Ele sorriu enquanto abraçava a mulher pela cintura e escondia o rosto em seu pescoço. O cheiro de sexo e suor no corpo dela, tão bem conhecido pelo homem, o deixava com um desejo inquebrável, cada vez maior.

— Eu tenho sorte de tê-lo na minha vida, se não fosse por você eu não teria dinheiro nem para lavar as calcinhas. — Ela riu, sendo seguida pelo homem. O riso rouco dele perto do ouvido fazia com que Lorie sentisse arrepios infinitos pelo corpo, uma graça no baixo-ventre e um incomodo úmido por entre as pernas.

— As lavaria de outro modo. — Oton adorava fazer Lorene corar, era simples para ele, se outro homem qualquer o tentasse o que receberia seria um vermelhão no rosto por causa de um tabefe.

— Você sempre lava, querido.

O riso malicioso de ambos ecoou por pouco tempo dentro do cômodo, os lábios foram colados em seguida. Tal ato quase nunca acontecia, mas quando, de fato, ocorria, os dois eram banhados pelo sentimento mais puro já experimentado: a luxuria, e talvez algo mais que Podleski esperava não ser o que imaginava, até então.

A mulher separou o beijo e tragou o cigarro com vontade sendo observada por um Oton ainda perdido em pensamentos por causa do beijo.

— O que o bastardo queria? — A mulher perguntou ignorando os olhares intensos do mais velho.

— Quem?

— Alexander, Oton. O que ele queria aqui?

— O de sempre, que eu me orgulhasse de alguma merda que ele fez. — O homem suspirou apertando a ponte do nariz com o indicador e o polegar. — Eu não aguento mais ele fazendo isso. Eu me orgulharia mais dele se ele fosse um homem comum. Viesse aqui e bebesse todas, ficasse com alguma garota, sei lá. Que quisesse o pub para ele como herança...

— Ah, mas ele não é normal. Nunca oi, pelo menos eu não me lembro de algum momento em que ele tenha agido normalmente. Desde pequeno ele só sabia fazer merda. Escondia-se no meio das suas coisas e ficava ouvindo as conversas alheias. Esse garoto tem problemas, Oton. Eu não gosto dele.

— Mas ele é meu sobrinho, Lorene. Por mais que eu não queira mais vê-lo, ele sempre volta. Maldito o dia em que aceitei cuidar desse garoto. — Nervoso, Podleski se levantou e começou a andar de um lado ao outro ao lado da cama onde a amásia se encontrava.

— Me prometa que não vai mais deixa-lo entrar aqui. — A mulher olhava fundo nos olhos do outro que se encontrava de pé ao lado da cama, uma mão repousada na cintura e a outra bagunçando os cabelos — Por mim, amor.

— Prometo, querida. Qualquer coisa por você.

Lorene sorriu na tentativa de demostrar felicidade. Apagou o cigarro no cinzeiro e com um dedo chamou o mais velho de volta para a cama. Quando ele deitou-se sobre ela beijando-lhe o pescoço, ela fingiu gemer.

Ela só conseguia pensar em como tudo ia do jeito que quis desde o início. Tudo como o planejado, e nada a azia mais excitada que isso.

XxX

Alexander andava pelas ruas, sua jaqueta era inútil naquele momento, por isso ela via-se pendurada nas costas, segurada por uma mão sobre o ombro.

Sua caminhada não havia destino certo. Ele só queria ficar o mais longe possível da casa de Maeby. Não se perdoaria por ter feito o que fez. Era um inconsequente, assassino, pedófilo. Uma vergonha para tudo e todos.

O pior é que não se envergonhava do fato de ter assassinado uma mulher. Ele, na verdade, gostava de tal ato. Sentia o prazer e a adrenalina envolver seu ser quando pensava nisso. Queria repetir a dose. Mas o que Oton pensaria dele? O tio deixara bem claro que não aprovara o feitio. Mas aquilo era tão bom...

Alexander, definitivamente não entendia Podleski. Ele que mandara o sobrinho não ter pena das mulheres! Mulheres machucavam os homens. São cobras feiticeiras, os encantado, levando-os para o pecaminoso caminho que elas escolheram. Os mitos dizem que sempre são as mulheres a acabar com a vida dos humanos na Terra, sendo castigados pelos deuses por isso. Seja pela Pandora ou Eva, elas sempre foram o fiasco do mundo. Serviam apenas para a procriação, e assim sempre deveriam ser tratadas.

Ele queria beber. Esquecer um pouco do ódio, da sede de sangue que nascera em seu peito com força total. Não ligava se ainda era cedo, precisava de algum álcool forte rasgando sua garganta com vontade. Ele precisava... Precisava de algum boteco aberto às 8h00min para afogar as mágoas e desejos na bebida.

Por mais difícil que seria achar algum lugar, ele não demorou a encontrar um local pequeno e caindo aos pedaços, mas com uma evidente venda de bebidas. O bairro de Maeby era o santo graal, ele tinha de assumir. Que outro lugar venderia biritas e cervejas de manhã cedo?

Nenhum! Ele poderia viver por ali, escondido, fugindo da humilhação do tio, da vergonha de não ser compreendido, de não ser amado pela sua figura paterna.

Sentando-se em um banco extenso bar, Alex pensou no que pedir. Queria algo forte, que o embebedasse rapidamente. Rum, Whisky, Tequila, licor...?

— O que quer? — O garçom perguntou jogando um pano por sobre o ombro e se apoiando com uma das mãos na bancada a sua frente. Era gordo, baixo, careca. Parecia a personificação do pinguim, o vilão do Batman.

Alex riu em bom som. Caralho, esse bairro era foda, ou ele ainda estava sob os efeitos da droga tomada noite passada? Não importa, afinal. Ele gostou, nada mais importava além disso.

— Me sirva algo forte. — Alex colocou uma nota de vinte dólares sobre a madeira a sua frente e empurrou para o outro que o encarava com o cenho franzido por causa do riso aleatório.

Sem mais nada a ser pronunciado, o homem foi ao trabalho. Alex tirou a oportunidade para observar o lugar com mais afinco. Atrás de si havia uma grande mesa de sinuca, ao lado uma pequena de pebolim. Uma grande TV antiga de tudo grande chiava no funcho da espelunca, um jogo passando que o homem não conseguiu descobrir os times. Além de Quill, mais três homens estavam ali bebiam e alavam alto, riam alto e cuspiam para todos os lados enquanto gesticulavam apontando para a televisão.

O garçom voltou pouco depois entregando um pequeno copo de shot em frente a Alexander recostando-se novamente observando minunciosamente os espectadores do jogo irreconhecível.

— Você sabe que jogo está passando? — Alex perguntou com uma careta e voz rouca após virar a bebida e senti-la descendo rasgando pela goela.

— Nunca soube. — O mais velho respondeu pegando a garrafa de Whisky servindo uma dose dupla no copo do cliente que lhe agradeceu com um aceno de mão. — Isso é uma gravação antiga de meu tio assistia todo santo dia.

— Mas que coisa. Eles sabem disso? — Alexander virou novamente o pequeno copo e apoiou-o no balcão, observando o careca esfregar um pano em um copo sujo.

— Não sabem, e olha que eles veem aqui toda semana. Esses aí são mais burros que uma porta.

O gorducho riu com sua voz rouca porém fina, fazendo Alex acompanha-lo. Aquele cara era engraçado e cada vez mais o lembrava do vilãos dos quadrinhos. Talvez ele tirasse uma foto do cara antes de sair dali, só para fazer uma comparação.

— O que faz aqui? Não é desse bairro, né? Ou eu 'tô ficando pior que o Billy Joe e esquecendo até de onde minhas calças estão? Eu te digo, rapaz, aquele velho já passou da ora de morrer. — O pinguim perguntou dando uma gargalhada em seguida, sem ser acompanhado dessa vez por Alex que apenas sorriu por educação.

— Não sou daqui. Não está errado quanto a isso.

— Humpf. Duvidei desde que entrou pela porta. Esse terno não é de gente que frequenta esse canto, não.

— É...

— Então que merda 'tá fazendo aqui? Quer ser roubado? 'Tá procurando prostituta? Essas coisas só têm duas ruas acima, garoto.

— Não. E-Eu 'tava na casa de uma amiga minha, só isso. — Alex grunhiu com a garganta, orçando uma tosse e apontou para o copo pedindo por mais uma dose da bebida.

Olhou para os homens que emitiram urros animados, provavelmente ocasionados de um gol. Um pulou em cima do outro que acabou caindo e derrubando toda a cerveja na garrafa em sua mão por cima de si, o outro, ora da coisa toda, gargalhava alto sobre o que acontecera aos amigos e apontava para eles enquanto tentavam se levantar. Tal ato não acontecia de jeito nenhum, com certeza, tamanho o teor alcóolico em que se encontravam.

— Essa sua amiga é prostituta?

— O quê? Não! Não. De jeito nenhum...

Ele já bebera três copos de doses dublas de Whisky. Por que aquela merda não estava funcionando logo? Observou os bêbados risonhos mais uma vez e desejou ser fraco para bebidas e conseguir ficar logo daquele jeito também.

— Qual o nome dela? Pode me falar, eu conheço umas boas da região. Linda, Rosa, Sweet, Hope, Cindy...

— O nome da minha amiga é Amaebylin. Ela não é prostituta, senhor.

O barista observou o outro com um olhar irônico. Não saberia dizer quem era Amaebylin, mas que tinha nome de amásia, ela tinha.

— Me de algo mais forte, por favor. — Alex pediu empurrando o pequeno copo na direção do outro num gesto desesperado.

Perguntou-se se aquilo era mesmo necessário. Ele parecia um marica querendo esquecer-se das coisas usando da bebida? Claro. Mas ele ligava? Não. Ele queria que aquelas merdas ocorrentes em sua vida que o tornavam cada vez mais inútil na sociedade fugisse, o deixasse, e que ele pudesse viver normalmente, mas ele sabia que aquilo não ocorreria. Merda, ele era um fodido na vida e não havia o que fazer.

A bebida chegou a sua frente e sem pensar duas vezes ele virou o copo na boca, o gosto amargo envolvendo sua garganta, sua mente começando a sair do lugar pouco a pouco.

As imagens a sua volta tornavam-se cada vez mais engraçadas e sem sentido, uma risada querendo escapar de sua boca a cada instante. E ele só conseguia pensar em uma coisa: Procurar mais uma vítima.

XxX

Cody contava os dólares alegremente, como uma criança que acaba de ganhar um doce, ou um brinquedo novo. Ele poderia vencer esse cubo, venceria o psicopata maldito.

Bom, era um pensamento um tanto quanto idiota, ele sabia, mas vencer uma coisa dessas para ele era fácil, sempre ora um idiota na vida, o rejeitado e o inteligente que só servia de saco de pancadas e fonte de cópia de lição de casa. Ele aprendeu, um tanto tarde para ser usufruído, que ele podia tirar vantagens dessas coisas simples que eram os deveres de casa. Ele podia ter cobrado algum dinheiro pela lição, mas não o fez por que era idiota, portanto, cobrou pelo silêncio aos traidores de plantão que visitavam semanalmente seu motel.

Ele podia pensar em algo para tirar vantagem contra o psicopata. Seria um louco se o fizesse, afinal, não sabia o nome do cara, mas... Ele havia visto o rosto do cara! Como ele era burro! Poderia ter lembrado disso antes, mas ele - como sempre - era um maricas e entrara em pânico, assim que viu o tórax da mulher aberto com as vísceras saindo pra ora, o sangue jorrando... Só de lembrar disso ele já ficava com ânsia de vomito.

Ele, então decidiu fazer alguma coisa de útil pela primeira vez que tudo isso acontecera, e ele sabia que para isso teria de falar com quem ele menos queria trocar palavras: Robert Lark.

Levantou-se num pulo e procurou avidamente pelo mais velho enquanto guardava o dinheiro no bolso de trás de sua calça. O movimento assustou o detetive ao seu lado que rabiscava órgãos genitais masculinos e femininos em seu bloco de notas enquanto era acompanhado em risadas por um colega.

— Garoto? O que está fazendo?

Cody o ignorou e continuou varrendo o lugar com seus olhos desesperadamente.

— Finnigan, qual o problema? Parece que viu um fantasma. — o oficial pôs-se a rir junto ao outro.

Neste momento, o garoto encontrou a quem procurava escorado numa pilastra conversando com alguém enquanto bebia uma xícara de café.

Sem pensar muito, Cody seguiu nessa direção e caminhou rapidamente, quase correndo, até o outro que se assustou com a aparição do mais novo e derrubou de sua bebida quente na camisa e no chão.

— Caralho, Finnigan, qual a porra do seu problema? — O investigador falou mal enquanto tentava inutilmente limpar sua roupa com um guardanapo de pano.

— Eu preciso conversar com você. Agora.

— Que foi? Quer me mostrar uma nova cantiga que aprendeu? Desculpe, mas não estou num bom momento para brincadeiras de criança.

— É sério, Lark. É sobre o assassino...

— O que tem ele? Recebeu alguma mensagem ameaçadora?

— Não, não. Eu vi ele, Lark. Eu o vi.

Nessa altura, o detetive já ignorava sua camisa suja e encarava o mais novo com olhar de desconfiança.

— E como posso confiar que você não está imaginando coisas ou inventando um personagem para acobertar um suspeito amigo seu que eu posso encontrar facilmente com um pequeno vestígio deixado para trás? Até por que você não havia me dito merda nenhuma sobre isso antes.

— Caralho, Robert! Já disse que não ui eu, pode me colocar naquela maquina de mentiras ou sei lá o que para conferir. E eu não havia dito antes por que eu não me lembrava, eu fiquei meio impressionado com as coisas da mulher pra fora.

— O que? Nunca vira peitos antes, Finnigan? — Robbie soltou uma risada rouca.

— Peitos já, órgãos não.

O detetive apoiou as mãos na cintura e observou além do mais novo pensando. Teria que fazer um teste, ver tudo o que o garoto sabia e depois, talvez, pegar um retrato falado do suposto assassino.

Era a única dica, a única pista que ele poderia ter para começar a investigação, era bom Cody Finnigan não o estar enrolando.

— Você passará pelo polígrafo antes de qualquer coisa, cada palavra sua será anotada e conferida segundo o que já temos. É bom não estar me enganando, Finnigan.

O garoto sorriu, e estalou os dedos ansiosamente. Ficou trocando o peso de um pé para o outro inquieto, queria que tudo voltasse ao normal e aquilo poderia ser o estopim para a normalidade desejada.

— Eu não faria isso. Só quero que tudo volte a ser o que era antes de tudo isso acontecer.

XxX

O garoto chorava alto enquanto era puxado pelo braço para dentro do escritório de seu tio. O mais velho estava bravo e apertava muito o braço do menino que sentia o local queimar tamanha a fricção entre a mão áspera do adulto e a pele macia em baixo de seu braço.

— 'Tá doendo muito, tio. — Alex choramingava a cada minuto durante o percurso que percorria sendo praticamente arrastado.

— É pra doer, mesmo, moleque malcriado! — Oton verbalizou alto andando com mais raiva e rapidez, fazendo seu roupão esvoaçar. Alex se lembrou de um feiticeiro que lera em um dos raros livros que tinha devido à visão que estava tendo do tio.

— Mas eu já pedi desculpas, tio! — As lágrimas e o choro tornavam-se mais fortes a cada silaba proferida. Ele tinha medo de Oton, não podia decepciona-lo. Nunca. — Eu juro que não espiarei mais as mulheres se trocando pro show!

— Eu sei que não vai.

O mais velho entrou com tudo dentro de seu escritório e parou em frente a um armário que cobria uma parede inteira no lado esquerdo do espaço. O lugar era mal iluminado, uma cama em forma de circulo estava no fundo do cômodo, logo atrás da grande mesa robusta de madeira. Na entrada, um pequeno espaço de lazer com poltronas, na direita uma enorme estante de livros.

— Não vai mais espiar por que eu não vou deixar, e você vai aprender a lição, certo?

Antes que o menino pudesse concordar com o que o tio dissera, o homem abriu num solavanco o móvel grande e colocou o pequeno Quill sentado ali, em baixo das inúmeras roupas e instrumentos de fetiches.

— Você vai ficar aí até que eu mande você sair, ouviu? Você é um merda malcriado e eu não o criei para ser assim.

As portadas fecharam-se num estrondo e o pequeno garoto encolheu-se abraçando os joelhos do jeito que podia com a barriga um pouco saliente o atrapalhando.

Não sabia quanto tempo teria de ficar ali, mas esperava não ser por muito. Ele tinha medo do escuro, talvez pelo receio de houver um bicho papão pior que o tio Oton.

Alex não percebeu quando adormeceu, mas acordou assustado com um barulho alto de várias coisas caindo no chão.

— Eu queria tanto te chupar, Oton. — Uma voz feminina fez-se presente e Alexander arregalou os olhos, logo juntando ambas as mãos por sobre a boca aberta em um "O", não querendo que nenhum ruído o declarasse ali.

— Você pode tudo, Anninka, enquanto vestida desse jeito. — A resposta viera rouca, e o menino não sabia se ria, chorava, ou se permanecia estático ouvindo tudo.

Espere, Podleski havia sussurrado Anninka. Não havia nenhuma Anninka ali. Quem era aquela?

— Anninka? Quem é Anninka, Oton? — A voz feminina viera num tom que o pequeno Quill não conhecia, e talvez nunca gostaria de conhecer de fato.

— N-Não importa... Lorie. — Podleski suspirou. Ele errara com a transa novamente. Por que ele vinha pensando tanto na amada Anninka? — Vamos continuar, sim? Você está tão linda nessa posição que eu tenho vontade de...

— Cale a boca, Oton. Eu perdi a vontade.

Lorene estava zangada. Que tipo de cara sussurra o nome de outra mulher num momento como esse? Agora ela, mais que tudo, queria saber quem era aquela vadia que possuía o nome de Anninka.

— Me responda, e eu quero a verdade. Quem diabos é Anninka?

— Não é ninguém... — Ao ver o olhar fervente da mulher sobre si, Oton completou. — Ninguém importante. Vamos continuar ok? Se não estiver mais com vontade, poderia me dar pelo menos uma mãozinha?

— Não vou dar mãozinha nenhuma, Podleski! — Nesse momento, o homem suspirou e bagunçou os cabelos de modo enraivecido. — Como quer que eu te ajude nesse trabalho se não me conta o que está havendo?

— Você é só uma adolescente, Lorene. Não devia ser tão petulante assim. Acaba com a vontade de qualquer um.

O homem deu a volta na mesa do escritório e pegou sua caixa de charutos, escolheu um e o acendeu, caminhando até a parte de lazer e sentando-se sobre uma das poltronas, todos os movimentos sendo minunciosamente observados por uma pré-adulta indignada.

— Você me chamou para ajuda-lo a cuidar deste lugar. Sabe que sou a única que pode fazer este lugar alavancar com apenas um estalar de dedos. Não me deixe zangada, Oton. Eu posso terminar com tudo o que você já criara dessa sua espelunca terrível e deixa-lo na rua com aquele seu pirralho petulante.

O mais velho suspirou audivelmente enquanto soltava a fumaça de seu fumo. Arrumou-se no assento e apontou o outro lugar a sua frente para que a mulher se sentasse.

— Quando eu era mais jovem e ainda morava na Polônia eu tinha um irmão mais velho chamado Heiko. Ele sempre conseguia tudo o que desejava, até era o preferido entre meus pais. — Podleski tragou mais um pouco de seu charuto antes de continuar. — Um dia ele colocou na cabeça que queria uma dançarina erótica como sua noiva, seu nome era Anninka. Ela era linda e, por incrível que pareça, inocente. No momento em que eu coloquei meus olhos nela eu soube que a reivindicaria para mim.

'Não demorou muito para que nos aproximássemos, cada gesto e ala que eu dava era uma súplica para que ela fosse minha, que deixasse Heiko e que me amasse. Nós tivemos um amor escondido e... Um dia, ela confirmou o que eu queria: Terminaria com meu irmão, ficaria comigo. Minha felicidade fora tanta que eu quis no mesmo momento esfregar essa realidade nova na cara do meu irmão.

Todos que estavam ali no local prestavam extra atenção a cada rase, palavra ou silaba que o homem proferia. Alex nunca imaginara que isso acontecera com seu tio e queria ir abraça-lo, infelizmente lembrou-se que o mais velho não gostava desse tipo de afeto, ora que estava ali escondido. Lorene não sabia aonde aquela história chegaria, mas queria ficar até o final para descobrir por que Anninka e não Lorie.

— Assim que o encontrei e contei-lhe sobre meu romance com Anni, Heiko ficou furioso. Eu também não esperava nenhuma reação diferente, Anninka era linda, perfeita. Se eu a perdesse assim eu também ficaria tão desolado quanto ele.

'Nesse dia, meu irmão tentou me atacar com uma faca. Mas ele era pesado e grande, seus movimentos eram descontrolados na minha direção e eu não sabia como reagir, lembro-me de tê-lo empurrado, e ele, idiota como era, caiu sobre a faca. Um jeito completamente estupido de morrer, mas eu não deixei de me culpar infinitamente pelo ocorrido.

'Pelos próximos anos, Anni achou que eu era o culpado pela morte de meu irmão e passou a me temer. Eu também me odiava por aquilo, eu só queria esbanjar minha única fortuna a meu irmão, e isso acabou matando-o. Passei a ser um bêbado incurável desde então, e num dia, quando eu estava irritado por todos da minha cidade serem completamente viciados em religião, descontei minha fúria em Anninka, e a matei. Com minhas próprias mãos.

Podleski observava seus punhos. Sentia lágrimas desejando caírem de seus olhos, mas não daria esse gosto para Lorie. Para ela, ele era um homem forte e robusto; não tinha sentimentos. Assim ele preferia que ficasse, sem criar afeições por ninguém. Nem pelo pequeno Alexander.

— Ela estava grávida... — A voz dele saíra rouca e falha e Lorene arregalou os olhos.

— Quer dizer então que, Alex...

Um barulho alto ecoou pelo recinto vindo de dentro do armário. Oton levantou-se e caminhou naquela até ali para ver o que acontecia.

O pequeno Quill estava de pé dentro do cubículo que fora colocado. Estava curioso na conversa que os mais velhos estavam tendo e acabou derrubando alguns dos chicotes e mordaças que havia ali.

Quando a porta se abriu, o homem e a criança se assustaram. Lorie gritou e Alex correu. Oton manteve-se estático no lugar.

Todos ali pensavam o mesmo: que nada que acontecera, ou fora falado ali saísse pelos corredores do strip-club .


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Notas finais do capítulo

oi gente linda, espero que estejam gostando da estória, apesar de eu não tiver um tempo especifico para as postagens. O quarto capítulo já está sendo escrito e vem recheado de mais drama da parte de Alex, Podleski e Cody!

Spoilerzinho: TERÁ MAIS PARTICIPAÇÃO DO DETETIVE LARK E O IRMÃO MAIS VELHO DO CODY, JAKE! SEGUREM-SE AMORES, POR QUE VEM AÍ MAIS DRAMA PRA COMPLICAR!



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