A festa não parecia ter nada de interessante, nada que fizesse eu esquecer meus problemas ou algo do tipo.
Pessoas da escola que eu achava que ainda eram BV dançavam de um jeito que eu tenho certeza que seus pais reprovariam.
Tomei alguns copos de vodka com energético. Acho que foram 3. Ou 6.
Depois dois grandes goles de uma bebida vermelha que tinha gosto de frutas vermelhas. Nem lembro de quem era o copo.
Ainda tive a coragem (fui obrigada pelo Hugo na verdade) de experimentar aquela bebida que colocam na sua boca e depois tacam fogo. Acho que era Tequila + Curaçau.
SENHOR, É EMOCIONANTE.
Eu - QUE NEM TENHO MEDO DE FOGO NÉ - que tenho medo até de acender um isqueiro, QUASE MURRI.
MURRI!
Se não fosse o suficiente, depois o Jason (que brotou do chão e ficou me seguindo a festa inteira) me puxou pela mão e me levou até o quintal, onde eu deitei na grama e ele disse para eu abrir a boca.
Como eu sou muito gente boa, eu abri.
Ele colocou alguma coisa na minha boca e eu aposto meu fígado que era MDMA.
Depois o senhor sou-capitão-do-time disse alguma coisa que eu não entendi, e tentou me beijar.
Eu fiz um esforço do caralho pra empurrar ele e consegui. Vitória.
Depois fiz outro esforço maior ainda para levantar e quando eu finalmente consegui eu cai.
Por isso que eu desaprovo drogas em geral.
Já tinha tirado o meu sapato a muito tempo e não fazia a menor ideia de onde ele poderia estar, a minha blusa que era aberta com um zíper estava aberta a algum tempo, e eu nem sei como ela abriu. Será que foi o Jason? Ou o cara da bebida vermelha?
Minha saia tinha começado a me irritar, e sem pensar duas vezes eu tirei ela.
Coisa de bêbado, né?
Mas poxa, não sei se era a droga falando por mim, mas estava TÃO QUENTE. Quer dizer, EU ESTAVA QUEIMANDO.
E acho que foi a tequila, amigos.
Precisava achar um jeito de me refrescar, já estava até suando. E eu não curto suar, beleza?
E depois eu estava na piscina. Como eu cheguei la eu nem lembro.
Quando dei por mim várias pessoas tinham pulado atrás. Alguns caras tiraram a blusa e pularam de calça, e as meninas que são mais comportadas pularam de vestido mesmo.
Fiz moda, beijos.
Comecei a tremer de frio e estava simplesmente bêbada demais pra conseguir sair de lá.
Foi quando ouvi uma voz tremendamente conhecida gritando pra alguém me tirar de lá.
Quando dei por mim vi um braço tatuado me segurando com força e me puxando pra fora da piscina.
Deitei na borda ainda tremendo e fiquei olhando pro céu enquanto ouvia algumas pessoas falando sobre mim.
Quer dizer, será que ninguém nunca pulou de calcinha e sutiã na piscina antes? Que chatos.
As mesmas mãos de antes me puxaram para me levantar. Outras mãos dessa vez me estenderam um blazer preto.
-Não eu vou arruinar tudo, vai molhar - reclamei.
-Coloca logo, vai morrer de hipotermia. - papo de nerd. Matt falando.
Coloquei o blazer e me senti um pouquinho mais quente, depois a Natalia apareceu com os meus sapatos, e as roupas. Onde ela conseguiu achar isso?
Disse que não queria colocar e continuei apenas com o blazer.
A ruiva me puxou pelo braço com força e eu fui reclamando de que eu precisava do meu braço pra fazer miojo e falando mais um monte de besteira enquanto era carregada para casa.
Me puxou passando pela casa, onde eu molhei todo o carpete (bem feito pro Jason, quem mando tenta me beijar?) e saímos em direção a rua. Onde ela começou a gritar.
Falou algumas coisas sobre a cena ridícula que eu tinha feito, e que eu iria me arrepender e que nunca tinha me visto tão mal antes. E que o Logan ter ido embora não justificava eu jogar tudo pro alto e ligar o foda-se.
Foi quando eu percebi que eu realmente tinha ligado o foda-se. Tinha sido infantil e feito coisas pelas quais eu iria pagar depois. Tipo, ser chamada de ‘’maníaca da piscina’’ na escola segunda. Eu sei que podia ser um apelido melhor, mas o povo daqui não é tão criativo.
Não ligo pra o que as pessoas daqui pensam, só ligo pra o que as pessoas que eu gosto pensam. E a Natalia estava decepcionada, meus pais ficariam decepcionados, o Justin surtaria se soubesse.
E ele provavelmente vai acabar sabendo.
Isso sem falar do blazer do coitado do Matt que eu estava estragando.
O Hugo começou a falar sobre eu estar ficando pálida e quando eu percebi tudo fico escuro.
Acordei na cama com um pijama quentinho e seco pensando em quem tinha me dado banho, e em como eu podia ter sido tão fraca na noite passada.
Me mexi na cama e me amaldiçoei por ter feito isso, porque uma dor de cabeça me atingiu como uma flecha atirada pelo Robin Hood.
- Ah, você acordo. Finalmente eim - ouvi a ruiva falar.
- Que horas são? - perguntei com voz de morta.
- Acho que umas 4 da tarde. - ela disse como se fosse normal.
- ’Tô com fome - reclamei esperando que ela fosse um amor e falasse que ia fazer algo pra eu comer.
- Que bom - ela disse levantando e saindo do quarto.
Nossa, como sou amada.
Me levantei da cama devagar, sai em direção as escadas quando encontrei o Ryan no meio do caminho.
- Você está horrível - ele disse.
- Sabe que garota adora ouvir isso - revirei os olhos.
- A ressaca ‘tá grande?
- Como sabe disso? - perguntei assustada.
- Além do fato de eu estar na festa? - ele perguntou como se fosse obvio, e era né, o Ryan é pop-pop-popular.  -Todo mundo ‘tá falando sobre isso.
- Que merda - disse batendo a mão na cabeça. Doeu.
-Merda mesmo - ele disse passando por mim e descendo as escadas.

Comi tipo, tudo que eu vi pela frente e depois voltei a dormir pra ver se a dor de cabeça passava.
Quando eu acordei de novo já era domingo. Dia no qual eu aproveitei muito bem vendo série a tarde inteira.
Deixei as redes sociais abertas e fiquei vendo Supernatural e ficando presa naqueles olhos verdes do Dean que te levam pra um universo alternativo onde tudo anda muito bem e tudo é bonito e divertido e os pássaros cantam e... OPA, me perdi.
Quando dei por mim vi uma janelinha da web cam piscando em um laranja irritante, era o pedido de alguém.
E esse alguém era o Justin. Minhas mãos gelaram e eu fiquei um tempo pensando em o que dizer, só sabia que precisava dizer alguma coisa.
Liguei a web.
- Oi meu amor - ele disse sorrindo.
E foi ai que caiu a ficha. Quão babaca eu tenho que ser? Ele tinha um sorriso lindo e era meu. O sorriso, os olhos brilhantes, ele inteiro.
- Oi - disse uma Ana com os olhos brilhando e com voz de boba apaixonada.
E a gente foi conversando, e por esse tempo eu me senti muito bem, esqueci de tudo. Era ótimo poder conversar com ele.
Ele me disse sobre os shows que está fazendo, que vai amanhã bem cedo pra Vancouver ficar um tempo lá porque vai gravar musicas novas. Foi quando eu estraguei tudo.
- Justin, traz remédio de dor de cabeça pra mim? - perguntei com voz de choro.
- ’Tá com dor de cabeça, amor? - ele perguntou preocupado. MORDE~~
- É mais pro lado da ressaca - disse, só depois me dando conta da idiotice.
- Ressaca? - ele perguntou confuso.
- É - disse mordendo o lábio -Teve uma festa.
- Festa? - agora ele estava ainda mais confuso.
- Sim, o Jason, capitão do time da escola fez uma festa e eu fui. Acabei bebendo demais e agora tô com ressaca.
Achei melhor contar tudo de uma vez do que aos poucos.
- Eu não acredito - ele disse com uma cara de quem REALMENTE não acreditava. Passou as mãos pelos cabelos e levantou da cadeira andando de um lado pro outro do quarto.
- Justin? - perguntei ficando preocupada.
- A Michelle me disse que você tinha ficado completamente bêbada na festa, e pulado na piscina pelada!
- PELADA NÃO! - me defendi - De roupas de baixo.
Foi ai que eu percebi que eu merecia um soco na cara.
- Ana! - Justin levantou de novo da cadeira, deu a volta e se apoiou os dois braços na mesa ficando com o rosto bem próximo da web - Eu não acredito que fez isso.
‘’Enquanto eu fico o dia inteiro pensando em você e contando as horas pra te ver ou simplesmente para falar com você, você ‘tá muito ocupada tirando a roupa na frente de todo mundo e se jogando na piscina bêbada?’’
- Justin, não foi assim.
Na verdade foi, mas eu era idiota demais pra admitir.
E já estava com lágrimas nos olhos.
É agora que eu me sinto muito culpada e me mato? Porque eu acho que isso se encaixa perfeitamente nesse momento.
- Sinceramente Ana, eu já suportei de tudo, tudo mesmo que eu podia esperar de você. - ele balançava a cabeça negando a si mesmo - Superei coisas que você nem imagina.
- O que quer dizer? - perguntei confusa.
- Você... - ele parou como se não conseguisse dizer - Você realmente não se lembra né?
PERAE, aquilo ali eram lágrimas?
- Quando você dormiu em casa, e a gente... - ele parou e respirou fundo - Antes de você dormir, se lembra do que me disse?
- Não - disse ainda mais confusa - Eu ‘tava muito cansada, só lembro de ter falado que eu te amava.
- Não foi exatamente isso - OK, ELE ESTAVA QUASE CHORANDO - Você me chamou de Logan! Disse com todas as palavras, claramente, você disse ‘’Eu te amo, Logan’’. E eu não fiz nada, não tirei satisfações, fingi que não tinha escutado.
‘’E aquilo vem me corroendo a cada dia mais, tirando tudo de mim.’’
- Justin, eu não sabia-
- É claro que não sabia, como poderia? Você não estava consciente. Não é sua culpa, você simplesmente o ama.
‘’E eu sou estúpido ao ponto de não te culpar por isso, como posso ser tão estúpido?’’
Meu senhor, me mata. Em algum lugar dentro de mim eu percebi que tinha começado a chorar.
- Eu tenho que sair, tenho que ir terminar de arrumar a minha mala. -ele disse secando o olho.
Ainda estava sem palavras.
- E Ana, não dá mais. Eu... eu não aguento mais.
- O que isso significa? - perguntei já chorando feito um cabrito com fome.
- Que acabou.
E ele desligou a web.


Ok, Ana Beatrriz, então vamos fingir que foi tudo um sonho.
Vamos levantar, vestir um sorriso e ir pra escola.
Coloquei uma roupa qualquer e passei um pouco de maquiagem pra esconder as olheiras e meus olhos inchados.
A Natalia não ‘tava mais no quarto quando eu sai do banheiro.
Puxei minha mochila pesada e desci as escadas em direção a cozinha.
Tinha uma ruiva cozinhando.
- Bom dia, Ana - ela disse colocando duas panquecas de chocolate em um prato.
- Acordou de bom humor? - perguntei sentando em uma cadeira e recebendo o prato com as panquecas.
- Na verdade ‘tá mais para aquela historia de guardar a dor no bolso e cuidar da dor da amiga - ela disse pegando duas panquecas pra ela também.
- Não precisa fingir que ‘tá tudo bem pra eu me sentir melhor - disse comendo um pedaço da panqueca e me segurando pra não comentar que estava meio crua.
- Precisa sim - Ryan disse entrando na cozinha - Você deve estar horrível. Quer dizer, semana passava você tinha dois homens e hoje não tem nenhum.
Ele disse enquanto dava tapinhas nas minhas costas.
- Nossa Ryan, você é um amor - disse tirando as mãos deles das minhas costas.
- O que foi que eu disse? - ele perguntou confuso enquanto roubada uma panqueca minha.
- Ana, não o culpe pela sua burrice, ele nasceu assim - Natalia disse e depois tomou um gole de coca.
Terminei de comer, roubei a coca da Natalia, continuei fingindo que estava tudo bem e torci para que ninguém interrompesse a minha performance.
Chegando na escola tive que aguentar aqueles olhares em mim, mas fingi que não percebi, e tinha que fingir que não ouvia os cochichos.
E tudo estava indo ‘’muito’’ bem até que  a Michelle cof cof vadia cof cof veio até a minha mesa no almoço e jogou um jornal em cima dela. Jornal que quase caiu na minha pizza, vadia.
- Vamos lançar esse à tarde, mas achei que a estrela principal deveria ler antes.
Peguei o jornal a contra-gosto e me assustei com a manchete.

‘‘Brasileira não consegue se manter longe das piscinas’’.

‘’Ana Beatriz, 16, mais conhecida por ser namorada do astro Pop e ex aluno dessa escola Justin Bieber, foi vista nesse final de semana em uma situação que chamaríamos de embaraçosa.
Na festa em comemoração a vitória do time da casa, a intercambista foi vista bebendo demais e possivelmente usando drogas, motivo pelo qual acabou ficando fora do controle e pulando na piscina com roupas de baixo.
O que mais ela pode ter feito?
‘’Bom, ela tentou me beijar’’ - confessou Jason, capitão do time e também dono da casa onde foi a festa. ‘’Mais eu sei que ela está namorando com o Justin, um grande amigo meu, não faria isso com ele’’.
Essa é a segunda vez que ela dá umas ‘’fugidinhas’’ pro outro lado da cerca, pois não podemos nos esquecer do rolo que ela teve com o Logan, certo? Quem esqueceria?
Agora que ele foi embora, estaria ela procurando outro amante?
E agora? Será que o nosso ídolo adolescente vai perdoar mais uma traição? Ou vai ser ‘’One more lonely girl?’’

Mal pude levantar o rosto ou pensar no fato de que elas não poderiam lançar esse jornal, porque eu fazia parte da edição e não tinha sido comunicada sobre nenhuma das matérias presentes ali. Quando eu pensei no que dizer ouvi um barulho de alguém caindo no chão e vi uma cena do tipo ‘’QUE?’’.
Samantha tinha dado um soco no rosto da Michelle.
- SAM! - gritei assustada -Não vale a pena.
- AH, VALE SIM! - ela gritou de volta enquanto balançava a mão - Faz anos que eu quero fazer isso.
Quando dei por mim estávamos todos na sala do diretor explicando aquela confusão.
Graças a Deus consegui convencer ele a não permitir que publicassem o jornal, porque eu teria que aprovar, coisa que não aconteceu.
Porém, obviamente o jornal tinha passado na mão de algumas - muitas - pessoas. E passou na mão de muitas outras depois, mesmo com a proibição do diretor, então durante o resto do dia tive que aguentar os comentários do tipo ‘’já pensou em se dedicar a natação?’’. Serio, não dá.
Na aula de literatura o professor nos fez produzir uma redação sobre o tema ‘’O destino interfere no amor verdadeiro?’’.
Quis atirar na cara do professor, mas não podia. Ele era tão bonitinho, com aquele sotaque britânico. Apesar que isso me lembrava certa pessoas, né...
Prometi pra mim mesma que iria clarear a mente e fazer a redação quando chegasse em casa, se eu não tivesse um surto e começasse a chorar, claro.
Me encontrei com o Chaz na ultima aula e ele me levou de cavalinho até em casa para me animar.
Tadinho, chegou na metade do caminho e já estava morrendo. Quem mando prometer me levar o caminho inteiro?
Pra que ónibus quando se tem o Chaz né?
Chegamos em casa, eu, Natalia, Ryan e urso (Chaz) e fomos direto almoçar porque somos gordos.
Papai estava na mesa e começou a falar com a gente sobre a escola, notas e fingindo que se importa.
- Bom, vocês tem se dedicado muito a escola - ele disse sorrindo -Acho que merecem umas férias adiantadas.
Ele tava falando sério? Eu tirei F nas minhas 7 ultimas provas de física.
- Pra onde vamos? - Ryan perguntou segurando o riso.
Segurando o riso? Eu eim.
- Vancouver, vão ficar em um hotel lá por alguns dias, vocês tem que voltar pelo menos na quarta, porque segunda tem aquela coisa...
- Coisa? - perguntei confusa.
- É, uma coisa - Ryan sorriu. - Vocês andam indo á loja de musica?
- Não, estamos muito ocupadas estudando muito - Natalia disse sarcástica.
- Ótimo - Ryan sorriu. - Vamos lá arrumar as malas então? Tenho que ligar pro Chris ainda.
- Claro, mal posso esperar para arrumar as malas -resmunguei.
- Posso terminar de comer antes? - Natalia perguntou cheio de macarronada na boca.
- Claro, vocês vão pegar o avião da noite.
- Quem mais vai? - perguntei.
- Vocês, o Freddie, um amigo dele chamado Adam - quase cuspi a coca fora - Matt, Sam, e o Hugo.
- O que tem de tão especial em Vancouver para todos irmos pra lá? - perguntei procurando a minha coca e percebendo que o Ryan tinha roubado.
Ai um silencio entrou na sala.
O que quebrou o silencio foi o Ryan arrotando e dizendo ‘’OPA, não me lembro de ter comido isso’’.