Alguns meses depois...

Lydia Martin

Acordei pela manhã com a terrível claridade batendo no meu rosto. Peter não estava ao meu lado, e Derek estava em viagem resolvendo alguns negócios. Malia estava na escola, ou então na casa do namorado. Eu definitivamente estava sozinha. Enrolei mais na cama do que deveria, peguei meu celular apenas para mandar mensagem ao meu namorado e ele respondeu que estava na escola com a filha mais velha, tendo que resolver alguns assuntos. Ao que parecia a coiote estava próxima de reprovar, e aquilo não agradava ninguém. Ela não poderia reprovar no ultimo ano de escola, sem duvidas seria um atraso enorme em sua vida. Sem contar que ver todos os seus amigos se formando e ela não poder seria horrível.

Passei a mão pela barriga enorme, que mais parecia uma bola de futebol e que estava me causando dores dia após dia. Estava no fim da gestação, teria que enfrentar pouco mais de um mês até que Alisson estivesse finalmente nos meus braços, o quê era assustador e confortante. A ideia de passar inúmeras noites em claro me assustava, mas o fato de que teríamos que lidar com muitas ameaças era pior ainda. Eu estava escondida por muito tempo, poucas pessoas sabiam sobre a minha gravidez, mas criar uma criança dentro de casa não era opção. Alisson teria contato com o mundo lá fora, exatamente como as outras crianças, mesmo que fosse diferente.

Resolvi esperar na sala até que alguém finalmente desse o ar da graça.

Depois de algum tempo mexendo nas minhas redes sociais – que precisavam urgentemente de atualização – senti minha visão reclamar da terrível claridade. Desliguei o aparelho, colocando-o de lado e fechando os olhos por alguns minutos, sem conseguir dormir. Não era um dia bom. Fazia frio e ao mesmo tempo eu não conseguia parar de suar. Podia facilmente dizer que era uma febre, mas preferia encarar por outro lado. Alisson estava quieta demais, o que me fez estranhar e por diversas vezes tive chamar a sua atenção. Minha coluna reclamou de tanto ficar na mesma posição e resolvi que era hora de comer alguma coisa. Fiquei apoiada na bancada da cozinha comendo um pedaço de bolo que Malia havia deixado pra mim, enquanto a mesma entrou sozinha pela porta da casa, me olhou e sorriu.

— Tudo bem? – perguntou jogando a mochila em um canto qualquer e indo até a geladeira tomar um copo de água – Não parece legal.

— Estou – dei de ombros – Onde está o seu pai?

— Não sei – disse – Saí antes que ele.

— E o quê ficou resolvido?

— Vou fazer algumas provas – falou e eu concordei – Vou estudar. Tem certeza que você tá bem? Parece estar suando.

— Estou bem – confirmei.

Peter entrou na sala logo em seguida, com uma cara não muito boa. Ele parecia bravo por conta da conversa que tiveram que ter na escola. Imaginei por um momento como eu lidaria quando fosse a minha vez. Quando ligassem pra reclamar sobre algo que a Alisson fez. Senti meu estomago se remexer por ansiedade e tentei em vão disfarçar.

— Tudo bem? – Peter perguntou me olhando.

— Tudo – concordei.

— Mesmo?

— Não, ela parece com febre – Malia se meteu.

— Quer ir ao hospital? – sugeriu.

— Não – dei de ombros – Vou só tomar um banho.

Beijei seus lábios brevemente e os deixei conversando na sala, sobre tudo o que havia sido dito à respeito das notas de Malia. Ao chegar no banheiro, senti novamente a ansiedade tomar conta de mim, e o embrulho no estomago ainda mais forte, recebi um belo chute em seguida. Tive tempo de quase tocar o chão com os joelhos, mas antes que conseguisse, coloquei tudo o quê havia comido pra fora, sentindo uma dor ainda mais forte na barriga.