Duck escrita por Davina Claire


Capítulo 1
Duck


Notas iniciais do capítulo

Nunca havia feito uma one-shot antes ou postado nessa categoria mas, espero que gostem ♥

XOXO



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               -Prim – Eu gemia o nome de minha irmãzinha entre lágrimas, agarrada ao meu travesseiro e com Peeta atrás de mim falando coisas que eu não tinha condições de entender.

                -Katniss...tá tudo bem...foi só um pesadelo – Ele tentava me virar novamente para ele mas, eu não conseguia, eu não queria me mover, minha garganta estava com um nó e meu corpo ardia de dor.

                Ela estava morta, eu a matei.

                Não era para uma criança estar em um campo de guerra, Coin a mandou para lá, não para ajudar as crianças que o próprio distrito 13 bombardeou, mas para matá-la, ela morreu por minha causa. Eu nunca a salvei, eu só adiei sua morte, ela se foi com treze anos, eu falhei com ela, falhei com meu pai, falhei com minha mãe, falhei até mesmo com aquele gato nojento. Que infelizmente até hoje, vive comigo, a única lembrança viva de Prim.

                —Bem no alto da campina, sobre o salgueiro, uma cama de grama, um macio travesseiro— Cantarolou Peeta em um tom bem manso, mas por um momento, não era Peeta quem eu ouvia cantar, era minha doce patinha.

                -Essa música não, por favor Peeta – Implorei com minha voz rouca por ter acabado de ser acordada de mais um violento pesadelo.

                -Kat...já fazem dois anos...-  Dois anos, dois anos desde que a capital caiu, ou melhor, desde que Snow caiu, e Coin, por suposto.

                O barulho de um vidro sendo quebrado se instalou pelo cômodo.

                -Buttercup – Disse Peeta.

Aquele gato sempre quebrava algo.

Logo senti a pressão de Peeta sobre meus ombros se cessarem e a cama balançar, se eu não tivesse sonhado justamente com Prim, ficaria feliz que ele se encarregaria de limpas os cacos de vidro – ou cerâmica – não que eu não tenha prazer em ser útil em alguma coisa...apesar que eu já faço muitas coisas, Haymitch sim, ele sim não faz nada.

É tão difícil conviver com os sentimentos que sobraram. Pena, o maior de todos. Pena por Peeta que tem crises quase diárias – apesar de terem diminuído consideravelmente – pena de Annie que cria seu pequeno sozinha, pena de Johanna que se tornou incapaz de tomar um banho, pena de Haymitch, um bêbado, pena de Effie que está louca sem todas as antigas mordomias da Capital, pena de Beetee que não tem mais ninguém desde a morte de Wiress no massacre quaternário, pena de minha mãe que vive atolada no trabalho para esquecer de minha patinha, e também do meu pai, com certeza a morte de Primrose, a fez remoer a dele também. E por fim, pena de mim mesma, uma vitoriosa que vive escrevendo em um livro suas experiências com plantas.

Com a vista bem embaçada pelas lágrimas, me sento na cama, ao meu lado havia apenas um pequeno criado-mudo, eu o abri. Lá dentro haviam algumas ervas para enjoo em uma emergência, uma faca – pois Peeta tinha medo que ele tivesse uma crise no meio da noite e assim, eu poderia me defender, mas mesmo assim, acho isso inútil – o medalhão que Peeta me deu no massacre quaternário e por fim, meu broche de tordo.

O broche da tia da Madge, na verdade.

A única amiga que eu tive. Mais ou menos, Johanna por um tempo creio que se encaixou nesse quesito e Effie, ela não era responsável o suficiente para considerar uma mãe, então, uma amiga.

Eu não costumava pegar muito em meu broche, na realidade, após a guerra, o tentei queimar. Ele me lembrava a todo momento Rue, Prim e Madge. Porem as vezes, em noites de pesadelos, eu pegava aquele pequeno objeto que significava esperança, não que eu precisasse. Afinal, já sabia como seriam os restos da minha vida. Viveria com Peeta e Haymitch, um assando pão e o outro bebendo.

No primeiro ano após o fim da guerra, recebi – ou melhor, Peeta recebeu – diversas cartas de Annie, com fotos e palavras que creio que eram de alta-ajuda, elas cessaram a pouco tempo e não creio que receberemos mais.

Desci com cautela as escadas, observando o chão, não queria pisar em nenhum caco de vidro ou coisa parecida, na realidade, eu apenas encontrei um Peeta sentado, lendo jornal e um Haymitch jogado no sofá, bêbado, com uma faca e meio dormindo.

—Cadê o Buttercup? – Questionei olhando o ambiente.

—Não foi o Buttercup – Disse Peeta e Haymitch levantou um dos braços que estava com um curativo.

—O vaso era lindo docinho.

Ele estava mais morto do que vivo.

—Em compensação – Peeta se levantou – Colhi isso, para você – Ele me entregou algumas prímulas noturnas.

—Obrigada – Agradeci e guiada por ele, me sentei a mesa. Ele havia feito pães de queijo.

Quando tempo será que fiquei remoendo minhas lembranças?

—São quase nove horas – Disse Peeta adivinhando meus pensamentos, o olhei confusa – Você estava observando o relógio.

Ele tirou as prímulas de minhas mãos e colocou em um vaso, centralizado no meio da mesa. Isso poderia me fazer masoquista, mas gostava de me lembrar da patinha a todo instante.

Novamente, tudo ficou tão quieto. Eu passei a odiar o silêncio.

Não deu tempo de comer mais de dois pães quando comecei a ouvir grunhidos e quase que um estrondo.

Outra crise.

Peeta agarrou-se as costas da cadeira a minha frente e começou a gritar, batendo sua cabeça nela. Eu como sempre, apenas fiquei observando, ele poderia se descontrolar se eu me aproximasse. Eu poderia novamente perder o título de amante para bestante.

Uma, duas horas, com essa tortura. Haymitch nesse meio tempo adormeceu murmurando coisas sem sentido e eu continuei parada, esperando acabar para cumprir o papel que eu mesmo designei a mim. Peeta jogou-se no chão, suando e ofegante, eu me aproximei dele, sentei-me ao seu lado e segurei seu rosto entre minhas mãos.

—Você me ama – Ele olhou para o chão – Verdadeiro ou falso? – Ele olhou dentro dos meus olhos.

—Verdadeiro – Respondi e o beijei ternamente.

Poucos minutos foram necessários para que ele se acalmasse e ficasse perguntando outras vezes a mesma coisa, e eu a respondendo. Ele se levantou e foi tomar banho. Eu, por minha vez, ajeitei as coisas quebradas por Peeta e tratei de ir para a casa de Haymitch, dar um trato nela, sou a única além dele e de Peeta que tem a permissão para entrar lá.

A casa dele é quase parecida com a nossa, a não ser a poeira que sempre mesmo com uma limpeza mensal feita por mim fica cada vez mais acumulada, vasos quebrados se espalham em cacos pela imensidade do chão.

—Vamos ao trabalho, Katniss – Murmuro.

Após os jogos, adquiri a mania de falar sozinha. Me faz ter certeza que não estou em um pesadelo e que a qualquer momento tudo dará errado.

Meu trabalho deve ter levado aproximadamente três horas, mas não tenho exatidão. O relógio de Haymitch para e volta a trabalhar, diferente de mim.

Detesto nevascas.

O único motivo por qual um dia eu rezava para que fizesse frio, era quando meu pai trabalhava nas minas, para deixar o clima suportável lá em baixo, mas agora, além do meu pai ter morrido, o distrito 12 é voltado para a medicina.

Sai da casa de Haymitch, no mesmo momento em que ele entrava.

—Obrigada docinho – Ele sorriu e logo me fechou para fora.

Sem pressa, caminhei uns 20 metros até onde eu e Peeta morávamos, um cheiro bom me arrebatou já na entrada. Provavelmente é uma daquelas comidas que eu só provei após me aproximar de Peeta novamente, aquelas que nem minha vida poderia pagar a uns anos atrás.

—Cheguei – Anunciei entrando na casa, Peeta arrumava a mesa sorridente.

—Deu um trato na casa do Haymitch? – Ele se direcionou para a cozinha e eu tirei o casaco que me cobria.

—Uhum – Me sentei a mesa e logo ele trouxa uma forma.

Pizza, eu acho.

—Pizza de mozarela – Ele parecia orgulhoso de seu trabalho.

—O cheiro está ótimo – Ele cortou um pedaço para mim e nem piscava esperando uma aprovação.

Eu provei.

E era realmente maravilhosa.

—Está incrível – Sorrio e ele sorri comigo cortando um pedaço para ele.

Não falamos mais muitas coisas após o jantar e ele parecia nervoso, não quis questionar, Peeta não mentia para mim.

—Katniss... – Ele estava tenso e evitava me olhar nos olhos, ele se levantou e eu o segui, sentamos no sofá e o silencio reinou.

—Há algo errado?

Ele olhou para a mesa de centro.

—Há... – Ele se levantou e pegou uma caixa bem grande que estava lá e que eu imaginava que pertencia a Haymitch – Temos que seguir em frente Katniss...e assim não dá – Ele a abriu e com isso, abriu uma ferida no meu coração.

Lá haviam dezenas de fotos e coisas da Prim, tudo que eu havia guardado dela, roupas, desenhos do colégio, pequenos medalhões de ouro que nossa mãe havia dado para ela – os meus haviam sido perdidos, Prim por sua vez, os cuidava como se fossem relíquias – uma lanterna com qual juntas brincávamos com Buttercup entre outras coisas, mas o mais importante, um pequeno quadro, com certeza pintado por Peeta, do momento em que juntas dançamos no casamento de Annie e Finnick, ele estava lá?

—Você... – Me virei um pouco para fita-lo – Você estava lá?

—Foi a primeira vez que te vi como se não fosse um bestante – Ele estava bem calmo – Eu queria dançar com vocês – Seu olhar estava fixo no quadro – Você estava linda...eu quis até mesmo lhe beijar – Ele sorriu.

—Isso machuca Peeta – Senti meus olhos se encherem de lágrimas, eu podia ouvir tão claramente o quack que eventualmente Prim fazia quando a chamava de patinha.

—Eu sei meu amor – Ele tocou meu rosto – Por isso eu quis tomar uma iniciativa – De seu bolso, ele tirou um fraco e um isqueiro.

Eu me assustei, quase me joguei para trás.

—Você não pode! Como quer acabar com tudo que sobrou dela? – Minha voz embargava.

—Você está definhando – Ele agarrou minhas mãos, forçando-me a aproximar-me dele.

Eu comecei a pensar. Peeta não tinha nada de seus pais, apenas a lembrança, e ele parecia não se importar com isso, como se não o machucasse e eu tenho tudo dela ao meu redor, a lembrança constante dela e de sua morte.

—Vai passar? Passa a culpa? – Olhei para minha mão.

—Não existe culpa Kat, você apenas não será cercada a todo momento, você vai poder esquecer, nem que seja por um momento de que ela não está mais aqui meu bem – Ele me abraçou meio desajeitado.

Eu apenas assenti, ele entendeu e levou a caixa lá para fora, precisei de um instante para me levantar. Eu realmente iria matar as últimas lembranças dela?

—É como vê-la morrer novamente – Digo ao observá-lo colocar gasolina em seus pertences.

—Eu poderia dizer que você ainda terá ela em sua memória e coração, mas não se esqueça do gato mais feio do mundo – Ele riu e eu ri junto.

—Ele é um gato imortal – Sorrio.

Peeta para e retira novamente de seu bolso, um isqueiro.

—Quer que eu faça? – Ele indaga.

Nego com a cabeça.

Com cuidado pelo o isqueiro e o acendo, sei que Peeta não está mais aqui e sim pegando um extintor para caso o fogo saia de controle. Eu apenas acendi. Vendo o resto que obtinha de Prim sendo carbonizado.

25 anos depois

—Cuidado Rye! – Escutei a voz de Peeta.

—Finalmente – Grito da cozinha enquanto termino de lavar a lousa.

Rye tinha apenas quatro anos e Peeta insistia em leva-lo todas as manhãs para a padaria, assim na hora do almoço eles voltavam e após isso, Peeta voltava para a padaria e voltava lá pelas cinco da tarde.

—Willow? – Escutei Rye proclamar.

—Ela está atrasada – Digo preocupada.

 Ela tem sete anos e teimou que assim como suas colegas queria ir sozinha para a escola, não impedi, eu comecei a ir sozinha aos seis. O distrito 12 era pequeno, e todos a conheciam e a adoravam.

—Eu demorei? – Escuto uma voz fina e doce e o bater da porta.

—Como foi a escolha princesa? – Peeta perguntou e ela apenas correu até a cozinha, o ignorando.

—Mamãe – Ela meu deu um beijo na bochecha.

—Por que toda essa presa? – Rio.

—Na verdade... – Ela sorriu meio insegura e colocou sua mochila no chão, pegando algo e escondendo entre elas.

—Willow? – Arqueio a sobrancelha.

—Eu estava mexendo nas coisas da senhora na noite passada – Ela disse bem rápido e com um olhar de súplica, ela mexia em suas madeixas negras com rapidez por conta do nervosismo. Eu fiquei apenas um pouco surpresa e fiz sinal para ela continuar – Eu encontrei essa foto – Ela desdobrou um mediano papel.

Eu não via nada assim a uns vinte anos.

Era uma foto da minha patinha.

O choque fez meus olhos marejarem, com certeza meus ombros estavam tensos.

—Quem é ela? – Ela provavelmente já sabia a resposta.

—É sua tia Prim – Eu disse tirando a foto de suas mãos e sentindo meu rosto ficar molhado.

—Ela é tão linda... – Eu estava travada, conseguia sentir o olhar de Peeta e Rye sobre mim.

—É...ela era.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado ♥ me digam nos comentários o que acharam, obrigada a todos que leram ♥XOXO



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