Enxergue o invisivel escrita por Clary


Capítulo 3
Capitulo 3


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura



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— Porra, você fica ainda mais linda quando fala o meu nome – o menino voltou a olhá-la nos olhos. Sua mão livre pousou no rosto da menina fazendo um carinho suave em sua bochecha corada.

Ele me acha linda? ELE ME ACHA LINDA? E LE ME A CHA LIN DAA? PUTA MERDA!

— O que? – Clary perguntou desnorteada. Como se o elogio inesperado já não fosse o suficiente para fazê-la surtar, ele a estava tocando. Sua pele sofria pequenos choques enquanto o menino acariciava sua bochecha, ela fez um esforço sobre-humano para não fechar os olhos e apoiar a cabeça na mão dele.

— Você poderia dizer de novo o meu nome? – o garoto perguntou baixinho. Estava tão próximo que Clary sentiu seu hálito quente batendo no rosto dela.

— Pare de fugir das minhas perguntas – a menina o repreendeu sem forças. Estava mais ocupada em manter-se respirando, ou seria melhor prender a respiração. O cheiro do menino estava lhe dando agua na boca, como se fosse uma iguaria que nunca experimentara, mas lhe desse certeza de que era delicioso.

Clary foi despertada ao sentir uma dor latejante abaixo do olho, sem querer Justin havia tocado o local dolorido resultando um gemido de dor da menina.

— Desculpa – o garoto disse alarmado, afastando-se – e você também não respondeu a minha pergunta. O que diabos aconteceu com você?

Justin voltou a fuçar na caixa de primeiros socorros, Clary já sentia falta do toque do menino. Ela estava indo para um caminho perigoso, não podia ser tão fraca a ponto de se abalar com uma conversa ou toque do menino, ele a ajudaria com os machucados e depois cada um iria para sua casa, depois tudo voltaria ao normal como se nada tivesse acontecido, ela o observando de longe e ele fazendo o papel do garoto popular inalcançável.

— Hey, está tudo bem – Justin voltou a ficar de frente pra ela, trazia um frasco pequeno nas mãos – não precisa me contar se não quiser. Eu só estou preocupado, só de imaginar que alguém fez isso com você eu fico puto...

— Não, tudo bem – Clary o interrompeu – mais cedo ou mais tarde você vai ficar sabendo mesmo.

Isso ela tinha certeza, de qualquer maneira o ocorrido se espalharia pela escola e a menina teria que lidar com aquilo. E porque não contar a alguém a sua versão da história?

— Eu não costumo dar atenção a pessoas que usam o seu tempo pra falar mal das outras. – o menino disse sério, encerrando o assunto – Isso é remédio para os cortes, acho que vai arder um pouco.

Clary assentiu sem ouvir o que ele dizia. Estava ocupada em tomar a decisão de contar ela mesma o que havia ocorrido no banheiro horas antes. Mas isso lhe traria consequências. Apesar de gostar de Justin, não o conhecia. Não sabia se podia confiar nele e se aquilo tudo realmente era apenas uma aposta. E com certeza ele faria perguntas, e ela responderia, não iria mentir, não quando a sua chance era esfregada em seu nariz...

— Puta merda – a menina choramingou ao sentir o remédio em contato com a sua pele – eu sabia que era tudo mentira quando os comerciais dizem que essa merda não arde.

— Sinto muito – Justin disse preocupado, porem sua expressão tentava disfarçar o divertimento ao ouvir a menina xingando – eu avisei que arderia, vou tentar ser rápido.

Eu também vou tentar ser rápida, talvez ele se contente com a versão resumida da história.

A ardência a ajudaria manter o foco.

— Eu briguei com duas garotas no banheiro – Clary começou com a voz baixa, sem coragem de encarar o menino – Ashley Owen e Michaella Wilson do terceiro ano, eu estava lavando as mãos quando elas começaram a se maquiar, Ashley começou a falar coisas que realmente me desagradaram, como eu já estava em um péssimo dia eu usei aquilo como gatilho e explodi, parti pra cima dela na tentativa de fazê-la engolir cada palavra, depois a sua amiga resolveu participar da brincadeira e cinco minutos depois estávamos a três na sala do diretor...

— Espere um pouco – Justin a interrompeu – você que começou a briga? Você saindo na porrada com aquelas vadias no banheiro da escola?

O fato dele ter se referido a elas como vadias agradou Clary, mas o olhar cético que Justin lhe lançava a irritou profundamente.

— Eu não estou mentindo – a menina rosnou encarando de volta os olhos castanhos – não fale como se me conhecesse, Bieber.

— Tem razão, eu não a conheço – Justin rebateu no mesmo tom ríspido.

Clary desviou novamente o olhar respirando profundamente, se continuasse a olhar a aquele rosto perfeito e arrogante ela lhe daria um belo soco. Sabia que de certa forma o menino estava certo, era difícil acreditar que ela, a menina invisível, que nunca matou uma mosca provocaria uma briga, mas Clary realmente estava em seu limite e nunca jamais subestime uma mulher na TPM.

Justin havia juntado todos os lenços e algodão que usou nos ferimentos da menina, bebeu o restante da agua e foi até o lixo que ficava alguns metros longe da mesa. A menina observou o momento em que ele parou de costas e colocou a mão na nuca, como se tentasse aliviar a tensão, depois olhou para o céu encarando as nuvens cinzas que já tomavam quase toda parte do céu.

A menina abaixou a cabeça já se arrependendo do modo que tratou o garoto. Começou a cogitar a hipótese de sair rastejando pelo estacionamento e fugir sem que ele percebesse.

— Hey, eu fui um babaca – Justin voltou a ficar perto da menina, automaticamente segurou uma das mãos dela desentrelaçando os dedos nervosos – eu não acho que esteja mentindo, só fiquei surpreso não estou acostumado a sentir isso, alias minha vida tem sido bem monótona e previsível.

O jeito manso com que o menino falava fez com que Clary levantasse a cabeça para olhá-lo, o rosto dele acompanhava suas palavras, a expressão formava um acanhado sorriso apaziguador misturado com uma sinceridade tristonha.

— Tudo bem, eu já ultrapassei o limite de babaquice do dia – a menina brincou. Sem se conter retribuiu o aperto da mão do menino, sentindo a pele gelada e máscula ao redor da sua.

Justin fitou as mãos unidas, se encaixavam perfeitamente, seguravam-se como se fossem um bote salva-vidas.

— Sua mão é tão pequena e delicada – Justin murmurou deslizando o dedão sobre a pele de Clary  – o que aquelas garotas disseram para deixa-la tão brava?

A menina queria parar o momento naquele instante, mesmo com tantas dores internas e externas, ela desejava permanecer no momento em que ficou de mãos dadas com Justin Bieber, aproveitando os arrepios que percorriam o seu corpo com o toque inocente do menino.

Mas o alerta de perigo começou a apitar em sua cabeça, ele começou a fazer perguntas que levariam a respostas que ela não podia lhe dar.

— As mesmas merdas que sempre saem da boca desses tipos de garotas – ela respondeu evasiva – você toca algum instrumento?

Sem se conter e com o objetivo de desviar o assunto, Clary deslizou a ponta dos dedos através de alguns calos que decoravam os dedos do menino, característicos de quem tem habilidade com algum instrumento.

— Sim – Justin respondeu surpreso, bastou a menina tocar em suas mãos calejadas para descobrir algo que apenas a sua família tinha ciência – toco violão, bateria, piano e trompete.

Porque não basta ser lindo, tem que tocar mais de um instrumento...

— Eu toco piano – ela disse admirada com o talento do menino – mas faz tanto tempo que não pratico, talvez tenha até desaprendido.

— Eu também não toco desde... – Justin desviou o olhar sem terminar a frase – mas essas coisas são como beijar, mesmo que você fique muito tempo sem praticar, ainda assim sabe como se faz.

A menina ficou presa nos olhos castanhos enquanto ouvia aquelas palavras. O menino lhe lançava um olhar malicioso, acompanhado de um sorriso sereno que não combinava com a tensão criada. Sem se conter Clary fitou a boca de Justin imaginando como seria a textura daqueles lábios, o desejo de se esticar e provar o gosto dele era tão forte que a menina mordeu o lábio inferior reprimindo a vontade de puxar o garoto para mais perto.

Foi com uma mistura de satisfação e desespero que Clary visualizou as pupilas de Justin se dilatarem, o negro tomando uma parte significativa daquele castanho incrível. O menino deu um passo pra frente, a lateral de seu corpo tocando o joelho dela, mais um centímetro e ele ficaria entre as pernas dela.

Perto demais, perto demais, puta merda não consigo respirar.

Clary soltou o lábio inferior mastigado, liberou uma respiração profunda na tentativa de ficar na segurança da superfície, o que seria difícil já que menino deixava claro o quão fácil e tentador seria se perder naquela expressão, a menina tinha 90% de certeza, que demonstrava desejo.

Os 10% de dúvida foram anulados quando Justin passou a língua entre os lábios ainda fitando a boca da menina.

— Você é uma bela distração – o menino disse baixinho, como se confidenciasse algo – eu poderia ficar olhando você por horas e não me cansaria disso.

— O-o que? – a menina gaguejou desconsertada. As palavras dele não faziam o menor sentido, nem em seus sonhos mais bizarros Justin flertaria com ela.

— Mas para o meu azar, ou pra sua sorte, eu sou muito curioso – o menino continuou – na verdade estou mais preocupado do que curioso, então não tente mudar de assunto.

— Que assunto? – ela realmente não se lembrava. Se o menino perguntasse onde estavam, era capaz de levar um minuto inteiro pra ela responder.

— O quão cruel aquelas vadias foram? – Justin perguntou angustiado, como se temesse a resposta – e não me venha dizer que perdeu o controle por causa da TPM ou que eu não te conheço. Eu já vi você ouvir James Transher falar sobre xadrez por cinquenta minutos sem interrompê-lo ou manda-lo calar a boca, se isso não é ter paciência você é fanática por jogos de tabuleiro igual a ele.

— Talvez eu seja... – Clary mentiu. Ela odiava qualquer jogo de tabuleiro. Ela realmente é uma pessoa paciente, mais do que paciente diga-se de passagem, mas não naquele dia.

— Por favor, Clary – o menino passou a mão nos cabelos, sinal de sua impaciência – eu só quero ter certeza que você não ficará pensando nisso mais tarde, deixar com que palavras vazias alimentem pensamentos ou sentimentos ruins.

A sinceridade do menino a entristeceu, ele falava como se tivesse experiência própria, aquilo a fez querer bater em algo ou em alguém de novo.

Ok, vamos fazer isso! Depois lide com as consequências.

— Ashley e Michaella não disseram nada sobre mim, ou praticaram qualquer tipo ofensa contra a minha pessoa – Clary começou a explicar antes que o menino surtasse – a verdade é que elas ofenderam uma pessoa, e aquilo me enfureceu de uma forma que não esperava.

— Uma pessoa? – Justin levantou uma sobrancelha nada amistosa.

— Sim – a menina engoliu em seco, de repente nervosa novamente – um menino de quem eu gosto, mas isso não importa...

— Um cara? – o menino soltou a mão que estava entrelaçada na dela, dando dois passos para longe – um cara de quem você gosta?

A reação de Justin assustou a garota, em um minuto eles estavam tão próximos como se fossem íntimos, no outro ele criou uma distancia significativa, a frieza na expressão e palavras do menino fez com que Clary se arrependesse rápido demais.

Deveria ter ficado de boca fechada.

— Sim – ela respondeu de repente envergonhada – eu sei que parece bem idiota, mas não é o que você está pensando, eu não estava brigando “por causa de macho”...

— Você começou uma briga, ficou nesse estado por causa de um cara? – agora a raiva era evidente na expressão de Justin, e ele não fazia nenhuma questão de disfarça-la.

— Qual é o seu problema...

— Puta que pariu – Justin riu incrédulo – você deve gostar muito dele a ponto de defende-lo.

— Isso não importa, só não achei justo que ele não estivesse lá pra se defender – Clary estava ficando brava devido a reação do garoto – e por que está tão bravo?

— Eu não estou bravo – o menino rosnou andando de um lado pro outro – e onde ele esta agora? O mínimo que o idiota deveria fazer é cuidar de você.

Se Clary já não estivesse vivendo um momento bem insano, além da sua imaginação, ela podia apostar toda a sua economia inexistente de que Justin Bieber estava com ciúmes dela.

— Eu não sei onde ele está – a menina mentiu, era estranho falar de uma pessoa que estava bem ali na sua frente – e acho que você não me entendeu direito, eu disse que eu gosto dele e não que ele sabe da minha existência.

Bom, pelo menos era o que eu achava...

— Como já imaginava, o cara é um babaca – Justin balançou a cabeça indignado –e por que você se deu o trabalho de defende-lo mesmo?

— Justin, eu já expliquei...

— Ah sim, você gosta dele e ele não estava no momento pra se defender – o menino falava rápido, as palavras se atropelavam durante o monologo – mas isso não explica nada, e você não deveria defender um idiota que nem sabe da sua existência... Quem é ele?

 Justin voltou a ficar próximo de Clary, muito próximo. Segurou o rosto da menina entre as mãos de um modo delicado, porem, sem deixar escapatória. Olhando em seus olhos ficou esperando, praticamente exigindo respostas da menina.

— O-oque? – Clary gaguejou desconcertada. O menino estava muito perto, o hálito de menta batia nas faces rosadas a deixando embriagada. Ela não conseguia respirar, e responder aquela pergunta estava fora de cogitação.

— Quem é o cara, Clary? – Justin falou pausadamente, sua expressão determinada deixava claro que não desistiria tão fácil.

— E isso tem importância? Vai mudar alguma coisa? – a menina aumentou o tom de voz já sem paciência, ainda assim estava aproveitando o toque do menino em seu rosto.

— Eu só quero saber quem é a minha concorrência – ele respondeu com uma calma fingida – e talvez eu bata nele pra deixar de ser tão babaca.

Concorrência? CONCORRÊNCIA? C.O.N.C.O.R.R.Ê.N.C.I.A?

— Não entendi – ela sussurrou assustada. Nem uma das possibilidades que encheram sua mente após ouvir as palavras do loiro poderiam ser verdade.

— Tenho certeza de que você entendeu – Justin murmurou parecendo magoado – e então, qual é o nome do cara que te deixa tão imprudente?

Clary cerrou os olhos ao se afastar das mãos do menino. Desde a briga no banheiro até agora estava passando por uma fase intensa de bipolaridade, os momentos mais agravantes foram os que ela não sabia se abraçava Justin ou se esfregava aquele rosto perfeito no asfalto. Essa mesma dúvida rondava sua mente no momento. Desde o inicio o garoto vem mostrando uma gentiliza e preocupação digna daqueles memes que vomitam arco-íris. E mesmo achando que bateu a cabeça com muita força, Clary tem certeza de que ele estava flertando com ela. Esses momentos a fizeram gostar ainda mais dele, mesmo jogando um piano em cima da esperança para impedir que a danada rastejasse até o seu coração, a menina não controlava a possibilidade de que talvez Justin Bieber também sentia algo por ela.

Mas Justin teve atitudes e palavras que deixavam a menina confusa, e irritada. Agiu como um psicopata que insistia em agir como se a conhecesse, depois bravo ate mesmo possessivo exigiu respostas da menina. Por fim a chamou de imprudente, ela tinha plena certeza de que brigar com aquelas garotas foi mais do que imprudência, mas não precisava de mais um pra jogar isso na cara dela. E agora essa insistência em saber o nome do cara por quem ela tinha arrumado essa confusão.

Já que estava sendo imprudente, a menina resolveu aproveitar o momento.

Carpe diem, Clary.

— Justin – ela cuspiu o nome grosseiramente – o nome que tanto deseja saber é Justin, Justin Bieber.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler ^^



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