Me desculpa escrita por Maria Gabriella


Capítulo 1
Sou Humano


Notas iniciais do capítulo

Não marquei como "terminada" porque não gosto de fazer isso u-u, mas provavelmente não vai ter mais anda a ser feito com essa história.
Espero que gostem ^-^

*E reforço, isso não é baseado na vida do Fernando Pessoa, ele não é o PP e não é uma fanfiction. A única relação entre ele e a história é que no momento em que tive a ideia estava falando sobre (por isso talvez tenha algumas LEVES referências) e é dedicado a ele.



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Era para o mundo inteiro saber quem eu sou. E agora eu apenas lamento. Recordo-me com perfeição de quando minha mãe me avisou que esse dia chegaria. Ela me dizia, me alertava. Eu seria um fracasso, querendo ou não. E muito pior do que ser um fracasso, é viver um eterno fracasso. Não que minha mãe não gostasse das minhas aspirações ou não acreditasse realmente na minha vocação, todavia fazia isso por honra. Quase tudo é a base de honra hoje em dia, inclusive amor de mãe. E também era por preocupação. Ela não queria que chegasse esse dia. Que a bruta realidade de ter falhado em tudo se desprendesse do céu e caísse em cima de mim como um meio de dizer "estou frustrado" sem estar frustrado. Não estou frustrado, estou em luto. Luto por mim e por quem acreditou em mim.
 Minha mãe era sábia em muitos pontos, porém ela se enganou. Não sabia que não seria uma escolha. Quando meu pai faleceu, precoce, eu tive que fazer uma figura paterna, não consegui ver meu padrasto de tal forma. Não foi uma opção, foi uma condição. E logo depois tantos irmãos e irmãs, todos viraram figuras mórbidas, figuras involuntariamente mórbidas e tantos amigos que eu poderia ter se juntaram a eles. A partir daquele momento se concretizou na minha inútil existência de que eu não faria absolutamente nenhuma escolha, seria tudo parte de estar vivo. Seria tudo consequência.
 Não faz muito tempo então, que meu destino se traçou (algumas décadas?). E por mais que eu quisesse torna-lo diferente e especial, nada nesse mundo poderia me fazer escolher. Há quem diga que a vida é feita de escolhas, mas e a mim, que nunca escolhi? Estarei eu morto?
 A dor do luto me toma conta novamente; luto por mim mesmo. Luto por não lutar e mudar essa situação, luto por conformismo. Poderia me internar em algum hospital ou simplesmente mudar de ares, mas há coisas, há simbolos que me prendem aqui. Eu simplesmente não quero mais ser eu, como tantas outras vezes, contudo não há nada nesse mundo que me faça ser outra pessoa sem carregar esse pesar no coração. O meu maior erro? Ter sido outra pessoa.
 Quem sabe se eu tivesse sido eu mesmo, as pessoas reais ainda estivessem comigo? A pessoa real, ainda estivesse aqui? Quem sabe se eu não tivesse exposto miseráveis pensamentos não enfrentaria o pesar de saber que sou um fracasso absoluto? Um ser obsoleto. Inútil, por excesso de utilidade.
 Ele se foi porque eu não consegui ser eu mesmo. Porém, eu não escolhi ser outra pessoa. Tudo que eu precisava fazer era ser fiel ao nome, ser honroso. Não consegui. Falhei. Como tenho falhado em tudo. E tenho dito que isso não me afeta e que isso não é nada e que isso não me significa a vida e que sou forte e que sou feliz, e tenho mentido. Mentido sobre quem sou, mentido sobre quem admiro e mentido sobre como estou. Tenho sorrido.
 O mundo devia saber quem eu sou. Mas não sabe e nunca vai saber. Não é sublime de minha parte querer fama, é sublime não quere-la. Ora, é tão difícil querer o quê se tem!
 E nese momento eu quero a vida que não tenho. Quero a paz da morte e as sensações de sentir. Quero ser, porém sem estar.
 Contorço-me na cama como um bebê que deixa o pirulito cair e deixo que algumas lágrimas caíam vagarosamente dos meus olhos fundos e perdidos. Ao menos um pirulito gostaria eu de ter, todavia quando o possuía lamentava em uma comtemplação a falsidade de sua sensação e a realidade de sua mentira, não conseguindo o ter para mim.
 E todo o resto caíra na perdição do meu olhar longíquo. O resto? O resto sou eu. O resto de meu amigo; o resto de meu luto; o resto de minhas forças. Até mesmo o amor negligênciou minha conduta pouco honrosa, dando me as sobras de seu desejo e de sua malícia.
 Vivo ao entorno do nada e quando tento estar no real, me abalo. Sou recebido com chuvas de pedras que me obrigam a voltar para o nada ou permanecer opaco.
 Há duas opções: Viver na escuridão ou escurecer a vida. E queria eu ser capaz de optar por uma ou outra! Não, eu não escolho. Sou a linha tênue entre querer e poder. Sou a linha tênue entre agarrar e deixar. Entre honrar e desmerecer. Ser e estar. E nada disso me faz verdadeiramente forte ou verdadeiramente feliz (não se pode ser os dois).
 Alguns me olham e me chamam de mestre. Não sabem de nada senão o quê lhes conto sobre mim. E o quê posso eu contar-lhes de mim que não me conheço? Não conto nada que seja real e não vivo nada que não seja humano.
 E essa humanidade de estar triste destrói meus sentimentos.
 Estou triste porque estou em luto e isso me indica que preciso de ajuda médica. Estou louco. Preso nas sombras de uma caverna interior inexistente. Escravo de uma vida deveras miserável. E miserável por ser único entre todos; por não ter compreensão. Estou louco e preciso de auxílio médico.
 Quero ser, só uma vez, alguém normal. E isso me deixa louco, completamente transtornado.
 Gemo na cama encarando a realidade que escorre dos meus olhos desincontrados e gaguejo para mim mesmo que sou humano. Nada nem ninguém pode tirar isso de mim. Sou humano. Se não, o quê sou?
 Sou humano e estou triste, não há nada de errado nisso, não me faz louco. É o quê eu quero acreditar. Se alguém mais soubesse que sou humano, se alguém mais soubesse que também fraquejo, talvez minha vida fosse mais agradável. Não digo fácil, pois fácil só é estar morto, um morto não precisa ser, nem sentir, só precisa estar (morto).


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Notas finais do capítulo

O quê acharam? Digam-me ^-^



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