Falling For You escrita por Carmen


Capítulo 3
Capítulo 3 - Wicked Game


Notas iniciais do capítulo

(esse capítulo é mais um teste. sempre adorei de ter mais de um ponto de vista, então vamos ver se fica bom, ok?)

{what a wicked thing to do, to make me dream of you}



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/679594/chapter/3

Lecionar sempre foi algo que me instigou enquanto Cora deixava bem claro que não era o que desejava para suas filhas de forma alguma. Embora ela desprezasse a profissão que ela mesma foi obrigada a exercer por décadas até se tornar reitora, eu fiz questão de formar-me na melhor faculdade com mérito em algo que eu amasse e que, caso eu quisesse, me desse espaço para adaptar aos meus objetivos.

Eu, orgulhosa de meu último título na aclamada Sorbonne, quando adquiri o Master 2 em roteiro, direção e produção, pedi apenas uma chance a minha mãe quando retornei à minha cidade natal. E ela cedeu, me dando o cargo que pertencia a uma outra professora, que pedira demissão por motivos desconhecidos por mim.

Todas as informações, necessárias ou não, para que eu fosse a melhor professora naquela turma. Observações pessoas de Cora, pastas com o histórico dos alunos, coisas que à minha mãe pareciam exercer alguma importância e eu, apenas assentia. E só tiveram sentido quando entrei na classe para dar aula, que por acaso correu melhor do que imaginei.

Mas o segundo de paz que eu parecia finalmente ter, sem pensar nos olhos claros que me seguiam durante parte da aula – e que eu curiosamente correspondia – e, depois, seu total desprezo.

— Regina... – a voz de Emma voltou a ecoar na enorme sala.

Maldita seja aquela garota loira e o motivo pelo qual ela voltou pra cá. Eu havia fechado a porta, garantindo assim que não seria incomodada e mantendo distância entre ela e sua amiga ruiva completamente desnecessária. Quem zomba de um integrante da família Mills como ela fez ao saber que era eu sua nova professora?

— Srta. Mills pra você, srta. Swan. – o tom da minha voz saiu mais frio do que o necessário, mas foi o suficiente para que Emma desmanchasse o sorriso presente em seu rosto enquanto eu a encarava.

— A aula já acabou, você não é mais minha professora, ok? Eu só preciso das atividades e anotações para montar o procedimento... – ela foi ágil e grossa.

Pareceu muito mais interessante lidar com Emma Swan quando ela não era mais só uma garota mal educada, mas alguém que achava-se forte o suficiente para me encarar.

No instante em que mãos de Emma deslizaram pela minha mesa, eu esqueci de respirar enquanto o seu decote ficava cada vez mais visível. Eu não devia olhar, eu não tinha motivos, eu não tinha que querer fazer isso, o silêncio simplesmente aconteceu, e eu fui perdendo-me entre o colar que ela usava, o tecido de sua regata branca... Entre encarar Emma, gerar mais um conflito entre nós – já que ficou claro que nós nos enfrentaríamos, seja pela rápida química formada ou tensão sexual facilmente exercida - e continuar observar sua pele pálida exposta e a possível marca... Eu já havia me decidido com qual opção ficar.

— Parece que alguém se perdeu em pensamentos, não é? – e, mais uma vez a voz de Emma simplesmente surge como se ela tivesse essa capacidade irritante de me retirar dos meus devaneios, eu não conseguia montar uma resposta, estava completamente fora de órbita, mas isso não passou despercebido da mulher loira a minha frente, que continuou. – Mas não se preocupa, Queen. Comigo, você não precisa dizer nada!

E sinceramente, eu não queria dizer nada. Observá-la mordendo o lábio inferior e sorrindo maliciosamente era o suficiente para que eu simplesmente me calasse, mas simplesmente não fazia sentido. Eu, Regina Mills, estava me calando diante de uma garota que me conhecia há 2 horas? Emma puxou as folhas com cuidado e pousou o olhar no anel em meu dedo. E logo se retirou. Eu bufei, finalmente sozinha.

Eu organizei tudo em minha mesa e me retirei, com pressa. Eu só precisava ir para casa, afundar-me na banheira, tomar o melhor vinho existente e me reerguer.

Talvez, a audácia de Emma tenha me intrigado. E esse seja o único motivo para eu ter me deixado levar pela situação, certo? Por isso, eu deixei-me calar. Sempre adorei exercer o controle sob tudo em minha vida, absolutamente tudo é minimamente calculado para o êxito. Com um casamento de dois anos indo por água à baixo e voltando para a cidade em que nasci, tudo parece conturbado demais, embora nada pareça me abalar.

E o celular tocou tão alto que me despertou. Eu estava prestes a acreditar que era impossível estar em paz por mais de uma hora.

Eu procurava o aparelho que estava arremessado no sofá, seja lá qual fosse o motivo. Eu nunca liguei pra isso mesmo.

Zelena pedia minha companhia para ir a um bar no centro. Estaria fora de cogitação eu sair do meu apartamento no sul para ir ao centro se o convite fosse feito por qualquer outra pessoa. Uma noite com minha irmã é sempre A noite. Zelena era a filha mais velha de Cora, com um magnata qualquer. Nossas semelhanças se restringiam ao gênio impossível, o que sempre nos uniu – já que precisávamos nos defender.

Ela chegaria em uma meia hora. Então, eu precisava me arrumar o mais rápido possível. Vesti um vestido azul curto, meia calça escura e um sobretudo. O clima na cidade ao anoitecer era mais frio do que se pensava. Calçava minhas botas quando a campainha tocou.

Era uma quarta-feira, faltava pouco para as dez horas. Eu fui guiada pela minha irmã por diversas ruas próximas a Times Square, mas ela era péssima. Quando chegamos ao pub escolhido por ela, ela simplesmente travou dentro do carro.

— Zelena, acho que esse é o momento em que você me conta o porquê de termos nos deslocado da minha cobertura e você da mansão Mills para virmos a convenção de roqueiros que, com certeza, não faz o nosso gosto, não? - eu disse, quebrando o possível conflito que minha irmã travava com ela mesma.

— É complicado. – Zelena respondeu-me, abaixando o olhar e a voz em conjunto

— Complicado é sua relação com o senso de localização. Vamos logo! – eu dizia com a minha impaciência natural.

— Eu fiquei com uma mulher. Bem, eu estou ficando com ela há dois meses. Mas ela simplesmente parou de me atender agora. Eu acho que realmente gosto dela, e ela não pode, simplesmente, me abandonar como se eu não fosse nada. Afinal... – ela dizia quando eu interrompi a frase.

— Você é uma Mills! – eu completei o pensamento. – Tudo bem, então ela está aí dentro? – eu disse apontando para a entrada do Skull, Zelena respondeu-me fazendo um sinal positivo com a cabeça apenas. - Vamos lá e você se revolve com ela.

CLARO! Impossível uma única Mills estar no fundo do poço quando o assunto era o amor, estávamos as duas. Isso devia ser uma espécie de maldição da nossa mãe, afinal “o amor é uma fraqueza” não era a frase que ela amava nos dizer?

Entramos no pub e, de forma incrivelmente estranha, me senti confortável.

Ver Robin enchendo a cara em uma das mesas foi surpreendente apenas pelo estilo do bar. Eu podia enxerga no meu “marido” o protagonista de um porre ergométrico sim, ele era fraco de qualquer forma. Sentei-me ao seu lado e ele simplesmente suspirou.

— Robin, eram quase 4 da manhã quando você chegou ontem, sabia? O mínimo que eu devo saber é onde você estava, você não acha?

— Num bar. - ele respondeu pegando a cerveja de cima da pequena mesa. Ele parecia nem estar ali, parecia não a ouvir ou simplesmente, ignorar a sua mulher.

— Você não dirá, não é mesmo? – indaguei – Então, pegue tudo o que é seu e vá antes que eu volte para casa, ok? – eu disse-lhe pausadamente.

Robin não é a pessoa que eu escolheria para passar o resto da minha vida, mas Cora fez tanta questão que apenas deixei as coisas fluírem. Vivemos um conto de fadas no primeiro ano de casado, isso é um fato. Depois não havia sequer faíscas entre nós, o conforto e a segurança não era o suficiente para mantermo-nos juntos. Falava-se de divórcio no café da manhã, mas ele era fraco demais para aceitar o fim. Ele sentia como se estivesse próximo a perder um jogo. E eu sentia que minha liberdade estava prestes a ser assinada.

Ele saiu vestindo seu casaco com pressa. Então, pelo jeito, seria eu mesma a assinar minha alforria, mas ainda sim precisava de algo forte o suficiente para me fazer esquecer do dia. Um uísque, talvez? Encaminhe-me para o balcão ainda confusa com a minha decisão precipitada em pedir que Robin apenas sumisse da nossa casa.

− O bonitão que saiu me deve uma cerveja! – a voz de Emma se anunciou.

− Emma? – eu disse, e no segundo em que o nome vibrou em minhas cordas vocais, senti o peso por identificar a voz da loira sem sequer olhar pra ela.

Era assustador como eu não podia baixar a guardar que Swan estava pronta para ultrapassar todos os meus limites. Ela sempre tinha uma suposição sobre a minha vida, sobre o que eu pensava... E eu só queria saber por qual motivo escolho algo tão suave, adolescente.

− Estranho isso, porque tenho a sensação de que te conheço a vida inteira... Mas, aqui, essa bebida parece doce demais pra você. – ela disse.

E o mais absurdo sobre as provocações e hipóteses que ela criava da minha vida eram o quão correta elas podiam estar, mas eu sempre negaria, porque não me renderia a mesma sensação que tinha com Emma. Eu também sentia que conhecia.

Sorri com o pensamento. Talvez nós nos conhecêssemos mesmo. Ela sorriu de volta.

− Sis, vamos embora? Alexandra e eu já nos resolvemos. – tão logo, Zelena surgiu ao meu lado e ela já disse ignorando completamente todos que não fossemos nós duas.

− Você é irmã da Zelena? – Swan e sua curiosidade falavam num sobressalto enquanto eu observava a mulher alta de cabelos negros que apareceu junto com minha irmã.

− O que você tem a ver comigo, loirinha? – Zelena disse, os olhos azuis claros dela encaravam a garota. – Você realmente acha que a Alex me trocaria por você? – o ciúmes que Zelena sentia a fazia proteger as coisas que ama com uma força desumana, e pra alguns irracional.

A verdade é que qualquer um que tenha tido Cora como mãe nunca lidará com o amor ou a paixão de forma normal. Tudo é resumido em uma única palavra: intensidade. Sentimos e vivemos um amor, uma paixão como se não houve o próximo segundo. No instante em que criamos uma conexão com alguém, tudo é sempre 8 ou 80.

− Primeiro, PELA CENTÉSIMA VEZ, eu e a Alex não temos nada. Segundo, eu e Alex tivéssemos algo não teria nada a ver com você. E, terceiro, Zelena, arranja outra pessoa para destilar seu veneno, ok? Além do que, eu tô muito bem de crush em alguém com autoridade sob mim! – Emma falava tão rápido e sua voz subia tom por tom e, ao parar, corou.

Ela simplesmente ficou rosa. E eu fui obrigada a rir. Ninguém entendeu, acho que apenas ela.

− Okay, eu falei demais. – ela disse mais baixo.

− Calma, Miss Swan. A aula já acabou, você não é mais minha aluna, lembra? – eu disse, voltando-me pra ela.

O sorriso fraco e surpreso de Emma me pareceu tão sincero que eu jurei sentir meu coração palpitar.

− E, você... – eu desci do banco, virando para Alexandra - Alex, certo? Se despedaçar o coração de Zelena, eu juro que arranco seu coração e esmago até virar cinza, tudo bem? – eu disse, arqueando as sobrancelhas e sorrindo pra mais alta. Agradeci pelos saltos altíssimos da bota que eu usava. – Mas foi ótimo saber do bom gosto de Zelena! – terminei o quase monologo, deixando uma Alex sem graça e uma Emma confusa.

Eu numa me cansaria de surpreender alguém. Seja com o desprezo, com a audácia, a hostilidade, com o som dos meus saltos batendo na madeira. Me despedi de Emma brevemente, Zelena já havia se encaminhado para saída e esperava-me no carro.

Chegamos rapidamente em meu apartamento. Nenhum sinal de Robin, eu e Zelena dormimos em meu quarto depois de comer sorvete enquanto falávamos sobre o quão irreal nossa noite parecia.

O saldo ao término da noite era: eu como a paixão platônica da minha aluna, uma “futura-cunhada” ou “ex-futura-cunhada” posta contra a parede, um futuro-ex-marido e um sentimento diferente que parecia não se acalmar dentro de mim desde que encontrei o olhar de Emma, mas que parecia irritantemente agradável. Talvez eu sonhasse com Swan naquela noite.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

(vou demorar um pouquinho agora, ok?)

[e eu quero me apaixonar. esse amor vai quebrar meu coração. por você.]
*Wicked Game é uma música do The Weeknd.