Estava observando-a, não sei, há uma hora? Talvez eu devesse descrevê-la para vocês, mas talvez também o que seu subconsciente pedir transformará tudo em uma magia melhor que a minha. Ela estava lendo. Mas é claro que estava, eu não me poria a observá-la se não estivesse lendo, ato que considero absurdamente excitante. Seus dedos lambiam as páginas amareladas. Era um livro velho, a capa se desprendia das folhas e eu podia imaginar o cheiro de mofo exalando. Ela piscava aqueles grandes olhos de corça cor de âmbar e molhava os lábios rosados com café e chantilly. Havia toda uma sutileza em seus movimentos, uma malícia acidental, uma provocação indireta. O cigarro que balançava entre seus dedos pintados de preto estava chegando ao fim... Ela o colocou entre os lábios carnudos, expeliu a fumaça com sobriedade. Sempre achei gracioso o feito de fumar. A cena toda transformou-se em um ato sexual pra mim e minha alma estava embargada em tesão. As páginas do livro chegavam ao fim. Ela desdobrou as pernas de porcelana, colocou uma nota em cima da mesa e uniu o livro á sua bolsa pendurada no ombro. Seus cabelos sedosos deslizaram por sua pele clara e ela saiu porta á fora, sem dar satisfação e contar o fim da história.