É uma verdade bastante conhecida que a religião não cria caráter. Qualquer igreja é como o mundo: tem pessoas boas e pessoas ruins.

        Angelina, presenteada com toda aquela sabedoria relacionada a igreja sabia que o Sol nasce para todos, ou, mais literalmente dizendo, Deus ainda não faz seleção do joio e do trigo. Se Deus ainda não o faz, por que ela deveria fazer?
       Era triste de se ver na televisão os noticiários sobre pessoas mortas por não seguirem um conceito divino. Jesus veio à Terra e andou entre os pecadores. Jesus não os julgou. Jesus os salvava.
        E Lúcifer sabia que não tinha nada que precisava ser salvo naquelas pessoas. A ditadura imposta por aquele Deus não demonstrava sua superioridade e sabedoria, apenas sua semelhança aos homens egocêntricos e tolos.
       Mas ele não pertencia a nada, fazia questão de dizer. Ele era filho dos fundadores da Casa de Adoração ao Satanás.
       Seus pais não faziam rituais ou seguiam bíblias. Mas não deixavam, ainda assim, a atmosfera egocêntrica e ditatorial sumir.
       Porque, de qualquer forma, Satanás queria ser Deus.
       E mesmo querendo evitar ao máximo qualquer tipo de aproximação ao que os pais faziam, ele não conseguia.           

      Primeiramente devido ao seu nome. Sim, seu lindo e maravilhoso nome que a professora temia em exclamar ao fazer a

chamada.

       E não era só porque se chamava Lúcifer e nem porque seus pais eram quem eram e o haviam criado, mas pelo preconceito. Sim, palavrinha bem conhecida por quem quer que seja. Esse costume egoísta e tolo.
         As pessoas não se aproximavam dele. Não quando sabiam que seus pais eram os satanistas.
         E seria até bom se os boatos parassem ali. Mas não. "Eles são ricos porque fizeram pacto com o demônio", costumavam dizer. E Lúcifer sofreu muito por causa disso.  Sofreu o suficiente nas mãos dos adoradores de Deus que chegou a se perguntar se o mau era realmente Satanás.
         Todavia Angelina sabia a resposta. Deus é amor. Deus é bom. E Deus não tinha nada a ver com o que os humanos faziam. Isso era apenas consequência do pecado.
          E sendo consequência de qualquer outra coisa com pensamentos tão diferentes e complexos a sua forna, Angelina e Lúcifer se esbarraram.