Mind Games escrita por CandyMandy


Capítulo 3
Lar, "doce", lar




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/679472/chapter/3

Não havia outra escolha, não depois dos últimos acontecimentos. Ela iria voltar para casa, não por saudade e nem para fazer uma inesperada visita agradável, mas porque se via obrigada a isso. Depois daquele dia na nave, Mégara analisou os fatos e acabou tendo várias conclusões importantes. 

A primeira delas foi que não tivera o "prazer" de encontrar um asgardiano qualquer, aquele era Loki, príncipe de Asgard, um empecilho não só nos planos dela, mas como no de várias outras pessoas, simplesmente uma "criatura adorável". Ela só havia o visto umas duas ou três vezes na vida, a maioria quando ainda era criança e Odin ainda tentava dominar seu reino de forma pacífica. Tudo que ela sabia sobre Loki era que ele estava sempre envolvido em algo que pudesse causar caos e de preferência que afetasse diretamente Odin. 

O que levou Meg a segunda constatação. Loki não era do tipo facilmente enganável, afinal todos sabemos quem ele é. Ele não sairia de Asgard por causa de um simples boato, havia algum fundo de verdade ali.

Os boatos sobre a descoberta do Núcleo cresceram ainda mais naquela última semana, o que a levou a crer ainda mais na veracidade do assunto. Precisava recupera-lo, pois tudo indicava que a fonte de poder estava em Asgard e Meg não podia deixa-lo nas mãos de seus piores inimigos. No entanto, precisaria de ajuda e só havia um lugar onde a conseguiria.

(...)

Ruínas. Era o que definia o lugar, o sol se recolhia no horizonte espalhando seus raios por entre as antigas construções, formando sombras no chão que chegavam a serem belas. Mégara pensou que  tudo depois da devastação encontra paz, mas ainda não havia chegado a sua vez de encontrá-la. 

Estava sendo doloroso caminhar por aquelas terras. A cidade principal de Wissenheim fora projetada de forma circular, ou seja era preciso passar por um raio inteiro do círculo até chegar o ponto central onde se encontrava o palácio 

Quando era mais nova aquele era um caminho que ela faria com imensa felicidade, adorava andar pelas ruas fazendo brincadeiras, se metendo em encrencas ou desafiando pessoas maiores que ela para duelar, mesmo que no final do dia a mãe a repreendesse dizendo que essa não era a atitude digna de sua posição. Mégara não se importava de qualquer forma, sempre tivera um espírito inconsequente. Seu pai, por outro lado, via essa inconsequência como um sinônimo de coragem, orgulhava-se da filha destemida. 

A lembrança dos dois lhe atingiu e a saudade a preencheu. A imagem de seu pai sendo cruelmente assassinado em frente ao  prédio do Conselho a fez verter uma lágrima. O prédio mesmo desgastado pelo tempo ainda estava ali, mas seu pai não havia resistido. 

Suspirou e tentou inutilmente afastar as memórias, fossem boas ou ruins. Ao menos estava chegando. Quanto mais se aproximava de seu antigo lar, menos a cidade parecia um local abandonado. Era possível ver alguns estabelecimentos abertos, uma biblioteca em funcionamento e casas com janelas abertas. A vida voltava a preencher Wissenheim, sua irmã  e seu avô até que estavam fazendo um ótimo trabalho de reconstrução.

— Princesa? Princesa Mégara? - Perguntou uma senhora incerta.

Mégara se sentia estranha com o título de princesa depois de tanto tempo.

— Sim - Ela sorriu um pouco desconcertada.

A senhora a reverenciou respeitosamente, sendo seguida por outras pessoas em volta que a recolheram. 

—Por favor, parem. Isso não é necessário - A princesa incentivou para que levantassem. Ela não se achava merecedora daquilo, será que eles esqueceram que ela havia fugido?

— É ótimo tê-la de volta, Alteza. - disse outro senhor.

Mégara não sabia como agir naquela situação, mas fora salva pela irmã mais nova que descia as escadas do palácio apressadamente. Os cabelos dourados na altura do ombro balançavam devido à pressa.

—Meg!- disse entusiasmada e à beira de escorregar. 

Quando finalmente a alcançou, Myrna a envolveu em um abraço caloroso. A pequena multidão se afastou, dando privacidade para as princesas. 

—Eu não acredito que veio! - Disse ainda sem larga-la e atrapalhada como sempre.

—Bem, eu estou aqui, não é? - Meg disse ainda sem jeito.

— É claro que está! - Exclamou - Venha, tenho muito para lhe contar. 

Myrna enlaçou o seu braço no da irmã e a guiou até o palácio. Caminhavam sem pressa, Mégara tinha o cuidado de não pisar no vestido longo da irmã, ela usava calças em vez do traje feminino comum em Wissenheim. Vestidos não são muito práticos quando se anda entre criminosos, então usava uma justa calça preta. 

Ao passarem pelas ruas as pessoas sorriam em ver as irmãs juntas novamente. Era algo harmonioso de se ver,  mesmo que elas não fossem muito semelhantes. Myrna era baixa e possuía cachos dourados na altura dos ombros e os olhos âmbares, como os da mãe. Enquanto Mégara era alta, com cabelos mais escuros que transitavam entre o avelã e o castanho, os olhos portavam uma rara condição genética, eram na maior parte azuis, porém manchas âmbares os impediam de serem completamente uniformes. Ela se incomodara com isso em uma parte de sua vida, mas depois passou a aceitar a irregularidade de seus olhos. Em uma coisa as irmãs coincidiam, o mesmo tom de pele bronzeado produzido pelo clima quente de Wissenheim, aquilo era uma marca registrada dos nativos daquele reino. Mégara só estava levemente mais pálida devido às temporadas que passara em alguns planetas gélidos, mais alguns dias ali e ela teria de volta seu tom natural.

— Você tem feito um bom trabalho por aqui... - Mégara parabenizou Myrna, iniciando o assunto.

— Obrigada, porém tudo isso não teria sido possível sem a ajuda e a experiência de nosso avô. Você sabe, eu nunca levei muito jeito na parte administrativa. 

Myrna disse ainda sorridente, Mégara não entendia como isso era possível, sua irmã não parecia guardar nenhum tipo de ressentimento por ela. Mesmo depois de deixar essa tarefa árdua para ela, Myrna agia de forma doce.

— Me desculpe, eu sei que você não desejava isso, seu sonho sempre foi lidar com a parte medicinal, não é? - Meg disse um pouco constrangida por ter impedido o sonho da irmã.

— Ah! Deixe disso, Meg! 

 Myrna fez um gesto com a mão livre para mostrar que não se importava e prosseguiu.

— Depois da guerra, foi muito difícil manter o pouco da população que restou viva, os suprimentos eram poucos e nenhum reino nos ajudou. Minha experiência médica foi muito útil nesse momento, consegui pensar em várias saídas para não deixar que houvesse ainda mais mortes. E o papai dizia que não havia utilidade para uma princesa curandeira... - Ela cortou a seriedade com um pouco de humor e Meg se permitiu rir com a irmã.

— Hoje estamos relativamente bem, produzimos nossos próprios suprimentos e a qualidade de vida está estável. Nada comparado ao que poderíamos ser se você estivesse conosco, nos liderando...

Myrna lançou um olhar significativo para Mégara. A mais velha suspirou sabia onde ela queria chegar com isso...

— Myrna, eu não posso... – Começou.

—Eu sei, eu sei! Não quero te forçar a nada, mas você sabe que é verdade. Eu tenho feito meu melhor aqui, mas meu potencial é limitado. Nossos pais treinaram você para ser a rainha, viam em você a carreira política. Além disso, o povo te adora! 

Myrna voltou os olhos para as pessoas que observavam admirados a volta da princesa herdeira do trono, havia esperança nos súditos de que ela os tiraria da miséria.

— São muitas expectativas que talvez não possam ser correspondidas. - Mégara se limitou a dizer.

— São,  realmente. Mas você não sabe se fracassará se não tentar. - A loira lhe devolveu um sorriso terno. 

A ideia de ser rainha parecia incrivelmente agradável para Mégara durante a infância. Ela sabia que teria inúmeras responsabilidades e teria de controlar sua personalidade rebelde, mas honrar a tarefa deixada pelo seu pai superava tudo isso. Mesmo que às vezes ela não conseguisse enxergar uma rainha no espelho, Meg já agia como tal sem perceber. Ela tinha uma incrível capacidade de se aproximar do povo e de ser incisiva em suas decisões. Porém, depois da guerra tudo mudou, ela seria obrigada a liderar um reino em estado de colapso sem nem ao menos ter atingido a idade correta. A morte de seus pais a transformou e ela não suportou ver seu lar e todos que conhecia morrer aos poucos. Então fugiu, deixando tudo nas mãos de seu avô. 

— Se tivéssemos o Núcleo, tudo poderia ser reconstruído em um instante... - Mégara disse ao observar outra construção em pedaços. 

— Sim, reconstruir manualmente leva meses ou até anos. Nossa tecnologia retrocedeu muito. -afirmou Myrna, enquanto elas já estavam nos últimos degraus do palácio.

— Imagino que tenha ouvido os boatos, foi por isso que voltou, não é? 

Meg apenas assentiu.

—Sabia que ainda se importava com nosso povo - A mais nova sorriu 

— Tenho quase certeza de que não são só boatos e pior o Núcleo deve estar em Asgard - relatou Mégara em tom de preocupação, ocultando lhe como chegou a essa conclusão. 

— Você parece estar certa. Nossas fontes em Asgard dizem o mesmo. - Myrna disse ao abrir as portas do salão principal. 

—Fontes em Asgard? - Mégara estava surpresa. 

— Foi ideia de nosso avô. Na época, eu achei que seria inútil, mas ele me convenceu dizendo que se eles resolvessem nos apunhalar novamente, teríamos ao menos a chance de fugir. Nunca imaginei que os espiões seriam tão úteis agora. 

— Vovô ainda sabe uma coisa ou outra sobre reinar - Meg caçoou

.- Mas, como pegaremos de volta? Entrar nas terras de Odin sem exército é loucura e deixar o Núcleo nas mãos dele está fora de cogitação para mim. - Concluiu. 

— Para nós também.- Myrna hesitou em continuar, mas seguiu em frente. - Nós tínhamos as mesmas dúvidas sobre como invadir. Bem, até alguns dias trás.

A loira parou novamente e Meg incentivou para que continuasse. 

— Até que?

— Até que recebemos isso.

 Myrna mostrou para ela um grande convite dourado endereçado ao seu avô Athos. Mégara pegou o papel e abriu o envelope, se tratava de um baile real em Asgard. A princípio, não compreendeu a razão do convite, mas logo entendeu como uma provocação de Odin. 

— Como ele ousa fazer isso? Ele quer jogar na nossa cara que tem algo que nos pertence? - Exclamou a primogênita furiosa. 

—Aparentemente, sim. – Respondeu a outra igualmente chateada, ela só não explodia como a irmã. 

— Ele sabe nosso a avô não irá nesse circo. O convite é somente para pisar sobre o orgulho que nos resta. Nos mostrar o quanto ainda são superiores - Meg disse se acalmando e se sentando em uma poltrona. 

—De fato, eu não irei comparecer a essa afronta, mas uma de vocês irá. - Disse a voz do idoso que mancava e se apoiava fortemente em um cetro para andar. 

Myrna correu até a porta para ampara-lo e colocá-lo sentado em frente à Mégara. Ele estava bem mais velho e debilitado do que a neta mais velha se lembrava. O segundo reinado, após a morte de seu filho, extinguiu suas forças.

— É bom vê-la, Meg. Sabia que uma hora ou outra voltaria. - O velho riu. 

É claro que sabia, como ela, ele também tinha poder de manipulação mental, Athos a ensinara tudo que sabia. Provavelmente no dia em que Mégara deixou o lugar, ele sabia que ela tinha tendência a voltar.

—Também é bom vê-lo ainda vivo, vovô. - Disse em tom irônico. Ele riu, sabia que era brincadeira, sempre se trataram assim.

—Mas quero logo avisá-lo, essa sua ideia é loucura!- constatou Meg. 

—Eu sei. - Assentiu o velho - O que pode ser melhor resposta a um convite provocativo do que uma visita provocativa? Nós calarmos seria muito mais humilhante 

Athos arqueou a sobrancelhas esperando a próxima negação da neta. Mégara ponderou um pouco, ele era bem convincente.

— Eu não sei. Jogar as herdeiras do trono no salão do homem que tentou acabar com a nossa dinastia não me parece a melhor opção. -A garota ironizou - E você quer que sozinha uma de nós roube o Núcleo?

Não era tão impossível assim, ela já havia feito furtos nesse mesmo estilo enquanto esteve fora e não precisara de ajuda alguma. O avô sorriu, a havia pegado. Tinha lido seus últimos pensamentos e finalmente chegara ao ponto que desejava. Mégara podia ser boa, dificilmente alguém conseguia entrar em seus pensamentos, era muito cuidadosa, no entanto Athos tinha uma experiência milenar que ela não podia competir.

— Myrna, poderia retirar-se? Gostaria de conversar a sós com sua irmã. - Disse o avô. 

A outra garota assentiu e saiu silenciosamente, a porta bateu e eles souberam que finalmente estavam sozinhos.

— Sabe, Meg, eu não me orgulho nada do que você andou fazendo nos últimos anos. Caçadora de recompensas? Um trabalho bem sujo para uma princesa tão promissora. – O idoso falou calmamente. 

— Até que era bem divertido, sabe? - Mégara desdenhou das palavras do avô. 

— Chegou a hora de assumir suas responsabilidades. Não é só sobre diversão, é sobre vidas que dependem das nossas escolhas - Ele repreendeu a garota com seriedade.

— As minhas fontes são próximas, mas nem tanto. Odin pode estar apenas blefando, preciso de completa certeza de que ele obtêm o Núcleo, para tomar medidas drásticas, como o roubo. – Ele continuou expondo que deveriam ser cautelosos 

— Afinal, não queremos entrar à toa em uma guerra com Asgard. - Mégara acompanhou o raciocínio do avô.

— Exatamente, por isso quero que verifique se é verdade. Roubar seria muito arriscado, mas só certificar pode ser mais simples. - Ele sabia que Meg seria perfeita para a missão que lhe incumbiria.

— Tem que ser eu, não é? - Ela perguntou mesmo sabendo da resposta. 

—Sim, um velho e uma princesa curandeira não têm muita chance, mas uma princesa com experiência no ramo de furtos pode ser capaz. - Athos sorriu. 

— E o que faremos se o Núcleo realmente estiver lá? - Perguntou incerta, ela preferia roubá-lo logo de uma vez, apesar de entender as motivações do avô.

— Pensaremos sobre isso depois, mas quero que quando estiver em Asgard seja cordial com todos. Mesmo que pareça impossível, até mesmo com Odin. - Pediu-lhe.

Mégara revirou os olhos, ele estava lhe exigindo demais. Como poderia ser cordial com aquele homem sendo que tudo que queria era arrancar o olho bom dele e sentir-se vingada?

—Tem que fazer parecer que está ali apenas em uma visita diplomática, por paz. -Instrui-lhe o avô.

— Essa vai ser a parte mais difícil. 

 Ela afirmou um pouco contrariada, mas estava ansiosa para enfrentá-lo e olhar no olho do culpado por todas as desgraças em seu reino. A apatia que vivera nos últimos anos parecia distante, a chance de poder se vingar  preenchia lhe com uma nova vitalidade. Mégara não sabia se seria capaz de assumir seu lugar de rainha, como deveria depois disso, mas sabia que teria sua vingança, traria de volta o que era de direito à Wissenheim.

— Autocontrole será preciso, minha cara. -Athos aconselhou 

— É fácil dizer isso quando você não será obrigado a lidar com asgardianos que acreditam serem "deuses". - Mégara debochou de como eles se intitulavam.

O avô riu. 

— Se eu pudesse estaria lá com você para ver a expressão surpresa de Odin ao notar que ainda podemos responder a sua provocação á altura. - O idoso se divertiu imaginando a cena. 

— Você é a nossa jogada estratégica, Mégara. 

A garota sentiu o peso da responsabilidade do que faria, mas não se amedrontou. Ela precisava e ansiava por isso.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Capitulo meio paradinho, porém necessário.
Digam o que estão achando, galerinha.
CandyMandy



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Mind Games" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.