− Como você espera que eu me mexa assim, Sherlock?

Era carnaval, e pelo segundo ano consecutivo eu e Sherlock íamos juntos a festa organizada pela escola. Não era minha festa preferida - sou muito mais o dia das bruxas – mas por alguma razão Sherlock Holmes adora essa festa.

− Tantas opções e você tinha que escolher logo sereia?

No último dia das bruxas ele me deixou escolher sua fantasia (abelha) e agora, deixei que ele escolhesse a minha.

− Eu sei que você quer que nossas fantasias combinem, mas você podia ter escolhido uma roupa mais fácil de usar. – Eu estava quase deitada no chão, sem ter muito como me apoiar e com as pernas completamente espremidas dentro daquela roupa.

− Mas ficou tão legal em você! – ele corria em volta de mim, agitando sua espada de plástico e segurando seu chapéu para não cair.

− É – suspirei – eu sei. Mas a menos que você me carregue, vai ser difícil. – Ele parou de correr.

− Mas... Se você colocar outra nós não vamos combinar.  – Pareceu tão triste que quase considerei a ideia de ir rolando até a festa. Quase.

− Claro que vamos! Me deixe pensar... – Sherlock ficou me encarando, esperando por uma ideia. – Já sei! Mas antes vire para lá, preciso tirar essa fantasia. – Pegou o chapéu, colocou no rosto e virou.

Me livrei daquela fantasia o mais rápido que pude, e me enrolei no cobertor que estava em cima da minha cama.

− Já volto! – Avisei e sai correndo porta a fora, direto para o quarto da minha mãe. Fechei a porta atrás de mim, e ainda enrolada no cobertor, fui vasculhar as roupas dela.

Para minha sorte minha mãe não era muito maior do que eu, então peguei uma calça preta dela que encontrei, seu sobretudo vermelho (que ainda era meio grande para mim, mas serviria), um lenço também vermelho que achei escondido no fundo da gaveta de meias e um cinto com uma fivela grande. Me vesti e olhei no espelho. Ainda faltava alguma coisa.

Corri de volta para meu quarto e encontrei Sherlock pulando em minha cama, lutando com seus inimigos. Ignorei e fui direto para meu armário.

− Achei! – Não usava aquela camisa branca a muito tempo, e seria perfeita. Peguei também minha bota preta e terminei de me arrumar (Sherlock, vira para lá!)

− Já posso olhar agora? – ele perguntou, curioso.

− Pode. – concordei, ainda me olhando no espelho.

− Do que você está fantasiada?

Não era óbvio?

− Pirata!

− Hm... – Ficou olhando por um tempo.

− O que foi?

− Toma. – Ele tirou o chapéu e o tapa olho, e me entregou o último.

− Tem certeza?

− Sim. Eu já tenho o chapéu.

Coloquei o tapa olho e agora sim: perfeito.

− Vamos? – Sherlock perguntou.

− Vamos.

E saímos, dando de cara com Mycroft, fantasiado com uma roupa engraçada, que envolvia uma peruca branca, que nos acompanhou até a escola.