Estava revirando o álbum de fotos de família um dia desses, olhando para cada foto com nostalgia, alegria e constrangimento, tudo ao mesmo tempo, e percebi o quanto tempo perdemos com coisas fúteis como... hm, talvez tudo. De um brinquedo minúsculo que não emprestamos pra ninguém à lugares que você nunca deixa uma pessoa sequer ficar. Nós praticamente vivemos para futilidades e coisas que não nos farão crescer de forma decente. Mas, por outro lado, eu ainda não sei explicar que, se não fosse pela coisas fúteis, eu não formaria minha opinião sobre tal assunto com tanta clareza.

O quarto estava uma zona e para variar Helena estava lá, rindo descontroladamente com as minhas reações vendo cada foto daquele álbum velho. Ela disse que me ajudaria a arrumar o quarto com a condição de ver um álbum de fotos específico que estava na minha estante de livros, e assim aconteceu. A foto da vez era uma criança prestes a jogar um brinquedo — que não reconheço exatamente o que era — em outra criança, que chorava. Os braços pequenos tentavam bloquear a prévia possibilidade daquele brinquedo bater no rosto. A criança que chorava era eu. Acho que já me acostumei de ser a criança medrosa e confusa de sempre. 

Helena debruçou na cama olhando atenciosamente para o álbum em minhas mãos, enquanto eu estava sentado no chão e encostado na cama. Meu cabelo estava um pouco comprido, então ela aproveitou o momento de tédio e ficou mexendo-no enquanto se divertia vendo tal fotos vergonhosas. 

Troquei de foto, a próxima era de outra criança e eu, brincando num parque perto de casa — essa que morei até a fase adulta —, o balanço era de madeira e eu parecia muito feliz! Ela parou de mexer no meu cabelo e eu estranhei não ter nenhum comentário maldoso dela nessa foto em especial. Até que virei e olhei pra ela. Ela tomou o álbum das minhas mãos para ver mais de perto, arregalou os olhos de forma engraçada e começou a ter um ataque de riso.

— Espera, essa sou eu! 

— Ah, para.