Atendimento #093: Gestor

Quem não têm aquele cagaço de ver seu chefe se aproximando? Você pode não estar fazendo nada, sempre os orifícios dão aquela travada. Já chegou a se perguntar por que a razão disso? Em geral é a falta de convívio que gera a estranheza. Veja nossos herois, eles não têm medo de Igor, por mais que este pareça que sempre vai assaltá-los a qualquer segundo; ou mesmo de Catherine que, mesmo sorridente, dá a impressão que vai sacar uma arma e te dar um tiro na sua testa a qualquer segundo.

— O que? — Ezequiel teve de parar a ligação em que se encontrava para assimilar o que seu supervisor acabara de falar.

— Exatamente, só não pode contar para ninguém. Também é parte do teste. —  Igor tomava cuidado ao se apoiar na divisória remendada pelo anão do helpdesk. — Se tudo der certo eles podem te promover lá na frente.

Igor falara a nosso operador que um gestor viria para avaliá-lo naquele dia. Alastor recomendara Ezequiel para assumir um setor e dependendo de seu resultado isso iria acontecer.

— Quando ele vem?

— Daqui a uns cinco minutos ele já chega ai.

— Você vai ficar comigo não é? —  A pergunta do operador saiu dúbia, mas ele só se tocou quando o sorriso mostrando mais gengiva que dentes de Igor surgiu.  — Não desse jeito seu corno!

— Não posso ficar aqui, ele mandou que eu fosse almoçar pra não ter chance de te ajudar. Aliás… — Foi até a mesa de Amanda e indicou que ela ficasse de backup enquanto ele ia comer. retornou. — Espero que dê tudo certo ai moleque, se não der… problema é seu, eu fiz minha parte. — Apertou-lhe o ombro e foi para o restaurante da empresa.

Cinco minutos mais tarde o gestor apareceu. Caminhando rápido e sério ele passou pelos corredores, os atendentes arrumavam a postura  a medida que o viam chegando. Ele por sua vez adorava se sentir temido, mas quando passou por Catherine fez questão de beijar-lhe a mão.

— Você é o Ezequiel não é?  — O gestor completamente no terno e gravata chamou a atenção de nosso heroi que levantou-se de pronto.

— Sou sim e você seria?

— Sui Tang, sou o gestor do setor brasileiro da empresa.  — Cumprimentaram-se com um aperto de mãos. — Vamos começar o teste?

Ezequiel já estava em chamada e como não tinha mais nenhuma cadeira vaga Sui apenas encostrou-se na divisória das mesas. O atendente mesmo focado olhou para o lugar onde os remendos haviam sido feitos, notou que o primeiro deles na parte de baixo começava se soltar.

— Claro senhora é só me informar o CEP da localidade. — Ezequiel atendia uma cliente aparentemente simpática que apenas queria levar seu produto em uma autorizada.

— Os cliente são tranquilos na sua maioria?  — O gestor Tang fez um movimento que arrebentou a primeira tira de fita adesiva do remendo.

— É… bom. — O atendente começou a suar frio, uma contagem regressiva implícita surgiu em sua mente. — Na maioria eles são confusos. — A segunda fita começava a descolar.

Enquanto o atendente foi reunindo as informações em seu sistema para passar a cliente, Sui perguntava algumas coisa sobre a empresa, seu andamento e as metas. Era um entrevista diferente pois incluía uma avaliação pratica em tempo real.

— Ezequiel eu queria saber se esse problema tem como ser resolvido por aqui, por que se der me polpa o trabalho de ter de levar na autorizada.

— Claro senhora vamos ver. — Ezequiel estava quase para chorar de tanta preocupação, a quinta fita já estava soltinha e se ele não encerrasse logo aquela chamada...

Naquele instante o avaliador e o avaliado viram Amanda correndo que nem uma maluca em direção a cantina da empresa. Tang reparou que Igor já voltara a seu lugar e fez um aceno em cumprimento.

— A tela dele que está com problema não é? — Ezequiel respirou mais tranquilo, o problema do produto da cliente era físico, portanto ela teria de ir a autorizada. A ligação e estava no fim. — Senhora só um momento por gentileza.

Amanda retomou seu lugar com alguma coisa nas mãos, Ezequiel viu, o gestor engomadinho não. Ezequiel tentava ser rápido mas o sistema não colaborava, Tang via que o problema técnico atrasava o atendente e por isso focou sua atenção no que Ezequiel escrevia e dizia sobre a dificuldade. Enquanto o diálogo se estendeu Sui tang parou de se recostar.

— Praga não! — Amanda elevou o tom na mesa a esquerda.

— O que aconteceu? — O gestor iria se virar, mas o atendente o puxou de volta para mostrar-lhe algo trivial, apenas para chamar-lhe atenção.  — O sistema está horrivel, vou passar isso para a galera da programação.

— Amanda, pelo amor de todos os Deuses, mantém o tom! — O atendente repetia isso para sí mesmo em seu âmago.

— Ezequiel… — Quem falava era a cliente. — Se eu te disser que eu tomei seu tempo a toa você vai ficar muito bravo comigo? — O atendente sem nem mesmo escutar qual era o problema já cerrou os punhos.

— O que foi senhora? — Ele tremia de ódio.

— É que meu produto não é da marca de vocês. — Anunciou a mulher dando uma risada envergonhada.

— Tudo bem senhora. —  Não, não estava. —  Só me faz um favor...

Antes que ele anunciasse o provável insulto ouviu-se novamente a voz de amanda se elevar.

— Não acredito no que esse filho da...

Desta vez o gestor se apoiou na divisória bruscamente para ver o que a garota fazia, porém assim que o fez a mesma cedeu o fazendo bater a cabeça e cair desacordado no chão. Ezequiel viu seu avaliador jogado que nem uma marionete no chão, porém o que chamava atenção de todos era Amanda que estava em uma mesa completamente suja de uma pasta marrom escura e mole.

— Isso é chocolate! Não pensei em nada que não seja chocolate! — Provou um pouco da pasta marrom. — CHO-CO-LA-TE VIRAM?

Igor veio correndo para ajudar o subordinado que tentava acudir o gestor, juntos o levaram para um sala reservada onde puderam esperar que ele despertasse. Sui Tang ficou dormindo por alguns minutos, quando acordou deparou-se com o supervisor e seu subrdinado.

— O que aconteceu? — O gestor ainda sentia-se tonto pela queda. — Eu bati a cabeça?

— Você passou mal.  — Falou Igor sério, Ezequiel apenas acenava positivo.

Do lado de fora da sala reservada o anão corria para ajustar a peça quebrada e as faxineiras se apressavam para limpar a mesa de Amanda antes que o superior geral retornasse.

— Eu apaguei mesmo? — A pergunta fora para nosso herói.

— Sim. — Respondeu ele balançando a cabeça rapidamente, parecia esta tendo um mini ataque cardíaco. — Tinha terminado a avaliação, você até tinha dito que tava tudo certo que eu fui perfeito maravilhoso. Falou até em promoção. Ai você caiu do nada. — Mentiu ele enquanto sua mente agradecia aos céus pela incompetência do anão da manutenção.