Atendimento #005: Boteco

Toda chamada deve ser registrada independente do que seja tratado. Já percebeu que em toda chamada um protocolo é gerado? Exatamente, independente do setor, da empresa ou do que seja abordado em linha esse fator sempre está presente. Muitos insatisfeitos com atendimentos buscam meios judiciais, estes fazem uso do número para localizar a chamada e usá-la como prova contra a empresa que ele está processando.

Em alguns lugares esse código identificador é gerado automaticamente, porém, na empresa onde Ezequiel trabalha esse procedimento é manual e deve ser realizado no inicio da chamada.

— Bom dia o senhor fala com Amanda Lopes como posso ajudar? — Ezequiel não era o único a atender na operação, ao seu lado uma garota de cabelos raspados nas laterais mascava chiclete e balançava os pés.

— Bom dia, meu nome é Agnaldo Cerra. Estou com um problema no meu produto.

— Certo senhor, — Estourou a bolha de chiclete.— eu posso auxiliá-lo só vai ser necessário que me informe o CPF do titular da compra.

— Eu não vou passar meu CPF pra você, ficou louca?— O cliente parecia revoltado.

         O problema de não ter a informação do documento seria não localizar o registro do titular e, posteriormente, registrar a ligação em sistema e o que nela foi feita. Amanda não poderia permitir aquilo, seu supervisor era “brother” , mas não era bom abusar da sorte.

         — Senhor Agnaldo eu preciso dessa informação para poder ajudar. — Reforçou.

         — Não vou passar meu documento pelo telefone, não sei quem é você, não te conheço e nem sei o que você vai fazer com essa informação. — O cliente era resistente em seu medo.

         — Olha, — Estourou outra bolha da goma. — o senhor está falando com uma empresa séria e muito conhecida. Por que o senhor acha que suas informações não vão estar seguras? — Pensou rapidamente em uma solução.— Eu só vou usar os números do CPF do senhor em meu sistema para achar seu registro e começar a colocar os procedimentos feitos em linha, só.

         — Não, não vou passar. — O cliente estava irredutível. — Como vou saber que você realmente é funcionária da empresa?

Amanda desligou seu audio. Respirou fundo. Tirou o chiclete da boca e grudou no monitor.

         — O senhor é cego ou o que? Quem entrou em contato conosco foi o senhor, por acaso esqueceu os números que apertou no telefone? — A garota continuava mais agressiva. Seu supervisor parara atrás dela observando a situação.

         — Como eu vou saber se aí não é um boteco? — A dúvida não fazia sentido algum.

         — O senhor ligou para uma central de suporte e não pra um boteco. Se o senhor busca suporte em um bar ai já não é problema meu. — Igor encostou-se ao ombro da garota. — Estou só tentando fazer meu trabalho, se não passar o CPF não vou poder ajudar. — A ligação foi encerrada pelo cliente. — É um bosta mesmo.

         O supervisor apertou o ombro de Amanda permanecendo em silêncio alguns segundos, aproximou-se do ouvido da garota.

         — É isso aí, quem manda aqui é você. — Levantou-se. — Qualquer coisa gritaê.