Do outro lado da linha escrita por LcsMestre


Capítulo 30
Atendimento #030: Olha o tamanho


Notas iniciais do capítulo

Os atendentes têm vidas fora dos telefones e longe dos headphones. Mas como esse é um livro de comédia não trataremos muito de suas vidas, okay?
Mas algumas coisas ficam claras mesmo sem querer...

Aproveite e ria um pouco deste atendimento.
PS: Atendimentos adicionados todos os dias as 14:00..



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Atendimento #030: Olha o tamanho

Se existem dias onde o atendente faz de tudo para ajudar seu cliente, os demais ele simplesmente trabalha, cumpre horário e vai para casa. Nosso atendente favorito por muitas vezes era considerado grosso ou mesmo sem empatia com os clientes. Mas convenhamos que ele está em um lugar pouco favorável a alegria.

— Que é que você têm hoje? — Amanda o viu encostado a divisória da mesa quase que desfalecendo de sono. — A esposa acabou contigo ein.

Ezequiel voltou-se ao encosto da cadeira, seus olhos a encararam como se quisesse enforcá-la com arame farpado.

— Engraçadinha você, — a voz saiu pesada. — sabe bem que foi exatamente isso que aconteceu.

— E olha que eu acordo antes de você! — Aproximou-se e deu-lhe um peteleco na testa para acordar. O telefone tocou, — Atende isso aí se não você vai dormir.

A esposa de Ezequiel retirou o telefone do mudo o forçando a trabalhar.

— Ezequiel bom dia com quem eu falo? — Bocejou transparecendo o sono de uma noite mal dormida.

— Olha só, eu sou Isaias Alastor, primeiramente quero avisar que eu sei onde tu trabalha beleza? — O cliente respirava o carioquês. — Não sei se ele tá por aí, mas meu parceiro, não melhor dizendo, meu irmão trabalha aí. Acho que ele é teu encarregado né não?

O atendente levou a mão a testa e apertou os lábios. Se seu supervisor era como era, imagine seu irmão?

— Sim senhor Alastor, mas ele não está aqui no momento. — Mentiu vendo o supervisor em sua mesa observando os indicadores de qualidade. — Sendo assim como eu posso ajudar?

— Tu tem uma voz meio estranha, mas beleza.  — Pigarreou.  — Negocio é o seguinte ô criança, to com minha TV meio zuada. A cor desse troço tá meio louca.

— Entendi, o senhor verificou as configurações de balanço?

— Balanço?  Tem essa coisa aqui não filhão. Sabe quando você ta vendo aqueles canais mais escuros e a luz fica parecendo o desfile da portela?

O atendente parou para tentar imaginar a cena, porém era difícil para ele formar o cenário tendo em vista que nunca viu um desfile de carnaval na vida. O máximo que ele conseguiu ver foi alguns pontos coloridos presos na tela.

— Entendi, o problema são os pixels da tela que estão travados em cores diferentes.  — Nosso herói conseguiu leva a abstração a um nível onde as coisas fizeram sentido.

— Então o que eu quero é uma televisão nova.  — O irmão de Igor tinha uma marra tão grande que nem cabia nele.  — Eu to ligado que se meu irmão quiser não dá ruim.

— Não senhor, não é assim que as coisas funcionam. — Já desperto e de saco cheio do tom de Isaías, Ezequiel posicionou de maneira dura e firme. — Independente de quem você seja eu não posso abrir trocas para esse tipo de defeito. Aliás senhor Alastor, pouco importa que seu irmão é o supervisor, aqui você é um cliente como todos os outros.

Os ânimos na chamada se exaltaram, o cliente já o teria fatiado em mil pedaços se estivemssem cara a cara, já o atendente engolia em seco os xingamentos lançados. Sua vontade era a de criar uma máquina do tempo e viajar para o futuro só para insultar até a quadragésima decendência daquele homem.

Ezequiel ergueu a mão chamando por seu superior. Igor logo veio em sua direção.

— Fala molecote. — Falou passando a palma da mão sobre os cabelos do atendente.

— Eu estou com um cliente aqui bem peculiar, — apontou para o sobrenome do homem em linha. —  ele quer que eu troque o produto dele por um novo a qualquer custo.

— Se não é meu irmãozinho ramelento...—  Igor coçou o queixo analizando a situação. — Vamos fazer assim, essa ligação vai desaparecer assim que você terminar de falar com ele, então faz o que você quiser.

— Mas você é o supervisor, seu irmão tá falando bosta pra mim aqui e você manda eu me virar?

—  Eu não falei nada disso, volta umas cinco linhas e lê de novo o que eu  disse...— Igor esperou você e Ezequiel lerem novamente.— Viram? eu disse: “faz o que você quiser”

Amanda mesmo em atendimento bisbilhotava a mesa de seu colega e marido. Isaias já tinha ligado antes e em uma dessas ocasiões ela o atendera.

— Posso mesmo acabar com ele? —  Igor balançou a cabeça positivo. —  Se eu me lascar a culpa é sua, você tá vendo —  apontou para Amanda tornando-a testemunha. — qualquer coisa você vai no tribunal!

— Ou meu irmão chegou ai ou não?

Ezequiel tirou a chamada do mudo e logo em seguida socou o ar imitando um boxeador.

— Sim ele está.

—  Então chama ele aí quero tratar isso direto com ele e não com subalternos.

Estalou o pescoço.

—  Então, o que acontece é o seguinte, Igor me deu plenos poderes de supervisor para tratar esse caso, em outras palavras eu repondo como supervisor senhor.

— Olha essa, mas tem marra ein. O que você disse?

— Eu gaguejei? — Rebateu o atendente em um primeiro golpe.

— Mas que... Você não têm medo de morrer não moleque? Sabe onde eu estou? Sabe com quem eu estou? Te liga pivete eu sei até em que andar tu tá agora! — A ira dele chegava a ser engraçada a medida que seu irmão revirava os olhos e fazia movimentos afetados. — Vacila que eu te passo rapá.

— Aham... entendo senhor. — Ezequiel passou a fazer movimentos com a mão como se ela fosse um boneco de meias.

E os insultos continuaram por mais alguns minutos até Isaías perder o fôlego e precisar respira bastante. Nosso herói munido de toda a confiança e poderes temporários retornou a chamada.

— Compreendo perfeitamente a insatisfação do senhor, mas meu amigo Alastor vamos fazer um experimento, está bem? — O cliente não respondeu, porém escutava atentamente as palavras. — Levante sua mão esquerda acima do ombro.

Do outro lado da linha Isaías erguia o braço a contra gosto. Não conseguiu achar sentido para aquilo, mas sua raiva era tamanha que já não importava mais.

— Isso agora faça o mesmo com o outro braço. — Logo ouviu o barulho cliente prendendo o telefone junto ao ombro. — isso perfeito, agora aumente a distância deles só um pouco.

— Para que isso serve moleque.

— O senhor está vendo essa distância entre suas mãos?

— Eu tô, por que? — A raiva começava a crescer novamente nele.

— Então… este é o tamanho do FODA-SE que eu to mandando para tudo o que você disse. Beleza? Você não está no direito de reclamar e muito menos de me insultar. Eu pago meus impostos, tenho meus defeitos e nem por isso preciso humilhar os outros. Casei recentemente e não vai ser você que vai acabar com minha alegria está bem? Então me faz um favor e vai chupar cocô para ver se vira brigadeiro!

Com uma raiva controlada Ezequiel pressionou o botão drop, encerrando assim a chamada.

Silencio na equipe. Amanda o olhou de boca aberta tentando. Alguns trocaram olhares, outros buscavam ver o que Igor faria, este sorria enquanto seus olhos marejavam.

— Meu herói! — Gritou dando um abraço no atendente.


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Notas finais do capítulo

Parou para conceber que estamos a um mês juntos? Esse é um belo inicio de relacionamento, não?

Já que estamos mais íntimos deixe eu pergunta...gostou desse atendimento? Não? Então vamos fazer um experimento...erga seus braços...

Vou sempre repetir isso:
SOU MOVIDO A COMENTÁRIOS SIM! GOSTO DE SABER SE ESTÃO GOSTANDO OU NÃO U.U
Se você riu com esse amontoado de palavras eu fico feliz, esse era meu objetivo bjs e até amanhã :D



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