Atendimento #178: Vassoura

— Alo? Você ainda está ai?

O garoto ficou paralisado de medo pela voz empostada e grossa que tima surgido na ligação. Ao contrário do que ele dissera ele não estava em perigo, estava em seu quarto apenas de cueca.

Os demais atendentes, alguns até de outro setores, como era o caso da Emily a garota estressada do atendimento #059, vieram ver o que eles estavam fazendo e porque diabos uma roupa de dois metros estava piscando atrás deles.

— Eu, eu estou.

— Ótimo temos o seu endereço para poder encaminhar algumas viaturas. Pode me dizer, de uma escala de um a dez, onde dez quer dizer “fudeu de vez” e um quer dizer “acho que vai dar bosta” qual seu nível de perigo?

Rapidamente Ezequiel colocou a chamada no mudo para que as risadas dos colegas não chegassem até o garoto na chamada.

— Por que ele tá falando como se fosse da policia? — A atendente das tatuagens floridas no braço se divertia enquanto tomava seu calmante para não estourar como das outras vezes.

— Por que meu filho ligou pra vocês pra passar um trote como se tivesse em perigo. — Amanda colocou a chamada do pai do garoto no viva voz.

— Acho que é o oito define bem a minha situação aqui. — Surpreendentemente o garoto continuou com a farsa como se nada tivesse acontecido, ele fingia que suas calças ainda estavam completamente limpas.— Acho que posso ficar escondido até ela sair daqui.

— Então quer dizer que você galhou sua namorada é isso mesmo?

— Mentira! Ele nem namorada têm, é um virjão! — O cliente na mesa ao lado fez todos os operadores se virarem para Amanda que tentava de maneira sorrateira limpar o nariz com as unhas.

O grupo de quase vinte pessoas encararam a garota em condenação. Se fosse outra pessoa ela teria enfiado a cara no forro do teto, mas como estamos falando do macho da relação…

— Vão se ferrar seus hipócritas! — Esbravejou ela tapando uma das narinas espirrando em cima de quem estava mais perto.

Ancelmo deslizou para trás da roupa e rapidamente entro na mesma.

— Agora estou seguro e pronto para derrotar monstro grávido da catota!

Ezequiel fez o sinal de silêncio para que ele pudesse prosseguir com o contra ataque ao cliente.

— Entendi senhor, estou mandando dezoito unidades para a sua residência, o previsto para  chegada é de cinco minutos.

Percebendo que ele falava sério o rapaz começou a dar sinais de arrependimento, enquanto isso seus fãs se divertiam horrores na internet, estes que já tinham passado dos cem mil simultâneos.

— Não precisa eu acho que já está tudo bem, eu até liguei errado. Acho que eu tinha ligado para o suporte técnico de uma empresa e o rapaz me atendeu e passou pa-para o senhor. — Seu medo era tão divertido para os atendentes que muitos nem conseguiam se conter e retornaram paras suas mesas com lágrimas nos olhos de tanto rir.

— Tarde de mais rapaz, fique imóvel onde está, se você tentar sair de casa sua vida pode correr riscos. PERMANEÇA AI! — Falou Ezequiel elevando a voz tal qual um demônio zangado.

— Ela não está mais aqui moço, sério mesmo. Pode mandar seus homens voltarem, eu vou trancar as coisas aqui em casa.

— Ta tudo bem mesmo jovem?

— Tá sim, eu até já sai de trás da cômoda que eu estava. — O cliente sentiu que tinha conseguido dar a volta por cima da enrascada que ele mesmo tinha entrado.

— Tá pronto chefe? — Ezequiel falou para o telefone de sua esposa que tinha deixado a P.A para travar uma batalha de muco e espadas com Ancelmo.

— Pode mandar a qualquer instante, eu to pronto.

Ezequiel retornou a sua chamada tirando-a do mudo.

— Senhor se está tudo bem mesmo, me deixe ouvir a porta da casa sendo aberta por gentileza.

E assim o garoto fez, entretanto, como estava dentro do seu próprio quarto, a única porta era a de saída.

— Pronto está tudo- — ele parou assim que viu  seu pai do outro lado da porta passando vaselina no cabo da vassoura da casa.