Atendimento #163: Bajulação

Todos nós conhecemos pessoas que gostam de puxar o saco de outras. Subir de cargo, deixar de tomar uma multa, receber descontos em prostíbulos, enfim…

Kauã se tornara um mestre na arte de bajular os outros, suas habilidades eram tamanhas que no final do aviso prévio de Igor ele assumiu um relacionamento com o gestor geral da empresa.

— Tá zoeira né?

Ezequiel questionava o novo supervisor cara a cara. Este queria que a comemoração se encerrasse naquele instante por isso mandara todos retornarem aos seus postos. Nosso bailarino das chamada não tinha nenhum respeito por Kauã e não era ali que começaria a ter.

— Não to não, agora vai sentar de uma vez.

O rapaz engomado sorria petulante para nosso herói. Ele mal tinha chegado ao cargo e já estava impondo suas vontades para a operação como se fosse um ditador. Amanda se aproximou para pegar um salgado, todos os seus copos descartáveis já estavam vazios.

— Licença sua cadela. — Falou ela empurrando Ezequiel e começando a encher os copos.

— Você tá surda por acaso? — Kauã a tocou no ombro e fez força para que ela virasse em sua direção, Amanda, no entanto, sacou uma lâmina do bolso e aproximou do pescoço do novo encarregado.— Você tá afim de ser demitida por acaso?

— E você tá fim de ter um buraco novo no seu corpo? — enquanto ela enchia um copinho aproximava a faca da carótida de Kauã. — Toma cuidado comigo sua piranha, palavras doem...— Desceu a faca cortando os botões da camiseta do encarregado. — Mas não tanto quanto uma lâmina serrilhada…

Ezequiel fez uma cara de macho alfa, mas essa se desfez quando sua esposa deu-lhe uma apertada no traseiro. Kauã foi acanhado para o banheiro para trocar de roupa já que a sua mais arecia a de um dançarino de disco dance.

Mute pressionado Ezequiel retornou a chamada que estava.

— Desculpa a demora senhora Dávila, eu estava recebendo alguns comunicados da supervisão. — Com os salgados posicionados ele comia entre um mute e outro.
— Eu espero quanto tempo você julgar necessário querido. Só precisa me dizer quando se sentir pronto para continur me atendendo.

Cerrando os olhos tal qual um míope tentando enxergar as letras de rodapé, Ezequiel sentia que algo não estava cheirando bem. No começo ele achou que fosse o cliente mas logo se lembrou que o telefone não passava aromas e que seu colega da mesa ao lado, o atendente adestrador de clientes, tinha começado uma dieta a base de proteínas de ovo.

— Mano do céu.

— Descupa aê cara. To treinando pra ficar grande. — Respondeu Ancelmo envergonhado com o cheiro que produzira.

Mesmo com o cheiro podre nosso protagonista sabia que a cliente tinha algo de podre.

— Tá senhora voltei aqui pra atender a senhora, fazer o que né?

— Como assim fazer o que? Por que alguem tão competente e com uma voz tão atraente pode estar sem disposição para trabalhar.

Ficando vermelho igual pimenta Ezequiel sentiu-se constrangido pela cliente. Ele nem se quer tinha acessado o registro dela e já estava sendo cantado.

— Lâmina serrilhada. — ouviu nosso herói em seu ouvido direito. Amanda passou tranquilamente pela sua mesa.

— Senhora fala o seu cpf pra eu registrar essa chamada por favor;

— A...por que não pode me ajudar aqui… eu preciso de você. Deixa essa história de CPF pra lá, eu só preciso que você me ajude com as senhas dos meus canais de televisão paga.

Em um lampejo de realidade Ezequiel lembrou-se que conseguiria encontar o registro da cliente apenas pelo seu telefone. Isso mesmo, se lembre que seu numero sempre irá aparecer para os atendentes e eles podem, e vão usar isso como arma,

Registro aberto, cliente desmascarada.
— Nossa que coisa mais estranha senhora, e acho que encontrei um erro no meu sistema.

— O que? Não isso é impossível você é alguém que não pode ter cometido erros, isso certamente é erro de outra pessoa!  Têm algum número que eu possa ligar para alguem comprovando que o erro não é seu?
— Nossa senhora, mas eu nem disse  que é o erro…— Ezequiel prepara a armadilha de maneira ardilosa, sabia como e iria pegar a cliente.

— Não importa, alguém com seu caráter e habilidades não pode ser responsabilizado pelos erros dos outros. Por isso que eu falei.

— Eu concordo senhora! — Respondeu ele com um falso entusiasmo. — Por isso que eu não vou passar senha nenhuma para senhora, se eu fizesse estaria indo contra esse caráter puro não é? — A cliente Dávila ficou em silêncio. — A minha cara...do que adiantou tanta bajulação? Eu não vou liberar sua Tv a gato roubada do cliente Jeferson…
A cliente encerrou o contato indignada com a esperteza do atendente.