Do outro lado da linha escrita por LcsMestre


Capítulo 160
Atendimento #160: A vingança suprema


Notas iniciais do capítulo

Antes de mais nada coloque esse video pra rodar em loop enquanto você lê
https://www.youtube.com/watch?v=FDDeCaP_HGI
Se você soubesse que hoje você vai ser demitido o que faria?
Aproveite e ria um pouco deste atendimento.
PS: Atendimentos adicionados todos os dias as 14:00(ou no caso 14:05 sei lá..)



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Atendimento #160: A vingança suprema

 

Quem nunca teve vontade de descontar toda aquela raiva acumulada por anos? Sim eu sei o que você sente, sei que ela  está aí guardada, parece uma granada daquelas bem pesadas e destrutivas, você só não lança essa fúria por que sabe a treta que vai ser causada... Quantas vezes você já não teve que ficar quieto para preservar seu emprego? Atendentes fazem isso o tempo todo e você já deve ter reparado; clientes insultando, humilhando, bancando os retardados, enfim. Claro que Igor não ligava para as consequências, por ele sua demissão já teria acontecido a muito tempo.

— Baixa esse tom comigo maluco...tu sabe o que eu vou fazer, tá afim de entrar no meio da bagunça também? — Igor falava com Isaías Alastor, seu irmão.

— De jeito nenhum irmãozinho, só quero saber se têm como deixar uns esquemas ai para mim antes de tu sair. — O irmão de Alastor nunca deixava uma oportunidade de se dar bem passar. Daquela vez queria que seu irmão lhe dissesse as senhas de acesso na central, assim ele poderia desviar produtos para ele.

— Claro que não seu porcaria, se eu já tô tomando cuidado pra não deixar rastros... — Fez um muxoxo. — Tu envergonha a memória da nossa mãe, nunca vai tomar jeito.

Isaías refletiu um pouco sobre o que seu irmão acabara de falar.

— E tu? Vai sair só pra gastar a herança com tua mulher né não?

— Que? Não rapá! A mãe morreu e deixou a herança pra nois dois por um motivo. Ela queria que fizéssemos o que mais gostássemos da vida.

— E eu tô fazendo. — Isaías não havia mudado em nada sua postura desde que sua mãe falecera no mês anterior, continuava a mandar os moleques trazerem produtos para desmanche como de costume e vendia as peças.

O ex encarregado já tinha percebido que Amanda o observava com bastante curiosidade. Colocou no mute.

— Sei que você quer saber...— Ele a encarou com canto de olho.— Atendimento #121, o Ezequiel falou uma porrada de besteira fora do mute, se lembra? — Sorriu de lado para a garota. — Ninguém fala aquilo para os diretores da empresa e sai impune.

— Não… não foi por isso que você pediu demissão...— Amanda apertou os lábios em tristeza. Ela entendeu naquele momento que o supervisor havia assumido a culpa do ocorrido evitando assim a demissão dele. — Mas agora temos grana suficiente seu burro, eu só tô trabalhando ainda aqui por que eu não quero ser uma grávida chata que só engorda em casa como se fosse uma leitoa preguiçosa. E a minha mocinha só trabalha aqui por que ele gosta de se sentir útil. Você não precisava ter assumido a culpa por ele.

— Pois é, — Igor organizava os cadernos recolhidos com os supervisores de todos os setores. — Mas se preocupa não moleca, o pai aqui já têm um negocio esperando por ele, e eu só tenho de agradecer a mamãe.

— E pra que caceta é esses cadernos afinal? — Indagou ela confusa.

Cantarolando calmamente pelos corredores, Catherine se aproximou de Igor.

Risin' up, back on the street

Did my time, took my chances

Went the distance now I'm back on my feet

Just a man and his will to survive

 

A mafiosa sabia de tudo, mas que isso, ela fazia parte do plano, por essa razão que sorrateiramente ela entregou-lhe uma chave aparentemente nova.

— Relaxa, tu já vai ver. — Pressionou o mute novamente retornando a chamada.— Isaias tenho ainda muito trabalho por aqui, converso com tu em casa.
— Se eu fosse tu não faria isso cara… — Ao fundo da chamada de Isaias o rádio soava a canção inspiradora:

 

So many times it happens too fast
You trade your passion for glory
Don't lose your grip on the dreams of the past
You must fight just to keep them alive


Igor encerrou a chamada bruscamente com o drop, mas devido a grande fila de clientes outra ligação surgiu.

— Espera aí chefe.— Falou ele colocando no mute.
— Esperar? Como assim? Tô a meia hora aqui!

— Pau no seu C# — Falou ele tirando do mute e em seguida pressionando o drop. A música já estava embrenhada em seu cérebro e nada mais poderia retirá-la dali:

It's the eye of the tiger

It's the thrill of the fight

Rising up to the challenge of our rival

And the last known survivor

Stalks his prey in the night

And he's watching us all

With the eye of the tiger


E um novo cliente surgiu em meio a sua cantoria interna.

— Bom dia, eu queria pedir um suporte para uma televisão, é que minha esposa que está viajando—

— Espera aê chefe. — O ex encarregado procurava seus cigarros na maleta, mas não conseguia se concentrar na busca com os clientes ligando um atrás do outro.

— Não, só deixa eu te contar.

— Deixo sim....— Pressionou o drop.— Mas antes liga de novo.

As chamadas surgiam e caíam a uma velocidade nunca antes vista, a fila de mais de cinquenta pessoas logo caiu para menos de dez. Enquanto isso Alastor ajeitava-se para partir.

 

Face to face, out in the heat

Hangin' tough, stayin' hungry

They stack the odds still we take to the street

For the kill, with the skill to survive

 

A camisa vermelha foi coberta por um blazer branco que ele deixara sobre a mesa. Acendeu um cigarro fazendo a fumaça se espalhar.
— Se ninguém me atender agora eu vou no PROCOM!— Soou uma voz feminina extremamente indignada.
— É mesmo é — Falou ele dando uma tragada, —  Por que dona? Quebrou alguma coisa?

— Claro que quebrou, meu porta retratos digital trincou inteiro.

— Isso poderia ter sido evitado se senhora não tivesse colocado foto sua pelada. — Falou ele passando um dos braços no blazer. — Agora se me da licença eu tenho umas coisas pra fazer.

— Você está morto seu.— A cliente concluiu a frase, porém Alastor não estava mais com seu ouvido no head.

— Psiu! — Alastor estalou os dedos chamando a atenção de Catherine. Assim que ela chegou começou a falar. — Valeu mesmo aí por tudo o que a senhora fez por mim, foi da hora fazer essas missão contigo durante esses anos todos.

— Que nada, você sempre vai ser uma das minhas crianças, Alastor. — Ela arrancou-lhe o cigarro da boca, mas ele acendeu outro em seguida. — Para de tragar essa merda cancerígena.

— Claro… — Igor ajeitou o chapéu branco sobre a cabeça, abriu um sorriso. — Acho melhor vocês duas saírem agora antes que eu comece, aliás, se tiver mais alguma grávida por aí, leva com vocês. Não quero que ninguém que leia isso ache que eu cloquei alguém em perigo. — Seu sorriso era maligno, mas era o aviso final para que as duas deixassem  o andar naquele instante.

Ezequiel, que era o backup no dia, estranhou ao ver sua esposa e Catherine passando pelo meio das operações em direção ao lobby dos elevadores.
— Ei o que aconteceu? —  Ele tentou segui-las, mas Igor o segurou. — Ou, me larga! — Sua postura mudou ao perceber quem o segurara. — O que tá acontecendo?

 

It's the eye of the tiger

It's the thrill of the fight

Rising up to the challenge of our rival

And the last known survivor

Stalks his prey in the night

And he's watching us all

With the eye of the tiger

Cantou Alastor enquanto conduzia Ezequiel para sua mesa.

— O que vai acontecer... — parou apontando para o telefone. — Fica à dica. Isso aqui é um B.O, criança. Essa pessoa aqui tá xingando desde que eu atendi ela agora à pouco. — E realmente estava, a cliente não parava de lançar insultos desde “filho de uma traficante de coxinha” até coisas mais leves como: “sua mãe trafica limão do Paraguai”
— Isso é alguma lição de despedida chefe? — Ezequiel odiava despedidas, preferiria que Igor tivesse partido em silêncio do que em um momento meloso. — Por que se for eu não…

— Cala a boca. — Deu lhe um tapa na cara. Extinguiu o cigarro em uma tragada só. — Sempre que tiver um B.O desse nível, com o cliente te enchendo saco, insultando, humilhando o caceta a quatro, tu simplesmente faz o que tiver de fazer, ou seja resolve o problema. Mas também faça isso. — Mostrou-lhe um dos cadernos.

— O que? — Igor desligou a chamada na cara do cliente e desligou seu registro do telefone. — O que você tá fazendo seu maluco? Ainda não deu seu horário!

Alastor recolheu os pertences e fez um sinal com a cabeça para que Ezequiel o seguisse. Com os cadernos na mão Igor e nosso herói foram para o interior do banheiro, este ficava distante de todos da operação e oculto às câmeras.

— A dona Catherine e tua mulher já devem estar seguras. — Fechou a porta do banheiro masculino.

—  O que você está...— Parou a fala na metade ao ver que Alastor sacara da maleta um pequeno frasco de álcool.— fazendo?

Risin' up, straight to the top

Had the guts, got the glory

Went the distance, now I'm not gonna stop

Just a man and his will to survive

 

— Registre tudo em um caderno, nomes, idades, telefones, e-mails, enfim tudo. — Sua voz saiu ainda no ritmo da canção que recitava à pouco. Alastor lançou os cadernos no cesto de lixo de metal, alguns deles caíram com as páginas entre abertas. Nisto nosso herói viu que as letras eram diferentes. — Depois, quando alguma oportunidade surgir, use essas informações para sua vingança suprema.
Igor despejou o álcool nas folhas dos diversos cadernos, essas logo iam absorvendo o liquido tornando-se úmidas.

— Eu não fui o único que fez isso. Desde que cheguei pedi para todos os supervisores fazerem isso, em segredo é claro. — Entregou a chave que Catherine lhe dera para Ezequiel. Apontou para a esquerda em direção a porta de emergência. — Abre…

— Mas isso vai disparar o alarme de incêndio do prédio! — Para quem não está habituado isso geralmente acontece com as portas que dão para saídas de emergência, sua intenção é avisar que, se ela foi aberta, algo de ruim está acontecendo.

Alastor tragou o cigarro até a metade e o lançou dentro do cesto de lixo cheio de cadernos com informações.

— Então que bom que tá pegando fogo né? — As chamas logo começaram a subir pelo tonel sem escapar. — Agora abre isso logo pivete.

Ezequiel abriu rapidamente a porta de emergência acionando os alarmes do prédio inteiro. Todos os atendentes largaram seus headphones e foram em direção as saídas de emergência, entretanto aquela onde eles estavam permanecia bloqueada para todos os demais exceto eles.

— Bôra. — Igor e Alastor começaram a descer as escadas tranquilamente enquanto a fumaça começava a se espalhar pelo andar.

It's the eye of the tiger

It's the thrill of the fight

Rising up to the challenge of our rival

 

— O que você fez seu maluco do cacete! — Ezequiel pensou por dois segundos.— Aquilas folhas eram…

— Cala a boca e me deixa cantar pivete!— Interferiu Igor ao ser interrompido em sua musica.

 

And the last known survivor

Stalks his prey in the night

And he's watching us all

With the eye of the tiger

 

— Isso mesmo...queima de arquivo. — Tragou o cigarro. Limpou a maçaneta com álcool. — Não vou deixar provas para que nego ache o que eu fiz né?

— E o que você fez?

— O que tu acha? — Sorriu malandramente. — O que você faria se tivesse e-mails, nomes e endereços de pessoas que tu não gosta? — Ainda descendo as escadas eles já ouviam os passos das pessoas dos outros andares. — Nesse exato segundo sites de pornografia homossexual, heterossexual, fetiches, sites de encontros casuais, sites de traição e afins receberam uma quantidade massiva de novos clientes pagantes que ficarão felizes em receber cobranças via correios em suas casa…

Boquiaberto Ezequiel saiu do prédio acompanhado de seu ex chefe. Logo, ambos se encontraram com todos do lado de fora. Amanda, assim que os viu, sacou o que acontecera, entretanto, mais ninguém os notara.

Em outras palavras, nunca descobririam quem era o responsável por aquela confusão.

O burburinho de todos que trabalhavam no andar era claro, ninguém sabia a razão para tamanho alvoroço, ninguém tinha visto fogo ou sentido cheiro de fumaça, mas o alarme era motivo suficiente para a evacuação.

— Mas por que queimar as provas dentro do prédio? — Indagou Ezequiel confuso.

Alastor ajeitou o chapéu, arrumou a maleta e começou a caminhar para longe da multidão sem olhar para trás. Ezequiel o seguiu.

— Mas se todos são clientes ele vão ligar na central buscando tirar satisfação… — sussurrou o rapaz de pele clara.

— Sim…— Parou de andar. Virou-se para o rapaz. — Mas diz pro pai, como vocês vão atender alguém, estando de férias forçadas?

Naquele momento um estalo percorreu todo o andar onde a empresa de nosso heróis se localizava, as janelas se espatifaram em uma chuva de cacos de vidro que refletiam o sol do fim de tarde. A fumaça acionara os sprincles do teto, estes por sua vez molharam tudo no andar. A água gerou inúmeros curtos circuitos que acabaram por inutilizar todos os eletrônicos ali existentes fossem eles computadores, telefones, estabilizadores, filtros de linha, etc.

The eye of the tiger

The eye of the tiger

The eye of the tiger

The eye of the tiger

 

— Filho da put@...— Murmurou Ezequiel.
Alastor saiu repetindo as últimas palavras da música com o dedo médio erguido para nosso herói. Na entrada mais próxima um taxi já o aguardava de portas abertas, em seu interior Paula o esperava sorridente batendo no banco, indicando que ele entrasse. Ele saltou no interior do veículo.

— Continuem firmes, minhas crianças. —  Lançou o cigarro para fora do veículo assim que o mesmo começou a andar.— Continuem mesmo que fique difícil...


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Notas finais do capítulo

O desenvolvimento desse personagem refletiu na minha vida, sim pode parecer estranho, mas é verdade...
Igor alastor não é só um supervisor, ele é alguem que vê potencial nas pessoas as trata com tanta importância que as trata como os filhos que ele nunca poderia ter tido.

Obrigado Alastor!
Vou sempre repetir isso:
SOU MOVIDO A COMENTÁRIOS SIM! GOSTO DE SABER SE ESTÃO GOSTANDO OU NÃO U.U
Se você riu com esse amontoado de palavras eu fico feliz, esse era meu objetivo bjs e até amanhã :D











Igor Alastor ainda é relevante, acreditem...



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