Atendimento #013: Leigo

Sabe o que é pior do que um atendente que não sabe qual procedimento têm de passar para seu cliente? Um cliente que não sabe executar absolutamente nada do que o técnico lhe passa. Sim, isso é bem recorrente se tratando de um serviço que tem como função auxiliar pessoas, porém os atendentes são treinados para lidar com esse tipo de pessoa e por isso, na maioria dos casos, conseguem resolver o problema em linha.

Mas o pior de tudo nem é isso.

O maior problema dos atendentes é com os “técnicos”, aqueles que por terem lido meia dúzia de artigos e tutoriais acreditam que estão aptos a realizar qualquer tarefa.

— Espera, o senhor fez o que? — Ezequiel indagou abismado ao telefone, os procedimentos que ele escutara não eram nada usuais e por isso difíceis de acreditar.

— Eu disse que mergulhei meu celular no álcool para limpar as peças. Mas o problema veio desde antes. — O cliente falava com tanta convicção que chegava a ser incomodo. — Eu sou técnico, eu conheço do procedimentos corretos.

— Percebi senhor, — Ezequiel falava com a mão no rosto em sinal de desapontamento, a burrice do cliente era tamanha que fazia sua cabeça doer. — certo ele estava apresentando problemas na tela é isso?

— Exatamente, uma mancha no visor do meu aparelho. Até aí era tolerável, mas ai foi crescendo e parecendo um monstro.

O atendente mutou a chamada e foi até a sua colega de trabalho Amanda. Ela atendia naquele momento alguém extremamente prestativo e ágil em executar as instruções.

— Agora vire, desligue e aperte o reset. —  Falou Amanda antes de colocar a chamada em silêncio. — Oi jovem como tá o monitor de qualidade? — Perguntou com um sorriso maroto na face.

— Não vejo ele desde o atendimento #009 graças a Deus. Mas não é por isso que eu vim aqui, você conhece bem melhor celulares que eu. —  A garota ficou lixando as unhas da mão esquerda. — O que você acha de um “TÉCNICO” — fez o sinal de aspas com os dedos.— que lava o celular com álcool?

— Nossa, que animal. Serio mesmo? — Ezequiel confirmou com a cabeça. A garota recolheu dois itens de manicure.— Tá vamos lá na sua mesa pra eu te ajudar.

O cliente de Amanda era tão paciente que aceitara aguardar até que a mesma retornasse. Ela, após ler tudo o que seu colega extraíra do cliente, passou a remover o esmalte da unha com um algodão.

— Limpar peças com alcool é tranquilo, mas mergulhar o negocio todo.

— Ligado ainda por cima... —emendou Ezequiel. Amanda parou o movimento dos dedos.

— Afê, tá brincando com a minha cara.

— Quer ouvir? Sem problemas, eu peço para ele confirmar. — O atendente tirou do mudo. — Senhor, agora a pouco o senhor disse que era técnico, pode então por gentileza repetir os procedimentos que feitos?

A ligação em viva voz teve seu volume regulado.

— Eu primeiro deixei o aparelho carregar totalmente e depois eu joguei o produto ligado dentro de uma solução de álcool propanona. A informação que eu tinha era que ele iria desligar e depois de um tempo as impurezas do produto sairiam pelas frestas.

Enquanto o homem falava a garota parou um segundo pegou um de seus itens de manicure. Analisou o que estava escrito.

— Não, têm de ser piada. — apontou para o frasco de acetona em suas mãos, nele estava escrito: “álcool propanona”. Levou a mão ao rosto. — Nossa, vou voltar pra minha mesa antes que eu pegue essa doença.

O cliente não ouvira o que Amanda dissera. Ezequiel já entendendo tudo anunciou.

— Então senhor “técnico”,  vou passar o endereço da autorizada está bem?