Mr. Lecter escrita por Igor Santos


Capítulo 2
II - Ignotus


Notas iniciais do capítulo

➫ Então, apesar da pequena demora e dos poucos reviews (não estou reclamando, mas reviews sempre são bons, não?), está aqui o 2º capítulo de Mr. Lecter!
➫ Boa leitura!



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Wolf Trap, Virginia

8h 

  Will desperta. Seus cachorros latiam e rosnavam alto, alertando-o. Sua camiseta está colada ao corpo e sua testa, orvalhada. Havia se tornado comum acordar suado e desnorteado, ainda perdido em seus devaneios constantes. Somente um banho o despertava por completo, entretanto tinha que averiguar algo antes.

   Se locomoveu lento, cambaleante até a janela da sala. Seus cachorros pulavam de alegria até ele, mas pouco deu atenção. Abriu as persianas e observou lá fora. Em meio àquela imensidão gélida e esbranquiçada, estava o carro de Jack Crawford se aproximando. Quase nunca vinha tão cedo a Wolf Trap, a não ser quando queria algo.

    Will abriu a porta, enfrentando o ar congelante de inverno. Os cães, acostumados com o clima, foram se aventurar pela imensidão alva.

   O carro estacionou. Jack abriu a porta, segurando uma mala cinza. Após, ateou longe o que sobrara de seu cigarro.

   — Desde quando voltou a fumar, Jack? — perguntou Will.

   — Desde quando Bella quase morreu. — disse ressentido — Naquele momento vi que não havia mais sentido ou motivação pra esconder os vícios.

   — Isso soa meio autodestrutivo. — retrucou, sorrindo levemente. — Vamos entrando. Já não sinto mais os dedos do pé.

     Jack entrou e se acomodou no sofá de couro marrom, enquanto Will seguiu até seu quarto. Agarrou um casaco e vestiu uma calça jeans, já que somente agora havia notado que estava apenas com a roupa de baixo.

     Ao voltar, ligou a cafeteria e se sentou, fitando Jack.

     — Você provavelmente já sabe o motivo da minha vinda. Desde que você foi internado, inserimos Hannibal em seu posto. Ele é genial, talvez não tão quanto como você, mas genial. — Jack abriu a maleta que segurava, entregando alguns papéis para Will — Resolvemos alguns casos em sua ausência, mas não é a mesma coisa. Precisamos de você no departamento.

   — Lamento, mas terei que recusar. — Respondeu, sem rodeios. Seu semblante ainda permanecia o mesmo - duro, severo. Entregou os papéis de volta a Jack e se levantou.

    Foi até o balcão, pegou uma xícara e a encheu de café. Bebericou.

    — Você nem ao menos ponderou sobre isso.

    — Jack, você não entende mesmo. — Will acrescentou dois cubos de açúcar. — Talvez eu tenha que refrescar a sua memória de como eu sai daquele lugar. Fui enxotado, acusado como assassino. — Seus dentes rangeram. Will se lembrava muito bem o dia em que foi encarcerado. Se lembrava do olhar das pessoas, especialmente o de Alana. Aquele olhar de surpresa, de irrealidade. Era algo que nada nem ninguém o faria esquecer. — Passei de investigador à suspeito, e de suspeito à culpado.  Agora, a moeda rolou e o jogo virou, não é?!

  — O que aconteceu não podemos alterar e eu lamento muito sobre isso. — disse, olhando Will nos olhos. — Mas podemos tentar parar o que ainda irá acontecer. Beverly Katz foi assassinada por algo que ela descobriu. — Jack entregou a foto de Beverly, morta e cortada em camadas individuais, postos à mostra em placas de vidro verticais em um observatório abandonado. — Temos que encontrar o que ela descobriu.

[...]

 Sede do Departamento de Análise Comportamental (B.A.U.),  Virginia

10h

  A neve caia brandamente em Quantico, Virginia. Alana Bloom andava calmamente pela Catlin Avenue em direção ao B.A.U. A falta de movimento a deixava apreensiva, principalmente pelos ocorridos na redondeza. Os boatos no departamento corriam rápido e logo se ouvia dizer que os homicídios recomeçaram. E isso perturbava Alana. Will havia sido inocentado e absolvido e ela não acreditava que Frederick Chilton tivesse cometido todos aqueles assassinatos, o que remetia a somente uma pessoa: Hannibal. Será que Will está certo?

  Inesperadamente, Alana recebe um torpedo. É Will.

..........

  [10:08] Will Graham — Precisamos conversar. Estou no BAU, na área de alimentação. Me encontre lá.

..........

  Ele estava a sua espera. Tão perto, porém tão distante. Alana não sabia ao certo se queria vê-lo. Ela ainda sentia algo muito forte por Will, mas todo os dias tentava conter esses sentimentos repreendidos e guardá-los no fundo de seu âmago.

  Respirou fundo e prosseguiu até as grandes e metálicas portas do edifício. Internamente, o B.A.U. parecia ser dezenas de vezes maior. Construído basicamente de vidro e aço, o edifício todo parecia uma verdadeira obra-prima, tão branco e ímpio que beirava o celeste.

   Entretanto a mente de Alana ainda permanecia em Will, como se ambos estivessem ligados por uma força maior. Quanto mais perto estava da área de alimentação, mais sentia a sua presença. Tão forte e anestesiante, que por alguns meros segundos conseguia esquecer os recentes acontecidos. Sentimentos, perigosos sentimentos.

    — Bom dia, Alana. — Era Brian Zeller, um dos investigadores criminais do departamento. Estava tão entorpecida que não notou que ele se aproximava. — Mais um longo dia, certo?

   — Sim, Zeller. — concordou, ainda um tanto distante — E algo que me diz que vai ser um dia daqueles. — Sim, daqueles que você não vê a hora de acabar e passar para o próximo.

   — Aliás, não sei se sabe, mas Will está de volta. — Ele certamente perseguia seus pensamentos hoje. E esteve tão avoada que simplesmente esqueceu de questionar porque Will a esperaria no B.A.U. Ele voltou para o departamento.

   — É, isso deve ser bom, não é? — disse Alana soando nada convincente.

   — Não parece que está em seu melhor dia, Alana. Acho que é melhor te deixar em paz. — diz Zeller, girando os pés e seguindo em direção a escadaria.

    Alana xingava-se internamente, enquanto prosseguia reto, em direção a área de alimentação. O lugar estava pouco movimentado, apenas com pessoas aqui e ali. Will estava a sua esperava, em uma mesa no centro da área. Ele não acenou, apenas ficou de pé e a encarou. Ela caminhou até lá.

   Algo naquele homem fazia Alana sentir calafrios. Algo a fazia sentir atraída e, ao mesmo tempo, repulsão.

   — Dra. Bloom. — diz Will, puxando a cadeira para a mesma sentar.

  — Não… Não me chame dessa forma, Will. — Retrucou, ajeitando-se na cadeira. — É... Bem vindo de volta ao departamento. — Ainda não conseguia transmitir confiança em sua voz.

   — Obrigado, mas não vim conversar sobre trabalho,  Alana. — Respondeu, se aproximando. — Vim para conversamos sobre Hannibal.

   — Will, essa história de novo nã…

   — Alana, eu só quero que você se distancie dele. — interrompeu, com seus olhos vidrados nos de Alana. Will Graham poderia ser tudo, menos mentiroso. — Ele não o homem que aparenta ser. Acredite. — suas palavras soavam duras e verdadeiras, e uma parte de Alana acreditava naquelas palavras.

 Uma parte dela, ínfima, mas existente, permanecia em dúvida sobre Hannibal, e nesse momento ela parecia ser alastrar por todo o corpo de Alana, como um câncer maligno. Estava atraída por Hannibal, mas pouco sabia sobre o psiquiatra e, recentemente, investigador do B.A.U. Será que Will está certo?

   Todavia Alana também se lembrava bem quando ele havia persuadido Matthew Brown, um dos funcionários do Hospital de Baltimore para Criminalmente Insanos para que assassinasse Hannibal. Se lembrava de como Hannibal havia chegado no hospital, com a marca roxa da corda em seu pescoço. Era uma briga de lobos, aonde nenhum queria ceder.

   — Pelo jeito, não é somente ele que não é o que aparenta ser. — Alana cuspiu as palavras, se levantando da cadeira. — Passar bem, Will. — e caminhou sem olhar pra trás, em direção a entrada do B.A.U.

Lágrimas pesadas escorreram de seus olhos, caindo em seu casaco vermelho. Recomponha-se, Alana. Recomponha-se…

[...]

 Baltimore, Maryland

23h 

 Hannibal estava sentado na poltrona de Jacquard azul-marinho, encarando o fogo que crepitava na lareira. Algo estava faltando, incompleto. Seus dedos formigavam e sua língua salivava. Os seus sentidos o alertavam quando estava no momento certo. Sorriu. É a hora.

 Foi até a balcão ilha de sua cozinha, frisando entre os cartões de visita que havia guardado. Haviam endereços, nomes e profissão. Tudo que Hannibal precisava para uma boa caça.

  Finalmente achou alguém que o satisfez. Thomas Kellan, 24 West Franklin Street, Contador da Pittsburgh Inc. Perfeito.

   Vestiu sua jaqueta de couro. Tudo já estava preparado. Algo dentro de Hannibal rugia e grunhia, como um animal feroz enjaulado. Ele sorriu novamente.

   Deixou sua casa. É a hora da caça.

[...]

   O celular de Jack Crawford toca. São 3:26 da manhã.

    — Jack, parece que o estripador atacou novamente. — Milton, do departamento policial de Baltimore, suspirou fundo. — E acho que dessa vez ele estava especialmente inspirado.


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Notas finais do capítulo

➫ Vish, parece que a coisa está ficando tensa em Baltimore...
➫ Peço encarecidamente que deixem aquele review maroto!
➫ Valeu e até o próximo!



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