Garoto escrita por Ophelia


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Eu achava que seria fácil escrever sobre esse assunto depois de tanto tempo, mas não é. Às vezes me pego olhando pro quintal e me pergunto onde ele está, e outras vezes sinto vontade de chorar quando me lembro dele deitado no meu colo, sabendo para onde ia. E sinto um nó na garganta ao escrever essas notas.

Perdoem qualquer erro.



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Eu o vi correndo no meio da rua. Perdido, magro e cansado, embora seus olhos se enchessem de esperança e alegria cada vez que um carro se aproximava. Ele se sentava na estrada, abanava o rabo e seu semblante tornava-se esperançoso por um breve instante, somente para ser massacrado e despedaçado pela realidade.

Não era seu dono quem vinha.

Uma noite ele deitou na estrada quando eu estava saindo do trabalho. Grande, de pelagem curta e clara, mas tão magro e sujo que era digno de pena. Ele comeu os restos na lixeira naquele dia, apanhou do dono do restaurante e foi cutucado por algumas crianças pentelhas antes de sair correndo, desengonçado para longe delas.

A tudo isso, assisti sem me importar. Não era meu problema. Era só um cachorro de rua e o meu estava em casa, seguro e de barriga cheia, obviamente as pessoas da rua deveriam se sensibilizar, mas não eu.

Quando sacrifiquei meu cachorro, quando.... O escovei horas antes de ir até o veterinário e lhe dei água na seringa, lembrei-me do cachorro magro do meu serviço. Da dor em seus olhos.... Do medo.... Aquele mesmo medo que vi nos olhos do meu quando a veterinária e a enfermeira o carregaram até uma salinha onde ele receberia um remédio que acabaria com sua dor.

Ocupei a cadeira na sala de espera, encarei o chão e aquele peso nos meus ombros era tão visível que um homem que passou por mim me olhou, fez um gesto suave com a cabeça como se lamentasse e se afastou. Uma mulher veio em seguida e dela senti um julgamento que eu mesma fazia.

“Eu acho errado. Se ele não estava com tanta dor assim... ”

Eu concordei com a cabeça e ela se afastou com indiferença. Pedi a veterinária que cuidassem bem dele, levei sua coleira e entrei no carro.

Quando passei perto do meu trabalho naquele mesmo dia, o cachorro magro esperançoso estava sentado na rua, abanando o rabo e usando o resto de forças que tinha para latir na esperança de que eu fosse sua dona.

Saí do carro e o encarei. Vi a decepção em seus olhos e me aproximei mais, embora ele tivesse recuado com medo de mim.

Eu me ajoelhei diante dele e o encarei. Não se parecia com meu garoto e não era ele.

E eu também não era quem ele esperava, seus donos que o deixaram à própria sorte.

Mas ali estávamos.

O cachorro magro se aproximou de mim e eu afaguei com insegurança sua cabeça.

— Vamos, garoto. — Disse a ele.

O cachorro magro me seguiu e entrou no carro comigo. Hoje, somos melhores amigos, mesmo que ainda estivéssemos carregando a esperança de ver quem realmente queríamos ver. Mas até lá, teríamos a companhia um do outro.


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