Moonlight Lover escrita por Benihime


Capítulo 24
Adeus




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Evanora

Sinto uma onda de nostalgia e tristeza quando paramos na frente do antigo casarão. Não consigo evitar as memórias, então reservo um momento para me perder nelas.

Ashlee e Selene aguardam em silêncio. As duas prometeram não se envolver, não até eu dar o sinal. Primeiro, minha irmã e eu precisamos ter uma conversinha.

Quando me sinto pronta, estendo a mão e abro a porta do carro, seguindo sozinha para o casarão.

Katerina

Ouço a porta se abrir e capto um cheiro familiar no ar, que não consigo identificar de imediato. Logo em seguida, passos soam no hall de entrada. 

— Kat. — A voz autoritária é conhecida, tão familiar quanto a minha própria. — Kat, sua desmiolada, pare com o esconde-esconde e venha já aqui!

Desço as escadas correndo a toda e me jogo nos braços da minha irmã. Evanora me abraça de volta, batendo na minha cabeça com os nós dos dedos ao mesmo tempo.

— Ai! — Exclamo. — Pra que isso, sua louca?

— Pra ver se ainda tem alguma coisa dentro da sua cabeça oca. — Ela responde, se afastando um passo e me encarando de braços cruzados. — Kat, que diabos deu em você?! Por que voltou pra cá?

— Pela Selene. — Respondo. — Ela prometeu me esperar, Eva. Ela prometeu! E agora ...

— É, eu soube sobre a Ashlee. — Minha irmã declara gentilmente. — Mas você tem que deixar pra lá, maninha. Não pode forçar alguém a amar você.

— É, não posso. — Concordo. — Mas não preciso. Selene me ama, eu sei disso. Ela é minha Consorte.

— Não, Kat. Esse laço foi rompido, você sabe disso. Só está mentindo para si mesma.

Toda a alegria que senti quando vi minha irmã retornar agora sumiu, transformada na mais pura raiva. Eu afasto sua mão, que está em meu ombro, com um tapa, e recuo novamente para a escuridão do segundo andar. Juro que posso ouvir minha irmã suspirar de frustração, mas a ignoro.

Evanora

Saio silenciosamente, me juntando às outras duas no carro cuidadosamente escondido entre as árvores. Selene não precisa que eu diga nada, parecendo entender instintivamente, estendendo a mão para apertar gentilmente meu ombro num gesto de apoio.

— Você tinha razão, Selene. — Declaro enfim. — Aquela garota está completamente louca. Ela precisa de um choque de realidade.

— Nesse caso ... — Selene já está preparada, a adaga de seu pai firme em sua mão livre. — Vamos ao trabalho.

Ashlee

Avanço atrás de Selene e Evanora, mantendo minha presença oculta nas sombras e meus movimentos absolutamente silenciosos. Minhas duas companheiras não são tão cuidadosas, seus passos ecoando de propósito no antigo chão de madeira.

Katerina

Ouço os passos subindo a escada e reviro os olhos. É claro que Evanora não iria desistir. Minha irmã sabe ser a vampira mais irritantemente insistente da face da Terra. 

— Vá embora daqui, Eva! — Rosno, sabendo que sua audição aguçada captará minhas palavras.

— Acho que você não quer isso, irmãzinha. — Mesmo sem vê-la, sei que minha irmã está sorrindo. — Eu trouxe uma surpresa para você.

Só depois que ela fala percebo o fato de que não ouço apenas um, mas dois conjuntos de passos subindo a escada. Evanora não voltou sozinha.

Selene

Eva me lança um olhar rápido de desculpas e me ergue nos braços, disparando escada acima. Ela segue direto para o terceiro andar, que dessa vez está iluminado pelas chamas de uma lareira acesa.

— Ora, ora, ora. — Katerina abre um sorriso ao nos ver. — Pensei que tivesse dito que eu precisava deixar para lá, mana.

— Eu disse. — Evanora rebate. — Ela está sob minha Influência. Não conseguirá mentir. Pensei que seria melhor ouvir a verdade direto da fonte.

Katerina se aproxima e me toma dos braços de sua irmã. A expressão em seus olhos é de uma cobiça quase insana, mas seu toque é gentil. Mantenho os músculos relaxados, a expressão neutra e o olhar mais vago que consigo, imitando o melhor possível a atitude de Margareth na noite em que estava sob o transe de Katerina.

A loira acaricia meus cabelos, correndo possessivamente as mãos por minhas costas e cintura enquanto me coloca sentada em uma poltrona.

— Irmã. — Ela diz por sobre o ombro. — Por favor, faça as honras. 

As duas se sentam, uma de cada lado, empoleiradas nos braços da poltrona. Evanora coloca um dedo sob meu queixo, erguendo meu rosto para que eu a encare.

— Selene. — Sua voz é um ronronar sedutor. — Seja uma boa menina e me diga: você ama a minha irmã?

— Sim.

Mantenho o tom de voz monótono, robótico, mas posso ouvir a respiração de Katerina se acelerar. Me forço a manter o olhar em Evanora.

— Muito bem. — Minha amiga assente, mantendo a expressão mortalmente séria. — E ainda é apaixonada pela minha irmã?

— Sim. — Minto. — Sim, eu sou.

— Eu disse a você! — Katerina exclama triunfantemente. — Não disse, Eva? Selene é minha, ela sempre foi! Não é, Selene?

— Vá em frente, Selene. — Eva ordena sombriamente. — Responda a ela.

Devagar, num movimento quase robótico, me viro para Katerina, encarando seus olhos cor de âmbar. Vejo a expressão triunfante neles, e por um momento fico feliz pelo plano que decidimos seguir.

— Sim. — Declaro. — Eu sou. Sempre fui e sempre serei.

Katerina sorri triunfante, estendendo uma das mãos. Seu dedo indicador ergue meu queixo e ela se inclina em minha direção. Fico perfeitamente imóvel, esperando, até que seus lábios enfim tocam os meus. 

Permito o beijo por alguns segundos, até ter certeza de que Katerina baixou completamente a guarda, e então saco a adaga de meu pai, escondida ardilosamente numa bainha improvisada em meu antebraço, sob as mangas de meu suéter.

— Selene. — A voz dela é fraca, dolorida, e sinto seu corpo cair contra o meu, o sangue jorrando da ferida em seu pescoço. — Se ... Lene ... Por quê?

— Kat. — Por um momento, aninho seu corpo já flácido em meus braços. — Eu sinto muito, muito mesmo. Você me forçou a isso. 

Há um breve flash de raiva e traição em seus olhos, mas logo em seguida ela perde completamente a consciência. Evanora estende a mão, apertando de leve meu ombro.

— Boa caçada, Selene. — Ela diz gravemente. — Muito obrigada. Pode deixar que eu assumo daqui.

Eu me ponho de pé, limpando a adaga ensanguentada em meu suéter. A lâmina de prata é lisa, ficando limpa com uma facilidade surpreendente. Após recolocá-la em sua bainha, estendo para Evanora a segunda parte de nosso plano: uma gargantilha de prata tão grossa que mais parece uma corrente, com um rubi engastado exatamente no centro. A joia foi enfeitiçada na noite anterior, um feitiço poderoso, semelhante à hipnose de um vampiro. Quem quer que use essa gargantilha será nada mais do que uma marionete, um fantoche da pessoa cujo poder está contido na pedra preciosa.

— Tem certeza de que quer fazer isso? — Pergunto.

— Não quero. — Evanora responde. — Mas é a melhor opção. E ... Obrigada. Por poupá-la.

Faço que sim em resposta, vendo Eva colocar lentamente a joia amaldiçoada ao redor do pescoço de sua irmã. Ashlee se junta a nós, me abraçando por trás e descansando o queixo em meu ombro. Eu me recosto contra ela, apreciando seu apoio.

— Você está bem? — A loira pergunta baixinho.

— Eu ... — Giro em seus braços para encará-la. — Sinceramente, eu não sei.

Ashlee faz que sim como se compreendesse meu dilema, ficando nas pontas dos pés para me dar um beijo breve nos lábios. Eu me volto novamente para Evanora, que agora ergue o corpo inconsciente de Katerina nos braços. 

— Para onde vocês vão agora? — Pergunto.

— Ainda não sei. — Ela admite. — Mas darei notícias. E quanto a você?

— Um vampiro matou meu pai. — Respondo. — Vou descobrir quem foi. E, dessa vez, usarei o fio de madeira.

— Parece uma boa ideia. — A vampira de cabelos castanhos assente. — Boa caçada. Se um dia precisar de ajuda ... 

— Eu estarei ao lado dela. — Ashlee declara. — Não deixarei que nada lhe aconteça.

— Então cuide da minha amiga, bonequinha. — Eva abre um sorriso jocoso. — Caso contrário, irei atrás de você.

A loira simplesmente balança a cabeça e sorri ante a falsa ameaça.

Selene

Cumprindo a palavra dada, Evanora me leva até o quarto de Lennya. Lá, em uma grande caixa de madeira de aparência extremamente antiga, estão os Livros das Sombras coletados pela Grande Sacerdotisa ao longo de seu reinado sobre o coven.

— É uma magia de sangue. — Ela explica. — Somente alguém com o sangue de Lennya pode abrir o selo. Me dê sua adaga, Selene.

Obedeço sem hesitar, vendo minha amiga fazer um pequeno corte em sua mão e em seguida pressionar sua palma contra o elegante pentagrama estilizado gravado na tampa da caixa. Ouço um clique suave, quase como uma fechadura sendo destrancada.

— Eva, tem certeza disso?

— Absoluta. — Ela assente. — É disso que minha mãe gostaria. E também é minha forma de agradecimento ... Por Katerina.

Eu faço que sim e ela entrega a caixa em minhas mãos. Hesito por um momento, mas enfim a equilibro de forma satisfatória sob um braço, puxando Evanora para um abraço de despedida com meu braço livre.

— Se cuida, Eva. — Digo ao soltá-la. — E cuide da Kat por mim.

Mais sinto do que vejo seus olhos negros em minhas costas enquanto deixo a sala. Olho sobre o ombro pouco antes do ponto na escada onde a perderei de vista. Não posso ouvi-la, mas vejo seus lábios se moverem no que posso jurar ser uma bênção de despedida.

Ashlee

Selene e eu descemos as escadas escuras, sua mão firme na minha. Andamos em silêncio até atingirmos o lado de fora. 

— Ash. — Ela chama finalmente, soltando minha mão e se virando para me encarar. — Você falou sério? Sabe que não vou caçar somente o vampiro que matou meu pai, não sabe? Pretendo caçar qualquer um, seja vampiro, demônio, fada ou entidade do mau que atravessar meu caminho. Não vai ser fácil.

— Vampiros tem mesmo uma tendência ao lado sombrio. — Declaro, estendendo uma das mãos para limpar uma mancha de sangue em sua bochecha. — Provavelmente vão manter você ocupada. Mas não pretendo ser a primeira a recuar.

— Então você vai ficar ao meu lado? — Ela pergunta. — Mesmo contra sua própria espécie?

— Isso não significa nada para mim. — Traço o contorno de seus lábios com meu dedo indicador, vendo-os se curvar no mais leve dos sorrisos. — É você que me importa, Selene. Se você fosse um lobo, eu encontraria um jeito de ser um lobo também, só para ficarmos juntas.

— Ash. — Selene ri, finalmente relaxando e passando os braços por meu pescoço. — Você é uma romântica tão, tão boba. Sabia disso?

— Se você está dizendo. — Não consigo evitar uma risadinha. — Agora me diga: vai me beijar de uma vez ou me deixar esperando?

Sua resposta é fechar a distância entre nós, selando nossos lábios como quem sela uma promessa.


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